After Ever After-Interativa

Chapter XXXVIII - Olhos Azuis e Amizades Tempestuosas


Anastasia Daphne Queen

— Que aula vão ter agora? — perguntou Apple, enquanto passávamos pelo portão da escola. Ahren e eu tínhamos vindo no carro da mãe, e esbarramos em Apple assim que saímos dele.

— História do Mundo Mágico — respondeu meu irmão. — Com Arquimedes.

— Ah, adoro o Professor Arquimedes! — disse Apple entusiasmada — Ele explica tudo tão bem! Comecei a adorar História por causa das aulas dele, principalmente depois de falarmos sobre a origem da guerra entre Encantia e Wonderland.

— Exato! Parece que consegue tornar tudo mais interessante — concordou Ahren, estranhamente entusiasmado, e deixando-me totalmente surpresa. As aulas de História eram a pior coisa que alguém alguma vez inventara, e aqueles dois deviam ser as únicas pessoas no mundo a pensar o contrário. Eu diria que é coisa do destino o fato de eles se terem encontrado um ao outro.

Claro que Ahren me mataria se me ouvisse dizer isto, já ele nega fortemente sentir mais que mera simpatia pela filha do presidente Snow. Mas uma irmã pode sempre sonhar.

Assim que paro de imaginar possíveis cenários românticos entre os dois amantes de História que caminhavam a meu lado, lembro-me que preciso de pegar os meus livros no escaninho que fica quase do outro lado da escola.

— Ahren, tenho de passar no meu escaninho antes da aula — disse — Encontro-te lá, ok?

Ahren acenou e Apple despediu-se sorridente, mas rapidamente retomaram o debate sobre qual o melhor autor de biografias históricas da atualidade.

E Ahren ainda me vinha dizer que eu era chata.

Apressei o passo andando pela escola e procurando pelo meu escaninho, enquanto pensava que nesse dia devia falar com a Fada Madrinha para me inscrever no jornal da escola. Tinha ouvido dizer que havia um lugar para colunista de moda, e não queria deixaá-lo passar.

Demorei um pouco mais que o esperado a acertar no corredor, já que ainda me era difícil orientar-me numa escola tão grande. Quando finalmente cheguei ao meu escaninho, 489, o sinal tinha acabado de soar. Tentei apressar-me a retirar os livros que precisava para o dia, tarefa que deveria ser fácil não fosse o alvoroço que se apoderara dos corredores, com alunos apressados para não chegarem atrasados, a correr por todos os lados. Atrapalhei-me com o monte de papéis que tentava desviar para tirar o livro de história, e estes caíram, esvoaçando e espalhando-se por todo o lado.

Eram os meus apontamentos sobre Poções. Tentei apanhar o máximo de papéis possível, amarfanhando alguns no processo, e enfiando-os na mochila ao acaso. A mãe ia matar-me se soubesse que deixei as suas receitas sigilosas voar por aí, para toda a gente ver.

Fui contra várias pessoas enquanto tento apanhar todas as folhas do chão. Algumas foram rasgadas e outras tinham até marcas de pegadas. Por fim a multidão começou a desaparecer e pude apanhar as restantes, já tão amarrotadas que quase não se conseguia distinguir as palavras.

— Vou ter de lhes passar algum encantamento — disse baixinho, falando só para mim, e dirigindo-me de novo ao escaninho.

— Oh sim, por favor — disse uma voz do meu lado esquerdo — Adorava ver alguma magia em ação. Desde que não inclua sapos. Olhei para o lado e prendi a respiração. Augustus Hook estava a ali a falar comigo, fitando-me com os seus olhos incrivelmente azuis e estendendo-me a mão com uma pilha de folhas de apontamentos de Poções. Sorri abertamente, nem me preocupando em esconder o fato de estar super feliz por ele estar a falar comigo.

— Bom dia — disse eu, toda derretida.

Augustus riu-se e respondeu:

— Bom dia — esmurrei-me mentalmente, por não ter encontrado nada menos sexy para dizer.

— Ah, eu peço imensa desculpa por aquilo da festa do Richard Montgomery! — disse eu abrutamente, ao lembrar-me daquele fiasco — Juro que não sei o que se passou pela cabeça do Ahren. Transformar pessoas em sapos parece totalmente bárbaro.

