Levantei no meio da noite. Não conseguia dormir. Tudo por causa da maldita carta que eu recebera horas antes de Geovanna. Ela deve estar fazendo tudo isso pra me deixar mais infeliz do que sou. Sentei-me na cama e peguei o envelope. Pensei na hipótese de cremá-lo e nunca mais vê-lo a minha frente. Acabei cedendo ao meu desejo de saber se o que estava gravado no pergaminho em letras garrafais e caprichosas, era tudo verdade.

Sabe Aira? Sempre gostei de você, mas saber que você é o que é, me fez ver com quem eu andava. Sinto repulsa em te ver e nojo de compartilhar da mesma casa. Seria muito melhor que você nunca tivesse nascido.

Quem disse que era forte, hein? Você se autodestruiu ao dar de bandeija o seu querido Fred Weasley pra minha irmã. Ele tem mais honra que você, não fingi ser quem não é.

Já que mencionei minha irmã, ela sempre amou o Weasley. Meus pais pensaram em mandá-la pra outra escola, mas Giulia conseguiu convencê-los o contrário. Quem é persuassiva, agora?

Tudo que eu vi você fazer, aprendi de uma maneira melhor. Você não merece estar em Hogwarts, sua sangue-ruim.

Não quero te menosprezar mais do que merece. Tudo de ruim que lhe acontecer acharei bem merecido. Ainda bem que abri meus olhos antes que eu acabasse como você, imunda e com a reputação em negativo.

Antes que eu me esqueça, nem eu nem Giulia temos inveja de vocês, apenas seguimos seus princípios.

P.S.Giulia e Fred estão namorando

Geovanna A. Cheege

Amassei a carta e o envolope e joguei contra a janela que estava fechada. Afastei as cobertas e fui em direção à janela. Deixei o ar gélido de uma noite de inverno invadir meu quarto. Subi no parapeito da janela e fiquei em pé, deixando minha cabeça pra fora e parte do meu corpo pra dentro. Eu queria gritar. E foi isso que eu fiz. Gritei bem alto pra que todos ouvissem.

Fiquei parada ali, esperando luzes se acenderem ou alguém ir até a rua e ver o que estava acontecendo, mas a única coisa que aconteceu foi eu ser puxada pra trás. Senti meu estômago parar em minhas costas. Fui colocada sobre a cama. Olhei meu pai, que fechava a janela.

-- O que pensa que está fazendo?

Ele estava muito furioso. Sentei-me cruzando minhas pernas sobre a cama.

-- Desabafando -- olhei pro lado e vi a bola de papel no canto da parede.

-- Isso não é coisa que se faça! E se você caísse dessa altura? Mesmo com a neve lá fora você poderia ficar gravemente ferida ou...

-- Morrer? -- ele não disse nada. -- Não tem problema se isso acontecer.

Meu pai segurou meus ombros. Tive a impressão de que ele fosse me sacudir como se eu fosse uma boneca de pano. Ele olhou em meus olhos e depois pra baixo.

-- Nunca diga isso! -- ele tremia. -- Não quero te perder, Aira! Quantas vezes terei que dizer isso pra você?

-- Seria melhor eu nunca ter nascido. Assim eu não sofreria tanto e não me iludiria.

Ele sentou-se ao meu lado e não disse nada, apenas retirou uma corrente do pescoço e entregou-me.

-- O que é isso?

-- Uma brecha no tempo.

Nunca tinha ouvido falar disso. Olhei dentro de seus olhos e ele entendeu que eu estava confusa.

-- É raro ter uma brecha do tempo. Elas se perderam no tempo ou foram destruídas. Você pode tratá-la como um gira-tempo, mas seu limite é muito maior, só é preciso escolher a data e dizer o nome da pessoa que você vai pro passado ou futuro.

Ele estendeu o cordão sobre eu e ele.

-- Basta estar segurando ou usando que ele funcionará.

-- Se é parecido com o gira-tempo, o seu eu não pode te ver.

Meu pai abriu o pingente e vi uma pedra vermelha sendo abraçada por uma linha de ouro, formando um laço. Ele apontou e varinha.

-- Tempus Passadus, Hayley Thompson, dezenove de abril de mil novecentos e setenta e nove.

