Eu não poderia ter escolhido um marido melhor para mim. O Ricardo é simplesmente fantástico. Ele não tem me deixado fazer nada, mas comprou tudo que é livro sobre jardinagem e orquídeas que ele achou. Eu tenho aprendido bastante e tenho passado a maior parte do meu tempo na estufa. Ele também comprou mais flores e mais plantas para mim.

Minha barriga também está enorme. 5 meses já. Amanhã eu tenho uma consulta com a doutora e tentaremos ver o sexo do bichinho. O danado ou a danada tem virado ou deixado a perninha na frente. Duas vezes já e não conseguimos ver nada.

Outro que quase surtou foi o Moacir. Eu falei, cansei de avisar para aqueles dois falar do romance deles para ele, mas eles me escutaram? Não. Deixaram o velho os pegar aos beijos emaranhados no feno dos cavalos. Ainda bem que estavam vestidos. Foi um auê. O Ricardo também reclamou e cuspiu marimbondos por uns dois dias. O João tinha certeza que ele estaria na rua, até eu estava acreditando nisso. Mas, com um pouquinho de persuasão feminina de minha parte, eu fiz aqueles dois cabeças duras verem o quão benéfico pode ser ela namorando em casa. Eles podem ter um olho neles e o bom é que o namorado dela já é um amigo querido nosso. A Mariana poderia ter escolhido alguém pior. Eles resmungaram mais um pouco, mas concordaram em deixa-los namorar.

O Ricardo também está projetando os móveis para o bebê. Ele tem passado as tardes desenhando e rabiscando medidas nos papéis. Ele desenhou um berço lindo que depois, quando o bebê crescer, se transformará em uma cama. Não sei como ele consegue pensar nessas coisas. Ele também comprou uma televisão e comprou alguns (muitos) DVDs de tudo o que é tipo. Desde séries a filmes. De terror a animações. Toda noite nos reunimos na sala para assistir algum. O João também se tornou frequente nessas sessões de cinema, mas acho que o que ele menos presta atenção é no filme. Ele e a Mariana se sentam no tapete e ficam abraçados todo o tempo. O Moacir pega a poltrona e o filme dele é a filha e o genro. Eu e o Ricardo nos deitamos no sofá e a Titília, abusada como é, reivindica o lugar dela em cima dos nossos pés que acabam servindo de travesseiro.

Hoje, depois do filme, eu, o Ricardo e a Titília fomos para a cama. Ele está com a mania de dormir me abraçando. Não reclamo, é uma posição confortável para mim, imagino que seja desconfortável para ele, mas ele insiste e eu que não vou reclamar. Vou é me aconchegar mais.

—Será que amanhã descobriremos o sexo do nosso bebê? –Ele perguntou, depois de me puxar para a nossa posição habitual de dormir.

—Espero que sim. Isso já está um pouco frustrante. Só espero que ele não seja teimoso e decida mostrar-se só no nascimento.

—Eu também espero que não. Eu estou morto de curiosidade.

—Você tem preferência?

—Não. Só quero que tenha saúde. Para mim já é uma benção suficiente que serei pai novamente. Seja o que for, eu já amo. Você tem alguma preferência?

—Eu também não tenho nenhuma. Eu só quero que seja saudável.

—Eu também, mas admito que uma garotinha não seria mau.

—Então você tem preferência!

—Não tenho. O que vier eu vou amar, mas queria uma menina para ser parecida com você. Você é linda! –Eu me derreti com isso. Ele é o Animal mais fofo que tem.

—E os nomes? Algumas sugestões?

—Maria Quitéria, Antonieta, Cleópatra, Amélia, Isabel, Helena de Tróia, Joana D’Arc... Apenas os nomes históricos mais famosos.

—Você está brincando, não é?

—Estou, Eu não colocaria de Antonieta, mas sim de Maria Antonieta. Para meninos pode ser Napoleão, Júlio César, Marco Antônio, Getúlio, Roosevelt, Pe...

—Pode parar! Você não vai colocar esses nomes no nosso filho. –O cortei.

Eu senti ele tremer e percebi que o desgraçado estava rindo. Ele só fez isso para me irritar!

—Ricardo! Estou falando sério! Você já pensou em nomes ou não?

—Não. Eu preciso ver primeiro com o que ele ou ela se parece para decidir um. Quais suas sugestões?

