Acordo Selado

A dor da omissão.


- Entenda, tive que fazer isso.

O mordomo olhou sério para o menino, suas pupilas rubras o encaravam sem ao menos piscar, já as azuis as evitavam. Ciel estava muito tímido, tenso, pois aquele havia sido seu primeiro beijo. Num ato automático, saiu do estado de transe no qual estava e empurrou o demônio para longe de si com toda força que possuía.

- O... o que pensa que esta fazendo?!

Perguntou aos berros, olhou ansioso para os lados, catou um travesseiro e jogou na direção daquele ser, a seu ver, bizarro. O medo devorava-lhe todo o íntimo, "Ele desobedeceria o contrato?" Era o que se passava na cabeça do menino naquela hora. Levantou-se da cama num pulo e seguiu até a janela, sentou-se no peitoral e encarava as coisas lá embaixo, no primeiro andar. A impressão que dava era que ele se jogaria dali mesmo, Ciel mantinha o olhar assustado para trás, seu passado veio à tona, cenas daqueles homens vindo em sua direção invadiram-lhe os pensamentos.

- ME... ME DEIXA EM PAZ!

Tarde demais, quando o menino se dera conta, já estava nos braços de seu fiel e principal empregado.

- Eu que pergunto, my lord.

O menino desferiu-lhe um tapa na face conseguindo se desvancilhar daqueles braços e caiu na cama, ele escondeu-se debaixo das cobertas e olhava assustado para fora, seus olhos arregalados eram a única coisa exposta. A montanha formada pelo volume do corpo por debaixo de tecido tremia. Michaelis o encarava de braços cruzados, suspirou soltando uma discreta bufada.

- Aquela crise denovo?

Disse rouco o homem arracando o edredon de cima do menino.

- Já é mais que na hora de superar isso.

O menino olhava-o desesperado, encolhido e trêmulo agarrado a um travesseiro. O medo era tamanho que o mesmo babava e lágrimas escorriam-lhe pela face.

- Por favor... por favor, não me faça mau!

Sebastian sentou-se na beirada dali, tinha as costas viradas para o menino que mais que depressa pegou uma faca do carrinho com as tortas e lhe enfiou furando-o. Sebastian deixou sua cabeça tombar para a frente, seus lábios se avermelharam, ele sabia melhor que ninguém que aquela era a melhor saída para o transe. Ciel ao ver o sangue em suas mãos, tremeu e seu olhar aos poucos foi se normalizando. Quando se deu conta que ferira o outro, tocou-lhe os ombros o balançando de leve.

- Ei! Ei, Sebastian! O que eu fiz?

O menino estava atordoado com ambas mãos vermelhas e o sangue já escorria pela roupagem negra e descia na direção do lençol. Só agora o menino percebera que a faca ainda estava metida ali, porém o demônio nem se mexia.

- Se...

O garoto retirou a faca dali e o corpo do maior acompanhou o movimento para trás até cair sobre a cama, Ciel tinha os olhos úmidos.

- Eu.. entrei em neurose denovo.

O mordomo tocou-lhe a face.

- Peço desculpas, my lord. Quis antecipar algo que ainda não estás pronto a aprender.
- Você me beijou.
- Sim, faz parte do processo.

Disse o mais velho olhando-o ainda deitado ali, o menino encostou a mão direita no uniforme.

- Você é um homem, me poupe.
- Tudo que o ensinei até agora funcionou, não? Fez bom uso de tudo, não?
- Mas sebastian! Isso é diferente!

O homem apoiou ambos cotovelos ali e arqueou-se parcialmente para a frente encarando o garoto.

- O que aconteceu é apenas um sinal que seu corpo amadureceu de certa forma... e também significa que terei que saciá-lo e prestar outros tipo de serviços também.
- Ora, não é para tanto...
- Entenda.

O Homem agora se sentara e tocou a face do menor, fato que o fez corar.

- Se eu não fizer isso, você procurará outros e não quero isso... você é só meu.

Os olhos do demônio se avermelharam de forma a expandir uma sutil luz vermelha viva e levemente incandescente.

- ... o contrato.
- Sim, sou fiel a ele. Sua alma é minha e em troca, o ajudarei a se vingar.
- ...

Ambos se encaravam sérios, Ciel perguntara a si mesmo se era realmente só aquilo. Michaelis mantinha uma face imparcial, fria e séria. Perguntas dançavam em sua boca, mas nunca admitiria que sentia algo a mais por aquele ser. O menino decidiu que morreria e junto consigo carregaria seus mais profundos sentimentos.