After Ever After-Interativa

Chapter XXIX - A Solo ou em Equipe


Tristan Smith

Eu estava realmente morto de cansaço naquele dia. Eu havia ficado fora de casa até as onze na noite anterior (e entrado discretamente, meus pais sequer notaram), num parque com Moony, Matthew e Pearl, e chego sem tomar banho ainda. Acabei só conseguindo ir dormir meio tarde, à meia noite, e sendo acordado pelos gritos de meus pais muito antes do necessário. Basicamente tive um número de horas de sono muito inferior ao que seria aconselhável

Em outras palavras, eu estava completamente acabado.

O dia inteiro de aulas obviamente não ajudara. Depois do sexto período (Matemática, naquele dia), fui para o shopping almoçar antes do primeiro dia dos afterschool clubs. O primeiro lugar onde eu teria aula era a sala B19, que tinha um papel com as palavras Sala do Coral estampado na porta. Eu abri a porta, vendo que era um dos primeiros a chegar, já que somente os irmãos Pontus e meu irmão estavam na sala. Henry estava isolado em um canto das três fileiras de cadeiras dispostas ao fundo da sala, que era ocupada, em sua maioria, por instrumentos de cordas, uma bateria e um piano; mexendo em seu celular com os fones provavelmente no máximo. Ele levantou a cabeça e sorriu de leve para mim, e eu o retribuí. Pearl e Sean, porém, estavam sentados no piano.

Bom, ele, pelo menos, estava no piano. Em cima dele. Literalmente. Pearl, por outro lado, estava sentada no banco, os pés nos pedais, tocando alguma melodia suave a cantarolando junto ao instrumento. Seu irmão a contava sobre algo que lhe parecia desesperante, as pernas cruzadas e as mãos gesticulando sem parar por um segundo sequer. A ruiva olhava para as teclas e assentia, com uma cara de quem quer rir mas não pode, mas também levantou a cabeça quando eu cheguei, o que fez seu irmão se calar.

– Tristan! – minha amiga exclama, largando o piano e se colocando de pé. – Você não comentou que estava no coral também!

– Você também não falou nada – eu dei de ombros, sorrindo enquanto lhe dava um abraço – Acho que estamos quites.

Ela pensou um pouco antes de responder, fazendo uma careta.

– Tá, que seja. Mas e aí? O que está fazendo por aqui?

Dei de ombros.

– Eu gosto de cantar e dançar. Decidi dar uma chance para o coral – respondi, as mãos nos bolsos, depois de colocar minha mochila em uma das cadeiras – Mas eu posso apostar que sua mãe te fez entrar no clube?

Ela sorriu de leve como confirmação, e eu ri um pouquinho. Concluí que aquele provavelmente também era o motivo de Sean estar ali, embora já tivesse visto a garoto cantando pela escola antes. Eles eram filhos da Ariel, afinal. É claro que cresceram sendo ensinados a gostar de música, assim como eu e meus irmãos (P.S: eu até poderia dizer como foi difícil decidir do que eu realmente gostava, mas acho que vocês já tiveram bastante do conflito na minha família por hora).

É claro que eu tinha um motivo por não ter falado para Pearl que estava no clube também. Quando fui fazer a inscrição, nesse clube em específico, minha amiga ruiva já havia passado por lá e colocado seu nome e e-mail na lista. Depois disso, eu só havia a encontrado no parque, com Moony e Matt. Embora Matt fosse um cara bem tranquilo, até onde eu sabia, Moony parecia ter algum tipo de resistência à Pearl desde que começámos a namorar. Como que… Ciúmes?

Bullshit, se você me perguntar. Pearl era minha amiga desde que éramos pequenos, já que sempre morou na mesma rua que eu, mas era só.

Então, é. Como se ter meus pais brigando um com o outro não fosse o bastante, eu tinha de aguentar Moony me vigiando que nem um falcão. Não me entenda errado, eu amo a Moon, e estou mais que satisfeito de finalmente ter conseguido coragem para pedí-la em namoro, mas ser possessiva sobre mim? Desnecessário.

Vejo um violão encostado no canto da sala, quase brilhando de tão novo, e me arranco de meus próprios pensamentos. Ando até ele, mas, quando toco o primeiro acorde, reparo o quão desafinado ele está. Afino corda por corda, tentando tirar alguma coisa boa sem um afinador de verdade além dos meus ouvidos, enquanto o resto do clube chega. Quando estou perto de acabar, vejo uma mulher ruiva fechar a porta da sala. Só quando ela aponta para mim e sorri que eu vou perceber que é Ariel.

