After Ever After-Interativa

Chapter XXVII-Ninguém Pode Ser Tão Anti-Social Assim


William O’Crown

A primeira parte das aulas transcorreu como sempre: pacata, calma e sem novidades. Tinham alguns alunos novos, é claro, mas eu já tinha ao menos ouvido falar de todo mundo que eu tive aula com (menos o menino Skellington, mas aí é pedir demais). Nos três períodos de três professores diferentes, os três me confundiram ao menos uma vez com Maximilliam. Eu sabia que nós éramos bastante parecidos, mas era sempre muito constrangedor. Para melhorar, meu horário era quase exatamente igual ao de meu irmão. Viva (sarcasmo pretendido)!

Fiquei feliz, então, quando finalmente pude me livrar dele no recreio. Ficar muito tempo perto de Max, na maior parte das vezes, me deixava meio enjoado. Eu tinha certeza que Rosie não estava na mesma aula que nós, mas logo após o sinal bater, a Montgomery já havia colado em mim. E bom, ela trazia uma garota a tiracolo. Reconheci, pelos cabelos negros e a pele branca, a filha da Rainha Má. Se eu não me enganava, o nome dela era Anastácia. Rosemarie não perdeu tempo em começar a nos apresentar.

– Will O’Crown, esta é Anya Queen – minha amiga disse, nos apontando enquanto falava – E, Anya, este é o O’Crown de quem te falei.

– É um prazer te conhecer – Anya disse, extremamente educada – E, meu Deus, você é igualzinho ao seu irmão.

Fiz uma mini-careta ao ouvir isso, mas continuei sorrindo. Ela obviamente fizera aquele comentário só para causar assunto.

– O prazer é todo meu, Anya, mas não acho que possa dizer o mesmo em relação ao seu gêmeo – brinquei, e a garota esboçou um pequeno sorriso de compreensão antes de ficar com cara de quem tinha sido atropelada por dois caminhões e uma nave espacial.

– Ai minha santa mãezinha! – ela exclamou, deixando o caderno que levava na mão cair no chão. Eu rapidamente o pego e devolvo, mas ela está presa demais em seu mini-surto para fazer algo além de tentar sorrir em agradecimento.

– O que há? – Rosie perguntou à garota, segurando suas mãos.

– Meu irmão! E prometi a ele que o encontraria no refeitório!

– Ele tem dezassete anos, Anya. Sabe se cuidar sozinho – Rosie a garantiu e eu assenti.

– Vocês não entendem. Ahren é ainda pior que eu em fazer amigos.

– Quão ruim seria isso? – fiz uma pequena careta ao perguntar, embora não esperasse que as duas me respondessem em uníssono:

– Ruim nível Hades, Deus dos mortos.

Rosie balançou a cabeça, sem soltar as mãos da garota.

– Anastácia, precisa haver vida além de seu irmão. Que tal se você viesse connosco para o almoço? Tenho certeza que Rosetta e Pearl – limpei a garganta, para que ela se lembrasse que nossa velha amiga agora tinha namorado – quero dizer, Rosetta não vai se importar que se sente conosco.

Anya mordeu o lábio inferior, e eu pude ver que ela estava em dúvida quanto àquilo. Um gêmeo normal diria que entende essa dependência, mas bom, eu não sou um gêmeo muito normal. Quer dizer, não é como se eu odiasse Maximilliam, mas ele com certeza me odiava do fundo de seu desprezível ser, e para ser sincero, ele não era lá minha pessoa favorita. Mamãe já nos disse, durante nossas brigas, quando ainda nos falávamos (mesmo que para xingar um ao outro), que nós éramos bastante amigos até os cinco anos. Max costumava dizer que lamentava algum dia ter de fato trocado palavras comigo.

– Agora é questão de honra – eu sorri para elas, passando o meu braço direito pelo de Anya e o esquerdo pelo de Rosie – Eu não sei como essa relação de gêmeo que se relaciona bem funciona, Anya, mas você também precisa de conhecer gente por aqui. O melhor jeito de fazer isso com certeza não é ficando grudada em seu irmão.

Ela concorda lentamente com a cabeça, ainda relutante.

– Tá bom. Pode ser, então – começamos a andar, embora ela pare depois de dois passos – Mas e se-

– Anastácia! Esquece ele por um intervalo, por favor! – Rosie chamou sua atenção, embora estivesse claramente brincando.

Anya tremeu o canto da boca, provavelmente em conflito interno, mas não disse nada antes de suspirar.

– Ok, que seja – Anya diz derrotada, e Rosie comemorou baixinho – Mas, se eu tiver de des-transformar alguém de sapo pra pessoa, a culpa vai ser toda de vocês.

Rosie riu, mas eu reparei em algo. Ela conseguia sim, desfazer a magia de Ahren. O que quer dizer que ela poderia ter, simplesmente, transformado Augustus de volta em humano. Em suma, eu havia descoberto algo sobre Anya: nem ela era tão ingênua ao ponto de ser idiota.

Ahren Magnus Queen

Acho melhor eu nunca mais duvidar de Anya.

Quero dizer, minha irmã com certeza é uma sonhadora sem-noção, mas anda acertando muitas coisas sobre aquela escola. O bastante para me deixar pensando que ela talvez tivesse dado uma olhada na bola de cristal da mamãe.

