Advogada do Diabo

Um pecado e uma mentira - Flashback


Advogada do Diabo

Capítulo seis - "A sin and a lie"

(Flashback)

O horizonte era uma fila de carros parados enquanto esperavam o sinal ficar verde. Era um dia de junho, o mais quente do ano, e Duncan estava com as mãos no volante ao lado de uma Courtney emburrada olhando a paisagem - se é que se dava para chamar vários carros e pessoas xingando umas às outras de paisagem - e tentando ignorar o calor que estava sentindo.

Aquilo era um problema. Os dois tinham acabado de sair de um restaurante, onde Duncan disse ter feito uma reserva para comemorar o primeiro mês de namoro dos dois. Porém, assim que chegaram ao local, não havia nenhuma reserva nem no nome dela quanto mais no nome dele.

Sendo assim, Courtney estava puta. Era todo um conjunto que fazia com que ela se encontrasse assim: a fome, o calor, mas, principalmente, a mentira. E, claro, fome de novo. Apenas Duncan sabia como Courtney poderia ser faminta. Também sabia que quando ficava assim era sempre péssimo alarme; era quando seu eu vingativo acordava.

Quando o trânsito finalmente começou a andar, Duncan fez uma curva e entrou numa pequena rua e a seguiu durante alguns minutos. Courtney ficou confusa porque aquele não era o caminho de casa, o qual, por acaso, era o lugar onde ela disse (quase mandando) que ele a levasse.

Pensou em reclamar até que viu a praia se aproximar. Ela virou seu rosto na direção do dele para tentar entender e Duncan continuava com o olhar na estrada. Naquele dia em especial o centro da cidade estava promovendo vários eventos diferentes e gratuitos, poucas pessoas - quase ninguém mesmo - pensou em ir à praia. Duncan estacionou o carro numa parte da areia onde havia algumas árvores cobrindo e sombreando onde eles estavam.

Duncan pegou um cigarro de seu bolso e o acendeu. Courtney revirou os olhos, odiava quando ele fumava.

— Isso faz mal, sabia?

— Muitas coisas fazem. - Disse ele tragando e jogando a fumaça pela janela. Assim que já estava no final, ele apagou apertando a ponta entre os dedos e o jogou na areia da praia.

— Poderia ter guardado no bolso pra jogar fora depois. - Courtney repreendeu.

— Fica pra próxima.

— Afinal, por que estamos aqui? - Courtney perguntou com irritação em sua voz.

— Pra você poder gritar comigo sem que ninguém possa ouvir. - Duncan disse e então Courtney riu ironicamente. - Aqui vamos nós.

— Eu não precisaria gritar com você se não tivesse mentido sobre a reserva. Qual é, Duncan. Você só tinha que ligar pra porra do restaurante e fazer a merda da reserva.

— Court…

— E outra: se não tivesse conseguido, era só me falar e irmos em outro lugar!

— Courtney…

— POR QUE TEM QUE SER TUDO TÃO DIFÍCIL NESSA MERDA?

— COURTNEY!

— O QUÊ?

— Eu fali. - Duncan disse e então os olhos de Courtney se arregalaram. - Ligaram do banco ontem. Eu gastei todo o dinheiro do prêmio.

Courtney olhava para ele incrédula enquanto Duncan continuava com as mãos no volante. Um silêncio se estabeleceu no carro durante alguns minutos.

— Por que não me contou? - Courtney perguntou.

— Porque pensei que você fosse surtar ou… - Ele olhou para ela. O rosto com sardas espalhadas nele o encarava ainda com surpresa e ansiedade pela resposta. Voltou olhar para frente. - Sei lá. Pensei que você fosse surtar.

Courtney franziu a testa confusa.

— Então aquele fiasco que aconteceu no restaurante foi por causa disso?

— É.

— Por que você não me contou?! - Repetiu a pergunta com cansaço e raiva em sua voz. Não era possível que ele achasse que ela - justamente ela! - fosse tão desligada a ponto de não notar que o próprio namorado estava falido. Se tinha algo que ela odiava era quando subestimavam sua inteligência.

