Addiction

Capítulo Seis




Bruce acordou com uma enorme dor de cabeça.

Levantou-se aos tropeções da cama e andou até á bacia para lavar o rosto.

Tinha tido um sonho estranho em que Natasha aparecia a meio da noite, mas apagara de tal maneira que não se lembrava do que acontecia depois. Secou a cara com uma toalha velha e virou-se para a mesa no meio da cabana. Os seus olhos pousaram numa caneca que ele não se lembrava de ter lá deixado e franziu a testa. Alguma coisa estava errada.

Encarou a agente sentada à sua frente com desconfiança. Sabia quem ela era. Barbara Morse, ou Bobby como alguns a chamam por ali, era agente da S.H.I.E.L.D à tanto tempo quanto ele. Os cabelos loiros eram comuns, assim como os olhos azuis, mas havia algo nela que chamava a sua atenção.

Fury apareceu para quebrar os longos minutos de silencio que preenchiam a sala e sentou-se numa das pontas da mesa. Clint voltou-se para ele, lançando uma ultima olhada a Barbara, que o fitava sem qualquer interesse.

– Tenho uma missão para vocês.

– Onde está a Natasha? Ela é a minha parceira – Questionou, voltando a olhar para Bobby irritado. Não podia acreditar que Fury a estava a colocar no lugar da Nat. Barbara continuou em silencio, mas ele notou o interesse dela em saber o que tinha acontecido para terem uma missão juntos.

– A agente Romanoff está afastada das missões por motivos pessoais.

Tony despediu-se de Pepper com um beijo. Tinha o resto da manhã livre e uma reunião sem importância à tarde e pretendia dedicar o máximo de tempo ao seu novo projeto.

– Senhor, o agente Barton está aqui.

– Manda-o entrar Jarvis.

Pouco depois, Tony encarava a cara de poucos amigos de Clint, perguntando-se o que tinha acontecido. Ofereceu-lhe uísque, que ele recusou quase automaticamente, e sentou-se num dos bancos do laboratório.

– Quero saber se consegues localizar uma pessoa.

Fitou-o com desconfiança - Quem?

– Natasha.

– Perdeste a namoradinha Robin Wood?

– Sem piadas Stark. Sim ou não?

– Sim – Tomou um gole da bebida – Mas não é preciso, eu sei onde ela está - E com quem.

– E então?

– Então o quê?

– Não me vais dizer? – Notou que ele começava a ficar irritado e sorriu.

– América do Sul.

É obvio que depois ele fez questões sobre o porquê de ela lá estar, ou que motivos pessoais ela tinha para se ter afastado das missões, mas Tony achou tudo aborrecido e recusou-se a dizer fosse o que fosse. Pouco depois, quando Clint foi embora, deu por si a pensar em Natasha e Bruce, perguntando-se como tinha corrido o encontro.

Natasha entrou na cabana carregando um cesto com frutas e outros alimentos. Olhou em redor, mas não viu Bruce em lado nenhum e começou a preparar o almoço. Certo, era um verdadeiro perigo na cozinha, mas tinha descarregado algumas receitas para o telemóvel e acreditava-se capaz de fazer nem que fossem algumas saladas. Não podia ser um total falhanço.

Estava entretida a cortar cenouras quando ouviu um barulho atrás de si. Virou-se rapidamente, apontado a faca ao pescoço do intruso, quando encontrou os olhos castanhos de Bruce Banner. Ele levantou as mãos rendendo-se e ela sorriu, baixando a guarda. Pela expressão na cara dele, supôs que não estava muito feliz por encontrá-la.

– Que fazes aqui?

– Depois de desmaiares ontem, decidi ir embora e voltar para almoçar contigo.

– Eu desmaiei? – Perguntou, parecendo genuinamente confuso.

Riu-se, antes de responder – Como uma menina.

– Continuo sem saber o que fazes aqui.

– Não é obvio Dr. Banner? Vim buscar-te para voltamos para casa.

Bruce sentiu vontade de rir quando ela acabou de falar – Não tenho casa.

Natasha revirou os olhos, bufando – Claro que tens Bruce, vives com o Tony.

– Não vou voltar.

– Nesse caso fico aqui contigo – Ela só pode estar a brincar. Pensou, suspirando e deixando-se cair na cadeira. Natasha continuava a olhá-lo com um sorriso nos lábios e por momentos, ponderou se lhe o “outro” lhe batido com tanta força que ela tinha perdido o juízo.

– Sou um monstro – Proferiu.

– Eu também.

– Nat.. – Interrompeu-a, aquilo parecia absurdo.

– Comecei a matar quando ainda era uma criança, não tinha mais que oito anos. Eu sou o único monstro nesta cabana Dr. Banner. Sabia o que estava a fazer, seguia as ordens que me davam sem pensar, eu gostava de matar, fazia-me sentir viva. No teu caso não estás no controle das tuas ações, é o Hulk, não és tu. Eu sou o monstro, Bruce, tu apenas não te sabes controlar.

Bruce tinha ficado calado depois e Natasha questionou-se se tinha dito alguma coisa errada.

