After Ever After-Interativa

Chapter XVIII-A Festa, Parte Um


Augustus Carriedo Hook

Eu havia esquecido como era uma festa no Mundo Encantado. Desde a festa de quinze anos da filha da Belle, um ano e meio atrás, eu sequer havia pisado em terra firme direito, que dirá ido a um baile de gala. Eu nunca havia sentido falta daquilo tudo- o mar era meu melhor amigo, e eu estava perfeitamente bem com ela -, mas, no momento em que entramos na mansão dos Montgomery, percebo que deveria ter.

Havia carros por toda a rua, inclusive virando a esquina, e alguns canhões de luz jogando feixes fortes que oscilavam de um lado para o outro. Seguranças haviam sido posicionados nas portas principais, e eles eram os únicos que não sorriam num raio de um quilômetro da casa. De resto, todos pareciam radiantes.

Olhei para Phoenix, que andava do outro lado de meu pai.

–Está preparada, Phoenix?

Ela rolou os olhos, como sempre fazia a cada vez que uma palavra que saía da minha boca.

–Vamos entrar?- meu pai perguntou, dando um de seus sorrisos sarcásticos.

–Achei que nunca fosse perguntar- Phoenix disse, e nós três entramos na grande casa.

Cada centímetro do corredor que levava ao salão principal estava ricamente decorado, com arranjos florais grandes e escandalosos. Na porta do que deveria ser o tal salão, a família do aniversariante acolhia as pessoas.

Não era muito difícil dizer que eles eram todos da mesma família. O garoto, Richard, era a cópia da mãe em versão masculina: loiro, branquelo e de feições frágeis. A garota mais nova tinha os traços do pai para as cores da mãe, com grandes olhos claros, cabelos loiros e traços marcantes. A mais velha, Rosemarie, era a réplica da mãe para as cores do pai, com os negros e cascateantes cabelos e os olhos azuis como o céu.

–Capitão!- Aurora Montgomery cumprimentou meu pai, que beijou sua mão -Uma honra tê-lo aqui!

–Não precisa mentir, querida. Ninguém gosta que eu vá em festas- meu pai respondeu, apertando a mão do marido de Aurora e acenando com a cabeça para nós -Estes são Augustus e Phoenix, meus filhos.

–É um prazer conhecê-los- Phillip apertou minha mão com força -Aproveitem a festa.

–Pode deixar- eu respondi, sorrindo da maneira mais decente que consigo(que, segundo Phoenix, não é muito). Parabenizamos rapidamente o garoto loiro, Richard, antes de entrar de vez no salão.

Admito que não conseguia para de pensar em como Rosemarie estava particularmente deslumbrante com seu vestido de gala preto e os detalhes em prateado. As jóias mais claras quase se mesclavam com sua pele, e seus olhos azuis brilhavam de encanto e animação. Deveria ser, na verdade, uma das meninas mais bonitas da festa.

E, acredite em mim, havia muitas meninas bonitas na festa.

Parece que é nessas horas que um cara aprende a diferença entre bonita e linda. Eu parei de olhar e pensar em Rosemarie(quero dizer, quem é mesmo Rosemarie?) quando a Rainha Má e seus filhos decidiram se sentar na mesa junto à nós três e Malévola. A Rainha trazia a tiracolo um garoto e uma garota, provavelmente gêmeos, ambos de pele branca como a neve e cabelos e olhos da cor do ônix.

E, wow. Se o Mundo Encantado fizesse seus padrões de beleza a partir daquela garota, o mundo seria um lugar melhor para se viver.

A roupa também ajudava, tenho de admitir. O vestido azul escuro contrastava com a pele dela, e as joias douradas não sumiam em sua pele como as prateadas na pele de alguém branco como ela.

Linda.

–Ei- me apressei em chamar, e ela virou a cabeça para mim em um sorriso que parece-lhe ser permanente -Qual seria seu nome, senhorita?

–Anastácia- ela devolveu, com uma risadinha.

–É um belo nome. Sou Augustus- peguei sua mão na minha e depositei um beijo suave nela -É sempre um prazer.