— Eu não queria estragar nossa comemoração. - Disse ele e olhou mais uma vez para ela. Era um tanto melancólico. Courtney deixou sua cabeça cair levemente para o lado. Ela estava com pena e quase se rendendo da raiva que estava sentindo. Mas Courtney era muito mais racional e não podia negar de estar achando seu namorado um completo idiota naquele momento.

Duncan tinha dito que seu nome era Devon Meyers - ou algo assim, Courtney apenas se lembrava do sobrenome por ser o mesmo do apresentador Seth Meyers - para a recepcionista do restaurante. Apesar de ter estranhado o som do que ela achava ter sido o nome dele, sentou-se feliz a mesa. Após ter decidido o cardápio, os dois ficaram conversando e flertando até que o real (talvez Devon) sr. Meyers chegar ao local e o casal ser expulso de lá.

— Bom, teria sido mais fácil se você apenas tivesse me contado a verdade. Pouparia a vergonha toda que passamos. - Disse ela e então cruzou os braços. - Eu odeio quando mente pra mim.

— Eu não sabia se você reagiria bem ao saber que estou falido.

— Se você estiver me chamando de interesseira, eu saio desse carro agora. - Courtney disse pausadamente. - Eu ia sugerir pra fazermos a comida em casa. Meus pais só iam voltar semana que vem e lá tem vinho.

Duncan virou a cabeça para olhá-la.

— Me desculpa. - disse ele e ela comprimiu os lábios. - Eu fiquei desesperado quando aquele gerente filho da puta contou, nem consegui pensar direito.

Courtney respirou fundo e então se aproximou dele no banco. Virou a cabeça de Duncan delicadamente e acariciou seu rosto. Ela sorriu e beijou sua testa.

— Vamos dar um jeito, ok?

Duncan sorriu e assentiu. Courtney então comprimiu os olhos transformando aquele olhar amoroso em um maldoso.

— Mas você me deve um jantar, então trate de trabalhar. - Disse e deu dois tapinhas fracos no ombro dele.

Duncan riu maliciosamente.

— Sabia que esse seu lado mandão é meio sexy, princesa?

— Sabia que se continuar me chamando assim não precisaremos comemorar mais um mês de namoro? - Disse ela sedutoramente e se aproximando dele.

— Ah é?

— É.

Courtney então riu também e ele a puxou para o seu colo para lhe fazer cosquinhas.

— DUNCAN! - Courtney gargalhava. - PARA COM ISSO!

— Quer que eu pare, é? - perguntou ele enquanto Courtney tentava se desvencilhar das mãos de Duncan.

— SIM, SEU IDIOTA. - Courtney disse e jogou seu corpo todo para trás. Seu cotovelo acabou apertando o botão do rádio e o ligando. A música Wild Horses começou a tocar na versão da banda The Sundays.

Os dois se olharam rindo completamente da cara um do outro pela situação. Courtney teve que se ajeitar melhor para então se posicionar no colo de Duncan, uma perna de cada lado ficando de frente para ele. Encostou a cabeça no pescoço dele, onde fez uma trilha de beijos que começavam da parte inferior do pescoço e subia até o lóbulo da orelha.

Duncan se arrepiava a cada toque da garota. Courtney tinha o dom de deixá-lo louco, sedento e completamente rendido. Ele encostou a cabeça no banco e foi apenas curtindo todas aquelas sensações de olhos fechados. E ele continuaria assim se Courtney não o puxasse de forma devagar e gradativa pela gola da camisa. Ela fê-lo olhar em seus olhos e ele então percebeu todo o desejo e paixão que tinham naqueles olhos castanhos tão intensos.

Ele admirou cada parte do rosto dela, ele amava cada parte do rosto dela. Era lindo e em formato de coração. Duncan sentia que ela estava no auge da beleza naquele dia. Porém reconsiderou aquele pensamento com o de que Courtney sempre parecia estar em seu auge. Ela era linda. Ela era perfeita.

