Infelizmente, não tive tempo de pesquisar nada sobre “meu irmão”.

Estava muito cansada para pesquisar de noite e agora tinha acordado atrasada para o dia da visita dos pais – minha mãe viria na primeira hora e meu pai na segunda.

Eu estava sentada no refeitório esperando minha mãe – que já estava dez minutos atrasada.

— Olá – falou uma voz feminina que pertencia a minha mãe atrás de mim.

— Ai mãe, você me assustou.

— Haha, desculpe. – disse minha mãe se sentando em uma cadeira em frente a minha. – Então como anda tudo por aqui?

— Acho que bem.

— Você não está mais brava? Quer dizer, por eu ter te colocado aqui. – perguntou ela inocentemente.

— Não mãe. Acho que foi bom para mim vim para cá. – respondi com um sorriso lembrando das coisas que já tinha aprendido, os amigos que tinha feito. Eu ainda não tinha percebido, mas eu tinha me apegado ao lugar e as pessoas – na verdade eu queria falar com você sobre outra coisa...

Eu tinha que perguntar se eu era adotada. Eu já sabia a resposta, mas acho que eu merecia uma explicação.

— É claro, pode falar.

— Não aqui. Eu conheço um lugar tranquilo para conversarmos.

********

Estávamos subindo a pedra onde Kentin tinha me levado naquela noite. Acho que um lugar tranquilo seria mais adequado.

— Ei, querida, você tem falado com seu pai? – perguntou minha mãe.

— Não, nem pretendo.

— Eu falei com ele. Ele disse que não vai poder vim hoje. E eu só vou poder ficar uma hora do combinado. Sinto muito. – de certo modo fiquei aliviada que ele não viria. Não queria falar com ele. Ele tinha nos deixado. Mas por outro lado me senti sozinha e magoada.

— Tudo bem. Eu tenho algumas coisas para fazer. – de certo modo era verdade, tinha que pesquisar sobre meu irmão. – mas não era sobre isso que eu queria falar, é sobre outra coisa...

Já estávamos sentadas observando o rio correr. Seguindo o mesmo curso sempre e sempre. Ele não podia se desviar do caminho.

— Nossa, aqui é lindo... Sobre o que você quer conversar?

— Eu... hmm... na verdade eu já sei a resposta, mas eu preciso de uma explicação mãe. Eu não acredito que você e papai fizeram isso comigo. Você sabe o que eu passei? – falei tudo menos o que eu queria. Eu sempre fazia isso.

— Ei, devagar. Do que você está falando?

— Eu tenho dezessete anos e você nunca me disse que eu sou adotada. Como você pode? – já sentia meus olhos lacrimejando. Eu tinha que ser forte, não ia chorar na frente dela. Me esforcei para olhar para minha mãe. O rosto dela tinha um expressão que eu nunca tinha visto antes. Talvez medo, talvez surpresa.

— C-como você sabe? – era medo. Talvez medo de que eu ficasse brava ou não quisesse mais voltar para casa, não sei. Porém, eu nunca tinha visto minha mãe com medo. Jamais.

— Hmm, eu estava pesquisando sobre minha árvore genealógica para um trabalho no acampamento... E, hmm, descobri algumas coisas. Fui pesquisar mais fundo, não tinha certeza, mas agora eu tenho.

— Sinto muito, Kelle. Eu... E-eu sempre te considerei minha filha de verdade. Eu te amei por todo esse tempo e amo, não é isso que importa? – minha mãe estava chorando?

— É claro mãe. Mas, você não acha que eu merecia saber da verdade? – falei de beicinho, segurando as lágrimas – pelo menos me conte o que aconteceu.

— É claro. E-eu casei com seu pai. Depois de 2 anos fiquei grávida, e... estava tudo indo bem. Mas um dia – não fique chateada Kelle, ele é seu pai – descobri que seu pai estava tendo um caso com outra mulher eu cai das escadas e eu perdi meu bebê...

