Após cinco anos longe David Clarke estava de volta aos Hamptons, muitas coisas haviam mudado, Amanda assumiu seu nome, se casou com Jack e agora o ajudava a criar Carl assim como Kara a menininha que adotaram, eles viviam felizes na casa de praia. Charlotte ganhou juízo, foi aprovada em uma universidade de Londres e passou quatro anos lá, agora trabalhava em uma grande revista em New York, e iria se casar com Jared um jovem e bem sucedido médico, era exatamente por isso que ele estava ali, teria a oportunidade de levar sua filha ao altar em dois dias, enfim tudo havia mudado inclusive ele, que já não era mais o mesmo mas estava em seu lugar, se é que aquele algum dia foi o seu lugar.

Durante esses cinco anos ele dedicou sua vida a fazer o bem, viajou para o Oriente Médio onde passou a ajudar na reconstrução de vidas destruídas pelas guerras, ele se sentia bem fazendo isso, era sua maneira de fazer valer o sacrifício de Victoria.

Assim que chegou aos Hamptons David foi direto para a praia, aquela praia que lhe trazia tantas lembranças contraditórias, lá ele havia passado ótimos momentos ao lado de Amanda na infância dela, encontros inesquecíveis com Victoria, horas de seu dia pensando nela, e lá a havia visto morrer em seus braços, e esse ele poderia dizer foi o pior momento de sua vida. Após uma longa caminhada ele sentou no lugar onde costumava ficar com Victoria vinte e cinco anos antes e se pôs a observar o mar e também sua aliança, sim ele ainda usava sua aliança que tinha o nome dela gravado, e isso afastou várias mulheres que o olhavam com interesse em suas viagens, o que nenhuma delas poderia imaginar é que ele era um homem viúvo, um homem viúvo de aliança no dedo. Ele enxugou uma lágrima que escorreu em seu rosto enquanto escreveu o nome dela na areia, mais lágrimas inundaram seus olhos azuis quando os acontecimentos do passado vieram em sua mente.

Após onze anos dado como morto David Clarke teve seu nome limpo e finalmente pode voltar a ter o controle de sua vida, seu primeiro ato foi procurar Amanda e se reconciliar com ela, depois se aproximou de Charlotte com quem teve uma conversa linda e emocionante, por último agradeceu a Nolan por ter protegido sua Amanda. Mas isso foi fácil, o difícil foi reencontrar Victoria, ele já a havia perdoado mas a desconfiança ainda estava impregnada em seu ser, ela desistiu de se vingar de Amanda, se concentrou em reconquistá-lo e acabou conseguindo, afinal eles ainda se amavam. Assim eles retomaram o romance de maneira lenta, era uma relação repleta de amor, porém frágil, qualquer palavra inadequada poderia quebra-la, para dificultar ainda mais as coisas Amanda se mostrou irredutivelmente contra e tentou sabota-los inúmeras vezes, mas só conseguiu uni-los ainda mais, porém por culpa dela Daniel soube a verdade sobre a morte de Conrad e isso trouxe consequências catastróficas para todos.

Após um namoro curto eles resolveram oficializar a união, algo que queria ter feito vinte anos antes, no ínicio Victoria estava um pouco receosa mas depois considerou o quanto seria bom se livrar do nome Grayson e se tornar a senhora Clarke. Os preparativos para o casamento foram poucos e rápidos, eles não tinham motivos para esperar, já haviam esperado mais de vinte anos.

Quando o dia do casamento chegou David acordou com uma batida na porta, ele olhou no relógio surpreso, eram apenas sete da manhã, se espreguiçou rapidamente, sorriu ao ver Victoria ainda dormindo a seu lado e se dirigiu a sala onde viu sua filha mais velha parada do lado de fora, ele suspirou e abriu a porta falando:

-Bom dia Amanda!

-Bom dia pai, posso entrar?

Ele assentiu e ela entrou parecendo constrangida, sentou no sofá e começou perguntando:

-É hoje não é?

-Sim.

-Está feliz?

-Amanda...

-Eu não vim questionar nada pai!

-Não?

