Festus Finley O’Crown

Ainda era um pouco cedo, considerando que era domingo, mas como já estava farto de dar voltas na cama, decidi que deveria fazer algo útil.

Levantei-me com calma, e vesti uma roupa confortável para desporto, ao mesmo tempo que enviava uma mensagem para Sean e Jasper:

‘‘Estou a fim de dar uma corrida. Alinhas?’’

Espero cerca de cinco minutos, aproveitando para lavar os dentes entretanto, e a resposta finalmente vem:

‘‘Ná. Não me apetece’’ – Sean

Depois de tanta cortesia por parte do Mini-Tritão, restou-me esperar que Jasper fosse mais ativo. O que felizmente acontece:

‘‘Claro. Passas por minha casa e vamos até às docas?’’

Vou respondendo à mensagem enquanto saio do quarto:

‘‘Até lá :P’’

No momento em que o meu polegar toca no botão para enviar, vou contra alguém no meio do corredor que nem tinha reparado que lá estava.

–Cuidado Fest! – exclama minha irmã Royal –Quase que atiravas a caneca ao chão! – só percebo o que ela queria dizer quando olho para a caneca de chá fumegante que ela levava na mão.

–Desculpa, estava distraído – digo, abanando o telemóvel na minha mão -Tu a tomar chá? – pergunto, logo de seguida –E logo de manhã?

–Acordei com dores de garganta – justifica, e eu reparo que a voz dela estava realmente um pouco rouca. –Onde vais assim vestido?

–Correr com Jasper. Queres vir?

Ela faz uma careta e acena negativamente, mas sugere:

–Talvez o Will e o Max queiram. Eles estão lá em baixo a tomar o café da manhã.

Sorrio com a sugestão e encaminho-me pelas escadas para ter com os meus irmãos. Quando chego à sala de refeições onde é sempre servido o pequeno almoço, encontro a costumeira cena: Will e Max sentados frente a frente, comendo calmamente e sem trocar uma única palavra.

– Bom dia – digo sentando-me do lado direito de William.

– Bom dia – meu irmão loiro responde. Max limita-se a soltar um resmungo, continuando a olhar para o prato.

– Vou sair para correr daqui a pouco – digo enquanto passo(barro é o mesmo que lama para nós) nutella no meu pão. – Passo pela casa do Jasper primeiro e depois vamos até às docas.

– Eu vou contigo até lá – Diz Max, levantando a cabeça da comida finalmente – Combinei umas coisas com Destiny.

– Não te fartas dessa miúda? – pergunta Will com ar repulsivo.

Max não responde à pergunta do gêmeo. Em vez disso bebe um gole do que quer que estivesse na sua caneca, limpa a boca ao guardanapo e solta um enorme arroto.

Will revira os olhos entediado, e eu contenho o riso.

É verdade que gostaria que os meus irmãos se dessem melhor, e talvez Max precise de aprender a ter boas maneiras. No entanto não é como se William tivesse alguma coisa a ver com as raparigas com quem Max anda.

Quando acabo de comer já os meus irmãos se levantaram da mesa. Decido procuram pela minha mãe e avisá-la de que vou sair. Procuro-a na sala e na cozinha, mas não a encontro. Decido ver no jardim da frente do castelo, e vejo-a perto da fonte central a conversar com a Maggie, a governanta. Aproximo-me delas, e comprimento Maggie com um sorriso e dou um beijo na bochecha de minha mãe.

– Bom dia, querido – diz ela sorrindo.

Maggie retira-se e eu sento-me na beira da fonte, brincado com a água com os dedos.

– Vou sair com Max daqui a pouco – começo – Passaremos na casa dos Snow, e vou correr com Jasper até às Docas.

– Ótimo – diz, com o seu habitual sorriso – É bom ver que Max te pegou o gosto pela corrida.

– Eu não diria propriamente gosto – digo com uma careta – É mais falta de melhor coisa para fazer. E Max nem vai correr comigo. Vai só ter com a Destiny.