—Eu também não pensei. Eu esperava que você me ajudasse nisso. Sempre fui uma negação com nomes. Acho que é mais lógico fazer, como você disse, e esperar para ver o rostinho dele ou dela primeiro.

—Vamos pensar em um, juntos. –Ele falou me puxando para um beijo suave antes de dormirmos.

***

Era a minha consulta e eu estava um pouco apreensiva de saber se daria ou não para ver o sexo do bebê. A médica jogou o gel gelado na minha barriga e começou a procurar uma posição na tela. Eu sempre me emocionava ao ouvir o coraçãozinho dele ou dela. Nunca poderei esquecer da primeira vez que ouvi. O Ricardo estava comigo, ele sempre está, e ele chorou de alegria. Não foram aquelas lágrimas que quase o afogavam, foram algumas poucas, mas foram genuínas lágrimas de alegria. Hoje eu acho que quem chorará será eu se esse pequeno monstrinho não decidir se mostrar. Tão pequeno e já está nos manipulando a sua vontade.

—Acho que vai dar, deixa eu só virar aqui e... Lá está! –A médica disse, apontando para a tela.

—Doutora? –O Ricardo perguntou.

—Menina. Vocês terão uma menininha. Custou para a pequena tirar a perninha da frente, mas, com certeza, é uma menina. Espero que seja o que vocês queriam.

Eu olhei para o Ricardo e ele estava com os olhos cheios de lágrimas. Maldito, vai me fazer chorar também, vai nada, ele já fez! Eu nunca fui essa manteiga derretida e estou ficando com ele e os hormônios, mas não poderia ser mais feliz.

Acabamos de fazer o exame e pegar o novo exagero de vitaminas que a médica receitou e saímos de lá sorrindo como dois bobos. Eu estava com desejo de sorvete de milho com amendoim (estranho, eu sei, mas não discuta com uma grávida) e fomos ao shopping.

—Vamos ter uma filha. –Ele sussurrou.

—Parece que vamos.

—Uma filha. Uma pequena garotinha que será igual a você.

Do nada, aquele louco, me agarrou e me beijou como se o mundo dependesse disso. Porra, estamos fazendo uma cena no meio do shopping! Meu sorvete voou para longe com o susto. Ele terá que me comprar outro.

—Ricardo, estamos em público. –Falei quando ele parou de me beijar para tomar um ar.

—Não me importo. Eu te amo! –E ele me beijou de novo.

— Também te amo, Animal, mas se não parar de me beijar agora e me comprar um outro sorvete, sua filha vai nascer com cara de milho. –O ameacei.

—Tudo o que minha senhora quiser.

E foi tudo o que eu quis. Três sorvetes de milho com amendoim salgado por cima e mais dois hambúrgueres, um cachorro quente e um pacote de pipoca e fomos para casa dar a boa nova.

Parece que eles já estavam nos esperando. Quando estramos o Moacir, a Mariana e o João estavam na sala.

—E então? –O João perguntou.

—Menina! –Gritei.

Eles ficaram cabisbaixos e resmungaram algo sobre uma aposta.

—O que foi isso? –O Ricardo perguntou.

—Apostamos com o Fábio e a Patrícia e eles ganharam. Eu estava torcendo para um menino. –O Moacir falou.

—Além de apostar sobre minha vida sexual agora apostam com meus cunhados sobre o sexo do meu bebê? –O Ricardo perguntou, irritado.

—Isso não é o pior, vocês levaram meu irmão e minha cunhada para o mau caminho. Induziram eles a jogos de azar. –Falei, brincando.

—A sua mãe também está no meio, tia Sofi. – A Mariana disse.

—Eu devia mandar todos embora. Onde já se viu? –O Ricardo reclamou.

—De quanto foi a aposta? –Perguntei.

—300 contos. –O João disse, desanimado.

—Vocês são inacreditáveis. –Falei, rindo.

Eles nos parabenizaram e cada um foi para o seu canto. Eu liguei para meus pais e dei a notícia. Minha mãe ficou deslumbrada e, se não estou errada, acho que escutei meu pai fungar. O coroa se faz de durão, mas é sentimental. Eles, com certeza, farão alguma comemoração para isso, mas agora já está bom. Eu não tenho mais nada para esconder e o meu pai não tem mais ameaçado com capar o Ricardo. Eles ainda não são o exemplo de genro e sogro perfeitos, mas já fizeram grande avanço e, quando a pequena chegar, eu tenho certeza que derrubará qualquer rabugice que eles tiverem. Eu estou feliz.

Continua.