Depois de ter fraturado meu ombro, tive que desistir, temporariamente, do meu curso de desenho técnico. Meu sonho sempre foi entrar na carreira de Arquitetura. A maior parte da influência foi da minha mãe, já que ela é arquiteta, mas desde pequena eu colecionava plantas de apartamentos e casas, ia com mamãe comprar moveis e adorava desenhar. Meu gosto pela arte era inevitável. Sempre adorei ir a museus e ver exposições, diferente das outras pessoas que achavam incrivelmente entediantes, eu conseguia enxergar a verdade essência de tudo isso. Poderia passar horas em bibliotecas ou em um ateliê de pintura só sentindo o aroma da tinta fresca. Talvez fosse estranho. Mas era o que eu amava fazer.

Acontece que agora, eu estou mofando no sofá de casa, assistindo um filme idiota e sozinha, sem poder ir para o curso, nem nadar no club ou fazer algo que eu me mexa. E como uma boa adoradora da arte, ficar deitada no sofá o dia inteiro não era o que eu chamava de inspiração.

Não sei por que motivo, de repente me veio Harry na cabeça. O quanto ele foi gentil comigo, apesar da minha falta de educação, e como seu sorriso era doce e encantador, também não podia deixar de descartar seus olhos que era difícil decifrar a cor. E a pior parte, era o fato de eu ainda não ter descoberto quem ele era!

Levantei-me do sofá agitada, sentindo dor na cintura, e busquei meu celular. Sabia a pessoa perfeita para essa descoberta.

- Hey Bear – Talvez um dia eu descobriria o motivo da minha melhor amiga me chamar de urso.

Débora é minha amiga desde que me mudei para Londres. Terminamos o colegial juntas e vivíamos grudadas uma na outra. Ela foi a primeira pessoa que me acolheu aqui, e é a britanica mais louca que eu já conheci! com seu jeito engraçado e espontâneo, eu nunca ficava para baixo. Quando se é estrangeiro de um país subdesenvolvido, como o Brasil, nem todas as pessoas te vêm com bons olhos. Mas Dé não. Ela me levou nos melhores museus de Londres e fez eu me achar no meio daquela multidão dos meus anos de colegial. Era uma garota especial.

- Hey Dé!

- Que milagre é esse você me ligando? – Como se eu não vivesse enchendo o seu saco.

- Help?

- Que foi? Ta morrendo? - Minha amiga me ama.

- O nome Harry Styles significa algo para você?

- QUE MERDA DE PERGUNTA É ESSA? - Afastei o telefone da orelha e revirei os olhos - Eu amo o Harry, eu respiro o Harry, e ... porque ta interessada em One direction?!

Vou me matar! COMO EU NÃO LEMBREI?!

Era isso! O tempo todo e eu não lembrei! One direction! Como eu fui burra de não lembrar da banda preferida da minha melhor amiga? Ela simplesmente amava os caras mais do que ela mesma! Viva falando deles, tinha tudo deles. Tinha um motivo de eu não ter lembrado, eu sempre a ignorava quando começava com esses papos de boyband. Eu era ligada para o lado indie da música, adorava entrar em uma vibe The Kooks, The Killers, Strokes, Arcade Fire. Então seria meio complicado lembrar-me. O incrível é que estava o tempo todo na minha cara e eu não ví.

- Quer dar um pulo aqui em casa? - Perguntei depois de ter saido do meu transe.

- O que aconteceu? Você ta estranha!

- Vem logo! Preciso te contar algo...

- To indo bear.

- Tchau.

Subi correndo as escadas de casa para o meu quarto, me joguei na cadeira do computador e digitei Harry Styles no Google. Apareceu varias fotos, fã-clubs, entrevistas, basicamente, TUDO sobre a vida do cara. Entrei no primeiro site que eu ví de noticias do One Direction. Normal. Se EU não fosse uma das primeiras noticias que eu vi no site. Havia uma foto do Harry saindo do aeroporto me carregando e outra dele entrando no hospital sozinho. A matéria basicamente falava sobre um acidente com uma garota desconhecida, mas que supostamente seria sua namorada. LEGAL. Conheci o cara ontem, não sabia nem o seu nome e agora sou sua namorada! Esse pessoal tem uma imaginação tão fértil. Pelo menos não estou com uma cara horrível na foto. Depois de fuçar mais um pouco na internet, ouvi o barulho da campainha. Fechei a página e desci correndo para atender Débora.