A minha mãe arregala os olhos bastante surpresa e pergunta:

– Outra vez?

Encolho os ombros como quem diz: ‘‘Parece que sim’’.

– Então, se vais a casa dos Snow – começa minha mãe –, podes levar umas coisas que tenho ali para a Branca? Assim evitava mandar alguém lá.

– Sem problema – levanto-me para seguir minha mãe até à porta traseira da cozinha do palácio.

Maggie e a cozinheira estavam reunidas, provavelmente a cochichar alguma coisa, pois sobressaltam-se assim que nos vêm passar a porta.

– Andrea, podes colocar a tarte de abóbora que fiz há pouco numa cesta de pic-nic? – pergunta a minha mãe docemente, mesmo que o pedido seja mais uma ordem.

Andrea, a cozinheira, rapidamente se faz ao trabalho e a minha mãe sai, voltando um minuto depois com papel e caneta em mãos. Escrevinha alguma coisa e dobra-o em três, colocando dentro de um envelope, e em seguida dentro da cesta.

Enquanto isso, Max entra abruptamente na cozinha soltando:

– Fest! Estou há tua espera há seculos!

– Desculpa – digo, pegando a cesta e dando um beijo rápido o rosto de minha mãe – Até logo. Devo voltar pela hora do almoço.

Max sai para o jardim lateral sem dizer o que quer que seja a Cinderella, e eu sigo-o.

– Podias tentar ser minimamente carinhoso para variar – digo, meio irritado.

– Também queres que te arrote na cara?

Reviro os olhos e continuo a andar, lado a lado com o meu irmão de dezoito anos, e consequentemente três anos mais velho, mas com a maturidade de um mamífero bebê.

Felizmente os Snow não vivem muito longe, por isso este momento embaraçoso de pouca afetividade não tem de se prolongar por muito tempo.

Quando estamos então perto do portão principal do Castelo, avisto Jasper sentado num dos bancos de jardim, e ao seu lado a criatura mais bonita à face da Terra.

Apple Snow e toda a sua beleza estavam paradas à minha frente, segurando um livro e usando roupas de Domingo, enquanto conversava normalmente com o se irmão mais novo.

– Fecha a boca se não entra mosca – diz Max, provavelmente devido às figuras de parvo que eu estava a fazer. Faço-lhe uma pequena careta, mas logo volto a olhar para a garota.

(Não tenho certeza sobre esse parágrafo) Eu tenho uma queda- que Max chama de abismo -por Apple desde... Bem, desde quase sempre. Ela é simplesmente tão adorável, tão boa, tão Apple. E tão diferente da irmã-o que provavelmente era o motivo de Max a achar meio sem sal.

Quando já estamos a apenas uns metros, deles Jasper e a irmã reparam em nós levantando-se imediatamente. Apple despede-se rapidamente do irmão, e acena levemente para mim e Max, voltando para dentro do castelo.

E assim se foram todas as minhas esperanças e planos de tentativa de conversa.

– Hey – cumprimento já ao pé de Jasper.

– Hey Fest. Max – diz fazendo um aceno com a cabeça, que meu irmão retribui mas sem soltar qualquer som.

– Vamos andando? Por este andar nem chegamos a tempo do almoço – digo.

– Não fui eu quem demorou quase uma hora para vir até aqui.

– Até mais – diz Max, seguindo o caminho que Apple tinha feito segundos antes e entrando em casa sem sequer bater à porta.

–Eu não demorei quase uma hora - devolvo.

–Ah, demorou sim.

–Tenho absoluta certeza que não - saco o telemóvel do bolso, e entro no sistema de SMS -Vê? Você me respondeu às 8:30, Jasp.

–E que horas são agora, espertinho? -ele devolve, e eu miro o relógio. 9:20.

