Admirável Mundo Novo

13 - I Knew You Were a Trouble


Felipe Oliveira - 15 de agosto de 1999.

"Quanto tempo mais você pretende ficar naquele hospital? Não pode viver por uma garota que nem ao menos pode falar com você."

Aquilo era tudo o que eu ouvia todos os dias do meu pai. Não tirava a sua razão, afinal, eu ia pra escola e voltava direto para o hospital. Praticamente eu vivia lá, acho que até os médicos e enfermeiros me conheciam.

Aquele era um ano importante, eu iria me formar e começar o colegial. Estava animado para festejar com meus amigos, mas depois do acidente de Pâmela, eu só conseguia pensar nela. No que eu faria sem ela e como superaria a dor de perdê-la.

Estávamos no frio de agosto e mais um dia eu permanecia sentado ao lado de Pâmela. Eu não fazia nada. Apenas escrevia no diário que eu e Manuela havíamos feito para ela desde quando tudo isso começou. Manuela... Que saudade da minha amiga...

- Felipe? - A voz da enfermeira me tirou dos pensamentos.

- Sim?

- A paciente Sally Guimarães quer ver você.

- Ah eu...

- Pode ir, fico aqui com Pâmela - ela sorriu para mim. Sorri de volta.

- Ela parece tão... Feliz. Só queria que ela estivesse aqui - murmurei.

- Eu sinto muito Felipe, queria que a menina voltasse também, mas esta situação é algo que não podemos interferir. Somente ela poderá dar um basta nisso, quando seu organismo despertar, você vai ver que tudo dará certo. Agora só nos resta esperar - Ela tentava me confortar. Sorri mais uma vez e caminhei para fora do quarto. Fui á ala de internações ver como Dona Sally estava.

- Posso entrar? - ela me deu um sorriso fraco e acenou com a cabeça.

- Como está Pâmela? E você, meu filho?

- Estou na mesma e ela também. Continua dormindo, bom, pelo menos para mim, ela continua dormindo. Mas e a senhora? - ela segurou a minha mão.

- A pneumonia está mais controlada, não irei morrer antes que minha filha volte. É uma promessa e... - ela fez uma pausa para tomar fôlego.

- Só quero agradecer por estar cuidando da minha Pâmela. Sei que ela está sentindo esse amor todo.

- Se estivesse mesmo, faria o possível para voltar - resmunguei.

- Felipe... - ela riu - Não podemos mandar na mente dela, não podemos forçá-la a nada - ela olhou para a janela - E o Haru, como anda?

- Ainda não sei se eu o chamo de Haru ou Spoke, queria que Pam e Manu estivessem aqui para me ajudar com os nomes - ela riu mais alto quando eu terminei de falar.

- O cãozinho logo completará 6 meses e você ainda não escolheu o nome dele... - revirei os olhos - Ah, outra coisa... Por onde anda Manuela?

- Nós brigamos feio e ela desapareceu, tentei encontrá-la mas não consegui.

- Tentou mesmo? - ela arqueou uma sobrancelha.

- Como assim?

- Manuela te ama e isso todos podem ver isso, mas acho que você foi muito duro com ela. Imagino como ela deve estar se sentindo. Ainda mais agora, perdida por aí - Minha consciência não estava tranquila e depois de ouvir aquilo, me senti ainda mais culpado.

- Acha que devo procurá-la novamente? Mas não faço ideia de onde ela possa estar!

- Querido... Agradeço todo o apoio que tem dado á mim e a minha filha, mas há outras pessoas que precisam de sua ajuda e neste momento, uma delas é Manuela.

- Tem razão, eu preciso encontrá-la! Vou falar com meu pai, quem sabe ele possa me ajudar.

- Sim, aposto que é isso que Pâmela iria querer - Beijei sua mão e prometi procurar Manuela assim que encontrasse meu pai.

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Pâmela Guimarães - Realidade Alternativa - 22:15 da noite. 15 de agosto de 1999.

Mais um dia passou e eu estava feliz como nunca. Estava junto dos meus amigos e no meu mundo perfeito.

Brian e os outros estavam sentados na sala comigo e as meninas, mas eu senti falta de duas delas: Nicole e Raquel.

- Onde elas estão? - perguntei baixinho.

- Quem? - Brian perguntou - desconversei e o abracei forte - Tudo bem, Pâmela?

