Ain't She Sweet?

It’s been a hard day’s night


Bruna Schineider é a típica garota de dezoito anos que abandonou a cidade de Munique da Alemanha Ocidental, unicamente para vir estudar em Londres. Não que detestasse sua cidade. Mas aguentar sua família falando sobre a guerra que perderam para os Aliados, estava lhe cansando. E essa viagem a Londres se tornou seu ritual de independência. Ganhar a bolsa de estudos era tudo que queria. Ou ao menos pensava nisso...

Para o ano de 1964, ela fez uma série de planos. E se desse certo, fixaria residência em Londres, terminaria sua faculdade de Letras e se puder, outra de Filosofia e começaria sua tese. No entanto, percebeu algo estranho. O trem no qual embarcou andava devagar e parou na estação. De repente, três rapazes correram até o vagão e embarcaram, escapando da histeria de um bando de jovens que os perseguiam.

Os três seguiram no corredor e um deles, o mais jovem, se encantou pela garota alemã. Bruna olhou bem para ele e corou ao perceber que estava flertando. Desviou o olhar. Poucos minutos depois o trem andou, distanciando do bando louco juvenil.

—- Com licença. – Uma garota loira, baixinha e de vestido e um cardigã cinza bateu na porta da cabine. – Posso ficar aqui? As cabines estão cheias.

—- Claro. – respondeu Bruna.

A jovem alemã não gostava de conversar com gente que não conhecia e para disfarçar sua insegurança, pegou um livro na mala.

—- Esse é bom. – comentou a menina baixinha.

Bruna olhou a capa.

—- “O Médico e o Monstro”?

—- Isso. – disse, sorrindo. – Meu nome é Louise Maier.

—- Maier? – Bruna se espantou. Será que a menina ali era da Alemanha? – Você... Me perdoe perguntar. Mas você é da Alemanha?

—- Sim. – ela riu. – Metten.

—- Somos quase vizinhas. Eu sou de Munique. Me chamo Bruna Schineider.

—- Prazer em te conhecer, Bruna. Então, o Lester te chamou também?

—- Quem é Lester?

—- Ué? Não conhece Richard Lester? O diretor?

—- Eu não estou entendendo nada.

Louise deu risada e explicou cuidadosamente para Bruna a respeito do filme de uma banda de rock chamado Os Beatles e Richard Lester filmava a cena do trem, mostrando a era da beatlemania. Os jovens que ali corriam atrás da banda, eram contratados figurantes e Louise era um deles. Bruna escondeu o rosto no livro, de vergonha. Embarcou no trem sem saber que era tudo parte de uma filmagem.

—- Meu Deus! – Bruna colocava as mãos no rosto, ainda escondendo sua vergonha. – A última coisa que queria era participar de um filme de uma banda de rock. E agora?

—- O jeito é aproveitar. – Louise era mais animada. – Mas hoje eu tenho um plano.

—- De que?

—- Eu verei o Ringo Starr. O problema é que tem um grupo de garotas que vai filmar com eles no trem e uma delas... É a mais bonita.

Bruna entendeu tudo.

—- Não acha que pode dar um problema? E se você for presa?

—- O plano é simples e ninguém sai ferido. Só preciso ser cuidadosa. Vem comigo.

Bruna, sempre certinha, não gostava daquilo, mas ao lembrar do rapaz bonito visto no corredor ser um dos Beatles, animava mais. O único defeito era que não sabia seu nome. Ela e Louise encontraram um grupo de garotas se arrumando e conversando. As roupas lembravam um pouco os uniformes colegiais e das comissárias de bordo sem chapéu de acompanhamento. Louise furta duas destas roupas e Bruna olha numa das cadeiras das atrizes escrito “Patricia Boyd”.

—- Vamos, Bruna!

Elas voltaram para sua cabine e se trocaram rapidamente. No exato momento que saíram, foram chamadas para gravar.