Senti uma ar envolvernos, aos poucos as lembranças passavam em nossa volta. Um porta apareceu e se abriu pra nós.

Eu não estava com uma roupa adequada em aparecer em público, mas quando olhei minhas vestes, percebi que estava usando calça jeans, tênis e uma blusa branca básica. Meu pai usava a mesma roupa de sempre.

Andamos alguns passos e vimos Hayley Thompson andando com diversas sacolas na mão e de repente tromba em um rapaz - que percebi ser meu pai, muito mais novo. Ouvi um sussurro e o lugar desapareceu do meu alcance. Vi meu pai pensativo. Ele saiu do quarto sem dizer mais nada.

Fiquei segunrando a brecha do tempo em minhas mãos, como se fosse de vidro e pudesse quebrar a qualquer momento.

Não tinha mais espaço naquele vagão. Perambulei por todo canto e não vi nenhum que eu pudesse usar. A culpa de eu chegar atrasada é toda do meu pai. Ele ficou enrolando, dizendo que tinha deixado um pergaminho sobre a mesa da cozinha e que era muito útil. Ele esqueceu de como é ser um bruxo, pois foi caçar o papel do modo trouxa. No final ele encontrou, mas estava todo picotado, graças a Noite, que estava brincando com ele.

Minha última esperança era aquele vagão em que estava os Weasley, todos reunidos, junto de seus amigos. O resto estavam me dispensando como se eu fosse um obejto. Parei na porta e demonstrando a minha melhor face, perguntei:

-- Tem espaço pra mim? -- todos me olharam pasmos. -- Parece que toda Hogwarts me odeia...

-- Não é pra menos, Ra -- olhei pra trás e vi Geovanna junto de sua irmã. -- Você é um lixo...

Pulei no pescoço dela, apertando com força. A bati contra a parede do vagão e olhei em seus olhos.

-- Me chama mais uma vez de lixo! Vai me chama! -- ela apenas exibiu um sorriso sádico.

-- O que você faz contra alguém de sua própria casa? -- retirei minhas mãos dela. -- Fugindo? -- ela massageava o pescoço.

Respirei fundo pra me controlar.

-- Une! -- ouvi alguém gritar. -- Une minute.

Olhei e fica pasma em ver Claire eÂngela com o mesmo tom de cabelo castanho e sem parecem duas pessoas distintas.

-- Loira aguada -- Ângela aproximou-se de Geovanna. -- Você se acha bem esperta, não? Mas o que uma garota de quatorze anos pode fazer? E você sua invejosa -- virou-se pra Giulia. -- Na próxima que eu encontrar vocês duas importunando a Aira...

-- Não preciso da sua ajuda, Ângela.

-- Por que não?

Segurei com força a brecha do tempo em minhas mãos.

-- Apenas finjam que eu não nasci -- peguei meu malão e segui de volta pra plataforma. Ouvi gritos das gêmeas, dizendo pra eu parar, já que o trem estava saindo da estação. Abri a porta e senti o vento em meus cabelos.

Droga, eu pensei. Não consigo fazer isso. Queria me jogar do trem, mas não tinha coragem o suficiente.

Voltei-me e fechei a porta, bufando.

-- Ficou louca de vez, Snape? -- vi Parkinson rindo.

-- Se não quizer ter a língua arrancada por uma lâmina, é melhor me deixar em paz.

Ela estremeu, mas não perdeu sua pose.

-- E de onde você tiraria uma faca?

Abaixei a cabeça e ri.

-- Quem disse em faca, aqui? -- Olhei pra ela -- Não seja idiota, Parkinson! -- sorri com o canto do lábio. -- Só saiba que a ameaça ainda está de pé.

Joguei meu cabelo pra trás e passei por ela. Encontrei as gêmeas que estavam aliviadas.

-- Nunca pensei que você fosse dar um jeito nela! -- Claire estava espantada. -- Mas a ameaça...

-- Deixe ela pensar por si só, Claire.

-- Claire é nome de patricinha -- ela cruzou os braços.

Ângela riu.

-- Agora ela quer que todos a chamem de Clara. Teve uma péssima experiência -- voltou a rir, mas Clara ou Claire deu um tapa no ombro dela.