- Por que não estaria? - Olhei para suas mãos e ele segurava aquele diário que eu costumava ler, mas, por algum motivo desconhecido, perdi o interesse por ele.

- Não lê mais o que seus amigos escrevem? - ele me olhou com pesar.

- Brian, por favor... Meus amigos estão aqui! - Ele me abraçou fortemente e começou a sussurrar coisas no meu ouvido.

- Pequena, por que você não volta? Já parou pra pensar que nada aqui é real? Entenda isso, Pam. A felicidade que você procura não está aqui! Até mesmo o amor que você sonha, não está aqui - empurrei Brian para longe.

- Por que está dizendo essas coisas? Não me ama mais, é isso? - as lágrimas escorriam pela minha face sem que eu pudesse controlar.

- Quer mesmo saber? Estou cheio de você! Não vê que não podemos ficar juntos? Não percebe isso? Você abandonou a sua história, abandonou sua família para viver uma ilusão! Desculpe, pequena, mas não vou te ajudar nisso. Seu lugar não é aqui! - Brian gritou comigo pela primeira vez. Jogou o diário no chão e saiu de casa.

- Por que? Eu só queria ser amada! Só queria ser feliz! - levei minhas mãos ao rosto na tentativa de esconder as lágrimas. Senti Jimmy e os outros se aproximarem de mim.

- Pam... Talvez... Brian tenha razão. Você já está aqui por um bom tempo - olhei para Jimmy. Ele tinha uma expressão serena, um leve sorriso nos lábios - Por que não tenta mais uma vez? - ele pegou o diário e o abriu em uma página qualquer - Lembra quando não queria ficar aqui? Acho que eles eram o motivo - ele me mostrou uma foto onde eu estava abraçada á duas pessoas. Uma garota ruiva e um garoto muito parecido com Brian.

- Eles... - fiz esforço para tentar lembrar deles.

- Viu só? Já faz um tempo. não é? Vá pra eles, Pam. Não se afaste da sua missão - Jimmy disse.

- M-Missão?

- Sim! De levar alegria ás pessoas! Todos estão tristes e perturbados sem você por perto. A garota ruiva está enlouquecendo, o garoto não tem mais vida e a mais velha está cada vez mais doente e depressiva - ele suspirou.

- Como sabe disso tudo?

- Nós sempre lemos tudo o que está escrito aqui! - Gustavo me disse.

- E-eu preciso pensar... - Me levantei - Posso levar isso comigo?

- Claro, garota! Vá em frente! - Jimmy me entregou o diário.

- Obrigada! - Sorri e saí de casa. Precisava de ar, pensar e associar tudo. Minha mente dava voltas e eu sentia uma agonia tremenda, como se eu fosse me perder cada vez mais. Caminhei para longe da casa dos meninos e fui para um lugar tranquilo. Sentei-me e comecei a reler o diário desde o começo. Involuntariamente, eu comecei a sorrir e deixei as lágrimas caírem. Vi todas as fotografias, todas as declarações do garoto Felipe e de Manuela. Não sei, mas aos poucos eu comecei a me lembrar deles.

- Brian não te quis mais, não é? - Nicole e Raquel apareceram.

- O que querem? Me deixem em paz! Eu não confio mais em vocês! - eu gritei.

- Queremos você fora daqui! Desde quando apareceu, sabíamos que seria um problema! Mas agora, chega! Vá pra longe e não volte mais!

- Nicole começou a gritar.

- Por que estão fazendo isso? Parem! - tapei meus ouvidos e me encolhi na tentativa de não ouvir nada, mas as vozes não paravam e eu só conseguia chorar.

- Ninguém aqui te ama, nunca! Por que acha que vamos ficar cuidando de você? Por que? - Raquel continuou.

- Vá embora daqui garota, pare de ser um peso na vida dos outros! Está me ouvindo? - Nicole me chacoalhava.

- Pare! Pare! Pare! Me solte!

- Quer mesmo continuar aqui? Quer mesmo? Vá embora ou eu te expulsarei! - Nicole continuou a apertar meu braço cada vez mais forte.

- Não! Me deixe em paz! - Nicole segurou no meu cabelo e arrancou a tiara que eu usava - Por que fez isso?

- Nada disso é real, garota! Olhe! - ela quebrou a tiara que Brian me dera - Nem mesmo Brian te quer! Deixe de ser burra! Olhe pra mim! - elas continuaram a me torturar - Não se apegue á algo que não tem de verdade!

