ALMARA: Ameaça na Ilha de Xibalba

CAPÍTULO 6 | Os Piratas Roughknuckles


A pequena frota composta por cinco navios desliza pelo mar, levados pela força do vento. Seus tripulantes correm de um lado para o outro, alguns limpando o convés, outros ajustando as velas, um grupo se encarrega de preparar o armamento enquanto outro apenas toca sua viola, sentado em cima de um barril.

Os capitães de cada navio dão ordens aos demais e a frota se aproxima da terra firme, tremulando suas bandeiras negras com uma caveira e ossos cruzados.

Eril, Kore e o novo integrante do time, Voughan, terminam de levantar acampamento, recolhendo suas coisas enquanto preparam-se para prosseguir.

O terreno é pedregoso e a estrada costeia um enorme rochedo íngreme, por onde Voughan salta de pedra em pedra, sem parar.

— O que deu nele? — questiona Eril.

— Ele disse que se sente leve. — responde Kore. — Afinal, a vida inteira dele foi naquela ilha, onde a gravidade é maior.

— Nem me fale daquele lugar. Espero não precisar voltar lá nunca mais.

— Não quer voltar à ilha dos shamargs mas quer ir para a ilha de Xibalba. Garanto que lá será bem pior.

— Não estou indo para Xibalba por diversão. Certamente não vou gostar de lá também, mas é por um bem maior.

Neste momento, Voughan aterrissa em pé, próximo à dupla, estremecendo o chão tamanha a altura de que ele despencou. Ele se aproxima como se nada tivesse acontecido, enquanto come algo que ele tira de um pacote.

— E então, vermes, vamos indo? — pergunta, ainda mastigando.

— Hei, o que você está comendo? — pergunta Kore, enquanto procura algo em sua sacola. — Você está comendo todas as minhas provisões?

— Não se guarda comida. Comida se come.

— Ora seu!

Kore parte para cima do shamarg que apenas o chuta para longe, sem sequer sair do lugar, enquanto continua a comer.

— Parem com isso vocês dois. Já estamos chegando na próxima cidade, lá reabasterecemos nosso estoque.

Kore se levanta, um tanto dolorido pelo chute, mas fica calado, apesar de aborrecido.

Eles partem pela estrada. Voughan corre na frente, escala parte da montanha, sobe e desce, corre na frente então retorna para perto dos outros dois e não para nem por um instante, extremamente energético.

— Ele sequer pediu desculpas. Ontem me jogou da ponte e hoje isso.

— A ideia de trazer ele conosco foi sua, agora aguente as consequências. Espero que o alquimista pelo menos tenha modos.

— Então, recapitulando, vamos até a cidade costeira e pegamos um barco para Tengkorak, para procurar pelo alquimista Dhondal, certo?

— Exato. Por acaso você não conhece ele, não é? Não quero chegar lá e descobrir que podia ter me comunicado com ele de forma muito mais simples, como aconteceu com Baruc.

— Não, nem faço ideia de quem seja.

O trio continua pela estrada, que começa a se tornar um pouco mais inclinada para cima e, ao chegar no ponto mais alto, pode-se avistar a cidade costeira.

O município é grande e um tanto inclinado, tendo sido construído em uma ladeira que acaba no mar. Tanto as casas quanto as demais construções são mais bem feitas, mostrando um nível de civilização mais moderno.

Ao chegar na cidade, nossos heróis percebem a presença do Império Mundial, mas não parecem estar em alerta, indicando que não há perigo.

Andando pelo local, o trio encontra o porto e procura por uma embarcação que esteja rumando para Tengkorak. Eles encontram um senhor de idade puxando uma corda cuja ponta está dentro da água.

— Com licença. — inicia Eril. — Estamos à procura de uma embarcação que nos leve até Tengkorag.

— Ah, mas que azar. — responde o homem, enquanto continua a puxar a corda da água. — O navio que vocês procuram acabou de zarpar. Ele só irá retornar daqui a quatro dias.

— Mas que droga! — pragueja Kore. — Se tivéssemos vindo um pouco mais rápido.

