After Midnight

After midnight, things are silent


Depois da meia-noite, o castelo ficava realmente silencioso. Todos já dormiam em seus dormitórios, menos o rei Ben.

Ben continuava atolado em uma pilha de relatórios, em seu escritório. Nunca pensou que a função de ser rei seria fácil, longe disso – mas, as vezes, o cansaço deixava pesadas olheiras sob seus olhos sempre tão claros.

Ele gostava quando Mal o acompanhava em suas jornadas noturnas. Ela ficava sentada em uma das poltronas, quieta, e somente sua presença já era suficiente para deixá-lo menos solitário. Contudo, nos últimos meses, ela ficara ocupada demais com as funções de lady, e não tinham tempo para ficarem juntos; todas as horas livres eram gastas dormindo.

Sentia falta de quando ela dizia que tudo daria certo.

O relógio acima da lareira badalou. Quase instantaneamente, a porta do escritório foi aberta com leveza.

Ela entrou, e Ben sorriu, amigável. Baixou a pena e empurrou o tinteiro para o lado. Passou os dedos contra os fios e tentou despertar completamente.

— Espero que não esteja atrapalhando, Ben. – disse, com a voz suave.

— Você não atrapalha.

Ela também sorriu, envergonhada.

A lareira trepidou, as chamas quentes iluminando o pequeno cômodo. Poucas pessoas entravam no escritório do rei sem serem anunciadas, ainda mais naquele horário.

Os passos do salto mal eram ouvidos pelo carpete. Ela chegou próxima o suficiente da escrivaninha, usando um conjunto de roupas azuis que combinavam com a cor vibrante de seu cabelo.

— Posso te ajudar, Evie?

A garota balançou a cabeça negativamente.

— Vim ver como você estava. – correu os olhos pela pilha de trabalho que se acumulava perto dele – Imaginei que não tinha ido descansar ainda, com tantos detalhes sobre o baile.

O baile. Ele sequer se lembrou.

Suspirou, desmanchando o sorriso.

— Ser rei é mais difícil do que eu tinha imaginado. – admitiu.

Não se permitia ser sincero com muitas pessoas, mas, de alguma maneira, Evie o fazia sentir-se à vontade perto dela. Tinha uma presença tranquilizadora, e era uma ótima conselheira.

Ela deu a volta na mesa, tímida. Puxou uma das cadeiras até ficar perto do garoto. Inclinou-se, e sua silhueta foi iluminada pelas chamas trepidantes do fogo.

— Ben. – pousou a mão sobre a dele – Você está fazendo um ótimo trabalho. – sorriu – Todos estão satisfeitos. Não tem problema descansar um pouco a noite.

Ele nunca tinha percebido como suas mãos eram macias e quentes, ou como seu rosto, de perto, era realmente bonito. Evie era uma garota bonita.

— Acha que ela vai gostar? – perguntou, mordendo os lábios com insegurança. Evie sabia de quem estavam falando.

— Mal não é de demonstrar muito seus sentimentos, mas ela ama você. Ela vai adorar o baile. – garantiu. Suas vozes ecoavam pelo cômodo vazio.

— As vezes, sinto que ela não gostaria de estar aqui. Estar comigo. – seus sentimentos brotavam para fora. Evie o fitou com compaixão.

— Foi mais difícil para ela. – sussurrou – Ela não é uma garota de Auradon, como eu. – riu. Ben a acompanhou baixinho.

— Você nasceu para estar aqui, Evie. – as palavras eram sinceras – Nenhuma dela é capaz de fazer o que você faz. Você é boa de verdade.

A filha da Bruxa Má corou, sem saber como responder aqueles elogios.

Ben assistiu seu rosto enrubescer, os tons de vermelho tornando seus olhos mais azuis. De repente, foi como se todos os detalhes se destacassem. Sentiu seu coração bater mais rápido.

Não pensou no que estava prestes a fazer. Não pensou nem por um instante.

Sentados lado a lado, Ben inclinou-se, fechando os olhos. Rápido demais, seus lábios se colaram, e ele sentiu o gosto do brilho labial. Correntes elétricas transpassaram sua pele, e foi como se fosse infinito.

Por um ínfimo segundo, Evie pareceu retribuir, mas, então, ela se afastou, e, com um pulo, ergueu-se da cadeira. Seu rosto parecia perplexo, os dedos até os lábios onde, momentos antes, Ben tinha beijado.

— Ben eu... o que... – gaguejou, atordoada. Deu passos hesitantes para trás, fazendo menção de sair.

— Evie, espera! – Ben levantou-se, correndo até ela.

Segurou sua mão, a puxando de volta para ele. Sua garganta estava apertando, e uma torrente de pensamentos invadia sua cabeça.

— Me perdoa, Evie! – suplicou – E-Eu estava fora de mim, eu não devia ter feito isso. – sacudiu a cabeça – Eu amo a Mal. – sussurrou.

Ele a amava, com todo seu coração. Mas, por um instante, foi como se aquela atração por Evie fosse mais forte que ele.

Todas as vezes que Evie foi boa e atenciosa com ele. Os conselhos que ela lhe dava, a bondade, a gentileza em seus olhos. Quando tudo parecia se voltar contra ele, quando começava a se afogar, Evie conseguia acalmá-lo e trazê-lo de volta.

— Ben. – sussurrou, entreaberta. Parecia estar em sua própria batalha interna.

— Evie.

Abaixou-se, aproximando seus rostos, desta vez a encarando. Seus olhos não desviaram até o último instante, quando soube que ela não se afastaria. Foi então que acabou com a distância, voltando a beijá-la, desta vez, com firmeza.

Evie entregou-se, passando os braços ao redor de seu pescoço e abraçando-o. Naquele momento, nada pareceu tão certo. Era calmo, como uma brisa. Um desejo desperto para ambos. Nunca tinha cogitado a possibilidade, mas, de repente, ela estava acontecendo.

Afastaram-se devagar, processando o que tinha acabado de acontecer.

— Eu... nós...

— Sim. – Ben sabia exatamente o que ela queria acontecer – Não voltará a acontecer. – garantiu, sério.

Evie sustentou seu olhar, sem conseguir impedir que um sorriso se abrisse.

Dessa vez, ela aproximou seus rostos, em um beijo rápido e profundo, antes de afastar-se completamente, deixando Ben atordoado e com os lábios a formigar.

— Não se esforce muito. – aconselhou, atravessando o cômodo até a porta – Boa noite, Ben.

— Boa noite. – repetiu. Evie abriu a maçaneta, mas, antes que saísse, Ben a chamou: – Evie! – ela se virou, colocando uma mecha azul atrás da orelha. Seu rosto estava tranquilo. Ben sorriu – Obrigado.

Ela acenou com a cabeça, deixando-o sozinho.

Depois da meia-noite, o castelo ficava realmente silencioso. Depois disso, em algumas noites, quando Ben ficava no escritório para continuar trabalhando, Evie passava para ver como ele estava.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.