Crouch aumentou meu trauma em relação a ele. Estava receosa em encontrá-lo, sozinha novamente. Se isso acontecesse, eu não saberia o que poderia acontecer.

No sábado de manhã, enquanto eu tomava meu café recebi um bilhete dele. Já tinha se passado quase dois meses que conversamos. O Crouch/Moody queria conversar a sós comigo. Pensei em recusar aquele bilhete, indo até ele e o obrigando a engolir aquele pergaminho, mas preferi ficar quieta e ignorar – Não era bom exaltar-me diante de toda a escola.

Era último dia de outubro e as pessoas estavam mais eufóricas do que todos os outros dias das bruxas, mesmo que a festa tenha sido cancelada. Eu não me importava de não ter festa, estava muito bem, mascando chiclete e cantando em minha mente.

Fiz uma bola de chiclete grande, que ao estourar fez barulho e atraiu bastante atenção. Suavizei o tamanho das bolas, mas não pedi desculpas.

Não aguentava mais de tédio. E eram somente, as primeiras horas da manhã... Eu ainda não sabia porque da algazarra com a vinda dos estudantes das outras duas escolas que participam do Torneio Tribuxo. É insignificante e sem graça.

A única coisa que esperava era ter um pouco de animação na minha vida, mas isso não aconteceria, pois na Sonserina toda queria tirar proveito dos novos hóspedes.

Estava sentada, indiferente no banco, com as pernas cruzadas e com as costas na borda da mesa. Mascava um chiclete e pensava em uma maneira de matar a gata do Filtch. Pensei em veneno, Maldição, jogar no lago... Seria legal ver Filtch destruído... Meus devaneios foram cortados, quando as portas se abriram e entraram as alunas de Beauxbatons.

Devo dizer que elas são educadas e saber usar o charme, mas são sem graça com aquele uniforme de seda azul e o rabo de cavalo baixo. Muitos garotos olharam-nas e continuaram a segui-las com os olhos, enquanto elas se aproximavam de Dumbledore. A diretora de Beauxbatons era muito alta, prendi o riso, não era conveniente rir de sua estatura.

Segundos depois entram os alunos de Durmstrang, que são altos, musculosos e parecem mal – Gostei deles! Vou tirar proveito de sua estadia aqui! – Olhei para eles e mordi meu lábio (não morderia a luva, pois seria muito evidente), mas eles não me olharam. Não me importei, teria mais tempo.

Observei um loiro muito conhecido de mim, Gian Cheege andar. Ele era um dos últimos. Estourei minha bola de chiclete e curvei meu corpo para vê-lo melhor. Era impressão minha, ou ele parecia mais pegável?

Mordi meu lábio e joguei meu cabelo para trás. Agora estava ficando interessante...

E Dumbledore faz sua menção sobre os alunos e mais blá, blá, blá, que cansa.

Perdi o meu bom humor e voltei ao tédio. Tenho algum problema, só pode, para mudar de humor tão rápido.

Crouch/Moody mandou-me outro bilhete – Mais que inferno! – Picotei o pergaminho e fiz questão de que ele visse o resultado de minha raiva.

Senti dor de cabeça e contorci o rosto. Escondi minha face no ninho, que fiz com meus braços – Em minha mente apareceu à imagem de Crouch, naquele dia na campina – Suspirei e levantei o rosto. Aquele desgraçado estava fazendo eu ter medo? Ele que espere pra ver quem tem medo de quem? Se ele continuar, contarei pra quem quiser ouvir que Moody, na verdade é Crouch Junior.

Mal comi, pois a maldita dor de cabeça continuava. Tentei ao máximo não demonstrar a dor. Quando não aguentei mais, saí dali o mais rápido possível. Parei nas masmorras e escorei-me na parede fria e pressionei minhas têmporas. Senti alguém passando por mim, era Snape indo para seus aposentos.

Estava cansada de vê-lo me ignorar como se eu não existisse em sua vida. Resolvi segui-lo.

- Com pressa Snape? – Encostei-me na parede e cruzei meus tornozelos.

- Não é da sua conta! – acho que sei de onde herdei tanta rispidez!

Desencostei-me da parede e aproximei-me dele.

- Tem certeza que não é da minha conta?

Ele olhou-me sério e virou-se, indo para sua sala.

- Conversando?

Quanto mais rezo, mais assombração me aparece! – Virei-me e coloquei a ponta de meu dedo indicador na boca.

- E desde quando lhe devo satisfação?

Queria matá-lo, mas se eu fizesse isso e não provasse quem ele realmente era, certamente, seria expulsa.

- Destruir meu bilhete não foi nada agradável...

Por que ele sempre tem que deixar a frase morrer no ar? Pare de usar reticências.

Olhei, com olhar assassino para ele.

- Vai para o inferno!

Andei, mas senti minhas pernas ficarem presas. Ele usa de artifícios mágicos para conseguir minha atenção.

- Acaba de ganhar uma detenção por mandar-me para o inferno...

Como se ele já não tivesse me ouvido falar aquilo antes!?

- E qual é a minha detenção?

- Na minha sala a meia-noite em ponto!