-Vim abençoar você, quero que seja feliz, você merece isso, se vai ser com ela paciência!

-Oh minha filha venha aqui!

Emocionado ele a puxou para um abraço, ela correspondeu imediatamente e deixou que algumas lágrimas escapassem, permaneceram assim por minutos e quando se afastaram

ouviram a voz de Victoria que pedia:

-Amanda podemos conversar?

-Sim.

David assentiu e deixou o cômodo, quando voltou sorriu brilhantemente ao ver as duas pessoas que mais amava abraçadas pela primeira vez e sentiu naquele momento que finalmente seria feliz.

Horas mais tarde tudo estava pronto na praia e David esperava ansiosamente em seu terno branco com um sorriso enorme que só aumentou ao vê-la chegando, ela estava ainda mais linda e ele se perguntava como isso era possível.

Victoria usava um vestido solto e levemente rosa, seu cabelo estava solto com seus cachos negros caindo sobre os ombros, sua maquiagem era leve e ela tinha o sorriso mais pleno que ele já havia visto em seu rosto, quando ela se aproximou ele apertou sua mão, como se para certificar-se de que era realidade. O juiz de paz então começou a falar, além deles, só haviam Charlotte, Amanda e Nolan, para ele era suficiente, suas filhas e seu melhor amigo mas ele sabia que a falta de Daniel doía em Victoria, o rapaz havia se recusado a comparecer. Após o belo discurso do juiz Charlotte entregou as alianças ao pai, que colocou uma no dedo de Victoria enquanto falava:

-Victoria receba essa aliança como prova de meu amor e da minha fidelidade e acredite ela nos unirá até o fim de nossos dias, pois eu nunca mais quero perde-la!

Ela sorriu enquanto lágrimas de emoção brotavam em seus olhos castanhos, pegou a outra aliança e começou a falar com a voz quase embargada:

-David receba essa aliança como prova de meu amor, fidelidade e lealdade e acredite que eu sempre irei ama-lo infinitamente e que ada poderá nos separar ou apagar nosso amor!

Eles se beijaram felizes enquanto os presentes aplaudiam, depois assinaram os papéis e David sorriu ao vê-la assinar seu nome, Victoria Clarke, esse foi o melhor momento de sus vidas, o que ninguém poderia imaginar era que em instantes tudo se dissiparia.

Quando eles viraram para os presentes os sorrisos de ambos desapareceram ao verem Daniel se aproximar, ele estava nitidamente embriagado e trazia uma arma, quando estava perto o suficiente ele perguntou:

-Então você realmente teve a coragem de casar com esse canalha, mãe?

-Tive Daniel, porque eu o amo e ele não é nenhum canalha!

-Não, é só um assassino!

-Daniel eu não admito...

-Cale a boca!

-Não fale assim com sua mãe!

-Daniel o que você quer? Perguntou Charlotte assustada.

-Chega! Só eu falo aqui!!!

-Daniel por...

-Só eu Emily, Amanda, sei lá!

Um silêncio torturante tomou conta do local por vários segundos, David não sabia o que fazer e ficou aliviado quando Victoria apertou sua mão, Daniel então começou:

-Esse homem destruiu nossas vidas, nossa família, ele te afastou do papai, transformou o casamento de vocês em um inferno, se fingiu morto, mandou a filha se vingar de nossa família e matou o meu pai!

-Daniel...

-Eu não terminei! Mãe como você pode se casar com o assassino de um homem com quem foi casada por quase trinta anos e teve um filho?!

-Eu o amo Daniel, como nunca amei ninguém?

-Você não pode ficar com ele!

-Daniel há vinte anos sua mãe sacrificou a felicidade dela por você, para não perde-lo!

-Eu não pedi nada!

-Mas ela fez por amor, ela não foi embora comigo para ficar com você, agora é injusto você impedi-la de ser feliz novamente!

-Eu não quero impedir a felicidade dela, quero impedir a sua!

-O seu pai já fez isso há vinte anos!

-Não fala do meu pai!

-Não fui eu quem o destruí Daniel foi o contrário!

-Você mereceu ser destruído naquela época e agora também!

