Acordei atrasada para ir à escola. Não lembrava muito bem da noite passada depois que apaguei no banheiro. Tinha certeza que eu só podia estar delirando depois que ouvi aquela gargalhada e aquela voz. Não sei como, mas acabei acordando na minha cama. Com toda certeza, estava tão cansada que não lembrava como havia chegado lá.

Fiz minha higiene matinal e me arrumei para ir à escola. Desci as escadas e encontrei um bilhete ao lado de um copo de leite e pão com presunto em cima da mesa. Com toda certeza ele deve ter ido trabalhar mais cedo hoje, o que não é novidade, e decidiu não me acordar. Pensei na possibilidade dele ter me colocado na cama, só podia ter sido meu pai.

Tomei o leite de uma vez e comecei a comer o sanduíche no caminho. Quando cheguei faltavam menos de cinco minutos para os portões fecharem. Alguns alunos me olharam como se eu fosse um monstro, mas tenho quase certeza que é porque eu cheguei atrasada. Normalmente sou uma aluna pontual e tenho ótimas notas. Nunca faltei uma só aula, então não é normal eu chegar atrasada.

– Garota, quase que eu tive um infarto aqui. – disse Paris, ao me ver sentando na cadeira ao seu lado, no lugar de sempre perto da janela.

– Você está bem? – perguntou Lizz, parecendo preocupada. – Parece cansada.

– Estou bem! – disse sorrindo.

– Nossa... Está com olheiras horríveis. – disse Paris com uma careta.

Decidi apenas sorrir em resposta, até porque o professor já estava em sala e eu precisava me concentrar em ser uma aluna exemplar. Logo consegui ocupar minha mente com coisas mais importantes.

As horas passaram rápido para minha felicidade e no intervalo tomei apenas um iogurte, enquanto Lizz falava o quanto se sentia culpada e Paris reclamava por eu estar tão aérea.

Fitei um pouco além de onde estávamos. Ajeitei-me no chão e me sentei ao ver uma figura estranha, que eu nunca havia visto no colégio. De longe pude perceber o quanto ele parecia àqueles roqueiros malucos. Podia-se ver varias tatuagens em seu braço. Ele usava uma blusa preta com as mangas dobradas até os cotovelos e uma calça preta jeans, o estranho era que ele estava descalço. Tinha o cabelo levemente grande nas laterais, com uma franja e na parte de trás eram arrepiados. Olhei um pouco mais aquela criatura e ele pareceu perceber que eu o havia visto e acenou.

Olhei para trás para ver se realmente era pra mim que ele acenava, mas ninguém mais olhava para onde ele estava parado. Como pode uma criatura estranha aparecer no meio da área do colégio e ninguém vê-lo? Voltei minha atenção para o homem, mas ele não estava mais lá. Comecei a procurá-lo com o olhar, ele não podia ter evaporado de uma hora para outra.

– Esta atrás do Carl? – perguntou Paris, com um sorriso no rosto.

– Não. Vocês não viram? – perguntei ainda procurando por aquele homem enorme de alto, não seria possível que ele tenha conseguido desaparecer da minha visto assim, tão rápido.

– Viram o que? – perguntou Lizz procurando o mesmo que eu, mas sem saber o que era.

– Hum... Estranho. – disse ainda procurando pelo homem.

– Loui, você que está estranha. – disse Paris. – Estou aqui falando sobre o Carl ter perguntado sobre você e olha como você tá! Toda avoada.

– Pela primeira vez eu tenho que concordar com ela. – disse Lizz se levantando.

Se não fosse por todos os alunos estarem entrando no colégio, nem teria notado que o sinal havia tocado. Por Deus, eu devo estar no mundo da Lua mesmo.

E para variar, teríamos que ver um filme sobre a Primeira Guerra Mundial na aula de historia. Tudo bem que sou uma aluna exemplar, mas com essa exaustão que sinto, é capaz de eu acabar dormindo.

Abaixei a cabeça e senti uma imensa vontade de olhar para fora. E lá estava ele, novamente. Agora parecia relaxado encostado em uma árvore. Usava apenas sua calça preta, mostrando o peito nu e tatuado e sua pele alva as realçavam ainda mais. Por alguns minutos fiquei hipnotizada com sua beleza. Podia não vê-lo bem, pelo fato de estar longe, mas podia ver o quanto ele tinha presença, ele exercia sua presença.

Olhei de volta para a sala e todos pareciam inertes aquele homem. Como era possível? Tudo bem que ninguém fica olhando para fora a cada segundo, mas um homem daquele tamanho, sem blusa e dentro da área da escola. Como ninguém notava?

Senti-me uma louca, assim que voltei minha atenção aquele homem,e novamente ele havia desaparecido. Minha cabeça trabalhava a mil para descobrir como em menos de dez segundos, alguém desaparece em um campo amplo com apenas uma árvore. Ele só podia estar se escondendo atrás da árvore ou eu realmente estava ficando louca.