— Tudo bem, mãe. Não precisa contar. Eu sinto muito. – eu estava triste por ela. E com muita raiva do meu suposto “pai”, era tudo culpa dele.

— Não, eu te devo a verdade. Está tudo bem, eu aguento. – minha mãe deu um sorrisinho amarelo – Eu fiquei muito brava. Entrei em depressão. Seu pai me pediu desculpas e eu aceitei. Eu não tinha mais nada a perder... Um dia quando eu estava ido ao hospital fazer uns exames encontrei uma mulher desesperada, ela estava com um lindo bebê. Ela ia coloca-lá na adoção. Quando eu olhei para você nos braços da sua mãe, foi amor a primeira vista. Entrei com os papéis e fiquei com a sua guarda.

— Você sabe o nome dela? Viu se ela estava sozinha?

— Eu não lembro o nome dela... Devem estar no papel da adoção, eu prometo que vou olhar e te mandar por e-mail. E sim, ela estava com um garotinho, eu não s...

— Meu irmão – interrompi ela – ele era loiro? Olhos azuis?

— Eu não sei, faz muito tempo. Mas como você sabe que era seu irmão? Ah, isso não importa – Ufa. Não queria dizer para minha mãe que eu via "ele" todos os dias.

— Mãe, será que você podia me passar o sobrenome e o nome da mãe? Assim que você achar me manda, por favor. É importante.

— Claro, querida.

********

— Ei. – minha mãe já tinha ido embora e eu continuei ali. Muita coisa estava acontecendo ultimamente.

— Oi Ken – disse com um sorrisinho frouxo.

— Então, como foi? – perguntou Kentin. – Na verdade, você pode me contar tudo depois. Você está atrasada para as apresentações

— Aaah, eu esqueci que era hoje. Já começou? – hoje todos os estudantes do acampamento se conheceriam mais formalmente. Pois, no dia seguinte começarias as aulas.

— Sim, já faz uns cinco minutos. Eu sabia que você estaria aqui então vim te procurar – disse Ken com um enorme sorriso.

— Hmm, obrigada Ken.

********

As apresentações já haviam terminado. Estávamos eu, Ken, Rosa, Iris, Castiel, Lysandre, Nathaniel – o representante do acampamento – Nina, que me falaram ser filha do diretor. Parece que ela não desgrudava do pé do Lysandre. Também estavam Armin e seu irmão Alexy e um garoto de pele bronzeada e cabelos loiros chamado Dake – todos sentados em uma mesa no refeitório.

— Então, Kelle. Aonde você disse que morava? – perguntou Alexy, irmão do Armin.

— Hmm, na Geórgia.

— Deve ter sido difícil vim para cá, já que Arizona e Geórgia tem temperaturas diferentes – comentou Dake.

— É... Você se acostuma.

— Olá gente – disse uma voz feminina.

Olhei para trás para ver quem era. Eram três meninas. A que tinha falado era uma loira com os cabelos enrolados.

Rosa chutou meu pé para mim olhar para ela. Ela estava sentada na minha frente.

— Ambre... – disse Rosa com uma voz de nojo. – e sua capangas: Li e Charlotte...

Essa tal Ambre chegou e foi se espremendo ao lado do Castiel.

********

Tinha passado um tempo que estávamos conversando. Eu já estava ficando cansada quando Ken fez um gesto para a porta com a cabeça. Quase suspirei de alívio.

Saí andando atrás do Kentin. Eu sabia exatamente onde nós estávamos indo. No “nosso lugar”.

— Então, acho que você pode me contar agora. Como foi com a sua mãe? – perguntou Kentin depois de termos chegado na pedra do rio.

— Bem, eu acho... Ela vai me passar o nome e o sobrenome da minha mãe biológica. Eu não tenho certeza se ela está viva, pelo menos meu irmão não... – Já tinha aguentado muito tempo. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

— Ei, não chore. Sabemos como sua mãe é. Ela já vai te passar o sobrenome e vai tudo ficar bem...

— Espera, você não sabe como minha mãe é. Você nem conhece ela. – falei com uma voz irritada.

