Admiration — capítulo único

Conviver com mais de um irmão não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se tem dois e você é o mais velho entre eles. Ao menos Yata conseguia ter uma breve ideia disso, não era difícil ter de lidar com um irmão aficionado por insetos e uma irmã insuportavelmente barulhenta.

Não era uma tarefa difícil, ele conseguia tirar de letra. Exceto pela parte em que ele já não se sentia como parte da família, sendo o filho de outro pai e uma lembrança não tão feliz para a mãe do passado. Ele gostaria de estar errado, mas a casa onde vivia parecia pequena demais para cinco pessoas. Pequena, minúscula e sufocante para ele.

Então quando a presença estoica de Fushimi aparecera de forma nada sutil em sua vida, ele conseguira enxergar uma distração para seus dilemas familiares.

A princípio não fora uma tarefa fácil conseguir a atenção de alguém tão adverso a contato social como Fushimi e, em certos momentos, ele se questionava o motivo real de querer estar perto dele.

Havia algo nele que brilhava mas nem todos conseguiam enxergar - ele se sentia privilegiado só de poder vê-lo jogando - enquanto exibia suas hábeis técnicas de combate. Ele mesmo não entendia bulhufas do que se tratava, mas vê-lo tão empenhado naquilo, como se fosse uma mera extensão de seu corpo era realmente algo admirável.

Estar vivo junto dele naquele momento parecia ser algo incrível, e fora com custo que ele conquistara seu lugar ao lado dele.

Quando soube de como Fushimi era tratado em casa, aquilo só frisou ainda mais a importância que aquela amizade tinha, e não só para ele, fora inusitado ter que cuidar dele devido a uma gripe, mas por conta exatamente disso ele, Misaki Yata, conseguira a tão cobiçada atenção do outro.

E dali se solidificara uma curiosa amizade.

Em dois anos eles já não se chamavam mais pelo sobrenome.

E um pouco depois disso, já dividiam um pequeno apartamento juntos, fugindo de suas famílias, enquanto procuravam algo incerto que ambos buscavam.

Em nenhum momento, Misaki deixara de se importar com Saruhiko, muito menos de brigar com ele para que tivesse todas as refeições diárias. Em momento algum, o brilho que tanto o cativara no outro deixara de pulsar.

Até que algo maior surgira em seu campo de visão. Algo vermelho e ameaçador, que ganhara sua atenção no ato.

Mikoto Suoh poderia ser descrito como um buraco negro, sugando tudo ao seu redor, faminto por qualquer que fosse o organismo. Levando em sua órbita voraz a atenção de Misaki.

Até que a amizade entre ele e Saruhiko deixasse de ter uma única cor, para se dividir em duas.

Vermelho e azul.

E sempre que elas se encontravam, era o prenúncio de uma grande batalha capaz de consumir toda a cidade, especialmente pelo som de explosões e facas sendo atiradas com uma mira precisa.