–Tá bem. Talvez, e só talvez, eu tenha demorado quase uma hora. Mas eu tive de tomar café e esperar minha mãe arrumar a torta de abóbora para a tua -e só então percebo a cesta na minha mão. Bato na testa. -Esqueci de pedir à Max que levasse para mim. Deveríamos deixar lá dentro?

–Nah. Espera um segundo - ele pega o celular e digita alguma coisa de maneira muito rápida. Apple aparece na porta no mesmo segundo.

–Fala, Jasp!- ela grita, e eu suspiro.

–Cesta de tia Ella! Levas pra dentro?

–Levo! Deixas num banco que lá vou!

–O.K.- ele diz, e depois se vira pra mim. Pega a cesta de minha mão e coloca num banco -Vem. Longo caminho daqui às docas.

Nos colocamos a correr num ritmo lento, à caminho das docas. Sendo Jasper um dos meus melhores amigos, nunca tive problema em ficar em silêncio perto dele, mas isso não quer dizer que nos falta assunto. Nunca. Então, em nosso percurso, falamos sobre tudo. Sobre as férias, sobre a escola. Sobre música, sobre Sean. Quando chegamos nesse ponto, a conversa estaca.

–Ele anda muito estranho por estes dias -meu amigo comenta -Tens alguma ideia do que pode ser?

– Não -admito- Estive pensando ter com Aria sobre isso durante as férias, mas não é como se fôssemos amigos - completo, me referindo à Aria Bjorgman.

– Se bem que já faz algum tempo que não o vejo com Aria- Jasper comenta casualmente, mas parecendo estranhar –É meio estranho. Quero dizer, eu me lembro bem de quando éramos menores.

Eu sorrio.

–E eu não me lembro?- brinco –Eu e você sempre estávamos juntos, demorou um tempo pro Sean começar a andar conosco de verdade. E, mesmo assim, ele sempre levava a Aria para os lugares em que íamos.

–E as vezes em que ele desistiu de ficar conosco porque tinha marcado com a Aria?- ele ri.

–Lembra-se da vez do cinema, que fomos assistir Transformers e o Sean cancelou de última hora?

–E acabamos encontrando ele lá com Aria?

Rimos juntos e caminhamos um pouco mais em silêncio.

–Bons tempos- eu acabo por dizer.

–Sinto falta daquilo, sabe?- Jasp pondera –Por pior que fosse que um dos meus melhores amigos furasse comigo, o Sean era… melhor. Mais calmo, menos arrogante. Mais Aria. Mais ele.

Balanço a cabeça em concordância. A Bjorgman realmente tinha um efeito sobre nosso amigo. Sean tinha uma personalidade meio arrogante e, se não tivesse alguém para segurá-lo, ele acabava ficando parecido demais com Max. As pessoas falavam que eu e Jasper às vezes o deixávamos mais divertido, mas o ingrediente para fazer de Sean alguém que entende o sentido de igualdade é Aria, sem um pingo de dúvida.

–É. Você provavelmente está certo.

–Devíamos conversar com Aria. Chamar ela pra sair com a gente, sabe?- Jasper diz, e eu sorrio.

–Devíamos. Eu sinto falta de Aria, embora ela não falasse muito conosco.

–Não realmente realizamos o valor das coisas antes de perdê-las- Jasper disse, e eu o cutuquei de brincadeira.

–Virou filósofo, foi?

Meu amigo ri, olhando para mim ceticismo.

–Claro. No mesmo dia em que Max e William deram as mãos e saíram cavalgando até o pôr-do-sol- ele diz, e eu rio alto. Então olho diretamente para ele.

–Eu não sei o que seria de mim sem sua piadas idiotas, Jasp.

–Nem eu sem as suas, Fest- ele devolve, e aperta o passo –Agora anda mais rápido, vamos. Desse jeito nunca vamos chegar até as docas.

Eu faço uma cara de desafio para Jasper, que olha para trás no momento, e corro um pouco mais rápido.

–Te vejo lá, amigão.

–Não se eu te vir primeiro.