Olhei querendo saber o que estava acontecendo. Na cabine em que elas conseguiram. Foi dito a mim sobre os detalhes de tudo.

Clara começou a namorar um garoto, mas ele a confundiu com uma patricinha desmiolada e quando soube que ela tinha cérebro lhe chutou.

-- Garoto mais idiota -- eu disse, as duas riram. -- Acho que nenhuma de nós três tem sorte no amor.

-- Somos do clube das mal amadas -- disse Ângela.

Não discordei, mas também não concordei. Ficar a parte do que acontecia com elas era interessante, mas eu me achava uma invisível no meio delas. Elas sempre tinham algo de interessante e eu não.

-- E com você, Aira, aconteceu algo?

Contar sobre eu ter conhecido Voldemort estava fora de caso. Pensei e somente duas coisa me vieram a cabeça.

-- Meu pai me deu um albúm de fotografia uma foto de minha mãe. Ah... e também tem esse colar -- mostrei a ela o colar pendurado em meu pescoço.

Era muito ruim viver em Hogwarts com a Umbridge regulando tudo. Eu dava minhas escapadas, mas sempre ganhava uma detenção por ela. A almofada ambulante só não me castigava mais sério, pois ela dependia da dispensa de poções de meu pai.

Passei por meu pai, enquanto eu ia em direção ao salão comunal.

-- Aira.

Virei-me e o vi vir em minha direção. Ele me puxou pra sala dele e trancou a porta com feitiços. Ele ficou de frente pra mim e me abraçou forten. EEle estava apertando com carinho, mas eu sentia que havia algo naquele gesto repentino.

Meu pai olhou-me e percebi seu semblante triste.

-- Tenho coisas pra lhe dizer.

Ele começou a contar que meus pais adotivos sentiam falta de mim e que queria saber quando eu os iria visitar. Ele sentou-se na cadeira e passou a mão pelo rosto.

-- E quando poderei?

-- Não vai, Aira.

Não entendi ele. Madson e Charles estavam fora do país, na América, eu poderia visitá-los.

-- Eles morreram em um incêndio no prédio em que moravam.

Sentei-me, pasmada, na cadeira. Observei o chão, reparando bem nas formas das pedras.

Quem mais eu iria perder? Olhei para meu pai. Pulei no pescoço dele e comecei a chorar. Ele afagava meus cabelos e me consolava com palavras. Ele não era bom com isto, mas tentava a todo custo.

Fui proibida de comparecer as aulas até que eu estivesse melhor. Eu não teria que fingir estar tudo bem enquanto não estava. Nem pude conversar com eles direito. As cartas não podiam dizer tudo. Estava deitada na cama, abraçando o travesseiro e pensando porque tudo na minha vida tem que ser difícil. Desde que nasci, causo sofrimento ou sofro. Minha mãe morreu pra me salvar, meus pais se foram em um lugar longícuo e eu nem poderia ir visitá-los no cemitério. Quem será o próximo?

Ouvi a porta ser aberta e vi uma garotinha parada, me observando curiosa. Sonserinos são curiosos, mas ela era diferente, parecia querer saber de tudo.

Ajeitei-me e perguntei a ela o que queria.

-- Tem duas garotas iguais querendo conversar com você.

Levantei da cama e passei pela pirralha de onze anos.

A garotinha me lembrou tanto a mim quando mais nova. Dispersei esse pensamento imediatamente e fui ao encontro das gêmeas.

-- Que houve?

-- Meus pais adotivos morreram. Estou de luto.

Elas entenderam e não tocaram no assunto. Enquanto andavámos pelo castelo vi algo que achei impossível: Fred e Giulia juntos, no corredor e se beijando.

Eu nunca havia comprovado o namoro deles, mas naquele instante percebi que acabara tudo. Meu mundo ruiu aos meus pés.

§§§

Trailer do segundo livro

Eu poderia ser muito idiota em revelar, mas era a hora...

-- É isso que sou.

...o passado volta pra me assombrar...

-- Não tem mais chance...

...ocorre uma reviravolta...

-- Eu... eu... me desculpa pai. Eu não queria que fosse assim, mas...

... Faço tudo por amor...

-- Seu idiota!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.