— Não te preocupes. A culpa não foi tua — disse ele, com a sua voz rouca — Quer dizer, mais ou menos.

Fiquei confusa. Claro, eu tinha estado a pedir desculpa, mas não era como se eu achasse que a culpa era minha.

— Não, não faças essa cara! — exclamou de repente, percebendo o que dissera — É que... — desvia o olhar do meu e coça a nuca com a mão direita — Se não fosse por ti, o teu irmão não teria de me ter transfigurado pois eu não estaria a tentar chamar a atenção da irmã dele. — os olhos dele voltaram a encarar-me, desta vez fitando os meus longamente. Arrepiei-me.

Terei ouvido bem? Ele disse que queria a minha atenção?

— Ah... Pergunto-me o que é que faria se fosse ao contrário — disse eu, colocando de lado toda a possibilidade de vergonha, e não desviando os meus olhos dos dele — Se fosse eu a tentar captar a atenção de... alguém.

Augustus sorriu, e aproximou-se um pouco de mim, de modo a que os nossos narizes ficassem a dois palmos de distância.

— Acho que teria de se habituar — respondeu, com um sorriso no canto dos lábios.

— Concordo.

Pearl Ocean Pontus

— Nunca imaginei que algum dia a minha mãe ia me dar aulas. — disse eu, deixando pela metade a valsa que tocava ao afastar as mãos do piano — Quanto mais penso nisso, mais antitético parece.

Tristan olhava para mim, com um ligeiro sorriso. Estava sentado de frente para mim, com o queixo pousado no tampo do piano de cauda da sala do coral.

— Noutras escolas nem sequer é permitido. — continuei, ao ver que ele não dizia nada — Por causa da parcialidade e assim.

O filho da Pocahontas abriu finalmente a boca, e disse:

— Não há propriamente oportunidade para ser parcial quando se dirige um grupo de coral. O máximo que ela podia fazer era te dar os solos todos sem dar oportunidade aos outros. Mas a verdade é que cantas melhor do que qualquer outra pessoa do grupo, por isso acabava por ser mais injusto se não tos desse.

Isto faz-me corar. Violentamente. E nem sequer era verdade. Alanna Haddock era também parte do coro, e era praticamente impossível ignorar o talento dela (principalmente pelo fato de ela se estar sempre a tentar exibir-se). Foi precisamente isso que disse a Tristan, embora ele continuasse teimando:

— Até pode ser — considerou ele — Mas mesmo assim… Continuas a ser a melhor para mim. — disse, levantando o queixo do piano e tirando do bolso o celular, que começara a vibrar e a tocar “Under the Sea”.

Passei a acompanhar o toque ao piano, quase que automaticamente, devido às inúmeras vezes que o ensaiara e tocara para as reuniões familiares. Mas tive de parar cerca de cinco segundos depois, já que Tristan atendera a chamada:

Moon?... Estou com a Pearl na sala de coral, temos ensaio daqui a… —consultou o relógio— Vinte minutos. — por alguns momentos, Tristan só ouviu, sua expressão assumindo um tom surpreso — No Tiana’s Place?! A sério?! Uau! Claro, sim, vamos! Espera, vou perguntar à Pearl se também quer vir… — e se virou para mim:

— Amanhã à noite, Louis Alligator vai estar a tocar no Tiana’s. Queres ir jantar comigo e com a Moony?

Diz-lhe para trazer o namorado! — ouviu-se dizer através do celular.

— Sim, podes levar o Matthew — reforçou Tristan.

Aceitei quase imediatamente, pois não era todos os dias que Louis Alligator aparecia de repente, para dar um concerto gratuito no melhor restaurante da cidade.

— Sim, ela topou. Ok Moon, vejo-te amanhã!— disse Tristan, de novo a falar para o telemóvel — Amo-te.— desligou.

Tristan passou a olhar de novo para mim com um sorriso no rosto, mostrando um pouco dos seus dentes perfeitamente brancos.

— Parece que acabamos de marcar um double date — disse eu, sorrindo de volta.

— E para ouvir Louis A.! Nem acredito que ele vem cá.