Assim mais uma vez com o álcool nublando seu juízo Daniel apontou uma arma e disparou, num ímpeto Victoria se pôs na frente de David e foi atingida no peito caindo ensanguentada nos braços dele. Todos ficaram chocados, o primeiro a reagir foi Nolan que tirou Daniel que estava atordoado para longe, Amanda ligou para a emergência, enquanto Charlotte foi para perto dos pais.

A vida já estava deixando Victoria, David viu o sangue escorrer para fora de seu corpo gélido e pálido, ele segurava sua pequena mão de maneira tão firme que seus dedos estavam brancos, ela sorriu levemente e disse com dificuldade:

-Eu te amo David!

-Não se esforce, o socorro já está chegando, você será levada ao hospital e tudo ficará bem!

-Eu sei que não vai Davi...

-Vai sim nós seremos felizes!

-Eu não nasci para ser feliz!

-Não fale assim Victoria!

-É verdade, eu só me arrependo de não ter vivido os últimos anos a seu lado!

-Eu te amo tanto!

Ela sorriu novamente e disse já quase sem forças:

-Eu só quero uma coisa!

-Fale querida, eu faço o que for!

-Me coloque no seu colo e repita as palavras que falou durante nossa primeira vez juntos!

Ele esboçou um pequeno sorriso e a pegou nos braços, olhou profundamente em seus olhos e ela viu tanto amor no olhar dele que acariciou o seu rosto, ele beijou sua mão e começou a falar enquanto ela descansava a cabeça em seu peito.

-Não precisa ter medo Victoria, eu não vou deixa-la nunca, eu estou realmente apaixonado, quero ficar sempre ao seu lado. Ei olhe para mim eu quero cuidar de você, eu só quero segura-la hoje e sempre, a amarei infinitamente e saberei esperar até o dia em que a terei definitivamente em meus braços!

Ela suspirou tranquilamente e fechou os olhos, ele sentiu seu corpo amolecer em seus braços e chamou por ela com a voz quebrada em emoção, sem obter resposta, então abraçou a pequena o pequeno corpo já sem vida e começou a implorar para não ser abandonado, Charlotte caiu de joelhos ao lado do pai e sussurrou timidamente em lágrimas:

-Pai ela se foi!

David olhou para filha espantado havia esquecido que ela estava ali ele largou o corpo da amada e ficou a observar em silêncio por segundos, ela era tão linda, tão perfeita mas nunca encontrou felicidade, ele não pode deixar de pensar em como a vida havia sido injusta com eles, acariciou o rosto dela novamente e um pensamento aterrador surgiu em sua mente “agora é o fim”.

O enterro foi simples, nem parecia algo para a rainha dos Hamptons, mas Charlotte afirmou que ela iria preferir assim, apenas ela, David, Amanda e Nolan novamente. O discurso foi feito por David, foi um discurso de alma, não havia nada escrito e ele falou tentando controlar a rachadura na voz:

-Ontem deveria ter sido um dia feliz, após vinte anos eu e Victoria finalmente realizaríamos o sonho de nos casarmos mas ela não pode ser minha esposa por mais de cinco minutos. Ontem quando ela acordou de manhã ao meu lado eu nunca poderia suspeitar que seria a última vez, ontem quando ela riu de uma bobagem que eu disse jamais imaginei que não ouviria o som de sua risada novamente. Enfim ontem foi o início e o fim, o início de uma felicidade plena e o fim de toda a chance de felicidade, o início de um casamento e o fim de um futuro, o início de uma vida a dois e o fim de duas vidas. Ontem eu acreditei na felicidade, acordei feliz, sorrindo, e dormi vazio, chorando, mas o problema não foi ontem, o problema é hoje, hoje eu não posso viver sozinho, nem hoje nem nunca, mas eu estarei sozinho para sempre. Você partiu desse mundo Victoria mas nunca vai partir da minha vida e da minha memória!

Quando ele terminou todos tinham os olhos molhados, ele então se aproximou do caixão, tocou a madeira fria e ficou alguns minutos parado, chorando calmamente depois falou firmemente:

-Eu vou honrar seu sacrifício querida vou fazer algo da minha vida que a deixe orgulhosa!