– Que tal nos dar uma palhinha, Tristan? – ela me pergunta e eu engulo em seco, certo de que estava da cor dos seus cabelos.

– C-como?

– E é assim classe, que você desmascara alguém que claramente estava no mundo da lua – a ruiva me ignora, olhando para o resto da turma com cumplicidade.

– Perdão. Não acontecerá de novo.

– Eu sei que não – pisca para mim, e eu dou um sorriso tímido – Bom, vamos do começo então. Boa tarde, pessoal. Meu nome é Ariel Pontus, e eu sou sua professora do Coral. Se todos vocês estão aqui, espero que seja porquê de fato querem – Sean limpa a garganta –, excluso Pearl e Sean Pontus. Existe mais alguém que não queria estar aqui? – ela olha em volta, procurando por manifestações – Ahren, eu já conversei com sua mãe. Não é como se qualquer um de nós dois realmente tivesse uma escolha.

Ouço o garoto bufar, e viro para trás, tentando identificá-lo, mas logo desisto.

– Certo. Então vamos começar - ela bateu as mãos duas vezes, como que chamando a atenção, mas ninguém estava falando – Não sei se vocês sabem crianças, mas no final deste semestre, nós entraremos em uma competição.

– O quê? – alguém diz, exasperado, mas não consigo reconhecer a voz.

– É verdade. As regionais – Sean Pontus afirma – Ela não fala de outra coisa desde que virou professora.

– Como meu filho explicou, as competições regionais. A organização da competição nos passa um tema e nós preparamos um número de três músicas para apresentar. Por enquanto, já que não temos o tema, vocês terão o que eu gosto de chamar de tarefas da semana.

– As tarefas da semana não – Sean murmura, e ela o fuzila.

– Sean, eu acho melhor você ficar quieto – sua irmã o cutuca, voltando para o piano.

– Vocês prepararão, separadamente ou em grupo, um número simples para apresentar para a turma. Mas, ainda antes disso, preciso saber o que cada um de vocês pode fazer. Então, já que Tristan está com o violão, se importam que ele comece? – a professora se virou para mim novamente, e eu podia jurar que fiquei da cor do cabelo dela.

– A-a corda de Sol está quebrada – justifiquei, embora fosse uma bela mentira.

– Mentiroso – uma garota ruiva me acusou, e eu reconheci uma das Haddock – Dá pra ver daqui que está em perfeito estado.

– Alanna tem razão, Tristan – Ariel me olha, quase com pena – Pode cantar do seu lugar, se quiser.

Respiro fundo. Que seja.

– Alguém aí sabe fazer o segundo violão de Billionaire, do Travis McCoy?- pergunto, usando o resto de coragem que ainda tenho.

Meu irmão sorri ao fundo da sala e pega o violão que sobrara no canto. Ao menos para passar vergonha comigo Malik servia.

Finn Haddock

– Boa tarde, meninos! – o treinador gritou, depois de soprar o apito bastante alto para chamar nossa atenção. Obviamente, todos olharam em sua direção – Eu sou Hércules Olympia, seu treinador de basquete durante seu tempo de permanência aqui nos AEA Lions. Nós tivemos dez inscrições para o time ao todo, e eu selecionei vocês sete a dedo. Então, por favor, não me façam fazer figura de idiota.

Houve um pequeno burburinho entre os meninos, mas eu só fiquei encarando o professor. Não é como se eu fosse uma maravilha de jogador no basquete alado, mas eu já havia sido de times antes. Eu me garantia.

– Ótimo, então. Infelizmente, eu ainda não sei os nomes de todos vocês, mas já tenho os uniformes aqui. Então eu vou chamar, um por um, e vocês farão o favor de ir ao vestiário colocar eles – ele passou os olhos por nós mais uma vez, enquanto alguns assentiam em confirmação – Festus O’Crown!

Um garoto loiro deu um passo à frente e pegou a roupa, sorrindo para o treinador e se dirigindo diretamente para o vestiário. Logo após ele, eu fui chamado, e fiquei observando o uniforme em meu caminho. Ele era de um roxo bem escuro, e na frente tinha a imagem de o contorno de um leão em branco, com as letras AEA na altura do peito direito. Nas costas, o meu sobrenome, Haddock, vinha acompanhado do número 13, o qual eu havia pedido por. O short também era roxo, com a bainha branca e o mesmo número perto da bainha esquerda. Era todo de poliéster, que absorvia melhor o suor do que outros tecidos, e admito que ficava bastante confortável.

Fui um dos primeiros a sair do vestiário, tendo sido o segundo a entrar, mas os O’Crown já estavam conversando com o treinador quando cheguei. Curioso, me juntei à eles enquanto Maximillian estava falando.

