Mesmo que eles sentissem que já haviam percorrido uma distância muito favorável de sua casa, seus instintos gritavam e imploravam para não acreditarem no que ouviam ou sentiam. A noção de tempo e distância era algo muito distorcido e errado naquela floresta. Não podiam ser dar o luxo de parar de correr até o acampamento.

Hakyeon começou a sentir efeitos colaterais em seu corpo, todos aqueles dias sendo privado de uma alimentação adequada, o cansaço, a febre, e agora sua perna ferida. Tudo estava começando a acumular, e ele percebeu isso quando sua vista embaçou completamente.

Ken parou bruscamente ao ver seu hyung tropeçar e cair ao chão, e antes que o alcançasse e o ajudasse a levantar novamente, o mais velho começou a rir, nervoso.

—Ah, eu sabia que não ia aguentar muito. - Ele deixou o corpo largado, encarando o céu.

—Como assim? Não podemos parar hyung, acho que falta po- - A mão do mais velho em seu ombro o fez parar.

—Eu estou virando apenas um peso morto, JaeHwan. Você tem que continuar, fugir e ajudar os outros e…

—Não! - Começou a tentar levantar o líder, que se recusou a isso.

—Você não está entendendo! Eu não vou mais conseguir fugir! - Tentou olhar nos olhos dele, se fazer entender que não dava mais e que ele não suportaria arrastar o mais novo naquilo, não de novo quando todos estavam vivos.

—E por que não consegue?! Me de um motivo plausível para isso!

—Ken…

—Eu não vou deixar você para trás, eu não vou te deixar... Não de novo. - O mais novo tinha os olhos marejados, fazendo força para não chorar, o que pegou N totalmente desprevenido.

—Eu não tenho forças… - Começou, falando baixo. -Não comi nada esses dias além de arroz, e bebia pouca água... Também acho que acabei ficando doente... E essa droga de ferimento. - Bateu na coxa já anestesiada depois de tanta dor. N mordeu o lábio inferior. Sentia-se inútil.

—Eu posso carregar você! - Ignorou o olhar ferino do outro, mais uma vez o tentando levantar.

—Você não consegue entender a situação, JaeHwan?!

Uma explosão os calou, e ao olharem para o lado, Hongbin rolava pelo chão, para então começar a tossir. Hyuk veio correndo logo atrás.

—Ahhhhhhh! Eu já não aguento mais essas bombas! Ela só usa isso, que saco. - Começou a tossir novamente, seu corpo não aguentando mais aquilo.

Os dois mais novos olharam para trás, só então percebendo N e Ken, que olhavam para eles bem confusos e surpresos.

—Yah! Que vocês estão fazendo deitados no chão?! Deveriam estar correndo até o acampamento! - O loiro apontou para eles.

—O hyung não tem mais forças para correr e não me deixa carregá-lo.

—Ah, vocês dois! Não ajam assim na frente do mais velho! - N bufou.

—JaeHwan-hyung, as vezes você é mole demais. Não tem que esperar uma permissão. Pegue logo ele no colo. A louca esta atrás da gente. - Mal falou isso, outra explosão aconteceu, porém mais distante. -Ou talvez não mais…

Ken não esperou mais nada, concordando com o que o mais novo dizia. N olhou para ele, os olhos arregalados e uma ameaça bem clara no fundo. Que foi ignorada por ele, jogando o mais velho sobre seu ombro, e se preparando para voltar a correr.

—Ahhhh! JaeHwan, me coloca no chão! Agora! - Se debatia, realmente odiando ficar daquele jeito.

Hyuk agachou ao lado do namorado, que ainda se recuperava do impacto, e logo os quatro voltavam a correr em direção ao acampamento. N já havia desistido de tentar, na verdade sentindo-se longe e cansado demais para brigar contra Ken. E foi com um nó na garganta, que eles avistaram a fogueira do acampamento, permitindo-se parar poucos metros antes para descansar.

Ken se permitiu colocar o mais velho no chão, preocupado se ele estava apenas descansando o corpo exausto ou se havia desmaiado. Colocou a mão na testa dele, constatando a febre. E então olhou para o ferimento dele.

—Será que os hyungs conseguiram alcançar também? - Hongbin parecia preocupado, querendo saber do paradeiro de Ravi e Leo.

—Hyuk! - Ken o chamou, vendo o loiro se aproximar em um instante. -Vai na frente. Logo na saída da floresta tem aquele mercado. Precisamos de comida, água e alguns itens de primeiros socorros. - O mais novo apenas concordou com tudo, repetindo para si mesmo o que precisava. Olhou para o namorado que lhe abraçou, e então voltou a correr em direção a seu novo destino.