Após o fim do enterro David quis ficar sozinho em casa, Amanda e Charlotte não queriam permitir mas ele foi irredutível e elas não puderam fazer nada. Quando chegou em casa ele foi direto para o quarto onde observou as roupas de Victoria no armário tocando uma por uma, depois se aproximou da cama, pegou seu travesseiro e o abraçou sentindo seu cheiro inconfundível, ele sentou na cama repensando os acontecimentos, era para ele ter morrido, era para ela ter falado no seu enterro, era para ela estar ali olhando suas coisas, buscando sua presença, ele se perguntava porque ela havia dado sua vida pela dele, então se deu conta, ela já havia sentido a dor de perde-lo, embora ele estivesse vivo ela não sabia, ela sofreu sua morte por onze anos, ela não merecia sentir isso novamente, era a vez dele, e ele entendia o quanto ela havia sofrido.

Nos dias que se seguiram ele viveu em um estado de torpor, não conseguia entender ou aceitar o que havia acontecido, várias vezes ele havia se pego esperando por ela, chegando em casa imaginando encontrá-la. Ele não conseguia olhar para a praia sem chorar, mas fazia isso diariamente sem ao menos entender o motivo. Depois tudo foi melhorando, não deixou de doer, ele não parou de sentir ou sofrer mas se acostumou, decidiu que realmente precisava honrar a vida que Victoria havia lhe poupado, então pesquisou bastante e foi viajar, sem saber quando ou se voltaria.

David só foi retirado de suas lembranças quando ouviu a voz doce de Charlotte que perguntava:

-Pai está tudo bem?

-Sim querida.

-Você estava chorando há um bom tempo!

-Acredite fazia muito mais tempo que eu não chorava.

Ele sorriu levemente enxugando as lágrimas, ela também sorriu e sentou ao seu lado perguntando:

-Estava pensando na mamãe não é?

-Sim, essa praia traz todas as lembranças de volta!

-Para mim também, eu só venho aqui pela Amanda!

-O que mais me doí é que eu fui feliz aqui filha, eu tive bons momentos, mas eles foram apagados só aquele dia persiste!

-Sinto muito!

-Mas e o Daniel como está?

-Continua preso e espero que fique lá para sempre!

-Charlotte...

-É o que ele merece, e eu não quero mais falar dele!

-Tudo bem, cada vez mais você se parece com sua mãe!

-Eu gosto disso!

-Eu sinto tanta falta dela!

-Pai eu odeio vê-lo assim!

-Pode parecer egoísmo e é mesmo, mas eu vi tanta dor, tanto sofrimento nas minhas viagens e sempre me considerei mais infeliz e injustiçado que aquelas pessoas!

-Pai você precisa recomeçar sua vida, encontrar alguém!

-Como tem coragem de dizer isso?

Ele gritou, ela olhou para baixo e se surpreendeu ao ver a aliança perguntando:

-Você ainda usa aliança?

-Sim!

-Pai fazem cinco anos!

-E daí? Ela se foi eu sei mas eu jamais vou tirar a aliança ela levou a dela, isso nos mantém unidos!

-Pai ela não vai mais voltar!

-Eu fui ao túmulo dela hoje, levei rosas, sentei e contei tantas coisas a ela foi como se ela estivesse ao meu lado, me ouvindo, eu queria conversar um pouco!

-Isso te fez se sentir como?

-Eu só sinto culpa Charlotte sua mãe só morreu porque eu matei o Conrad!

-Pai...

-Eu faria tudo diferente se eu tivesse a chance!

-Pai...

-Me deixa sozinho Charlie, por favor!

Ela assentiu em silêncio, beijou a cabeça dele, levantou e o deixou.

Ele ficou em silêncio, tirou uma foto dela do bolso e ficou a observar, sentia tanta falta de ver seus olhos, seu sorriso era como um pedaço do céu para ele. Depois pegou a foto e colocou firmemente contra o peito, suspirou pesadamente, ele só queria segura-la mas infelizmente tinha a certeza que tudo havia tido um fim.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.