- Me deixem em paz! - eu me abaixei para pegar os pedaços da tiara.

- Vai mesmo continuar aqui? - Nicole segurou meu rosto - Vai mesmo?

- Eu quero ir embora! Eu quero ir embora daqui! - com os olhos fechados eu gritei inconscientemente. Nicole e Raquel sorriram e toda aquela angústia e dor que eu estava sentindo desapareceu. Abri meus olhos e me senti melhor depois de ter dito aquilo. Olhei á minha volta e Raquel e Nicole estavam lá com as mãos estendidas.

- Vamos embora daqui, menina. Deixe-nos te ajudar, por favor! - Elas me ajudaram a levantar e fui caminhando devagar.

- P-para... Para onde vamos? - perguntei com a voz fraca.

- Não se preocupe, esse é o começo da sua reação! Você não está sozinha - Escutei uma voz masculina dizer aquilo, mas não reconheci

quem era. Eu estava mole, não conseguia andar, mas as meninas estavam ali me carregando. Mais vozes estavam se aproximando. Todos estavam alegres, pareciam comemorar algo. Perdi a consciência após ouvir uma última frase...

" Eu sei que você vai voltar, e quando isso acontecer, estarei aqui e iremos pra casa, juntos."

Felipe de Oliveira - Hospital central de São Joaquim da Barra - 22:14. 15 de agosto de 1999.

O dia passou e eu estava me preparando para ir embora. Meu pai apareceria em meia hora e eu precisava me despedir dela...

- Vou me despedir de Pâmela e amanhã vejo vocês - Dona Sally beijou minha testa. Era gratificante saber que ela já estava melhor. Havia sido transferida para um quarto e a pneumonia dela já estava controlada.

- Dê um beijo nela por mim. Boa noite, querido - sorri pra ela e saí do quarto. Andei até a ala onde Pâmela estava. Entrei em seu quarto e quando olhei pra ela, meu coração estava acelerado, não sabia o que fazer quando vi aquela cena.

- Pâmela! Pam, você... - as palavras não saiam e eu só conseguia chorar. A enfermeira passou no quarto para dar uma olhada e veio me socorrer.

- O que houve, Felipe?

- Olhe! Olhe!

- E-eu... Vou chamar o doutor - ela saiu correndo e em poucos minutos trouxe o doutor.

- Ela voltou! Ela voltou! Doutor, veja isso! - Meu estado de êxtase e alegria foram dizimados com as palavras dele.

- Felipe... Ela não voltou pra nós, não ainda.

- Mas... Veja isso! Ela abriu os olhos e... Está chorando! Lágrimas estão caindo, isso não um sinal de nada? Não pode ser!

- Fique calmo por favor! Você tem que entender que Pâmela está em coma vigil, Felipe. Um simples despertar, um choro, um abrir de olhos, um sorriso, são reflexos naturais do corpo. Reações comuns que não significam nada. A medicina não sabe muito sobre comas mas as pessoas podem ficar dias, meses e até anos.

- Mas que droga! Ela está de olhos abertos e está chorando! Está olhando pra mim e você diz que isso não é nada? - eu estava alterado demais para o normal - Pois saiba que, pra mim, significa muito!

- Se acalme, por favor! O que eu quero dizer é que ela ainda não voltou, Felipe. Essas reações dão esperanças para quem não conhece o problema, mas nós médicos sabemos que é normal um paciente reagir assim quando está em coma. Pâmela ainda não voltou, mas rezo para que ela desperte sem sequelas.

- Por quê? Por que está fazendo isso? - olhei para ela. Passei as mãos por seu cabelo tão fino e delicado.

- Eu sugiro que volte pra casa e descanse. Ligaremos se tivermos qualquer novidade - o médico colocou a mão sobre o meu ombro - Vamos ter fé para que esses reflexos evoluam e ela desperte - um sorriso fraco nasceu de seus lábios. Ele e a enfermeira me deixaram sozinho no quarto com Pâmela.

- Eu sei que você vai voltar, e quando isso acontecer, estarei aqui e iremos pra casa, juntos! - dito isso fechei a porta do quarto e encontrei meu pai me esperando.

Aquela cena não saía da minha mente e eu com certeza iria pensar naquilo a noite toda. Não sei porque, mas eu sentia que ela estava mais próxima agora e logo voltaria pra nós.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.