E o desgraçado saiu, deixando-me ali.

Eu tinha a escolha de ir e pagar qualquer que fosse a minha detenção, ou não ir e sofrer as consequências. Eu não tinha medo dele e sim nojo. Eu enfrentaria aquele ser grotesco, face a face e mostraria que ninguém se mete em minha vida.

Saí, faltando dez minutos para a meia-noite. Quando entrei na sala, Crouch estava em sua forma natural, com aqueles cabelos loiros arrepiados... Mas por que estou admirando seus cabelos?

Procurei o banquinho para sentar-me, mas não encontrei e sim uma cadeira rústica. Sentei-me e cruzei minhas pernas, o fitando. Reparei que ele observou meus movimentos com as pernas – Homens são todos iguais, somente muda a embalagem.

Ele estava com uma garrafa de absinto em mãos. Onde conseguiu aquela bebida? Absinto é trouxa, possui 98% de teor alcoólico, se tocar na língua queima e tomado em grande quantidade, você vê a Fada Verde, por isso a bebida também é conhecida como Fada Verde.

Crouch ofereceu a mim. Eu não devia aceitar, mas peguei a garrafa e bebi um pouco. Nunca havia tomado absinto e a bebida é forte.

- A minha detenção é beber? – disse com um sorriso nos lábios. Umedeci os mesmos, com sensualidade.

Crouch bebeu mais um pouco e olhou-me.

- Quero que você vigie o Vitor Krum.

- Não!

Levantei-me e antes de chegar à porta, fui virada bruscamente e prensada contra a parede.

- Você não tem escolha!

- Claro que tenho! Você não manda em mim!

Desvencilhe-me dele e senti meus cabelos serem puxados. Ele aproximou meu rosto ao seu. Tentei esmurrá-lo, mas não consegui – Que droga! Eu precisava me soltar dele, mas como? – Senti seus lábios em pescoço. Não aguentei e peguei uma adaga na mesinha e apontei para ele.

Ele paralisou e soltou-me. Afastei-me dele e segurei com as mãos a adaga, apontando pra ele.

- Vai usar... – indicou com os olhos a adaga. – contra mim?

- Sim.

Crouch aproximou-se de mim – continuei com a adaga apontada para ele – Ele segurou meu braço e o abaixou.

- Tem certeza que quer me atacar?

- Tenho.

Soltei-me dele e – sem querer – cravei a adaga em seu braço esquerdo. Ele afastou-se de mim, olhando o que fiz.

Deixei a arma do crime cair no chão e fui correndo, socorrê-lo. Nem percebi que há segundos atrás queria machucá-lo seriamente. Meu pensamento era de machucá-lo, mas quando o fiz, senti-me péssima.

Segurei o braço dele e rasguei sua camisa – fiz o maior estrago – comecei a retirar a Adaga, mas ele gritou de dor e percebi que a adaga possuía serra. O amordacei – era preciso – Comecei a retirar lentamente, com medo de fazer algo pior – ele apertava a perna com a mão direita, tentando transferir a dor. Sentei-me a sua frente, e forcei meu corpo para trás, tentando o impedir de se mexer, pois eu não conseguia retirar a adaga. Segurei seu braço e senti meu cabelo ser afastado de meu pescoço.

- Você é linda...

Fiquei com raiva e puxei de uma vez a adaga. Ele gritou e xingou-me de tudo quanto é nome. Apenas levantei-me e comecei a limpar-me. Eu ajudo, e o que recebo são palavrões. Estava magoada com ele, eu merecia respeito, e seu modo de tratar-me é de uma pessoa que gosta de ser o dominador.

Recolhi a arma do chão e comecei a limpá-la – Observei ele tentando lançar em si mesmo um feitiço de cura, que não estava dando certo. Bufei e deixei a adaga sobre a cômoda, fui até ele e peguei seu braço.

- Disfendio. – apontei a varinha para seu machucado, que começou a se fechar.

Virei-me, mas meu braço foi puxado. Parei, porém, não me virei para ver seu rosto. Ele era grosso e sem sentimentos comigo. Sua personalidade é igual à de pessoas que eu queria esquecer, das quais me fizeram muito mal quando eu era uma garota ingênua e desconhecia meu poder.

- Obrigado...

Novamente as reticências.

Apertei minha mão com força.

- De nada.

Saí pela porta, batendo a mesma, com força. Não sei como ninguém ouviu.

Desci até as masmorras e vi Snape, parado próximo à porta de sua sala.

- Entre! – ele disse e adentrou sua sala.

Como assim entre? Olhei-me e constatei que estava toda suja de sangue. Com certeza ele queria saber onde consegui me sujar tanto.

Entrei na sala, a porta fechou-se atrás de mim. Andei até onde Snape se encontrava, sentei-me em uma cadeira e observei-o atentamente.

- Andando pelos corredores... – Alguém pode me explicar porque quando querer nos amedrontar usam reticências? –...estando coberta de sangue...

Olhei as palmas de minhas mãos, todas ensangüentadas. Eu deveria tê-las limpado antes ter saído.

- Onde esteve para ficar assim?

