Aira Snape

Apunhalada pelas costas


Desci das escadas apressada. Precisava chegar nas estufas o mais rápido possível. Quando estava chegando próxima as estufas, lembrei que havia esquecido minha varinha. Como eu pude esquecê-la? Voltei correndo.

A encontrei sobre minha cama, porém quando fui pegá-la, vi um Wingardium Leviosa fazê-la levitar.

Vi Giulia. Tentei pegar minha varinha e ela devolveu-me.

– Vê se não a esquece de novo!

Ela saiu como se nada tivesse acontecido. O que estava fazendo ali? Deveria estar na aula assim como eu.

Guardei minha varinha. Enquanto voltava para fora do castelo, pensava no que estava acontecendo com minha melhor amiga. Não era daquele dia que eu percebia diferença. Ela estava distante de mim, antes eu achava que era somente pelo baile, mas depois que este passou, ela continuava se distanciando de mim.

Entrei na estufa. Sprout nem percebeu minha falta? Fui de encontro a bancada onde estava Giulia. Comecei a prestar atenção no que a professora falava. O que era uma coisa difícil com tanto assunto em minha cabeça.

Subi apressadamente as escadas e percebi um movimento estranho próximo a porta do salão principal. Comecei a empurrar as pessoas. Eu não pediria licença em hipótese alguma.

Não acreditei no que vi. Meu mundo caiu. Logo quando pensei que estava tudo bem, sou apunhalada pelas costas pela Giulia e Fred que se beijavam.

Aproximei-me dos dois, que se separarm. Fred olhou-me assustado. Giulia estava enroscada ao pescoço dele.

Lutei pra não puxá-la e lhe estapear.

Ela sorria.

– Parabéns, Giulia – todos me olhavam pasmos pelo o que eu dizia. – Parabéns por ter conseguido o que sempre quis.

Giulia afastou-se de Fred e aproximou-se de mim.

– Não vai fazer nada?

Era normal ela estar confusa. Eu nunca parabenizei ninguém e em fui tão educada e persuassiva ao mesmo tempo.

Sim, eu estava sendo persuassiva. Era minha última tentativa de conseguir algo e não me machucar mais.

– Não. Não farei nada.

Giulia franziu a testa e começou a me atacar com palavras.

– Bem típico de uma mestiça imunda como você. Se acha superior só porque atrai mais olhares e é filha de um professor.

Ouvi tudo que ela disse controlando-me pra não matá-la com um Avada Kedavra.

– Farei algo – aproximei-me da orelha dele. – pior.

Olhei pra ela, que não acreditava no que acabara de ouvir.

Ainda próxima dela continuei:

– Mesma que eu precise ir até o inferno pra te encontrar, Giulia.

– Você não faria...

– Esses três anos de convivência não lhe renderam nenhum conhecimento sobre mim!

Virei-me e vi Fred.

– Aira!

– Não diga nada. Estou dispensando você, assim como fez comigo.

Saí da presença de todos.

Perambulei pelos corredores sem saber aonde eu estava indo, somente ia aonde meus pés me levavam. Estava absorta em devaneios quando parei em frente a uma porta. Percebi de imediato que era da sala de Moody.

Levantei minha mão pra bater na porta, mas resolvi não seguir em frente. Virei-me e quando dei um passo a porta se abriu.

– O que quer?

Olhei-o. Ele não estava em forma de Moody e sim a sua verdadeira.

– Posso entrar?

Ele ficou me observando. Com certeza queria saber se eu estava em meu juízo perfeito por ter sido educada e por ter pedido pra entrar em seus aposentos.

Crouch me deu passagem. Entrei e sentei-me na cadeira.

– Que devo essa sua visita expontânea?

Suspirei.

– Deve ser muito sério pra querer ficar no mesmo ambiente que eu.

– Não quero saber o que você pensa, mas não voltarei pro meu quarto sem saber de algo.

Crouch sentou-se em um banquinho a minha frente. Ele estava muito próximo.

– Que quer saber?

– Você já amou alguém e soube que é impossível ficar ao lado dela?

Ele me olhou sério e depois abriu um sorriso no canto dos lábios.

– Ainda não descobriu?

Crouch colocou sua mão direita em minha nuca e com a outra afastou uma mecha de meu cabelo para atrás da orelha.

