Eu estava deitada em minha cama, pensando em meus pais adotivos. Eles cuidaram de mim, apoiaram minha decisão de tornar-me um bruxa poderosa. Não podia deixar que nada acontecesse a eles, por isso era melhor eu me desligar da vida dele.

Eu recebia cartas de Madson e Charles enviando notícias sempre que possível. Respondia a todas, mas parei de fazer isso aos poucos. Não poderia me distanciar de repente. As cartas que eu recebia deles eram imediatamente queimadas.

Marie observava o tempo em que eu ficava deitada, fitando o teto. Ela não aguentando mais perguntou:

– Que tanto interesse tem pelo teto?

– Nenhum.

Janethe nem ligava pra mim. Eu era invisível aos olhos dela. Minha presença só era favorável mediante sua necessidade.

Não demorou muito pra ela me obrigar a ajudá-la a ficar com seu amado sem Constantine ver.

Eu fiz tudo novamente, mas desta vez acho que peguei pesado.

Eu, Marie e Alexander estávamos na torre, que funcionava como sala de aula para astronomia.

Meu plano era atrair a atenção de Constantine e Marie poder namorar seu amado Juan a vontade.

Amarrei com auxílio de magia cordas em torno de meu corpo, como se eu fosse praticar rappel.

– Aira, isso é perigoso.

– Não é não, Marie. Eu sei o que estou fazendo.

Na verdade eu não sabia, mas não precisava deixar ela saber disso.

Alexander era meu ficante ali. Na realidade ele era minha sombra. Ele faria tudo pra mim e eu o ajudaria a conquistar a garota dos seus sonhos, uma tal de Pride. Nessa ajuda inclui beijos e pegadas.

O garoto além de sair lucrando com minha aula, conseguirá em breve o que quer. Francis Pride está observando muito ultimamente eu e o Alex juntos. Ela tenta desviar o olhar e como eu percebo só faço mais pirraça.

Alex segurava minha cintura enquanto eu me movimentava sobre as grades de proteção. Marie estava do lado de fora do castelo.

– Tem certeza que quer fazer isso, Dulce?

Ele era muito fofo me chamando de Dulce. Pena que eu não sentia nada por ele e nem ele por mim.

– Tenho, Alex.

Alex me soltou e eu fiquei de pé. Arrastei-me com cuidado pro lado de fora, fincando bem meus pés entre as pedras. Segurei com força as grades e fui descendo calmamente.

Eu respirava pesadamente e olhava onde colocava meus pés.

Ouvi o grito de Marie. Não demorou muito tempo e os alunos começaram a se aglomerarem ao lado dela, inclusive Constantine e Madame Maximine.

– Aira – Marie interpretava seu papel. – Desce daí, agora! Isso é perigoso!

– Sem chance! Tô cansada de ficar presa. Quero liberdade!

Soltei meus braços e gritos de pavor foram escutados.

Eu tentava esconder meu riso. Consegui ao peceber que eu estava a mais de dez metros acima do chão.

Dentro do bolso de meu shorts, peguei minhas luvas de couro de dragão e as coloquei. Não estragaria minha mãos naquela corda.

Comecei a descer. As pessoas ainda gritavam embaixo.

Cheguei intacta no chão. Ao colocar meus pés no solo, Marie veio me abraçar.

– Sua louca!

– Te adoro, insuportável!

Constantine estava soltando fogo pelas ventas. Madame Maximine soltou um longo suspiro e veio até mim.

No gabinete da diretora, eu e mais meus colegas; meu “namorado”, Alex estávamos esperando alguma sentença.

Todos foram dispensados depois de confirmarem que não sabia que eu faria aquela maluqice.

Eu gostei. Um dia faço rappel de verdade.

– Senhorita Snape – olhei pra ela. Algo um pouco difícil pois a altura dela é muito superior a minha.

– O que você fez deixou-nos todos preocupados.

– Não foi nada de mais. Eu só não queria ficar no tédio.

Ela me olhou.

– Aira! – ela nunca me chamou pelo meu primeiro nome, nem quando eu tinha aula de etiqueta com ela.

Madame deveria estar decepcionada comigo, pois eu aprendi tudo que ela me ensinava. Ela tinha orgulho de mim e até dizia que eu era uma das melhores alunas que já estivera em Beauxbottons. Pela primeira vez eu não era vista com maus olhos em um lugar. Eu tinha meu mundo.

– Eu prometi nunca revelar isso, mas a ocasião não me permite guardá-la mais.

O que ela escondia de mim? Madame sentou-se em sua cadeira e me fitou.

– Há mais de vinte e cinco anos uma garota veio estudar aqui em Beauxbottons. Ela era animada, inteligente – eu não entendia o que ela queria dizer com essa história. – Quando vi você pela primeira vez em Hogwart veio-me essa garota em minha mente. Foi por causa dessa lembrança de você ser tão parecida com ela que aceitei te dar aulas de etiqueta.

Agora estava ficando mais interessante. Me remexi na poltrona procurando uma posição mais confortável.