Agora ele quer seu meu pai? Snape me abandonou, deixando-me ser criada por uma família adotiva. Fui deixada de lado por ele, que nunca deve ter querido me ter. Sinto raiva dele, de tudo que passei longe da minha família biológica. Tenho ódio de meu “pai” por nunca ter sido meu pai.

- Não é da sua conta e mesmo se fosse meu pai, eu não te contaria! – fui grossa.

Levantei-me e saí. Estava pouco me importando se ele se machucaria ou não, mas se ele ficasse ressentido, que ficasse, não dou a mínima para seus sentimentos.

Vaguei pelos corredores dos andares superiores, ficando em devaneios. Do que me adianta ser bruxa se não posso usufruir a magia do modo que eu realmente quero?

Eram cinco da manhã, quando retornei as masmorras. Entrei na banheira, rapidamente a água ficou vermelha. Passei um bom tempo ali dentro. Arrumei-me como de costume, coloquei meu uniforme, meu coturno e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo.

Faltava apenas meia hora para começarem as aulas. Não me preocupava com isso, nunca me importei em chegar na hora certa. Odeio pontualidade.

Sentei-me à mesa da Sonserina e peguei uma maçã. A observei. Um símbolo do pecado em minha mão, da ambição, do errado... Será que tudo na minha vida é errado? Dei uma mordida e a deixei de lado. Não sentia fome. Nem comi, nem bebi nada. Giulia olhou-me preocupada – da sua maneira -, lançando-me olhar repressivo.

Gian sentou-se ao meu lado e disse um “Oi” animado. Eu, não tenho animação faz tempo. Precisava de algo para me animar, mas isso nunca aconteceria.

Não respondi, saí dali e fui seguindo para a primeira aula do dia. Estava virando em um corredor, quando sou puxada e virada bruscamente, minha mochila caiu no chão e somente vi um par de olhos castanhos, antes de ser beijada.

Não poderia ser ele, então só tinha uma pessoa: Gian. Separei-me de seu beijo e o observei. Abaixei-me para pegar meus materiais, ele fez o mesmo e recolheu o que era meu, entregando-me.

Aconteceu o que penso que aconteceu? Não pode ser! Ou pode? Nossa, sou boa... Mas, claro que ele está apaixonado por mim, seus olhos o denunciam. Pena que não quero um namorado e sim curtição.

- Por que está fugindo?

Por que todos querem saber o porquê de fazer algo? Estou cansada de ter de dar satisfação do que faço. Isso é chato. Odeio quando me fazem esse tipo de pergunta. É invasão de privacidade.

- Tá entendi... Ficou muda.

- Muda o caralho! Só quero que parem de mandar na minha vida! Poxa! É um saco ter que responder tudo que perguntam! – gritei.

Ouvi exclamações. Observei ao meu redor e muitas pessoas estavam abismadas por eu ter gritado e ter falado um palavrão.

- Ah! Que se dane todos vocês, pouco me importo com suas caras. Faço o quero! Vão se ferrar...

Observei professora McGonagall se aproximar de mim.

- Senhorita Stwert, acompanhe-me, por favor.

Não tive escolha à não ser segui-la. Vou ser expulsa ou levar uma detenção das grandes.

Chegamos em frente a uma gárgula e a professora disse a senha “Torta de abóbora” e a estátua cedeu lugar a uma escada em caracol. Entramos no cabinete do diretor, o vejo sentado atrás de uma mesa e o fitando-me com seus olhos azuis, que parecem saber de tudo.

McGonagall deixou-me a sós com Dumbledore e saiu.

- O que ouve? – perguntou-me tranquilo.

Pensei que ficaria bravo, por ter um aluno a sua frente. Isso é um sinal de que ele descumpriu uma norma.

-...

- Por que não me diz o que te aflige?

E como ele sabe que tem algo me afligindo? Bufei e resolvi desabafar apenas algumas coisas. Contei sobre a minha falta de liberdade, o tédio freqüente e o modo como as pessoas se comportam referente a mim.

Dumbledore sorriu de leve – sorrindo pela minha desgraça? Não estou vendo-o fazer isso!

- Para de rir! – gritei com ele. Meu Merlin! Estou perdendo as estribeiras com o diretor! Vou ser expulsa!

Ele parou de rir e fitou-me.

- Desculpa... Mas odeio quando riem de algo que não considero engraçado...

Eu odeio tanto reticência, mas estou usando. Vai entender a mim.

- Não precisa se desculpar comigo, Aira, entendo o seu ponto de vista.

Fitei-o ainda mais.

- Quer contar-me algo?

Eu queria, mas não sabia se deveria seguir em frente.

- Não.

- Vá para a sua aula e diga para o professor Snape que estava comigo.

Droga! A próxima aula é a do Snape.

Levantei-me e aproximei-me da porta. Olhei de relance para o diretor e saí, mais feliz por ter desabafado.

Pelo menos não fui expulsa! Fiquei aliviada! Não aguentaria ter de voltar a frequentar uma escola trouxa e ter de reencontrar malditas pessoas, que odeio com todas as minhas forças.