— A culpa é de vocês, vermes. — diz Voughan, culpando Eril e Kore. — Vocês são lentos e se cansam muito rápido.

— Não tinha como saber que o navio estava por zarpar, grandalhão. — rebate o monge. — Se soubesse, garanto que chegaria primeiro que você.

— Não me faça rir, verme, você sequer é um desafio pra mim.

— Quer apostar? Garanto que chego primeiro que você no outro lado da cidade. — diz enquanto aponta para o lado mais inclinado do município.

— Quando você quiser.

Kore pensa um pouco e se lembra da vez em que fugiu de Voughan, onde ele derrubava as paredes das casas e árvores em sua frente.

— Mas você não pode destruir nada no caminho. Se fizer isso, eu sou o vencedor. — propõe, de forma a persuadir o shamarg a deixar a cidade inteira. — Será o desafio.

— Como quiser.

Ambos se preparam e então correm em disparada, na direção apontada por Kore. Eril apenas balança a cabeça, negativamente.

— Eles não tem jeito. — diz a maga, desconsolada, antes de se voltar novamente para o senhor à sua frente. — Não há outra forma de ir para Tengkorak?

O senhor pensa por um tempo, antes de responder. — A única forma é costear a praia, mas garanto que isso irá demorar mais do que quatro dias.

Neste momento, o senhor acaba de puxar a corda de dentro da água e, para a surpresa de Eril, em sua extremidade há uma âncora de pouco mais de um metro. O homem ergue a pesada âncora, apoiando-a no ombro, demonstrando grande força, apesar da idade avançada.

— Sugiro que aguardem a volta do navio. Enquanto isso, aproveite a estada na cidade, ela é bem bonita.

O homem acena para Eril enquanto se afasta, carregando a âncora.

Algum tempo se passa, Kore e Voughan retornam. Voughan se gaba, enquanto Kore está cabisbaixo e um tanto irritado.

— Há, há, há, há… Como você é lento, verminho. Da próxima vez eu correrei puxando uma carroça junto, para ficar mais equilibrado.

— Puxar carroça cai bem pra você, mas acho que os cavalos são mais inteligentes.

— E você, que nem deve ter força pra puxar uma.

Uma voz conhecida interrompe a briga.

— Hei, garotos, parem de brigar por um instante. — diz Eril, que passava por eles, enquanto carrega alguns livros.

— Ah, Eril, estava procurando por você. — responde Kore, abrindo um sorriso no rosto. — O que são esses livros?

— Vamos ter de ficar nessa cidade por quatro dias, então peguei alguns livros para estudar magia, neste meio tempo.

— Boa ideia, vou procurar um lugar para treinar. Preciso ficar mais forte.

— Precisa mesmo. — completa Voughan.

— Ninguém pediu a sua opinião.

— Eu posso dar minha opinião porque sou mais forte.

Eril respira fundo e apenas continua caminhando, enquanto o monge à observa com um certo brilho no olhar.

Durante o dia, o trio conhece a cidade, Kore encontra um campo aberto, que ele utiliza para treinar, Voughan sai da cidade, indo para a parte rochosa da montanha próxima, onde treina carregando pedras, Eril fica na praça central da cidade, sentada em um banco estudando magia com os livros alugados.

A noite cai e todos retornam ao ponto de encontro, uma estalagem próxima ao porto, onde nossos heróis repousam em seus quartos.

No dia seguinte, o Sol mal faz menção de aparecer no horizonte e uma movimentação no porto começa. Vários soldados se reúnem, adentrando em um navio com o símbolo do Império Mundial. Após uma checagem geral, o navio zarpa, mar adentro.

Enquanto o navio se afasta, uma figura espreita, oculta nas sombras, em cima de algumas pedras enormes próximas à costa. Utilizando uma luneta, observa de longe o navio do Império Mundial, se afastando da cidade e sorri.

O homem usa roupas velhas e rasgadas, uma camisa listrada de manga curta e um lenço vermelho na cabeça. Ele puxa da cintura uma espada, presa ao corpo por uma faixa azul, enrolada na barriga, e a levanta para o alto, refletindo os primeiros raios de Sol com ela na direção de outro navio, aportado na parte rochosa e escondido de todos.

