Aftermath

Capítulo 12


Kallan a explicou que se ela parasse de procurar as asas nas suas costas, elas não estariam ali.

─ Ainda não entendo, ainda as vejo não importa o quê.

─ Com você não irá funcionar porque você está as procurando e já as viu antes... Vamos para um lugar onde tenham pessoas que ainda não as viram e você perceberá que vão continuar sem ver. – Ariza olhou-o desconfiada, olhou para o novo celular e calculou mentalmente à distância.

─ Esse endereço fica a duas quadras daqui, iremos a pé, se algo der errado eu finjo que não te conheço.

─ Mas você me conhece. – Kallan disse sério.

─ Ah deus, é só uma brincadeira, um modo de falar.

Eles começaram a andar pelo corredor, Ariza se segurou na parede de repente.

─ Você está mesmo bem?

─ Estou, apenas estou com muitoooo sono.

Eles caminharam e pegaram o elevador, saíram sorrateiramente no saguão meio vazio e então pelas portas, ninguém havia reparado nas asas, mas Ariza estava um tanto desconfiada.

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Kallan olhava para todos os lados de Nova York, era engraçado, ele parecia uma criança deslumbrado com uma decoração de natal.

─ Gostou da cidade? – ele sorriu para ela, um golpe baixo.

─ É diferente de qualquer lugar que já tenha ido.

Sim, Ariza lembrava-se do planeta onde estavam. Ela passou todo o tempo lá desacordada, mas por algum motivo experimentou uma conexão mental com Kallan que a permitiu ver muitas coisas, inclusive o homem alado que tentara matá-la antes. O planeta tinha uma ruína de uma civilização muito antiga, todos que estavam lá era sobreviventes de algum desastre, existiam alguns como Kallan que eram os últimos da espécie e outros que estavam perdidos e nunca acharam novamente o lar.

Kallan continuava olhando para todos os lados, até que chegaram a uma rua movimentada e as pessoas começavam a esbarrar nele e nas asas, que realmente pareciam invisíveis para os outros, Ariza pegou sua mão e o puxou para perto dela.

─ Assim não vai adiantar suas asas estarem invisíveis, porque todos irão senti-las. – ela riu da cara boba dele.

Ela também se sentia meio boba. Eram 2 da manhã e NY ainda tinha pessoas acordadas andando por ai, depois de 2 anos, que para ela foram muito mais, lá estava ela, andando nas ruas normalmente, de mãos dadas com um garoto e rindo um para o outro de tempo em tempo.

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─ Porque você está segurando minha mão, Ariza? – Kallan perguntou, depois de eles andarem um pouco.

─ Desculpe. – ela olhou em volta e leu uma placa. – Chegamos, é aquele prédio vermelho, vamos.

Enquanto caminhava Ariza se perguntou por que reagia aqueles garotos, com Teddy havia um pequeno pedaço de história que a atraia como gravidade, com Kallan era como se o desconhecido de tudo nele a empurrasse para longe e puxasse de volta ao mesmo tempo, era como se houvesse duas dela lutando para ver quem iria vencer e quem ela iria ter.

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“Duas? Bobinha.”

Ariza olhou em volta, teria sido o vendo?

─ Ariza, o que foi? – Kallan a chamou, ela sorriu.

─ Nada.

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Eles entraram depois de Ariza passar o celular na fechadura e Jarvis a abrir, o lugar lhe parecia um tanto familiar, mas ela não sabia como, deveria ser aquela coisa de NY e filmes, tudo parece familiar.

Eles subiram o lance de escada para o 1° andar, no térreo ficava a garagem e ela não sabia se morava alguém no 2° andar, mas Jarvis tinha deixado claro que ela ficara com o 1°. O apartamento era espaçoso, havia dois quartos, o que era bom, afinal ela não sabia o que faria com Kallan e achava que ele não caberia em um sofá.

─ Ahhhh. – Ariza se espreguiçou – Vou dormir; você fica naquele quarto e eu nesse – ela apontou para as portas no corredor longo – Qualquer coisa pode me chamar.

─ Certo. – Kallan sentou no sofá, asas abertas e puxou a espada e a bainha.

─ Você não vai dormir?

─ Não.

─ E vai ficar fazendo o que até amanhecer? – se bem que não iria demorar muito.

─ Afiar minha espada. – Ariza riu, gargalhou na verdade. – O quê?

─ Nada, me lembrei de uma piada humana... Ei Kallan, como todos vocês falam e entendem inglês?

─ Seu presente. – ela fez careta – Quando você estava aqui. – batei o dedo na têmpora. – Você lembra não é?

─ Sim. Lembro. – ela sorriu.

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Ela deitou-se na cama e começou a lembrar.

─ É eu lembro, eu lembro... – lágrimas escorreram pelo seu rosto.

Lembrava da dor quando absorveu a matéria negra, do medo que sentiu, do rosto de todos quando ela sorriu e desapareceu. Lembrava do ataque que o pai de Kallan quase a matou. Lembrava de ter matado-o ou coisa do tipo. Lembrava da mãe em seu sonho. Lembrava de Teddy triste. Lembrava de Kallan a abraçando. Lembrava do fato do pai não estar mais ali. Lembrava de estar no escuro e de o anjo chegar. Lembrava do toque quente em sua mão quando ela achou que a escuridão ia a afogar, de como ele permaneceu visitando sua mente e ponto a dele em risco para que ela não enlouquecesse. Lembrava dele, lembrava...

─ KALLAN! – a porta abriu e a espada brilhou com a luz que entrava pela janela.

─ Pesadelo? Ei, você está acordada?

Ela virou na cama, estava dormindo, mas um sono agitado, tremia de frio.

─ Tsc, ela vai querer me matar. – ele guardou a espada e a jogou em um canto perto na cama e deitou ao seu lado, as asas a envolveram e ela se acalmou.

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Ariza abriu os olhos e ainda estava escuro. Estava quente e ela não queria se levantar, tentou se espreguiçar e bateu em algo.

─ Ka... llan. – Ele estava dormindo junto com ela, quando? Lembrava-se de ter um pesadelo, de ter lembranças na verdade e dele ter aparecido nelas, talvez fosse por isso que ela reagia a ele, ele a mantinha segura mesmo quando parecia ser o próprio perigo. Ela tocou o cabelo castanho claro e olhou seu rosto, devia deixar o passado de lado para o bem dos outros e aproveitar-se do presente? - ...llan. Kallan! – ela puxou seu cabelo.

─ Ai.

─ Eu disse que se precisasse de algo me chamasse, não que entrasse e dormisse comigo!

─ Que mal agradecida. – as asas a puxaram para mais perto. – Você não agia assim quando eu lhe visitava em sonhos.

‘Péssimo, péssimo. Não me lembre.’

Ariza pensou que era uma péssima hora para provocação, uma péssima posição, um péssimo lugar e um personagem provocador ainda pior, mas o pior mesmo era a voz na mente dela que adorava aqui, Mente pare!

Não mesmo garotinha.

Bipolaridade, loucura, estresse pós-traumático... Seja o que for, venceu, pois ela se deixou levar e beijou o belo semiconhecido deitado junto com ela.