– A pessoa que eu amo nunca poderia ser feliz comigo e nem eu com ela. Sou um Comensal da Morte – ele aproximou-se mais de mim.

– Quem seria ela?

Eu observava os lábios rosados dele.

– Você sabe que falo de você.

Crouch tocou de leve meus lábios e não pressionou o beijo. Foi bastante carinhoso e paciente. Não contrapus ao beijo. Correspondi ao carinho dele.

Nunca me senti tão solitária e precisada de carinho.

– O que você tem?

Ele segurou meu queixo fazendo-me olhar em seus olhos.

– Até parece que você não sabe.

Levantei-me da cadeira e me afastei dele.

Andei até a janela e olhei pra fora. Era primavera. Estava tudo florido – eu podia ver por causa da luz da lua.

– Se é pelo o que sua amiga disse e por causa do Weasley, já vou adiantando que não sirvo de consolo.

– Não quero consolo – bufei. – Só quero entender por que dói tanto...

Senti a presença dele atrás de mim.

– Nunca soube como seria estar apaixonado. Mas sei como é perder alguém que se ama.

– Crouch... – ele foi até uma cômoda. – Crouch, não posso ficar com você pois não te amo e nem daria certo. Você tem a idade pra ser meu pai.

Ele voltou-se para mim e estendeu uma manta enrolada. A peguei e fiquei surpresa em ver uma adaga e sua bainha.

– Crouch...

– Apenas aceite, Aira. Você tem um potencial pra armas trouxas.

– Como assim?

Eu não entedia o porquê daquilo tudo.

– Você é boa em pontaria.

– Eu treinava golf e arco e flecha antes de entrar em Hogwarts.

– Golf? – ele franziu a sobrancelha e olhou-me.

– É um esporte em que se usa um bola pequena, colocada no chão e com um taco bate nela até essa bola cair dentro de um buraco.

Ele nem ligou pra minha explicação.

Observei a adaga. A lâmina dela tinha gravuras. Reconheci como sendo Runas, mesmo não sabendo o que significavam. O cabo era de uma madeira envernizada em preto.

– Não espera que eu use minha mira com a adaga!

– Você saberá como usá-la.

Crouch me deixou sozinha e entrou no banheiro.

Fitei atentamente o objeto que acabara de ganhar de alguém que eu deveria odiar.

O que eu estava fazendo ali? Estava no quarto de um Comensal, que me machucou e que diz me amar – coisa que duvido muito.

Crouch demorava no banheiro. Estudei a possibilidade dele estar tomando. Depois me veio o pensamento de que estava planejando algo. E por último de que esperava a reação da poção polissuco em seu corpo passar. Descartei a do meio, assim como o sucicídio.

Ele não aparecia e eu estava ficando com sono. Eu era idiota de esperar ele, mas eu queria agradecer pela a adaga (mesmo não sabendo onde e porquê usá-la).

Sentei-me na cadeira e fiquei pensando.

Acordei sentindo um cheiro de eucalipto. Abri os olhos e demorei pra identificar onde estava.

Vi Crouch deitado ao meu lado e com a mão enlaçando minha cintura.

Levantei em um pulo. Eu não podia ter feito besteira!?

Procurei verificar se estava tudo bem. Nada fora do lugar.

Crouch sentou-se e esfregou os olhos. Ele estava horrível com aquele cabelo desgrenhado e com cara de sono.

– Você abusou de mim! – gritei.

Ele riu. Não gostei dele rir de mim.

Era estranho ver ele rindo.

– Não abusei de você. Só dormimos na mesma cama. Que bem que...

Joguei um travesseiro nele.

– Mesmo eu querendo não te obrigaria a nada.

– Arrá! – apontei o dedo pra ele, colocando meu pé sobre a cama. – Você abusaria de mim se tivesse oportunidade.

Crouch veio pra cima de mim e me jogou na cama. Ele sustentava seu peso sobre meu corpo.

Os lábios dele passeavam pela minha mandíbula, queixo e pescoço.

– Crouch. Seu nojento, para com isso!

Ele me olhou.

– Se sou tão nojente por que me procurou?

Ele me pegou desprevenida. O empurrei. Depois de pegar a bainha e amrrá-la em minha coxa direita, saí do quarto dele.

– Sempre vou estar disposto quando precisar.