— Acho que é amigo da família McFrog há muito tempo — disse eu — A mãe contou-me que antes eles tocavam juntos imensas vezes, lá no restaurante.

— Imagina, seres amiga do melhor jacaré trompetista que já existiu — disse ele, bem disposto.

— Imagina, seres amigo do único jacaré trompetista que já existiu. — Tristan riu levemente, e eu voltei a tocar, continuando a valsa que tinha interrompido. Ele encostou as costas no piano, deixando-me a visão do perfil da sua cabeça.

“Vai cair bem poder finalmente passar algum tempo com Matt,” pensei. Desde que a escola começara, não tínhamos tido tanto tempo para estar juntos por causa dos deveres e clubes e tudo o mais. E, mesmo quando estávamos, era sempre nas aulas ou nos intervalos, rodeados de gente. Não havia o mínimo de privacidade. Assim, ainda que não fossemos jantar sozinhos, era o mais próximo que íamos ter de um encontro havia semanas. Para além de que Tristan também ia com a namorada, por isso de certeza que as atenções iam ser equilibradas.

— Hey! — cumprimentou Henry Malik, entrando na sala e vindo para perto de nós. Sentou-se despreocupadamente numa das cadeiras, pousando o saco dos livros na do lado. — Que estavas a tocar, Pepps? — perguntou-me, olhando na minha direção, e fazendo-me reparar que tinha parado de tocar assim que ele entrara.

La Valse de L’Amour.— respondeu Tristan ao irmão — Tocada na noite em que Cinderella e Thomas O’Crown se conheceram.

Sorri ao ver que Tristan reconhecera a canção. Era uma das minhas favoritas. Assim como a história da Cinderella também o era. Desde pequena, sempre fui apaixonada pela bondade de Ella, e pela lindíssima história de amor que viveu com seu marido. Sim, podem dizer: “Mas Pearl, como podes achar algo mais romântico do que a história dos teus pais? A história de quando uma sereia renunciou à vida que sempre tivera para poder ficar com o seu verdadeiro amor?”

Bom, eu não acho. Cada história tem a sua singularidade, algo que faz dela única. E claro que tenho um carinho especial pela Pequena Sereia, mas acreditem, conviver todos os dias com os protagonistas de uma história, acaba por fazer diminuir o deslumbramento. Principalmente depois de perceberes que, nem mesmo nos contos de fadas, todas as coisas são felizes para sempre.

— Que achas que vamos cantar hoje? — perguntou Malik ao irmão, resgatando-me dos meus devaneios. — Espero que não seja outra vez um dueto. Já estou farto de ficar emparelhado com a Mei Li.

— Que há de mal com a Mei? — perguntei espantada — Ela é uma excelente cantora! Por Tritão, juro que não sei como consegue atingir notas tão altas.

— Ah, pois… É só que ela é um bocado… — disse o filho mais novo dos Smith, correndo os olhos pela sala, como que à procura da palavra certa.

— Um bocado..? — insisti.

— Um bocado intimidante — respondeu Tristan por mim.

— A Mei? Intimidante? — perguntei espantada. Mei Li era uma dos gêmeos Li, filhos da Mulan e Shang. Nunca tinha falado muito com ela, mas era simpática até onde eu sabia. E, como disse, excelente cantora.

— Ah... — começou Malik — É o olhar dela sabes? É muito… Penetrante?

Ri-me da justificação ridícula, mas Malik apressou-se a explicar:

— É que quando estamos a cantar, ela olha-me sempre nos olhos! Sem desviar! Parece até que nem pisca. E não é um olhar daqueles românticos, como que a representar o papel, é mesmo… Intimidante.

— Henry, se calhar ela gosta de ti — disse Tristan, mas estava obviamente a brincar — Tanto que nem consegue desviar os olhos, prestar atenção a outra coisa.

Malik correspondeu com uma cara esquisita, fazendo-me rir, a mim e a Tristan.

— A Mei Li? Acho que não.

— Como é que tens a certeza? — perguntei — Até pode ser que goste mesmo.

— E não é mau partido! — o loiro completou, com um sorriso de deboche.