— Você não se lembra mesmo, não é? – perguntou Kentin.

— Me lembrar do que? – Já estava estressada com tudo.

— Eu já fui seu vizinho. Na verdade, eramos amigos, quando você tinha cinco anos. – respondeu Ken pensativo.

— Mas... mas eu não me lembro disso. – respondi com firmeza.

— É claro que não. Você se mudou com sete anos. Você sofreu um traumatismo. – respondeu Kentin sem expressão no rosto.

— Hmm, eu não acredito... – ele só podia está delirando. Eu não tinha amnesia!

— É claro que não Kelle. Pode me dizer o que lembra quando tinha cinco ou seis anos? – perguntou Kentin com uma sobrancelha arqueada.

Ficou tudo em silêncio por uns cinco minutos, enquanto eu tentava me lembrar.

— Não tem como eu me lembrar! – rebati – a maioria das pessoas não lembram da infância.

— Okay, então qual é a lembrança mais antiga que você tem? – ficamos em silêncio por mais um tempo até que eu lembrei:

— Ah, foi quando... eu... me mudei para minha nova casa... – Será que era possível? – C-como minha mãe não me disse nada então?

— Eu... Não sei o que exatamente aconteceu. Eu sei que você estava lá e puf não estava mais. A única coisa que eu sei é que seus pais contaram para os meus pais que você sofreu de um traumatismo. Não físico, dentro da sua cabeça. Parece ter sido algo que realmente mexeu com a pequena Kelle... – Ken ficou em silêncio. Fiquei esperando ansiosa e nervosa para ele continuar.

— De início você não se mudou, mas depois de fazer algumas sessões de terapias. Você não lembrava do que tinha acontecido e nem das pessoas que você tinha conhecido naquele meio tempo. Seus pais e sua terapeuta acharam melhor você trocar de ambiente... E foi aí que você se mudou – Kentin me olhou com uma careta e percebeu que eu estava chorando. Eu era tão fraca.

Kentin passou a mão pela minha cintura e eu descansei a cabeça em seu peito soluçando.

— K-Ken? – chamei – eu sou sua amiga de infância que te chamava de Ken, não é?

— Sim... Eu não devia ter te contado. Eu achei que você já estava madura para se lembrar da verdade... Sinto muito.

— Não, tudo bem. Parece que tudo que vivi foi uma mentira. Tudo que minha mãe tem feito foi esconder coisas de mim – disse aos soluços. – você não sabe nadinha do que aconteceu mesmo?

— Eu era pequeno, Kelle. Não me lembro de muita coisa. O que eu lembro já te disse. Talvez, deveria ter mais uma conversa com a sua mãe...

— E-eu não posso. Ela esconde muitas coisas de mim, eu tenho que descobrir sozinha. Além do mais, ela ia achar estranho que essas informações estejam caindo das árvores – nesse momento eu já tinha me acalmado e parado de soluçar.

— Eu prometo que vou te ajudar. No que você você precisar.

— Obrigada, Ken..tin.

— Tudo bem. Você sabe que pode me chamar de Ken, haha. – Ken soltou uma risada forçada para tentar me animar. O que me deu mais vontade de chorar.

********

Cheguei ao dormitório bem tarde. Parece que a Iris e a Rosa já tinham dormido. Eu seria bombardeada com perguntas pela manhã, mas por ora eu estava a salvo.

Como eu não tinha sono, fui checar meu e-mail. Talvez, minha mãe egoísta e mentirosa já tivesse me mandado as informações da minha verdadeira mãe.

Quando abri meu e-mail tinha uma mensagem da minha mãe e um anexo – abri só o anexo.

No anexo tinha minha certidão e as informações da adoção. Já era alguma coisa.

Depois de alguns minutos vendo o anexo já tinha algumas informações. Nasci em uma maternidade em algum lugar de Atlanta e o nome dos meus pais biológicos: Marie Addam e Marcus Addam. Eu não me lembrava do meu pai em nenhuma das visões de Mike...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.