O duplo sentido que percebi na frase dele me fez ficar gelada. O cretino ainda tinha esperanças de que o procurasse.

O infeliz poderia usar todos seus métodos, mas não voltaria a encontrá-lo.

Eu estava sentada no pátio, conversando com Ângela, Claire e Geovanna. Meu pai apareceu de repente.

Não de repente, que você se assusta como se tivesse visto um fantasma. Mas de um maneira que deixa claro que o “de repente” era algo importante.

Olhei pra ele.

– Aira, preciso conversar com você.

– Depois, pai. Vou na sua sala depois do jantar.

Ele lençou-me um olhar mortal. Decidi não contrariá-lo. Levantei-me e o segui até um árvore onde ninguém poderia nos ver ou ouvir.

– Conversei com Dumbledore e Madame Maxine. E eles concordaram que você deva estudar em Beauxbottons no quinto ano.

Fiquei pasma, mas não demonstrei.

– Quer dizer que não tenho direito de decidir onde quero estudar?

– Não é bem assim, Aira. Estive pensando muito essa noite. Depois do que ouve com você, creio que uma nova escola seja a melhor escolha. Não estou obrigando. Você pode decidir continuar aqui ou ir pra Beauxbottons.

Se eu fosse pra França, meu pai ficaria orgulhoso. Ele tinha a esperança de que eu me tornasse uma garota refinada e educada. Muita irônia.

– Vou pensar.

Voltei pra onde minhas amigas estavam. Elas não me trairiam como Giulia fez. Giulia tem inveja de mim e sempre quis estar no meu lugar. Ela que me acha imunda por ser mestiça morre de inveja de mim.

Sentei-me entre Claire e Geovanna, enquanto Ângela estava deitada sobre uma manta no chão.

– Ouve alguma coisa?

– Nada demais, Ge – joguei meu cabelo pra trás. – Meu pai quer que eu escolha em que escola estudarei no meu quinto ano. Aqui ou Beauxbottons.

Nenhuma das três gostaram de saber que eu poderia mudar de escola. Não disse a elas o que havia decidido, pois era uma esolha pra ser feita de cabeça fria.

O último dia do Torneio Tibuxo foi de muita intensidade. Diggory morreu e Potter dizia que Voldemort foi quem o matara.

Eu sabia que o Potter falava a verdade e quando vi o olhar de meu, sabia que o que Crouch me dissera antes da última fase começar era verdade.

Apertei com força minha varinha na mão enquanto Dumbledore dizia que Crouch usurpou o lugar de Moody e que era um Comensal.

Não entendia o motivo de ficar assim, mas não aguentei. Pra mim Crouch, mesmo sendo Comensal, era um pessoa boa.

Levantei-me e gritei de onde estava sentada. Todos olharam pra mim.

– Por que julgam ele dessa forma?

Fui até o corredor e comecei a andar em direção aos professores.

– Ele não era de todo malvado. Ele tinha sentimentos.

O Mossy verdadeiro olhou pra mim com seus dois olhos.

– Pra quem conviveu muito com ele, pode parecer isso.

– Fica quieto, Moody.

Ele levantou-se e apoiou-se em sua bengala.

– Todo esse tempo e você nunca o denunciou.

– Tive meus motivos.

Virei-me pra sair, mas fui chamada pelo diretor. Fui até ele que me entregou um envelope.

O abri e li.

“Sou muito idiota por estar escrevendo isso, mas é necessário.

Não fui atencioso com você e nunca saberia ser. Tudo que disse sobre o que senti é a mais pura verdade. Eu não sei mentir quando estou ao seu lado.

Me desculpe pelo o que fiz você passar. Mereço apodrecer no inferno e é isso que vai acontecer.

Nunca disse em palavras concretas, porém digo agora:

EU TE AMO

Não mereço te amar. Você nunca me amará como te amo, mas me sinto feliz em saber que não fui sempre odiado por quem amo.

Obrigado por me mostrar esse novo sentimento. Agradeço meus momentos insanos pra me controlarr ao seu lado.

Sempre vou estar disposto quando precisar.

B. Crouch Junior”.

Dentro do envelope havia uma corrente de ouro e um brilhante como pingente.

– Obrigada professor.

– Agradeça o dono desta carta.

Fui para fora e reli várias a carta. Crouch era um amigo – eu não duvidava disso – ele era um bom amigo.