O brilho é percebido por alguém no navio, que abre um grande sorriso.

— PREPAREM-SE, HOMENS. — grita o que parece ser o líder. — HORA DE SAQUEAR.

Todos os demais festejam, erguendo espadas e pistolas para cima, a âncora do navio é recolhida para zarpar, enquanto o vento faz tremular sua bandeira negra, com um desenho de uma caveira e ossos cruzados.

Na cidade, Eril acaba de sair de seu quarto. Ao descer as escadas, encontra Kore.

— Bom dia! — saúda o monge. — Estava esperando por você. Conheci um bom lugar aqui perto para o café da manhã.

Eril segue Kore até o local. O ambiente é bonito e bem decorado, várias mesas redondas capazes de comportar muitos clientes. A dupla escolhe uma mesa e sentam-se.

Em cima da mesa há o cardápio e ambos começam a escolher algo. Kore parece um pouco nervoso e olha seguidamente para Eril, que logo percebe haver algo estranho.

— Você quer me dizer alguma coisa? — pergunta, desconfiada.

— Eu? Bem, é que… Sim. Tenho algo para dizer.

— Sou toda ouvidos.

Kore parece um tanto sem graça, ele se ajeita na cadeira, preparando-se para falar.

— Eu… quero dizer, nós… Eu estava pensando… Nós já estamos nessa jornada à alguns dias e, nesse meio tempo, eu passei a te admirar muito. Eu estava pensando se… de repente, nós…

O monge fica em silêncio por alguns instantes, sem conseguir completar a frase.

— Nós…? — insiste Eril, curiosa, para que ele prosseguisse.

— Certo, eu estava pensando se nós dois poderíamos…

Neste momento, Voughan aparece, interrompendo a conversa, enquanto caminha até eles de forma escandalosa.

— OOOOOOÊÊÊ!!! ENTÃO VOCÊS ESTÃO AÍ! — berra o shamarg, do outro lado da rua.

Não acredito! — pensa Kore. — Como ele nos achou? Logo agora?

— Meu olfato me disse que vocês estavam por aqui. O que estão fazendo? Vieram comer sem me convidar?

— Er… Você estava dormindo, não quis te acordar. — responde, disfarçando.

Vamos ver o que eles servem aqui. — diz Voughan, puxando o cardápio das mãos de Kore. — Ah, não preciso disso. QUERO CARNE! MUITA CARNE! — berra para o garçom, que logo se aproxima da mesa.

— Hei, você tem dinheiro para pagar? — pergunta Kore.

— Tenho três moedas.

— O que? Acha que vai comprar o que com três moedas?

Voughan puxa de sua pequena sacola, presa à cintura por uma corda, as três moedas e as joga em cima da mesa.

— O que eu consigo de carne com isso?

Kore olha as moedas e nota que não são moedas comuns, de cobre.

— Hei, essas moedas não são de cobre, são de bronze. Isso é bastante dinheiro.

— Ah é? Qual a diferença?

— Moedas comuns são feitas de cobre. Cada moeda de bronze vale o equivalente à cem moedas de cobre. Você tem trezentas moedas de cobre aí.

— Que confusão. Moedas são moedas.

— Seu povo não conhece o sistema monetário dos reinos, Voughan? — pergunta Eril.

— Sistema o que?

— Não é muito complicado. — continua o monge. — As moedas de diferentes materiais tem valores diferentes, de acordo com a sua raridade. Como eu disse, uma moeda de bronze equivale à cem moedas de cobre. Assim como uma moeda de prata equivale à cem moedas de bronze e, por sua vez, uma moeda de ouro equivale à cem moedas de prata. Há também as moedas de diamante, que valem cem moedas de ouro, mas essas são só para a realeza e para os nobres. Gente como nós jamais vai chegar perto de uma dessas.

Por algum motivo, Eril parece ficar um pouco incomodada com o assunto.

O trio acaba por fazerem seus pedidos, incluindo Voughan, que pede uma quantidade enorme de carne, que come vorazmente, usando as mãos.

Kore e Eril ficam espantados pela quantidade de comida que o shamarg consegue ingerir.