—O que eu posso fazer para ajudar, hyung? Aliás, esse corte no seu braço é horrível, como conseguiu? - Hongbin apontou.

Ken deu uma risada nervosa. Sequer lembrava-se daquele machucado, nem sabia como havia conseguido carregar Hakyeon daquele jeito.

—Precisávamos amarrar a ferida da perna dele, estou com medo de infeccionar…

Hongbin tirou a camisa xadrez que estava amarrada em sua cintura, e então a usou para fazer o que Ken havia dito. Ao fazer o nó com força, N se remexeu, gemendo de dor. Voltou o olhar para o outro, mostrando que ainda queria uma resposta.

—Ah… Eu consegui me perder em uma parte da floresta que tinha muitos arbustos espinhosos. Mas não é nada demais. - Tentou fazer pouco caso, arregalando os olhos logo em seguida. Hongbin aproveitava que sua regata já estava toda rasgada, pegando um bom pedaço do tecido e então se aproximando de Ken. Amarrou sobre o machucado, olhando feio para seu hyung.

—Não fique agindo como se fosse o N-hyung, não é legal se menosprezar para cuidar dos outros. - O mais velho deu um sorriso sem graça de agradecimento.

Com ajuda de Ken, Hongbin colocou N em suas costas, e então os três seguiram finalmente para o acampamento.

—/-

Depois de correrem, perderem-se, ganharem mais alguns machucados, encontrarem-se e correrem mais um pouco, Ravi e Leo finalmente acharam onde se esconder. A entrada de uma caverna. Não poderiam entrar completamente, pois pedras bloqueavam o resto dela, mas era o suficiente para não serem vistos pela garota.

Os dois tentavam controlar a respiração, Ravi preocupado com toda quantidade de fumaça que haviam respirado.

O silêncio não aliviava a tensão, e era um tanto constrangedor. Ravi se remoía, arrependido pela conversa sincera que havia tido com seu hyung mais cedo, quando fugiam da garota. O que ele tinha na cabeça para falar sobre aquilo? O relacionamento dos mais novos estava lhe mexendo demais.

—Ravi… - A voz rouca do loiro lhe fez prender a respiração, hesitando em levantar o rosto para encará-lo, notando o quanto ele parecia nervoso.

—Hun... Algum problema, hyung? - Deu um sorriso amarelo.

—Hun… - O loiro respirou fundo, encarando suas mãos. Por que estava tão ansioso e nervoso para falar aquilo? Olhou para o mais novo, que parecia estar na mesma situação. -Sobre aquilo que conversamos mais cedo…

Pronto! Era tudo que Ravi temia ouvir! Quando perguntou o que ele achava do relacionamento Hyunbin, acabou soltando um ‘tenho inveja’, arrependendo-se amargamente depois. Não queria ser julgado por seu hyung. Até porque, se ele pudesse escolher alguém e ser feliz como os mais novos fizeram…

—Você... Gosta de alguém do grupo? - E Ravi pulou de susto nessa hora, metendo a cabeça no teto da caverna. O loiro ficou encarando ele, os olhos arregalados pela reação do mais novo.

Não sabia o que doía mais. Sua cabeça ou seu coração disparado contra seu peito, querendo sair pela boca.

—Po-por que pergunta algo estranho neste momento, hyung? - Mordeu o lábio inferior por gaguejar.

—Hun… - Loiro hesitou um pouco, mordendo os lábios, então passando a língua nele. Atitude que ele fazia várias vezes no palco, e deixava o mais novo louco. -É por que eu… Eu acho que... eu gosto de você…

A caverna explodiu por dentro, fazendo com que os dois fossem jogados para fora dela, as pedras que a bloqueavam voando, espalhando e se quebrando. No topo, a garota com uma cara nada feliz.

—Me entreguem Hakyeon, e eu deixo vocês saírem vivos dessa. - Porém mal disse isso, usou sua famosa arma, cobrindo o próprio rosto com um lenço. Franziu o cenho ao ver uma sombra se movimentar, e quando a fumaça dissipou, encontrava-se apenas Leo inconsciente.

—Hahahahahaha! - A garota começou a se contorcer enquanto gargalhava. -Ele acaba de receber uma declaração e foge, deixando o outro pra trás. Ah, ah. Vixx, vocês são melhores do que eu podia imaginar.

—/-

Hyuk já havia pegado quase tudo, só estava difícil encontrar itens de primeiros socorros suficientes para todos. Suspirou frustrado, olhando a estante de esparadrapos e batendo o pé. Sentiu alguém trombar em si e algo pressionar em suas costas.