—- Aí estão vocês. – chamou um figurinista. – Entrem logo no próximo vagão. O diretor chama todos.

Elas compareceram junto com parte do elenco. Richard colocou Bruna e Louise para gravarem na cena onde os Beatles e junto com ator Wilfrid Brambell, o que faz o avô de Paul McCartney no vagão onde guardam as bagagens pesadas e gaiolas de animais.

—- É o nosso dia de sorte, Bru! – Louise mostrava mais animação.

No exato momento que os Beatles apareceram, o tal rapaz jovem olhou Bruna e paralisou. A alemã tremia as mãos e queria emitir uma palavra.

—- Você deve ser a Pattie, não é? – perguntou o beatle mais jovem.

Bruna não respondeu. Tamanha sua alegria e surpresa, misturada com um pouco de indignação por ser chamada de Pattie.

—- Sim! – respondeu Louise, prontamente.

—- Sou George.

—- Bru... Digo, Pattie. – Disfarçou a menina.

A tomada foi anunciada e a claquete batida. Bruna tenta ser autêntica e sorria tanto para George, quanto para os outros. Louise ficou no lado de fora da cabine, junto com mais 3 meninas. Como por ironia do destino ou o universo quisesse conspirar a favor de Bruna e George, a música tocada era I Should Have Known Better.

I should have known better
With a girl like you.
That I would love everything
That you do
And I do,
Hey, hey, hey,
And I do.

Whoa, oh, I never realized
What a kiss could be.
This could only happen to me.
Can't you see?
Can't you see?

That when I tell you that I love you,
Oh,
You're gonna say you love me too,
Oh,
And when I ask you to be mine,
You're gonna say you love me too

So, oh, I should have realized
A lot of things before.
If this is love
You've gotta give me more.
Give me more,
Hey, hey, hey,
Give me more.

Whoa, oh, I never realized
What a kiss could be.
This could only happen to me.
Can't you see?
Can't you see?

That when I tell you that I love you,
Oh,
You're gonna say you love me too,
Oh,
And when I ask you to be mine,
You're gonna say you love me too

You love me too.
You love me too.
You love me too
.

Ao final da música, a cena a seguir a banda tinha que correr para o carro e escapar de novo dos fãs. Antes da retirada, George lança outro olhar para Bruna e seguiu junto com os outros.

—- Corta! – gritou o diretor. – Muito bom!

Louise e Bruna ficaram um pouco distantes do elenco de figurantes.

—- Sua sortuda. A gente se conhece há 40 minutos e já ganha o coração do George?!

—- Eu... não sou muito ligada a música, mas... George é tão lindo!

—- Harrison não é meu beatle favorito contudo ele canta muito bem. – Louise percebe que o diretor conversava com outros figurantes e assistentes. – Bruna, vamos para nossa cabine e rápido. Pegue suas coisas e vamos cair fora!

—- Mas por que?

Quando elas chegaram, deixaram as roupas do elenco na cadeira, pegaram as malas e saíram do trem.

—- Vou te contar. Quem deveria estar na cena na cabine com os Beatles enquanto cantavam, era uma atriz chamada Patricia Boyd. As roupas que pegamos era dela.

—- Puta merda! Trapaceamos! – berrou Bruna. – A gente pode ser presa!

—- Calma! Ninguém saberá quem somos. E veja o lado bom. Você estava diante dos Beatles, bem mais perto do George. E eu que só olhei pro Ringo.

—- Quer saber, chega de bandas de rock. Preciso me focar na faculdade.

Louise, também estudante universitária de Londres, guiou Bruna até o alojamento central e mostrou o quarto de sua nova amiga.

—- O que achou?

—- É legal. – Olhou para janela e avistou um estúdio branco. – Que prédio é aquele?

—- É o Abbey Road. É um estúdio de gravação.

Um novo começo de vida para Bruna e novos rumos para ela e sua nova amiga, Louise, iniciaram no trem... O restante... Era ver para crer.

Continua...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.