Terminou a salada e colocou na mesa enquanto ele ia buscar os pratos. Comeram em silencio e nem uma vez ele olhou para ela. Parecia perdido nos próprios pensamentos. Notou também que ele continuava a manter certa distancia dela, apesar de Natasha se ter habituado mais à presença dele.

Foi embora quando ele lhe pediu, querendo descansar, e voltou para o hotel depois de lhe dizer onde estava instalada. Durante o caminho não conseguiu evitar achar que tinha estragado tudo. Nos dias seguintes não o procurou, decidindo esperar que ele o fizesse, e a decepção abalava-a sempre que ia à recepção e não havia recados para ela.

Os projetos para a Torre pareciam estar a correr como ele imaginava. Sorriu, fazendo algumas mudanças nas estruturas. Depois da destruição que o Hulk causou no andar em que Bruce vivia, tinha voltado a pensar em modificar toda a torre para os Vingadores. Thor tinha ido embora à pouco tempo, mas quando voltava e não ficava com Jane, acabava por ficar com eles. Seria mais que normal acabar por mudar a torre caso todos quisessem viver juntos.

– Sr. Stark, tem uma chamada do Dr. Banner.

– Podes passar Jarvis.

Tony?

– Grandalhão! Que surpresa, já passou quanto tempo? Uma semana? Quatro ou cinco meses?

Sabes alguma coisa do passado da Natasha?

– O básico. Espiã russa, assassina, linda de morrer, literalmente.

Bruce revirou os olhos, imaginando que Tony sorria do outro lado da linha.

– Ela disse-me que era um monstro, e que eu, bem... Que eu não era.

Concordo com ela, na parte de não seres, quer dizer – Fez uma pausa – Já tinha dito que só precisas aprender a controlar o verdão.

– Não é tão fácil quanto parece – Desdenhou.

Vês a situação da pior maneira.

– O “outro” quase a matou!

Ouviu Tony bufar – Que exagero grandão, ele só lhe deu uma pancadinha.

– E quanto tempo essa pancadinha a fez ficar no hospital? – Gritou. Tony calou-se e Bruce tentou controlar a respiração, começava a perder a paciência – Peço desculpa.

Sem problemas.

– Eu quero aprender a controla-lo – Pausou – Eu só não sei como o fazer.

E estás à espera do quê para voltar a Nova Iorque? Vais adorar as mudanças que fiz por aqui.

Natasha cansou de esperar que ele a procurasse ao fim de cinco dias. Vestiu um vestido leve e calçou umas sandálias, escondendo a arma com uma liga na coxa antes de sair. Pagou a um táxi, que a levou o mais perto que pôde ao caminho, depois caminhou pela floresta dentro, esperando não se perder até encontrar a cabana.

Bruce estava deitado e dormia quando lá chegou. Tinha uma expressão tão calma que não o quis acordar. Caminhou fazendo o mínimo de barulho possível e dirigiu-se ao armário onde já sabia que havia chá. Para ela, todos lhe pareciam iguais, por isso pegou o que cheirava melhor e aqueceu a água.

Ele mexeu-se, fazendo barulho, e Natasha pulou assustada antes de verificar que ele continuava a dormir. Congelou ao ouvi-lo falar.

– Betty. Não... – Bruce resmungou mais alguma coisa que não conseguiu entender, mas Natasha não quis continuar lá para ouvir.

Terminou de fazer o chá e foi embora, talvez o melhor fosse mesmo não se intrometer na vida dele.

Quando acordou eram quase três da tarde e o cheiro a chá preenchia a cabana. Natasha. Olhou em redor, mas não a viu em lado nenhum. Teria ido embora por estar a dormir? Estaria chateada por não a ter procurado? Encolheu os ombros e pegou uma caneca. O liquido desceu amargo pela sua garganta, e nem mesmo as colheres de açúcar fizeram diferença.

Dois dias mais tarde e sem mais visitas dela, resolveu que o melhor era procura-la no hotel.

Natasha colocou as malas no chão para abrir a porta do apartamento. Parecia ridículo voltar de mãos vazias duas semanas mais tarde, mas tinha perdido toda a sua vontade naquele dia. Bruce era um homem crescido, saberia o que era melhor para si mesmo.

Tomou um banho, secou os cabelos e vestiu o pijama, sentando-se no sofá com um enorme pote de gelado no colo. Ligou a televisão e vasculhou os canais até encontrar um filme, mas não se conseguiu concentrar na história. Não sabia dizer porque parecia tão incomodada com o facto de Bruce sonhar com a ex-namorada. Sabia tudo sobre os casos dos seus companheiros, mas nunca se tinha sentido incomodada por Steve pensar em Peggy, como sabia que ele fazia, ou pelo Stark parecer um cachorrinho abandonado quando se queixava da ausência da Pepper. Sabia até mesmo sobre Jane, mais do que queria saber na verdade, e nos últimos tempos Thor parecia achar que Natasha era a pessoa indicada para falar dos seus problemas amorosos. Não entendia porque razão Betty Ross a incomodava tanto.

– Peço desculpa senhor, a Srta. Romanoff fez o check-out ontem à noite.