—Oh! Você é o Hyuk, integrante do Vixx, não é mesmo? - O loiro não conseguiu responder, um sentimento muito ruim sobre o que estava contra suas costas. -Ah, você deveria se disfarçar quando sai em público, sabia?

—O que você quer?

—Eu achei que aquela idiota tinha tudo sobre controle, é uma surpresa bem grande te ver aqui.

—Você está com ela? - Acabou se virando surpreso, e confirmou sua suspeita. Era uma arma contra suas costas.

—Eh, eu não costumo me envolver nas loucuras dela, mas ela estava tão possessa com vocês, que eu achei que poderia me divertir também. - Deu uma risada baixa. - Agora, quietinho você vai largar tudo isso aí e me seguir lá pra fora, ok?

Com o canto dos olhos, o loiro viu algumas garotas o encarando, rindo. Era arriscado, mas não poderia apenas se entregar e voltar para aquele inferno. Seus hyungs dependiam dele.

—Você tem razão! - Falou alto, chamando atenção do mercado todo. - Eu sou o Hyuk do Vixx!

—O que está fazendo?! - E as garotas gritaram, correndo em direção dos dois. Provavelmente para agarrar o integrante. E um tiro foi dado, todos do mercado se assustando.

Dois policiais que terminavam de comprar seu café foram até o fundo do mercado, enquadrando o garoto.

—Muito bem, solte a arma e as mãos pra cima! Anda! - O garoto bufou, jogando-a longe e logo sendo algemado.

Hyuk nem acreditava que o tiro havia apenas passado de raspão no seu braço, infelizmente em cima da cicatriz de outro ferimento, reabrindo-o. Aquilo não era nada comparado ao que poderia ter acontecido ou sido levado de volta para a garota.

Ao serem levados para o lado de fora, onde havia outra viatura, um dos policias voltou parecendo nervoso.

—Hey, chefe. Esse garoto é aquele delinquente que andava com a Park Namjoon.

—Como é que é?! Mas nós os tiramos daquela floresta há dois anos, eles não podem ter voltado.

Isso fez Hyuk ficar em alerta, e então contou tudo. O sequestro de N, eles terem ido até lá, a floresta bizarra e todo sufoco que haviam passado. Os policias confirmaram que haviam recebido um alerta para procurar pistas de Cha Hakyeon. Pedindo reforço e por uma ambulância, os quatro policiais encaminharam-se para a floresta junto de Hyuk. Ele só esperava que não fosse tarde demais.

—/-

N havia acordado, sentindo-se um pouco melhor. O que ainda não era o bastante. Aguardavam Hyuk voltar do mercado, já que não havia sobrado nada no acampamento, e todos estavam com sede. O mais velho mantinha o olhar perdido na vista da cidade. Sentia como se houvesse passado um mês inteiro em cativeiro. Ken estava sentado ao seu lado, e não pretendia sair dali tão cedo. Precisava agradecê-lo. Por não ter desistido, por ter sido teimoso…

E com a última brisa da noite, um barulho forte chamou a atenção dos três, uma árvore caindo e logo Leo era jogado com força no meio deles, inconsciente.

—Taekwoon! - N olhou para a direção de tudo, vendo a garota os encarando com cara de tédio.

—Parece engraçado né? Toda vez que vocês pensam ‘oh puxa, liberdade’ ou então ‘ah, finalmente paz!’ eu surjo na vida de vocês. - Sua voz era tão arrastada, que mostrava a menor empolgação ou vontade de falar com eles ou estar ali. A garota fez uma rápida busca com o olhar.

E isso fez o ânimo dela voltar, sua gargalhada preenchendo o acampamento.

—Ah, eu achava que só o Wonsik era engraçado, mas o que é isso?! Hyuk também deixou vocês para trás?

—O que quer dizer com isso? É lógico que ele não nos deixaria! - Hongbin logo os defendeu.

—Oras, cala essa merda de boca, Lee Hongbin. - Apontou o arco para ele, como uma ameaça. - Se bem que vocês merecem ouvir a comédia romântica estrelando Jung Taekwoon e Kim Wonsik. Onde o loiro se declara, e o moreno foge na situação de risco. Não é lindo?!

Hakyeon não aguentava mais ouvir a voz dela. Tentou se aproximar de Leo, uma flecha acertando ao seu lado.

—Não se mova! Ele já esta morto de qualquer jeito. Ninguém sobrevive depois da quantidade de fumaça que ele inalou.

—Cala a boca! - N a ignorou, agarrando o loiro, enquanto pedia que ele acordasse.