— Hei, Voughan! — inicia Eril, ao notar as pulseiras de metal escuro do shamarg. — Estas pulseiras que você usa não parecem de um metal comum.

— Elas também me chamaram a atenção. — continua Kore. — Elas fazem alguma coisa ou são só efeite?

— Também tenho pulseiras no tornozelo. — diz o grandalhão, colocando um dos pés em cima da mesa.

— Se estão no tornozelo não podem ser pulseiras.

— São o que então?

— São… tornozeleiras… eu acho. Enfim, o que elas são?

— Não fazem nada especial. É só uma lembrança de alguém que eu conheci.

— Quem diria, um shamarg com emoções.

— Vê se não enche. — resmunga, enquanto continua comendo.

Assim que terminam, o trio percebe uma movimentação estranha na cidade. Indo para fora do estabelecimento, é possível avistar cinco navios piratas, aportados na cidade.

As pessoas correm para todos os lados, fugindo do ataque.

Os piratas não destroem nada nem ferem as pessoas, mas os ameaçam, fazendo com que entreguem seus pertences. O ataque parece estranhamente organizado.

— Mas que droga! — Exclama Kore. — Primeiro os bárbaros, agora piratas?

— Aaaaaah! Ação, finalmente. — festeja o shamarg, estalando os punhos e já correndo na direção do porto.

— Isso não é assunto nosso, droga. — diz Kore, enquanto cruza os braços.

Kore vai ficando mais nervoso e, mais uma vez, é vencido por sua consciência.

— Droga, droga, droga!

O monge também corre na direção do porto, deixando Eril para trás. Ela observa com um certo ar de desconfiança, sem dizer nada.

No porto, um homem que se destaca entre os piratas, parece ser o primeiro imediato do capitão. Ele é um elfo magro e muito alto, mas com porte físico atlético, cabelos negros compridos e lisos. Sua vestimenta é mais nova e bem cuidada e usa um cachecol no pescoço, cuja ponta, voltada para trás, quase toca o chão, destoando completamente do resto da vestimenta. No lugar de sua perna direita, começando um pouco abaixo do joelho, ele possui uma prótese de metal que vai afinando ao se aproximar da extremidade e sua ponta é levemente achatada.

Enquanto os demais piratas saqueiam as pessoas e as casas, o imediato apenas observa, com as mãos para trás, caminhando calmamente em meio ao tumulto, com uma expressão séria.

Neste momento, o senhor que conversou com nossos heróis no dia anterior, sai de dentro de um galpão do porto, carregando uma âncora no ombro. Ele parte para cima dos piratas os golpeia com a âncora, lançando vários deles longe com apenas um golpe. Ele repete o processo, derrotando diversos oponentes de uma vez só, os piratas colocam suas espadas na frente para se protegerem, mas a pesada âncora, aliada à força empregada, as destrói facilmente, quebrando-as em pedaços.

No terceiro ataque, de forma inesperada, o movimento da âncora é cessado pelo primeiro imediato, que detêm o ataque com sua espada, demonstrando ter muita força e uma espada com resistência fora do comum.

O imediato aproveita-se do momento e golpeia com a ponta de sua perna de metal, atingindo o abdômen do oponente, que cai para trás, mas ainda segurando sua âncora.

O senhor, se contorce pela dor, mas logo se levanta.

— Saiam da nossa cidade, demônios.

O imediato apenas observa. Seu olhar continua sério, mas agora beirando ao insano.

Enquanto isso Kore vem pelo caminho, nocauteando diversos piratas. Alguns puxam pistolas e disparam contra ele, que salta para dentro de uma casa pela janela, quebrando o vidro da mesma, para se proteger dos tiros. Alguns instantes após os tiros cessarem, ele salta para fora novamente, já em disparada para cima dos atiradores, que eram três. Kore derruba o do meio, com um forte soco no rosto e então chuta os outros dois, um com cada perna, ao mesmo tempo.

Alguns guardas da cidade entram na batalha e logo percebem que Kore está do seu lado.

