Ainda Em Meu Coração

Para alguém de Como Eu Era Antes de Você, da Rain


Campinas, 27 de abril de 2016

Querido Will,

Você é mesmo marcante.

Semelhante à sua, minha enorme teimosia — esse traço pouco charmoso que compartilhamos — me impediu de ver isso mais cedo, apesar do entusiasmo incondicional de minhas amigas. Por já conhecer o final, eu resisti ao durante de sua história com a Lou, mas eu sempre soube que isso não duraria muito.

O que eu realmente não esperava era ser conquistada por você. Não era mesmo muito óbvio, sendo você tão hostil no começo. Mesmo assim, aconteceu. Devo confessar, porém, que ela, a Clark, como você preferia chamá-la, me ganhou primeiro. Com você demorou um pouco mais. Foi lá pela época do aniversário dela, quando você parou de esconder que ainda estava bem vivo sob a depressão que te paralisou mais que o acidente.

Mas com a Clark as coisas foram diferentes, e acho que você, melhor do que qualquer outra pessoa, é capaz de entender por quê. As roupas malucas e a língua solta eram irresistíveis, afinal. É preciso muita coragem e um espírito livre para ostentar aquela personalidade e você também viu isso nela.

Não que fosse fácil, porque você sabe, a Lou se escondia também. Um imenso desamparo sob as camadas de maluquice. Um medo silenciador que você enxergou e curou, transformando a menina daquela noite no labirinto, a que se encolheu esperando por sua ajuda, na mulher forte que lutou ferozmente por você até o final. E que depois sobreviveu à sua perda.

Mais do que isso, você a transformou em alguém capaz de viver.

Foi assim que Louisa Clark ficou depois de você. E o jeito como ela era antes ressoa nos medos que todos nós carregamos, por um motivo ou por outro, mas na frente dos quais você tem este estranho talento de nos colocar, para então percebermos que eles são menores do que parecem. Sua história nos faz, necessariamente, relativizar nossa maneira de ver o mundo. Talvez seja por isso que não se escapa ileso de você. A gente acaba olhando de perto para coisas nas quais preferia não pensar e as conclusões que tiramos nos mudam.

A minha foi que, ao contrário do que muitos diriam e do que a própria Clark jogou em sua cara, você não foi covarde. Quer dizer, foi também, porque a situação era mesmo assustadora. O tempo todo. Sem trégua. E eu não te culpo por querer controlar o pouco que podia. Mas a sua coragem foi maior que sua covardia, porque foi preciso um espírito livre para abrir mão de ser Will Traynor, mesmo que ele já não fosse o mesmo. Acima de tudo, foi necessário ser forte para pegar todo o amor da Lou e devolver para ela na forma de esperança de muito mais, em vez de se ancorar em tudo o que ela podia te oferecer.

Ela queria amar você e você certamente queria ser amado. Mas você não pôde ser egoísta. Não com ela. E apesar de ter desejado desesperadamente te segurar aqui, eu entendo. Eu respeito você.

Espero que esteja bem.

Sinceramente.

Rain