Sorriu com os lábios entreabertos, ele encontrava-se rendido e ainda embasbacado pela mulher a frente dele.

Colocou uma das mãos no queixo de Courtney passando pela extensão de seu rosto até chegar em sua nuca, puxando-a para um beijo.

Ela entrelaçou seus braços em volta do pescoço dele, pressionando seu seu corpo contra o de Duncan. Ao mesmo tempo em que ela se esfregava levemente pela perna dele, ele passava suas mãos pelo corpo dela parando em sua bunda e a apertando.

As carícias intensificaram conforme o ar foi faltando a eles. Duncan era preciso e rápido; teve facilidade em encontrar e desabotoar a camisa branca com listras verticais e finas pretas. Assim que foi capaz de ver a pele exposta acima do sutiã, não se demorou em distribuir beijos e mordidas pela região - o que fez Courtney arfar.

Em meio a esses beijos, ela sussurrou em seu ouvido:

— Se deixar qualquer marca aí, eu acabo com você.

Duncan sorriu em meio ao beijo ao notar a dificuldade com que Courtney dizia aquela frase. Ele estava se divertindo às custas dela? Courtney com certeza não iria deixar barato.

As mãos dela - as quais há pouco tempo atrás estavam agarrando alguns fios de cabelo de Duncan - foram descendo lentamente pelo peito até encontrem o cinto preto e recheado de spikes do rapaz.

Duncan não pôde esconder o olhar surpreso, ele realmente não esperava que Courtney fosse dar o primeiro passo daquela forma, mas ele jamais reclamaria. Ela não quebrou a troca de olhares nem por um segundo sequer. Jamais iria perder aquele olhar estampado no rosto de Duncan. Ela amava o surpreender desde que tinha provado o quão não certinha ela poderia ser.

Foi abaixando-se lentamente com as mãos na barra da cueca de Duncan e teria continuado se não fosse um bater repetido na janela. Courtney pulou no colo de Duncan juntando as duas partes de sua blusa recém aberta por ele.

Para resumir o constrangimento dos dois: o policial os repreendeu pela excessiva demonstração de carinho em público e ainda acrescentou que aquele lugar da praia era proibido de estacionar (fato este que fez Courtney o olhar feio rendendo um longo discurso sobre obedecer as placas de trânsito).

Tiveram sorte que o policial os deixar sair com o carro sem descontar nenhum pontinho da carteira de motorista. Duncan foi dirigindo para longe dali ainda tendo em mente o que poderia ter acontecido se não tivessem sido interrompidos.

— Bom… - Começou ele. - Quer conversar sobre aquilo?

— Aquilo o quê?

Aquilo, princesa.

— Não sei do que você está falando, Duncan. E não me chame de "princesa".

— Qual é, Court. - Resmungou ele e Courtney riu ao associar aquela imagem a de um bebê chorão. - O que foi aquilo?

— Aquilo, docinho, era uma pequena demonstração para te inspirar nos seus dias de luta para conseguir um emprego.

Duncan tirou os olhos da estrada e virou-se para ela, incrédulo.

— QUÊ?

— OLHA PRA FRENTE, PORRA! - Courtney gritou ao ver um poste de aproximando. Duncan obedeceu ainda boquiaberto.

— Mas e a nossa comemoração?

— Bom, já que eu ainda não comi absolutamente nada, nós vamos comemorar sendo um lindo casal cozinheiro e preparando uma massa lindíssima acompanhada de molho branco.

— Eu adorei essa ideia, mas e depois que comermos…

— Você lava os pratos e vai embora. - Courtney disse, maldosa. - Quem mandou mentir sobre a reserva?

E ali estava o seu eu vingativo completamente acordado.

A noite seguiu como foi dito. Os dois fizeram seu próprio jantar, comeram e lavaram os pratos. A única diferença é que Duncan não foi embora e os dois puderam maratonar séries enquanto ficavam se provocando vendo quem iria ceder. Por serem competitivos, nenhum dos dois cedeu e acabaram dormindo abraçados no sofá bem tranquilos.

Sem nem ao menos saber o que o futuro reservava para eles.