Depois do incidente no banheiro feminino que acontecera noutra vez, confesso que tenho ficado um pouco paranoica. Mas eu tenho os meus motivos, não vejo Gilbert faz três dias. Estou tomando o maior cuidado possível: Tenho saído pouco de casa, tomei bastante Danoninho e assisti animes completamente trancada no meu quarto. Além disso, faltei ás organizações do Evento da Lua Cheia, que será daqui á dois meses.

Parei de pensar um pouco na minha vida infeliz e terminei de me arrumar. Tomei meu café-da-manhã, que se baseia em uma grande quantidade de iogurte rosa, dei um tchau á Lucy e saí de casa.

Caminhava silenciosamente pela rua, mas percebi que se eu continuasse assim, acabaria pensando em várias hipóteses de como seria minha morte, pois eu estava completamente vulnerável. Nesse caso, coloquei meus fones de ouvido e fui escutando meu Hard Rock pelo resto do caminho despreocupadamente.

Cheguei á escola e a aula ainda não havia começado. Para minha surpresa, Gilbert estava sentado em uma das mesas na sala, quieto e olhando a vista da janela. Sentei-me na mesa que ficava na frente á dele.

–Por onde andou? –Perguntei, virada para frente.

–Por aí... –Ele respondeu sem dar a mínima importância com o fato de que eu poderia ter morrido enquanto ele estava fora. Porém, não acho que devia comentar isso com ele, pois ia parecer dramático demais.

–Estou ficando paranoica, e você ainda me deixa sozinha por três dias. Seu maldito... –Falei.

–Nathaniel cuidou disso enquanto estava fora... –Disse ele.

Olhei para minha esquerda e Nathaniel estava sentado na mesa dele do outro lado da sala. Ele percebeu que eu o estava olhando e lançou-me um sorriso amistoso. Mas não retribuí o sorriso, pois não gosto de sorrir. Abaixei minha cabeça na mesa e esperei a aula começar.

–Não precisa se preocupar com coisas inúteis... –Disse Gilbert, frio e seco. Virei minha cabeça para vê-lo, e ele continuava olhando para a janela. Me pergunto: “Por que Gilbert tem uma enorme aflição por janelas??”

. . . .

O sinal do intervalo tocou. Fiquei vagando pelos corredores longos e claros da escola. Eu estava parecendo uma morta-viva, afinal, não tinha nada para fazer mesmo. Depois de um tempo, me cansei de só ficar andando e me sentei em um banco que estava próximo á uma árvore. Fiquei observando as pessoas com suas vidas normais em um dia cercado de matizes e entonações. Confesso que eu queria um dia normal, pelo menos uma vez. Pobres pessoas, nem sabem o que está escondido nas trevas desse mundo.

Minha atenção foi interrompida após eu olhar três garotas humilhando uma menina da minha classe. Levantei-me com raiva, mas eu permanecia ocultando minhas emoções. A questão, é que eu já me cansara dessas meninas, todos os dias eu olhava ela humilhando pessoas diferentes á cada dia.

–Agora pede ajuda para um de seus deuses, sua inútil! –A mais alta disse em tom de deboche. A menina que era humilhada estava vermelha de vergonha, pois várias pessoas a olhavam e riam.

–Inúteis são as atitudes de vocês! –Falei me aproximando da discussão.

–Não se intrometa, projeto de esquisitice. –Uma das três disse. Cruzei meus braços e dei um longo suspiro.

–Não é preciso esquentar a cabeça com essa energúmenas... –Disse Gilbert aparecendo atrás de mim.

–Tem razão. Venha menina, a ofensa gerada pelos teus adversários é mais prestativa quando você a ignora. –Falei. Saímos de perto das três meninas que nos olhavam com cara feia.

–O-obrigada pessoal. –Disse ela, tímida.– Me chamo Amanda, sou da classe de vocês.

–Sabemos disso. –Disse Gilbert que logo em seguida, saiu de perto de nós.

–Mol Blackburn, acho que você já sabe. O estranho que acabou de sair daqui se chama Gilbert. –Falei e o sinal tocou. Hora de dormir na aula!!!

Quando entramos na sala, sentei-me na mesa que eu estava e abaixei minha cabeça tentando dormir. Como eu acordara muito cedo, geralmente dormia nas aulas. Tenho uma vantagem nisso, pois sento nas últimas cadeiras.

Porém, tinha um problema apocalíptico me impedindo de dormir: Falta de sono. “Mol, que história é essa de você não sentir sono na aula?!” Não sei, consciência. Não sei.

Experimentei ficar olhando a vista na janela, isso ás vezes me cansava. Mas dessa vez, não. Não deu. De repente, algo, ou alguém, bate na janela bem perto de mim, fazendo um barulho enorme. A ”coisa” que bateu na janela veio do lado de fora, ou seja, eu me levantei num pulo da cadeira, o que fez com que todos-Até o professor- olhassem para mim.

Eu retribuía o olhar assustada para todos da sala e Gilbert ficou curioso com o que tinha acontecido. Quando olho de volta para a janela, escorria sangue por todos os lados.

–O que foi? –Sussurrou Gilbert assim que me sentei de volta na cadeira, olhando o sangue escorrer.

–Sangue, Gil. Sangue por todos os lados. Na janela. –Falei assustada.

–Não tem sangue na janela. Você está doida... –Ele disse frio e calmo. Olhei para ele confusa e quando voltei meu olhar para a janela, o sangue havia sumido. Abaixei minha cabeça e dormi depois de um tempo.

. . . . .

As aulas haviam chegado ao seu término. Saí da escola depois que terminei minhas tarefas para o Evento da Lua Cheia. Fui direto para a aula de piano. Chegando na escola de música, escutei Blair tocando a música de Silent Hill. Assim que ela percebeu minha presença, parou de tocar:

–Viu, aprendi a música! –Ela disse com um sorriso enorme no rosto. “Como ela consegue?!”.

–Achava que você já sabia... –Falei jogando minha mochila em um canto da sala.

–Não, não sabia. Mas agora eu sei. –Ela respondeu.

–Certo, o que vamos aprender hoje?

–Irei te ensinar The Imperial March do Jonh Williams usando o Pedal Suave. –Ela disse.

–The Imperial March? A música do Darth Vader? –Perguntei meio surpresa.

–Exato! –Ela disse animadamente...

Assim que a aula de piano acabou, saí e fui caminhando até minha casa pela calçada. Gilbert estava vindo atrás de mim. Eu acho que ele me observa até na aula de piano.

Paro de andar assim que escuto miados. Era de um filhotinho de gato que estava na calçada. Me aproximei dele e fiz carícias em sua cabeça. Ele era minúsculo, tinha o pelo acinzentado, e como os olhos dele estavam dilatados, não consegui ver a cor, mas suponho que é azul.

–O que está fazendo aqui sozinho? –Sim, eu havia perguntado isso ao gatinho.

–Vai levar ele? –Gilbert perguntou.

–Sim. –Respondi. –E vou chama-lo de Oz. Como vai Oz?