Malik continuou com a expressão de estranheza, e insistiu:

— Não, de certeza que não é isso. — disse, soando quase que acanhado — Até porque se gostasse, tinha aceitado o meu convite, quando lhe perguntei se queria sair comigo.

— Convidaste-a para sair? — estranhou Tristan, ecoando os meus pensamentos.

— Bem, sim — defendeu ele, definitivamente acanhado agora. — Ela é bem bonita. Mas isso foi antes de saber que ela era uma maníaca. — apressou-se a dizer.

Isto fez-me rir novamente. Malik era inacreditável. Mas sempre de uma forma boa e engraçada.

No entanto, não tive muito mais tempo para rir, quando os restantes membros do clube começaram a entrar — incluindo Mei Li (risos disfarçados por mim e por Tristan) — acompanhados pela minha mãe, ou como lhe chamavam na escola: Professora Ariel.

Abandonei o meu sítio ao piano, sentando-me ao lado de Tristan, que estava do lado esquerdo do irmão.

— Boa tarde meninos — saudou minha mãe, no centro da sala. — Hoje vamos fazer algo diferente. — estranhei, pois ela não me tinha contado quando estávamos em casa — Vamos começar a preparar a apresentação para a competição regional. Eu já tenho uma lista de possíveis canções, mas vamos fazer uma votação, e depois de escolhidas, escolheremos o melhor arranjo e solos. De acordo?

Um burburinho percorreu a sala. Apesar de um grupo pequeno, éramos normalmente muito conversadores, mas desta vez soava diferente. Era um sussurrar estranho que só podia significar uma coisa: a competitividade começava a apertar.

Não que minha mãe tivesse se dado conta. Estava demasiado preocupada em encontrar a folha das canções dentro da pasta cheia de papéis. Quando finalmente a encontrou, passou a escrever a lista no quadro de marcador, que estava perto do piano:

Solos

Mama Who Bore Me

Don’t Rain On My Parade

I Dreamed a Dream

Because

Duetos

Maybelline

American Candy

Say Something

Grupo

It’s Time

You Can’t Stop The Beat

Prologue

Victorious

De repente deixei de pensar nas incoerências de Malik, nos encontros com Matt, nas valsas da Cinderella. Mal consegui ouvir a explicação de minha mãe sobre como só poderíamos cantar um solo ou dueto e um número de grupo. Deixei de pensar em tudo o resto, pois ao ver que havia a possibilidade de cantar “I Dreamed a Dream”, não havia mais nada no que pudesse pensar. Tinha de ser meu.

E para minha vergonha, naquele momento desejei secretamente que a minha mãe não fosse imparcial.

Rosetta Foxy Beasty

— Ainda bem que amanhã é sábado — suspirei, pousando o tabuleiro na mesa do refeitório e desabando sobre a caddeira — mal posso esperar para ficar a dormir até à hora do almoço.

— Pensei que eu é que fosse a filha da Bela Adormecida — brincou Rosie, juntando-se a mim e a Pearl na mesa. Eu e a filha da Pequena Sereia tínhamos acabado de sair da aula de história, enquanto Rosie tivera química.

— Desculpem, mas ando uma pilha de nervos, por causa de conseguir preparar a audição para o musical, mais fazer os esboços para o clube de moda, treinar as coreografias para o clube de dança, e estudar para a o teste de história de daqui a duas semanas … — disse eu — Parece que já não durmo em condições há anos.

— Nunca sabes quando parar Rosetta — ralhou Rosemarie — Tens de aprender a dosear as energias.

Claro que para ela era muito fácil falar. Não era filha de uma das princesas mais inteligentes da sua época. Ela não tinha esse tipo de pressão nos ombros.

Mas rapidamente me arrependo de sequer ter pensado isto. Nenhuma princesa é superior à outra, Rosetta. São apenas diferentes. As palavras da minha mãe ressoaram na minha cabeça, de tantas vezes que a ouvi dizer isto quando era mais nova.

No entanto, não consegui encontrar uma forma de responder educadamente a Rosie, de maneira a que me limitei a suspirar novamente e a levar à boca uma garfada da lasanha da cantina.

— Quando são as vossas audições para a peça? — perguntou ela, desta vez com um tom de voz doce, mais parecido com o seu habitual.

