Era um fato conhecido na Escola do Norte que Kyon era um cara deveras sortudo. Afinal, ele passava as tardes com as três garotas mais bonitas da escola, e de vez em quando com a não menos bela Tsuruya-san. Claro, havia também aquele garoto estranho, pra não dizer outra palavra, que era o Itsuki Koizumi, mas este era um detalhe que ele preferia ignorar.
Foi numa tarde normal, na sala usual que aconteceu a coisa mais anormal que poderia acontecer (na visão de Kyon). Tudo começou quando uma das garotas já citadas, Yuki Nagato, atrasou-se para a reunião da estúpida Brigada SOS. Seria algo normal se fosse uma das duas outras garotas, mas Kyon sabia muito bem que Yuki Nagato era a última pessoa no mundo que poderia fazer isso.
- Cadê a Yuki? - Indagou a líder da brigada, Haruhi Suzumiya - Ela nunca se atrasou para uma reunião antes!
- Yare yare, provavelmente ela está com medo de que você esteja cansada de assediar a Asahina-san e tenha mudado para ela seu alvo - Respondeu Kyon, o que fez com que Mikuru Asahina corasse furiosamente. No entanto, Kyon estava deveras preocupado com Yuki.
Neste momento aconteceu a anomalia, pois Yuki entrou na sala e falou, espontâneamente.
- Falavam de mim, minna-san?
Todos os ocupantes da sala ficaram boquiabertos. Não menos impressionante era o fato de que Yuki tinha um sorriso estampado no rosto. 'Um belo sorriso', pensou Kyon, 'Mas isso não é importante, droga! Tem algo errado!'
- Não se preocupe Kyon. Era minha vez de limpar a sala de aula. Resolvi começar a participar das arrumações. - Continuou a menina que era agora uma tagarela, em comparação ao seu antigo eu.
Yuki arrastou sua cadeira até a mesa e sentou-se, mas não começou a ler como sempre fazia; ela estava de fato participando da reunião.
Mais ou menos uma hora depois, Haruhi despediu-se de todos e foi fazer o que quer que lunáticos como ela fazem quando saem da escola. Kyon, Itsuki e Mikuru preparavam-se para imitá-la e ir embora também, mas Yuki indagou:
- Vocês notaram meu comportamento estranho hoje, não? - Kyon pensou que era a retórica mais óbvia que já tinha ouvido.
- Hai, Nagato-san - Disse Itsuki, o que fez Kyon pensar 'Baka, não é necessário responder a uma retórica dessas!'
- O motivo é que Haruhi-san deixou de acreditar em alienígenas. A entidade integradas de dados desapareceu e agora eu sou uma humana comum. Não há mais limitações em minha capacidade de me comunicar.
- M-m-mas... Se Suzumiya-san não acredita mais em aliens, logo ela vai deixar de acreditar em v-viajantes no tempo, não? - Perguntou uma Mikuru muito assustada
- Provavelmente você e Itsuki-kun vão continuar intactos, porque paranormais e viajantes no tempo são mais plausíveis que aliens, ao menos na cabeça dela.
- Tomara que seja este o caso. Bem, Asahina-chan, vamos indo? - Falou Itsuki, deixando Kyon levemente nauseado devido ao sufixo utilizado por ele ao dirigir-se a Asahina. Mas ele quase não se importou, pois desde o início da reunião não conseguia tirar os olhos de Yuki.
Agora eles estavam sozinhos na sala da Brigada SOS. Yuki começou a corar e falou:
- K-Kyon... Me acompanha até meu apartamento? é tolice, mas já está escurecendo e eu estou com um pouco de medo.
- E-está bem... er... Nagato-san.
- Não precisa me chamar assim, você sempre me chamou apenas de Yuki mesmo.
Desta vez Kyon corou. Ele a acompanhou até seu apartamento, um pouco preocupado com ela.
- Você vai ficar bem, vivendo sozinha assim? Posso parecer louco falando isso, mas acredito que se você ainda tivesse a Ryoko-san para te ajudar, você ficaria melhor.
- Não se preocupe, Kyon. Eu vou conseguir me adaptar. - Yuki fez algo deveras inesperado, beijou o rosto de Kyon.
O que, obviamente, deixou Kyon muito perturbado. Porque sentira-se melhor com aquele beijo no rosto do que com o beijo que dera em Haruhi, a alguns meses atrás? Porque desde Yuki tornara-se humana e "normal" ele não conseguia parar de olhar para ela, de pensar em seu sorriso? Ele já sabia muito bem a resposta, no fundo, mas estava desesperado por uma explicação alternativa.
Kyon sempre gostara de Yuki, afinal ela era sua salvadora, e por incrível que pareça a única que ele considerava (relativamente) sã naquele grupo de malucos. E droga, Kyon deveria gostar da Mikuru! Ela era a garota mais simpática que já conhecera. A garota mais bonita que já conhecera. A melhor garota que ele conhecia, depois da Yuki. 'Depois da Yuki? Como assim depois da Yuki? O que há de errado com você, cérebro?', pensou. Por fim desistiu e foi para casa, dormir e tentar organizar seus pensamentos.
No dia seguinte, ele subiu a maldita ladeira que era o caminho para a escola já convencido de que não havia, afinal, outra explicação plausível para o que sentia. Sua cabeça, no entanto, ainda estava confusa. Yuki o beijara no rosto, seria porque ela gostava dele? Ou ela ainda não havia se adaptado a mostrar suas emoções e foi apenas uma forma de agradecimento?
Foi um dia longo na escola. Talvez porque ele não via a hora de chegar na sala do clube e ver aquele sorriso novamente. Quando o sinal finalmente tocou e ele estava dirigindo-se para a sala do clube, encontrou Yuki no caminho.
- Ei, Kyon? E-eu posso falar com você um pouco antes de entrar na sala? - Disse ela, com um sorriso tímido e o rosto levemente corado - Claro, vamos lá. - Foram para um corredor já vazio.
- Er... Eu... Não sei por onde começar... Você sabe que eu não demonstrava minhas emoções, mas as sentia, quando eu era parte da Entidade, certo?
- Sim. Eu não tinha certeza, mas já pensava que era este o caso.
- E-então... Eu s-sempre... Gostei muito de todos vocês. Mas p-por você , Kyon, eu... De certa forma... Me sentia diferente, é difícil de explicar.
Então Kyon compreendeu. Ele não poderia estar mais feliz. E respondeu:
- Eu entendo. Aishiteru Mo, Yuki.
Primeiro Yuki corou mais, e então ficou completamente branca. Corou novamente e finalmente jogou-se em direção a Kyon, seus lábios se encontrando no caminho.
Fora uma reunião tranquila, naquela tarde, na sala do clube. Tudo estava perfeitamente normal, exceto que haviam agora dois casais lá; Itsuki e Mikuru ficaram de mãos dadas o tempo todo. E Kyon não poderia ter se importado menos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.