–O prazer é todo meu- Anastácia me garantiu, alargando seu sorriso.

–E eu sou Ahren- o irmão dela sorriu afetadamente ao seu lado -O irmão gêmeo dela, sabe?

Esforçei-me para não fazer caras e bocas para o garoto. Se eles eram gêmeos e haviam sentado um ao lado do outro em vez de um a cada lado da mãe, provavelmente eram bastante ligados. Ser rude com Ahren só afastaria Anastácia, e isso definitivamente não era o que eu queria.

–Ahren e Anastácia Queen, é claro- eu sorri para a garota, que me observava com certo interesse -Claro que o sobrenome meu e de minha irmã, Phoenix- a cutuquei com o cotovelo, ao passo em que ela me olha com tanto ceticismo quanto Ahren -, não possui nem um terço da fama do seu.

–Eu não diria isso- Ahren colocou.

–Os Hook são conhecidos por todo lado- Anastácia o completou.

–Mas nada que se compare à grande Rainha Má- eu devolvi, inclinando a cabeça e sorrindo para a garota.

–Ela prefere Regina- os dois disseram em uníssono.

–E o que você prefere?- perguntei, no meu tom de flerte mais sutil. Anastácia abriu a boca para responder, mas é interrompida.

–Pode chamá-la de Anya, Augustus- seu irmão disse -Anastácia é um nome meio...

–Antiquado- ela o completa novamente.

–Bom, eu o acho elegante- eu e Phoenix replicamos rapidamente em uníssono, e, estranhando, nos entreolhamos. Desde quando nós dois éramos sintonizados?

–Augustus também é bastante pomposo- ele me devolveu, afiado -Ao menos para um pirata.

–Eu achei que somente crianças no Mundo Sem Magia fossem nomeadas Ahren- digo, tentando parecer pensativo -Meu erro.

O garoto me estudou, com um olhar que com certeza é um bom bocado hostil, enquanto Anya sorriu e pareceu achar a situação cômica. Ahren, por outro lado, com certeza se perguntou se eu iria sobreviver essa noite. Para seu maior prazer, ao que concluo, o garoto se levantou sob a desculpa de pegar ponche na mesa-como se quisesse uma bebida para assistir de camarote ao que estava para acontecer.

Sorri e levantei as sobrancelhas, me recostando na cadeira. Parecia que seria uma longa noite, mas, bom, eu estava preparado. Augustus Hook sempre estava preparado.

–x-x-x-

Richard Montgomery

Eu não queria estar aqui. O que é meio estranho, considerando que a festa é minha.

Vá entender.

Eu nunca gostei de festas. Rosie sempre foi a baladeira do trio, e, embora Charlye negue até a morte, ela nunca vai rejeitar a junção de comida, música e falação. Eu, porém, preferia minha cama, meu travesseiros e meu videogame. Nem ao menos sei como me socializar em festas-ou em qualquer lugar. Mas claro que Rosie não iria me deixar sofrendo em minha própria festa, então me aconselhou a procurar gente como eu.

Ou seja, que não fazia questão nenhuma de estar ali.

É o que faço quando os convidados param de chegar e nossa família se junta ao resto das pessoas no salão. Avisto, nos primeiros momentos, um garoto branquelo de cabelos pretos. Devo dizer que tudo o que havia de claro nele era a pele: seus olhos eram cor de obsidiana, a camisa de botões preta, a gravata preta, a calça preta, os sapatos pretos. O que parecia ser um pedaço de madeira saía de seu bolso esquerdo, negro também. Sua cara de poucos amigos indicava que ele realmente não queria estar ali.

Eu sinto que deveria estar ofendido por ter alguém que não queira estar em minha festa. Estranhamente, estou com um pressentimento de que talvez nos demos bem.

Vou para perto da mesa de ponche, onde está o carinha de preto, e reparo que eu realmente sou um desastre social. Quando foi que desaprendi a fazer amigos?

Vamos, Richard. Fale algo. Mesmo que seja algo estúpido.