— Começam segunda-feira — respondi — O que é definitivamente, demasiado cedo.

— Sim. Quase não há tempo para preparar o texto e as canções em condições. — concordou Pearl, que estava sentada à minha frente, na mesa retangular, enquanto Rosie ocupara o lugar à sua esquerda. — E é igual com o grupo de coral — continuou, com uma careta — a mãe decidiu que na próxima reunião todos deviam trazer uma das canções prontas para apresentar, e aí iam escolher-se os solos.

— Não que tu tenhas alguma dificuldade em aprender uma música de um dia para o outro — disse eu. Pearl revirou os olhos, e eu correspondi imitando-a, ironicamente. Ela era uma excelente pianista e cantora. Se estava com medo da audição era por pura e injustificada insegurança. Não porque tivesse realmente algum problema em cantar ou tocar a canção.

— O que é que vas cantar? — perguntou Rosie interessada.

“I Dreamed a Dream” — respondeu a filha da Ariel, e eu suspirei. “I Dreamed a Dream” fazia-me lembrar “Les Miserábles”, e “Les Miserábles” faziam-me lembrar de musicais, que me faziam pensar novamente de “Wicked”, ou melhor, as falas e canções que eu ainda tinha de conseguir decorar a tempo para a audição de segunda-feira.

— Meninas, nem vão acreditar no que acabou de acontecer! — disse de repente a voz animada de Anastasia Queen, que pousou o seu tabuleiro do meu lado, ocupando o último lugar livre da mesa.

— Para essa animação toda, aposto que tem algo a ver com Augustus Hook — disse Rosie, com um risinho, ao que Anastasia concordou, abrindo ainda mais o seu costumeiro sorriso.

Urgh, o Hook outra vez não.

— O que é que aconteceu? — perguntou Pearl, também interessada.

— Bem, eu contei-vos que ele veio falar comigo na quarta-feira certo? — Todas acenámos, eu principalmente, já que tinha tido de ouvir a história das três vezes que Anya a contara: quando me encontrou; qunado encontrámos Pearl; quando Pearl teve de se ir embora, mas Rosie apareceu. Daí eu já estar um pouco farta de ouvir falar de um certo filho de pirata com, e passo a citar, “os olhos mais azuis que o próprio céu mais azul do mundo”.

— Então, ele tinha dito que gostava de sair comigo um dia destes — continuou ela — e hoje, depois de a aula de Matemática, veio ter comigo perguntar-me se eu gostaria de ir jantar com ele à cidade!

Rosie soltou um guinchinho abafado, como se estivessea a ter algum tipo de ataque, e Pearl sorriu abertamente, assim como eu. Ok, eu não era a maior fã de histórias de amor à primeira vista, mas se o Hook estava mesmo disposto a levar Anastasia a um encontro e a conhecê-la melhor, talvez a coisa até pudesse dar certo. Por isso permiti-me ficar feliz por ela.

— Ele vai buscar-te a casa? — perguntou Rosie.

— Não — respondeu Anya. Mas ao ver a expressão de desagrado na cara de Rosie, apressou-se a explicar — Não, não é que ele não queria! É só que o carro do pai dele avariou a semana passada e ainda não saiu do arranjo. Ele e a irmã têm vindo de autocarro estes dias, e por isso ele pediu-me para nos encontrarmos antes no restaurante. Mas eu disse que não me importava nada de o ir buscar a casa, então ficou combinado.

A cara de desagrado de Rosie não se desfez, e acabou por dizer:

— Isso não parece muito certo — resmungou — Devia ser o rapaz a buscar a menina a casa. Não ela.

E aí eu quase que senti o meu queixo bater na mesa.

— Rosie! O que foi isso?! — perguntei incrédula com a reação da filha da Bela Adormecida.

— Por Zeus, foi ele que a convidou! Podia ser minimamente cavalheiro para, pelo menos, não aceitar carona dela.

— Mas ele não queria aceitar, fui eu que insis…— começou Anastasia, tentanto justificar-se, mas eu cortei-a, não lhe dando tempo para terminar a palavra:

— Por Zeus digo eu, Rosemarie! — e ela arregalou os olhos, pois eu nunca lhe chamava isso. Nunca ninguém na escola o fazia, para dizer a verdade. Mas não me importei com a sua reação, e continuei — Que tipo de conversa é essa? Devia ser o rapaz a ir buscar a menina a casa? Isto é o quê, o século XII?