- Beeeear! - Ela me abraçou e eu gemi de dor - Ai meu deus! O que aconteceu com seu ombro?

Como eu estava de regata e calça de moletom, era bem visível a minha mumificação.

- Entra, respira, que vem bomba! - Ela se jogou no sofá, que estava cheio de cobertas, e me olhou assustada.

- Isso tem algo a ver com o que você perguntou no telefone?

- Sim - Eu estava em pé do lado da TV observando sua reação. Ela iria pirar loucamente, roubar meu celular e ligar para o Harry quando eu contasse o que havia acontecido.

- VOCÊ CONHECEU O HARRY STYLES? MAS ISSO NÃO É JUSTO! VOCÊ NEM SABE QUEM É ELE!

- Caaaaaaaalma! - Me sentei do seu lado e a fiz olhar diretamente para mim - Vou contar, mas não grite e nem roube meu celular.

- Porque eu ia querer a porra do seu celular? – Débora e seus nervos a flor da pele. Isso porque não estava de TPM.

- Você vai querer ele depois que eu contar.

Enquanto eu contava a história maluca de ontem, ela fazia caras e bocas, em alguns momentos pensei que ela iria começar chorar lá mesmo. Às vezes me interrompia para surtar ou fazer comentários desnecessário. Quando eu acabei ela ainda me olhava com os olhos arregalados e sem falar nada.

- Débora? - Nenhuma reação - Déé!

- Vo-você.. tem o numero do HARRY STYLES?!- Ela gritou e correu pra pegar meu celular. Sai correndo atrás dela e a agarrei pelas costas. Depois de uma luta de 7 minutos e muita dor no meu ombro, ela largou meu celular e se jogou no chão. Chorando.

- Ah Nat! Você vai ter que fazer alguma coisa para eu conhecer eles. Por favoooor!

- Dé, eu não posso fazer nada. Não tenho tanta intimidade com ele! - Fui pra cozinha pegar um dos analgésicos para dor e Débora veio no meu encalço.

- Claro que tem! O Cara quebrou seu ombro! O mínimo que ele poderia fazer é um favorzinho.

- Favorzinho? Ele já me levou para o hospital que está muito bom! E ele não quebrou meu ombro - Tomei o comprimido e bebi um pouco de água. Dé me olhava com cara de cachorro perdido - Não faça essa cara - Ela continuou e começou a chorar – Não faça isso comigo!

- Mas bear, eu amo eles muitão! Não seria incrível eu ter uma foto com eles?

- Incrível seria eu ter um foto com o The Kooks – Voltei para sala me jogando no sofá e desligando a TV, já que ninguém estava assistindo.

- Natalie, eu nunca te pedi nada! O que custa ligar para o Harry agora e pedir pra ele fazer a felicidade da nação? – Ela gritou da cozinha e eu dei risada.

- Não.

Ela bufou brava e voltou para sala se sentando no sofá. Depois de muita birra, subimos para o quarto e lhe mostrei a matéria sobre eu e Harry. Ela surtou falando que eu tinha nascido com a bunda virada pra lua, além de conhecer o “Deus-grego”, eu era a suposta namorada dele.

O resto da tarde se resumiu em Débora me enchendo o saco e fazendo birra, perguntando por cada detalhe de Harry. Tive que descrever e soletrar os acontecimentos duas vezes para ela parar de perguntar. Mas, percebi que ela não estava satisfeita por não conhecê-los. Acabou que a louca dormiu em casa mesmo, já que ficou muito tarde para voltar sozinha.


Porque ta tão claro?

Rolei na cama e acabei deitando em cima do meu ombro machucado. Levantei já gritando de dor. Peguei a tipoia que estava pendurada na cabeceira da minha cama de casal. Era óbvio o porquê de estar tão claro! A cortina estava totalmente escancarada e o raro dia ensolarado de Londres estava prejudicando meu sono. Arrumei meu cabelo, que estava mais para um ninho de passarinho, em um coque frouxo e desci para procurar a Débora.

Estranhei o fato de ela estar já acordada, ela era sempre a última a acordar e quando dormia nem Jesus cristo a acordava, a menina entrava em coma, não dormia.