– Mas, treinador Olympia, todo time de basquete precisa de líderes de torcida – o Moreno insistiu – Quero dizer, quando formos jogar, nossos oponentes com certeza vão ter líderes. Nós também precisamos dessa moral.

– Olha, O’Crown, essa escola acabou de abrir. Não é fácil assim – o treinador devolve, tomando algumas anotações em sua prancheta. De onde estava, consegui ler comportamento petulante, e não segurei uma risada baixa – Não conseguimos meninas o suficiente para fazer um time de líderes, então, vai ter de ser assim, por enquanto.

– E se nós falássemos com as garotas do vôlei? – sugeri, e só então os três me notaram – Talvez elas se disponham.

– É um talvez bastante grande – Hércules considerou – Mas podemos tentar.

– Apple Snow também é uma boa hipótese. Ela faz ginástica desde que aprendeu a andar – Festus colocou.

– Podemos tentar – o treinador repetiu – Mas os uniformes teriam de ser desenhados e feitos, o que levaria algum tempo.

– O clube de moda – Maximillian atira – Elas poderiam nos ajudar.

– Certo, então. Suponho que, como vocês três fizeram estas sugestões, estejam dispostos a conversar com as envolvidas no intuito de realmente conseguir um time – ele disse, certo que era totalmente verdade, e eu engoli em seco. As meninas do time de vôlei provavelmente enfiariam a mão na nossa cara, e eu não tinha tanta certeza de que Lanna estaria ok com aquilo tudo – Finn e Festus, vocês dois podem vir aqui amanhã, às duas e meia, quando o time de vôlei começa a treinar. No dia seguinte, darão a resposta à Maximillian para que ele possa se resolver com o clube de moda. Está bem?

Assentimos os três, embora nenhum de nós tivesse garantia de que tudo correria bem. Na verdade, quase tínhamos garantia de que as coisas andariam do pior jeito possível.

O resto do time se reuniu em alguns minutos, e fizemos uma pequena prática. O treinador nos dividiu em dois times de quatro, sob o pretexto de decidir posições no final daquela mesma aula. Como éramos sete em vez de cinco, o treinador determinou quatro alas, que jogariam pelas laterais, dois armadores, um pivô e um escolta. Como em praticamente todos os lugares em que eu já jogara, por causa de minha altura, fui colocado de pivô, o jogador que fica sempre no garrafão e o mais perto da cesta possível. Uriah Bezerra e Henry Smith, meu melhor amigo, foram selecionados como os alas do time; enquanto Matthew Frost e Sean Pontus ficaram de líberos ou ala-pivô, o que dava ao time duas opções de ataque diferentes, por causa dos portes físicos diferentes dos dois. Como só um jogaria e o outro ficaria no banco, uma vez que basquete é um jogo de cinco, provavelmente foi uma ótima ideia separar o Frost do Pontus, já que o loiro parecia querer acertar a cara do outro com a bola praticamente o tempo todo. Maximillian O’Crown ganhou a posição de escolta, o que não pareceu deixá-lo particularmente feliz, mas velocidade era realmente seu ponto forte e ele era grande demais para fazer o armador. Sebastian Skellington e Festus O’Crown, ficaram, então, com as posições de armador e co-capitães da equipe, o que pareceu surpreender ambos. Dispensada a equipe, Henry andou ao meu lado até os vestiários.

– Finn Haddock, camisa treze, pivô da equipe – meu amigo considerou, quicando a bola que ainda estava em suas mãos – Por que isso me soa vagamente familiar?

– Me deixa – rio, e esbarro nele com o ombro – Sabe mais que bem que isso é praticamente tudo o que sei fazer, Malik.

– Não é, não – ele discordou, ainda com os olhos na bola – Lembra de quando você era sexto homem no Tremaine? Foi a sua era de glória, Finn.

– Era de glória – eu repeti com desprezo – Me fale de glória quando vencermos nosso primeiro jogo, cabeção.

– Que seja – ele deu de ombros.

– Quer carona? – perguntei.

– Nah, valeu. Tristan ainda está aqui, por causa do jornal, e eu prometi que iria com ele naquela loja de discos – ele sorriu, como que pedindo desculpas.

– Te vejo amanhã, então?

– Conte comigo, Finnie – ele me chamou pelo único apelido que tinha e o que mais odiava, para depois sair andando em uma direção diferente. Ri baixo mais uma vez antes de ir me trocar. O meu amigo mais velho e mais próximo era um idiota, e eu nem me importava