— Ai Rosetta, não venhas patronizar-me agora com os teus discursos de feminista furiosa. — rebateu ela, desviando os olhos, e levando à boca uma garfada de comida.

Senti o meu rosto aquecer:

— Dizes isso como se fosse uma coisa muito má! Se calhar nem sabes o que é uma feminista, sua…­—

— Ok, Ok! Acalmem os ânimos — disse Pearl, prevendo que o que eu ia dizer provavelmente não cairia bem, e intervindo. — Não é razão para se chatearem. O importante aqui é que a Anya vai ter um encontro, e alguém vai ter de ajudá-la a preparar-se para ele. Que tal virem todas para minha casa, e preparamo-nos juntas? Logo à noite também vou jantar com o Matt e uns amigos.

Pearl conciliadora como sempre. Ainda bem que a tínhamos para amenizar as discussões entre mim e a Rosie.

— Isso era ótimo! — exclamou Anastasia, novamente entusiasmada.

— Sim! Eu posso levar o meu estojo de maquilhagem novo! Ainda não pude exprimentar tudo em condições! — Rosie disse, também já parecendo ter ultrapassado a pequena discussão de há uns segundos atrás.

— Que dizes Rosetta? — perguntou Pearl.

Mas eu ainda não tinha superado. E felizmente tinha uma boa desculpa.

— Não vou puder — respondi — Tenho mesmo de ficar a teinar as falas para a audição do clube de teatro.

— Que previsível — resmungou Rosie, baixinho.

— E a minha mãe pediu-me que a ajudasse a reorganizar a biblioteca — Acrescentei. Esta parte não era bem verdade – ok, ela tinha realmente falado nisso, mas nunca me privaria de sair para ficar a arrumar os livros – mas eu senti que precisava de uma desculpa menos previsível.

— Fica para a próxima então — disse Pearl, para concluir o assunto.

— Acho que devíamos ir andando — Anastasia falou, depois de te rolhado para o seu relógio. — O intervalo de almoço está quase a acabar.

Eu ainda não tinha terminado de comer, mas também já não tinha apetite. Levantámo-nos as quatro, e levamos os tabuleiros para os respetivos dispensardores.

Mesmo depois de me ter despois de eu e Anya nos termos despedido das outras duas, ao desviarmos o caminho para o atlier de moda, eu ainda não tinha conseguido deixar de pensar na pequena discussão de há uns minutos atrás. No entanto, isso passou despercebido à Filha da Rainha Má, e dei graças por isso. Não me estava a apetecer falar sobre as inúmeras discussões que eu e Rosemarie andávamos a ter ultimamente. A maioria eram por motivos parvos, mas a forma como ela me respondia é que incomodava. Eu não sabia bem porquê, mas por alguma razão, cada vez que nos desentendíamos, não conseguia deixar de notar que ela ficava ligeiramente...diferente. Como se deixasse de parte toda a sua doçura de princesa, e viesse ao de cima uma diva sarcástica, intolerante e convencida. Eu andava a evitar pensar nisso, mas ao mesmo tempo, não cosneguia deixar de me perguntar se... se ela não se acharia melhor do que eu...Não consigo explicar muito bem, mas parecia-me que no final tudo acabava numa competição de linhagem ou de popularidade.

Tentei afastar estes pensamentos da minha cabeça, e concentrar-me em fazer algum novo esboço para os uniformes da claque. Mas pensar nos uniformes fazia-me pensar na Rosie, e noutra das discussões estúpidas que tínhamos tido no início da semana. E com isso a minha mente voltava a borbulhar com esses pensamentos de dúvida quanto a uma das minhas amigas mais antigas.

Seria verdade? Podia ser que Rosie só fosse minha amiga por obrigação? Porque era suposto a Filha da Aurora e a Filha da Bela serem amigas? E que na verdade ela não gostasse particularmente de mim?

Eu não sabia as respostas a estas perguntas. E se havia uma coisa que eu detestava, eram perguntas sem resposta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.