– Quando mais eu convivia com você, mais eu tinha certeza de sua semelhança com ela.

– Mas quem é essa garota a quem você me compara?

– Ela era uma bruxa excelente. Mas optou por viver no mundo trouxa.

– Mas por que ela fez isso?

– Por causa da família dela.

Eu ouvia tudo atentamente.

– Fiquei sem as notícias dela por vários meses, mas alguns anos atrás recebi a notícia de que ela havia morrido.

Eu queria saber mais sobre essa garota ao qual Madame dizia eu ser parecida.

– Por que contou isso?

– Pois a minha suspeita era de que vocês fossem parentes. E eu estava certa. Você tem ligação com ela. São mãe e filha.

Levantei-me da poltrona com lágrimas nos olhos. Como ela pode ter tanta certeza? Saí da sala dela e voltei para meu quarto.

Não consegui dormir pensando em tudo que Maximine contou-me. Eu tinha que tirar essa história a limpo.

Tem algo de errado nessa história toda.

Acordei bem cedo e fui procurar registros na biblioteca sobre qualquer bruxa chamada Hayley Thompson. Encontrei diversos livros e artigos do jornal bruxo Le monde des Sorciers (O Mundo dos Bruxos) nada criativo esse nome. Louise Thompson estampava diversas capas e páginas dos livros.

A sua vida de estudante estava tudo ali. Madame não havia mentido pra mim. Mas ela não era minha mãe. Ela se parecia muito com minha mãe.

Estava tudo muito confuso. Louise estava viva, quem morreu foi Hayley. Ou será que ouve engano?

E o que Louise era de minha mãe?

§§§

Era domingo a noite. Minhas malas estavam arrumadas e Pierre estava atrás de mim. Eu havia pedido pra ele aparatar comigo fora dos terrenos de Hogwarts, mas ele não quis. Então decidi usar a lareira de uma das salas de aula.

Coloquei meu malão lá dentro e fui logo atrás.

– Mi lady!

– Sem essa de lady, Pierre! Eu preciso saber o que está contecendo com minha vida. Está tudo bagunçado.

– Mas, mi lady, e seus amigos, seu namorado.

– Diga a eles que eu voltei a onde pertenço. Eles sabem do que estou falando.

Peguei o pó de Flu e disse alto “Gabinete do diretor Dumbledore em Hogwarts”.

Irrompi na lareira em que queria. Peguei meu malão e sai do gabinete. Entrei com cuidado na Sonserina. Deixei meu malão ali.

Era hora da minha entrada. Eu estava cansada de ser ficar longe desses idiotas. Viver na França era legal, mas não tanto em Hogwarts. Este sim é meu lar.

Olhei-me no espelho. Meus cabelos estavam no meio das costas em formato V e com franja caindo sobre meus olhos - sua cor era um verde, igual minhas sobrancelhas.

Estava usando meu antigo uniforme, mas com um detalhe a mais: Nãoestava de saia e sim de shorts preto. Cansei de pegar garotos tentando olhar por de baixo da minha saia. Quem diaria que os garotos de Beauxbottons eram tarados. Coloquei uma meia calça 7/8 branca, meu coturno. Prendi o suporte de minha varinha na coxa esquerda.

Subi a escada majestosamente. Estava me sentindo tão bem andando por aqueles corredores.

Fiquei de frente a porta do salão e ela se abriu. Instintivamente, avancei. Olhares pairaram sobre mim. Claro que eles reparariam em uma garota de cabelo verde, shorts e camisa meia aberta com a gravata frouxa.

Snape deixou o garfo cair sobre seu prato. Ele levantou-se não acreditando no que via. Eu via o ódio nos olhos deles, mas pouco me imporetei.

Andei, passando entre as mesas. Como sempre os garotos babavam por mim.

– Aira? – papai estava pasmo.

Continuei andando. Fred observava-me pasmo e boquiaberto. Controlei-me pra não lhe lançar um beijo cheio de sarcasmo.

– Oi, papai – Parei em frente a ele. – Surpreso em me ver, não?

Ele endireitou-se.

– Você deveria estar em Beauxbottons. Que faz aqui?

Sorri.

– Primeiro: Beauxbottons é para garotas diferentes de mim. Segundo: descobri diversas coisas. Terceiro: não suporto usar aquelas malditas roupas turquesas e prender o cabelo. Quarto: lá tem mais tarados do que aqui.

Meu pai não gostou da minha última frase. Eu poderia jurar que ele estava repassando "Lá tem mais tarados do que aqui" em seu cérebro.

– Bem vinda de volta – disse Dumbledore.

Aproximei-me dele e lhe beijei sua bochecha. Ele corou levemente.

– Acho que não deve haver problema em ter usado a sua lareira.

– Não – ele disse. – Só espero que não tenha muita poeira.

Eu adorava Dumbledore pelo simples fato de ele ser alegre e nunca ter se importado com minhas brincadeiras.

Virei-me pra ir à mesa da Sonserina, mas fui chamada.