- Bom dia, meu amor – Minha mãe me deu um beijo na cabeça quando eu entrei na cozinha, que cheirava panquecas e chá de camomila, meu preferido.

- Bom dia mamãe – Apesar da idade, eu adorava chamar minha mãe de mamãe. Era infantil, mas me sentia melhor assim.

Virei-me para pegar panquecas e vi Débora que estava sentada na mesa mexendo no meu notebook. Ela usava minhas calças de moletom e uma camiseta, que também era minha, do Hard Rock café de Orlando. Observei que ela estava descarregando algo da minha câmera digital para o note.

- Caiu da cama? – Perguntei enquanto sentava do seu lado colocando o prato de panquecas e o chá de camomila na mesa.

- Basicamente – Ela deu um sorriso maroto e voltou sua concentração para o computador. Tentei observar o que ela aprontava, mas a donzela tampou minha visão.

- O que você ta aprontando?

- Nada bear – Ela deu uma garfada em um pedaço de panqueca e o comeu.

- Você sabe que vou descobrir depois né?

- Aham.

Resolvi deixar isso de lado e voltar a saborear as incríveis panquecas de mamãe. Só ela conseguia fazer aquilo, era único. Mamãe terminou de tomar café antes de todo mundo, e logo foi para seu escritório no centro de Londres, para atender clientes, deixando eu e Débora sozinhas.

- O que vamos fazer hoje? – Perguntei enquanto observava meu hematoma da cintura. Agora além de estar do tamanho de uma bola de basquete, estava meio esverdeado. E claro, doendo.

- Não sei – Ela olhou para o machucado e fez careta – O Harry devia ter achado que estava jogando boliche.

- Me ofendeu agora – Abaixei minha camiseta e a encarei. Ela ainda estava escondida por trás do meu notebook e às vezes soltava algumas risadas. A diferença é que estávamos sentadas na varanda dos fundos tomando um solzinho – O que você tanto ri ai, criatura?

- Nada – Ela soltou uma gargalhada e digitou algo. Não aguentei de curiosidade e arranquei o notebook da sua mão – EEEI!

- O que é isso? – Ela estava logada na nossa conta no youtube, já que gravamos uns vídeos só por diversão, e respondia comentários de um vídeo que eu nunca tinha visto lá. Cliquei para ver o vídeo, ao mesmo tempo em que Débora saiu correndo e gargalhando da varanda entrando em casa. Nesse momento senti que boa coisa não era.

Oi – Débora sorriu e eu reconheci a sala da minha casa – Meu nome é Débora Lorraine, e tenho 18 anos. Alguns de vocês já acompanham meus vídeos e os de Natalie a muito tempo, maaaaaaas, hoje eu resolvi aprontar uma coisa nova. Pra que quem não sabe, a garota que foi atropelada por um carrinho de aeroporto cujo Harry Styles, isso mesmo, Harry Styles, 1D, estava empurrando, foi a Natalie. E bem, ela esta com um ombro machucado. E, como eu sou uma ótima melhor amiga, vou fazer uma surpresa para ela. Pena que vou ser morta depois disso, começa aqui o meu punk’d! – Ela deu um último sorriso para câmera e a cena mudou para meu quarto, reconheci a garota da cama sendo eu – - Hey bear, esta acordada? – HM – Tá, sabia que você fala enquanto dorme? – Dé vai dormir – Você é que deveria se concentrar em dormir e não falar com os outros! –HM – A câmera voltou para a cara de Dé e ela sorriu malignamente – Como vocês viram, a Nat fala dormindo, e vou aproveitar isso como vingança do sofrimento que ela me fez passar! – Bear? – HM – Você gosta do Harry Styles? – Que Harry? – Do One Direction! Gosta? – Ele é bonito – Só bonito bear? –HM, ele é gostoso – Débora deu uma risada e continuou com a sacanagem – Você queria apertar a bunda dele? -Aham – E você queria fazer sexo selvagem com ele? – HM – HM, o que? – Quem nunca quis fazer sexo selvagem com o Harry? Agora vai dormir dé. – Dé saiu do meu quarto, e começou a rir super alto – Bom, por hoje é isso. Essa é pra você Harry. E não me mate baby-bear, eu te amo, beijooos. ‘’