Para alguém de Capítães da Areia

Campinas, 03 de maio de 2016

Querida Dora Bala,

Foi incrível o que você fez durante sua vida ao lado de Pedro Bala, chefe dos Capitães da Areia e seu eterno admirador e marido.

Fiquei pensando muito sobre como escrever esta carta, pois não tinha palavras para descrever o quanto você é especial para mim, até que cheguei a uma conclusão: você é incrivelmente doce e admirável, obrigado por ter sido uma verdadeira mãe para todas as crianças abandonadas que viviam no trapiche.

Quando você e seu irmão chegaram, todos te olharam de maneira diferente, mas não foi sua culpa, o motivo disso foi porque eles não confiavam em ninguém. Suas vidas até então eram uma rotina de abandono e solidão, tendo que roubar para se alimentarem e terem algo para vestir... A vida de andarilhos das ruas traz pesadas consequências.

A sua até encontrá-los foi muito difícil, pois seus pais morreram de varíola, deixando você, com apenas 14 anos, e seu irmão mais novo sozinhos no mundo. Seu sofrimento por ser órfã e não ter mais ninguém para chamar de família também remete à vida de cada criança dos Capitães da Areia, tendo o mesmo sentimento de tristeza, por isso sua identificação com o grupo foi imediata.

Mas esse sentimento ruim foi logo embora, transformando-se em uma coisa maravilhosa, o AMOR, que através do seu carinho contribuiu para mudar várias histórias, assim como seus conselhos de mãe, sua ajuda, sua paciência, tudo o que você foi. Fique sabendo que por tudo que fez os Capitães da Areia não assaltam mais para sobreviver, seu marido virou grevista, levando todos com ele.

Querida Dora, acredito que onde você estiver também estará seu brilho encontrando cada criança que necessita de uma luz, de um abraço e de um carinho, sempre iluminando a obscuridade que aflige todas as crianças sem família e que moram nas ruas por todo o mundo.

Com carinho,

Seu Admirador