– Aira Snape -- a voz era fina e muito irritante.

– Sim? – disse me virando.

– Que modos são esses?

Olhei praquela mulher baixa e parecendo uma almofada ambulante.

– Professora Umbridge...?

– Não interrompa, senhor Snape – meu pai ficou calado. – Essa não é maneira adequada de uma garota se vestir: roupas curtas e sem sapatos sociais. E sua meia calça...

Ela tinha língua afiada pra criticar. E como meu pai se subteu desse jeito à ela?

– Não sei quem a a senhora é, mas não mudarei meus modos.

O silêncio era total no salão.

– Eu sou a professora de Defesa Contra as Artes das Trevas e Inquisidora.

– Devo ser a pessoa com mais sorte na face da Terra -- se ela fosse inteligente o suficiente saberia que eu estava sendo sarcástica. -- Acho que ainda dá tempo de alcançar Pierre...

Virei-me e gritei chamando Pierre, que encabulado entrou no salão e veio até mim.

-- Em que posso lhe servir, me lady?

-- Haverá algum problema se eu quizer voltar?

Ele olhou-me esperançoso. Pierre não era velho, mas estava próximo as vinte e oito anos. percebia muitas garotas olhando, cobiçosas pra ele.

-- Não, me lady.

O melhor de tudo foi ver a cara de certas pessoas se contorcerem de inveja por verem Pierre me chamando de "me lady".

-- Pois bem. Acho que vou voltar pro clube da lorota.

Pierre estendeu-me seu braço e eu o peguei. Estava adorando toda a atenção que recebia.

-- Espera, Aira! -- virei-me e vi meu pai. -- Você não vai voltar.

Bingo! Acertei o ponto fraco de meu pai.

Aproximei-me de Pierre e sussurrei em seu ouvido:

-- Um dia nos veremos, Pierre -- eu sempre tive umc carinho enorme por ele e como modo de gratidão, beijei seus lábios.

Ele ficou vermelho e saiu.

Vi meu pai ficar vermelho de raiva. Ele estava perdendo o controle.

-- Antes que diga algo, já estou indo pra sua sala, pai.

Entrei na sala dele e minutos depois ele já estava ali.

-- Que história foi essa de vim pra Hogwarts, enfrentar uma professora e beijar aquele homem?

Sentei-me comportadamente na cadeira.

-- Estou decepcionado com você, Aira.

-- Sabe, pai? Eu gostei de Beauxbottons, mas o meu lugar não é lá.

Ele afastou-se de mim e virou-se me fitando.

-- Sem desculpas. Eu compreenderia se você voltasse sem fazer alvoroço, mas seus modos pioraram.

-- Não pioraram, apenas estou sendo eu mesma.

Meu pai pouco se importava com o que eu pensava. Ele só queria que eu fosse diferente do que sou, algo impossível de mudar.

-- Nunca mudarei pra te satisfazer! -- levantei-me. -- Espero que esteja bem, pois meu tempo aqui acabou.

Antes que eu pudesse dar um passo, fui abraçada fortemente. Senti lágrimas caindo sobre meu ombro. Fiquei estática. Snape estava chorando.

Nunca pensei que veria algo desse gênero. Apenas retribuí o abraço, afagando seus cabelos. Ele chorava que nem uma criança desamparada que era. Eu era a única em que ele poderia se apoiar. Eu, sua filha, era seu alicerce.

-- Pai... você está chorando...

Ele levantou seu rosto de meu peito e enxugou suas lágrimas.

-- Sou um estúpido em tentar te mudar -- agora ele estava entendendo. -- Minha menina -- ele segurou meu rosto. -- mesmo eu não gostando dos seus modos, não pedirei pra mudar.

Estava ao ponto de comemorar.

-- Mas... -- tinha que ter um "mas" ali. -- Prometa que nunca se irá se expor novamente.

Sem saída, prometi. Tinha tanta promessa na minha lista. E ela crescia significadamente a cada semana.

Voltamos para o salão principal, onde juntei-me ao povo da Sonserina e a minha ex-amiga, que me observava com pura inveja.

-- E aí, Malfoy -- exibi um sorriso de escárnio. -- como vão as coisas?

Ele foi rápido em responder a altura.

-- Pelo que eu saiba você não faz parte dela.

Mesmo ele sendo ríspido, ainda gosto daquele loiro aguado. Nos fuzilarmos de vez em quando, mas por meu pai ser padrinho dele, então eu tinha que conviver com ele. Não é muita coisa. Meu pai tinha carta branca pra ir a mansão Malfoy e eu ia junto.

Só a visitei uma vez e foi menos de cinco minutos. Nem deu tempo de me socializar com Narcissa. Ela me adorou, mesmo eu sendo mestiça. Lúcio até pode fingir que não se importa com descendência, mas ele me odeia. O motivo, simplesmente, não faço a mínima ideia.

-- Não é o que eu soube.

Percebi Parkinson ficar com a pulga atrás da orelha. Aquela simples resposta a deixaria muito curiosa.