Mas bem, Anya nunca faria isso. O filho rebelde sou eu, no final das contas.

Por que eu digo isso tudo? Quando entrei no refeitório e fiz uma busca pela minha irmã, meus olhos correndo rapidamente de lá para cá, encontrei-a sentada com Rosemarie Montgomery, Rosetta Beasty e William O’Crown, os quatro dividindo uma mesa como se fossem melhores amigos. Meu estômago tentou fazer um número de contorcionismo, e meu cérebro trouxe à tona algo que eu havia pensado um mês antes: “Ela, com sua visão rosa da vida, com certeza pensava que seria melhor amiga da filha de Belle ou que os gêmeos da Cinderella lhe dariam bola.” É claro que eu me sentia um idiota ao ver que era algo perto disso estava acontecendo. Parece que eu devia um pedido de desculpas à minha gêmea.

Em todos os casos, eu fiquei meio perdido. Planejava passar o intervalo com ela, mas não iria até sua mesa de jeito ou maneira. Devo ter ficado parado com uma cara estranha no canto do refeitório, sendo eu um verdadeiro...

– Desastre Social! – alguém me chamou, concluindo meus pensamentos. Quase fiquei feliz ao ver Richard Montgomery –Tá tudo ok?

– Eu tô bem – devolvi.

– Claro. Estamos vendo como está ótimo sozinho, no canto do refeitório, encarando sua irmã – uma garota me alfinetou, e eu vi Apple Snow ao seu lado.

– Acreditem, eu tô bem – reafirmo, mas a garota faz um gesto de desprezo com a mão. Concluo que ela me enerva um pouco, mas de um jeito legal – E de qualquer jeito, como é que três pirralhos da décima primeira poderiam me ajudar?

– Primeiro, você não precisa ser rude com a gente. É extremamente ridículo de sua parte – outra garota, uma das irmãs Beasty disse – E segundo, a gente só está tentando ser gentil. Você não conhece ou gosta de ninguém por aqui além da sua irmã-

– Que aparentemente e com razão te trocou pelo trio ali, não se esqueça – Apple faz um gancho, mas a amiga a ignora.

– E nós só queríamos que você não precisasse passar pela vergonha de ficar em pé sozinho, no canto do refeitório. Se não quer, é só falar que desistimos – a menina finalmente finalizou, ela e Apple me olhando com desafio.

Analisei os três minuciosamente. Pela postura confortável que assumiam lado a lado, eles provavelmente era amigos há algum tempo considerável. Enquanto as duas meninas faziam cara de desafio para mim, Richard estava quieto em seu canto, as mãos enfiadas nos bolsos, algo como uma súplica disfarçada no rosto. Percebi que fora pedido dele que eu fosse incluído, e que as duas relutaram um pouco em aceitar porque eles não costumavam incluir gente de fora em sua panelinha. E embora eu realmente não fizesse questão de ser incluído, eles só estavam tentando me ajudar.

E bom, Richard precisava daquilo. Conviver estritamente com garotas não poderia estar fazendo bem para ele, e eu genuinamente achava ele gente boa.

Suspirei, me perguntando o que raios eu estava fazendo.

– Que seja – desisto, e um sorriso de triunfo brota nos lábios de Apple. Não que eu estivesse reparando em seus lábios. Richard olha pra mim feliz, como se quisesse dizer ''eu sabia que você tinha salvação''. Fiquei com vontade de dizer ''pau que nasce torto morre torto, cara'', mas em vez disso só soltei um breve: – Não esperem que eu agradeça.

Apple revira os olhos à resposta enquanto a outra garota sorri triunfante e diz:

– Nunca esperaríamos. E a propósito, meu nome é Scarlet.

– Ahren – eu devolvo – Mas acho que você já sabia disso.

Os três se entreolharam antes de girarem em seus calcanhares e andarem para fora do prédio. Apple percebeu que eu havia ficado para trás, meio perdido, e me arrastou pelo braço.

– Não vão pegar uma mesa? – pergunto meio confuso, à garota.

– Ah, não. Aqui dentro é muito barulhento e abafado – ela me explica, com um sorrisinho no rosto – Scarlet disse que tem um lugar bem legal no jardim, lá fora.

– Suponho que estejamos indo para lá? – pergunto, soltando meu braço de seu aperto. Ela coloca as mãos atrás do corpo e dá de ombros.

– Acho que sim. Rich e Scar são meio imprevisíveis, então estou para descobrir.

– Você, a filha perfeitinha da Branca de Neve, andando com o filho rebelde da Rainha Má, está chamando seus amigos de imprevisíveis – levantei uma sobrancelha para Apple, que me olhou com curiosidade.

– Você é estranho, Ahren – ela concluiu, sem me responder de verdade, com um brilho diferente nos olhos – De um jeito legal, eu acho.

– Você não me respondeu.

– Você nunca perguntou.

– Touché – admiti, sorrindo um pouco de lado enquanto ainda andávamos atrás dos dois. Olhei para Anya, no centro do refeitório, ainda com seus novos amigos. Talvez minha irmã pudesse me ensinar uma coisinha ou duas naquele ano.