—Argh... Você me dá cada vez mais nojo, Hakyeon. - Ela apontou o arco para os três, parecendo calcular algo. - Dá pra matar vocês aqui numa flechada só. Fantástico! Vou começar pelo mais novo, assim quando o namorado dele voltar, vai achar só um pedaço de merda estirado no chão. Se é que ele vai voltar!

A garota só teve tempo de arregalar os olhos e se virar com o arco, defendendo um belo golpe. Ravi a encarava com fúria, segurando seu taco de beisebol.

—QUEM VOCÊ ACHA QUE FUGIU?! - Ele gritou, pressionando-a cada vez mais, obrigando-a a dar um passo para trás.

O barulho de viatura chocou todo mundo, e logo os policiais chegavam, já apontando a arma na direção da garota.

—Afaste-se de todos e não tente nenhum movimento arriscado!

Hyuk engoliu em seco atrás deles, ansioso pelo desfecho da história. Queria correr até seus hyungs, porém colocaria em risco toda operação, fazendo-o morder com força o lábio inferior. Ravi se afastou com um pulo da garota, apertando o taco entre os dedos caso ela não obedecesse a polícia.

Ela apenas encarava, novamente com tédio, todos os policiais e logo identificou Hyuk no meio deles. Então era isso. A garota estreitou mais os olhos. Não queria perder o jogo. Não antes do seu objetivo principal. O que não esperava, é que com um movimento rápido e preciso que mataria Hyuk sem ninguém poder agir, uma viatura chegava por dentro da floresta e um tiro em sua mão a fazia largar o arco.

Os policiais a cercaram, impedindo qualquer abertura e a algemando e carregando-a para os carros. Nesse instante o mais novo correu em direção aos outros, sendo impedido apenas pelo grito de dor de Ravi ao agarrar Leo.

—Taekwoon! Fala comigo!

—Ravi… - N já estava acabado de chorar e tentar reanimar o amigo.

—Ele... ele precisa de oxigênio. - Ken conseguiu finalmente se pronunciar, as lágrimas escorrendo em total liberdade pelo seu rosto.

A ambulância ainda não havia chegado e não tinham mais tempo. Ravi olhou em volta, percebendo que não ligava para mais nada. O que adiantava aparências ou viver um romance escondido igual Hyunbin, se Leo não estivesse vivo?!

—Ken! Me ajuda! Você fez aquele curso de primeiros socorros!

Jaehwan ainda demorou alguns segundos antes de conseguir se mover, afastando N e ficando ao lado de Leo, começando uma massagem cardíaca. Ravi respirava fundo, colando seus lábios no de Taekwoon, tentando passar ar para ele. Todos ali presente olhavam apreensivos para a cena, esperando alguma resposta. Hyuk se permitiu abraçar o namorado, tentando não chorar, sentindo-se destruído.

N não sentia mais forças e nem mesmo seu corpo de tanto chorar. Não sabia o que fazer, só sentia um desespero horrível crescendo a cada tentativa falha quando Ravi se afastava para tomar ar de novo.

E quando até mesmo Ken já estava desistindo, diminuindo o ritmo da massagem, Leo deu um sinal. Começou a tossir, em busca de ar, respirando de forma brusca. A sirene da ambulância anunciou sua chegada, a polícia indo embora com a garota, enquanto dois ficavam para atender os garotos. Taekwoon foi o primeiro a ser socorrido, Ravi grunhindo ao ser separado dele.

Hakyeon foi atendido logo em seguida ao passar mal, sua febre já estava em um pico perigoso. Logo se encontrava na maca, com o soro já em suas veias. Hongbin entrou, sentando-se ao seu lado e segurando sua mão livre.

—Hyung… Eu queria pedir desculpas.

—O que quer dizer, seu bobo. - Deu uma risada fraca.

—Nós descobrimos que ela era uma fã quando te procurávamos e… Eu e Hyuk sentimos como se fosse nossa culpa tudo isso ter acontecido. Também ficamos sabendo de tudo que você teve que fazer para nos esconder por que fomos descuidados. Me desculpa. - Ele começou a chorar, baixando a cabeça com vergonha de encarar seu líder.

—Ah, entendi. - Deu um sorriso de lado, soltando sua mão das dele, afagando seus cabelos. -Está tudo bem, não precisa se desculpar. O pior já passou... já passou. - Parecia que estava consolando uma criança, e teoricamente até era. A sua criança.

E quando todos estavam sendo atendidos no hospital, uma coisa se passava pela cabeça de Hakyeon. Ele faria tudo de novo para proteger todos.