–Você vai falar ou vai ficar aí se estimulando?- ele pergunta, quando eu abro a boca sem sair som pela quinta vez. Rio.

–Eu sou um desastre social. Não me culpe.

–Ah, de jeito nenhum.- ele diz, repousando seu copo na mesa. -Desastre Social é meu nome do meio.

–Então somos xarás.

–Prazer, Ahren Desastre Social Junior.- ele me estende a mão.

–Sou Richard Desastre Social Turner.- devolvo, apertando a mão tão pálida quanto a minha. -E o que um desastre social como você faz em uma festa como essa?

–Poderia te fazer a mesma pergunta.

–Mas eu fiz primeiro.

–Ponto pra você.- ele admite, para tomar um gole de seu ponche. Então, aponta uma menina sentada ao lado de quem me parece ser a Rainha Má(quero dizer, ela é tão branca quanto Ahren e conversa com

Malévola). -Vê aquela menina ali?

–Sua namorada?- devolvo, observando-a. Ela é tão branca quanto um fantasma, isso sim. Ahren quase cospe o líquido rosa.

–Não, tá doido?- ele pergunta. -É minha irmã. Anastasia.

–Parece legal.

–Bom, eu discordo. Ela fez a maior questão de estar aqui, e eu não sei dizer não pra porcaria da menina.- ele diz, seco. -Aqui estamos, então. E você, Richard?

–Bom, é algo como "meus pais me obrigaram a vir". Mas acho que não fazem mais do que a obrigação, vez que a festa deveria ser minha.

Ele quase cospe o ponche de novo. Deveria parar de beber de uma vez.

–Peraí, você é o Richard Montgomery?

–Dã.- devolvo. Como você vai em um aniversário sem conhecer o aniversariante? -A pergunta é, Ahren, quem é você?

–Ahren, oras.

–Só Ahren.

–Só.

–Nem vem. Todo mundo aqui é alguém.

Ele suspira.

–Esse é o tipo de coisa que eu tento evitar, contar pra desconhecidos de quem eu sou filho.

–Você é quem está na minha festa.

–Ponto pra você.- ele considera. -Ahren Magnus Queen.

–Peraí, o Ah-Mentira, eu já sabia que era você.

–Então por que perguntou?

–Teste de caráter. Ou foi isso que minha irmã me disse. Ela é boa nessa coisa de socializar. Mentir sobre quem você é nunca é bom.

–Péssimo teste de caráter.

–Como sabe?

–Ele me julga de bom caráter.- o moreno disse, e levantou sua taça quase vazia. -Nos vemos por aí, Richard.

E ele vai embora, se sentando novamente com a mãe e a irmã-além dos Hook e Malévola, claro. Quase como se fosse um clubinho do mal.

Preconceituoso, consigo ouvir a voz de Rosie na minha cabeça, me repreendendo, O que foi que eles jamais fizeram à você? Balanço a cabeça, afastando todos os meus pensamentos, e volto a rodar pelo salão. Em questão de algo como dois segundos, Charlotte aparece ao meu lado com dois asiáticos.

–Ei, Rick!- ela me chama, e aponta os dois –Estes são Mei e Shun. Li.

Sorrio.

–Charlie, já vi eles. Na entrada, lembra?

–É, Richard, mas eu estou sem nada pra fazer e resolvi pegar no seu pé- minha irmã devolve, ao passo em que eu reviro os olhos e os dois dão uma risadinha –E para de agir como a Rosie. Não é porque você fez dezessete anos que é subitamente mais maduro do que jamais foi.

–Que seja- eu devolve –Quero dormir.

–Você sempre quer dormir- Charlie chispa –Por que não curte a festa?

–Não sei o significado disso.

–Com certeza podemos te ensinar- a garota, Mei, sorri travessa para mim e Charlie pega minha mão.

–Vem, Rick! Hora de você aprender a dançar!

–Charlotte, eu-

–Ná, ná, ná- ela me puxou ainda mais forte –Você vem e ponto.

Suspiro, deixando ela me puxar e sorrindo muito de leve. Aquela seria uma noite bastante… Peculiar.