Um dos guardas prepara uma mini-catapulta. Ele a posiciona, carrega com uma bola de ferro incendiada e dispara, em meio aos piratas, porém, uma figura sinistra detêm a bola de ferro em chamas, pegando-a no ar apenas com a mão, deixando os soldados espantados.

A figura se trata de um elfo alto e muito musculoso (algo fora do normal entre elfos que geralmente são esbeltos), totalmente careca (o que também é estranho, pois elfos são conhecidos por possuírem cabelos de beleza invejável), só é possível perceber que ele é loiro pela cor de suas sobrancelhas e cavanhaque. Olho com um tom azul acinzentado, seu rosto, castigado pelo Sol e pelas batalhas tem um ar autoritário e intimidador complementado pelo tapa-olho que cobre sua vista esquerda. Calçando botas de couro, uma calça azul com listras brancas, um tanto larga na barra, um cinto quadrado prateado, sem camisa mas com um comprido casaco imponente de capitão, que utiliza aberto. Em uma das mãos carrega seu chapéu, que condiz com seu posto e na outra mão a bola de ferro, ainda em chamas, que acabara de interceptar. Na cintura ele carrega uma pistola e uma espada.

O líder dos piratas se aproxima e então lança de volta a bola de ferro em chamas, atingindo a mini-catapulta, destruindo-a.

Os soldados, apavorados com o feito, correm para longe, deixando apenas Kore, frente à frente com o capitão. O monge o encara por alguns instantes, analisando-o.

— Você tem coragem, garoto. — diz o pirata, com um sorriso no rosto. — Enquanto os outros fugiram você sequer deu um passo pra trás.

— Eu agradeço por você ter vindo até aqui, me poupou trabalho de te procurar. Se eu te derrotar os outros piratas vão bater em retirada. Além do mais, estava precisando de um treino mesmo.

— Agora estou em dúvida se você é corajoso ou apenas um idiota.

— Você não parece ser tão forte quanto o Abgard. Acho que posso com você.

— Não sei quem é esse Abgard, garoto, mas sugiro você tenha mais respeito quando se dirigir à um adulto.

Em outro ponto da cidade, o primeiro imediato está vencendo a luta contra o senhor com a âncora, que está de joelhos, enfraquecido, tendo alguns hematomas e cortes pelo corpo.

O imediato aponta sua espada para o derrotado, subjugando-o.

Um estrondo chama a atenção do pirata, que olha para sua direita, avistando algo que desce ladeira à baixo, deixando um rastro de poeira no caminho.

Os demais piratas que ficam no caminho são arremessados longe. Quando se aproxima, o imediato consegue enxergar o que causou aquele tumulto, era Voughan, correndo como uma locomotiva desgovernada, com um enorme sorriso no rosto, deixando um rastro de destruição por onde passa.

O shamarg se aproxima do imediato, salta e então tenta esmagá-lo com ambos os pés, mas atinge apenas o solo, abrindo uma cratera. O imediato, que desviou à tempo, ataca Voughan com sua espada e atinge-lhe o braço, porém, causa apenas um arranhão na couraça que cobre a pele do shamarg.

— Não pode me ferir com esse palito. — retruca o grandalhão.

O Imediato tenta um segundo ataque, que atinge o peito do oponente, desta vez, deixa uma fenda um pouco mais profunda, mas ainda sim, não chega a feri-lo.

— Já disse que não adianta. — repete, enquanto parte para cima do imediato, tentando golpeá-lo com o punho.

O imediato é ágil e desvia do ataque, passando por baixo do punho enquanto golpeia novamente com a espada, atingindo a lateral do corpo de Voughan, novamente criando uma fissura.

Ele se afasta, percebendo que seus ataques não estão surtindo efeito e parece analisar o oponente por alguns instantes. Seu foco é quebrado quando Voughan lança uma pedra do chão, em sua direção e em seguida avança tentando atingi-lo com um chute. O pirata desvia da pedra, dando um passo para o lado e também do chute, saltando para trás. Ele então prepara seu golpe e mira na primeira fenda que criou no corpo do shamarg. Utilizando um ataque com mais força, a espada atinge exatamente a fissura, demonstrando grande habilidade do imediato. Desta vez, um pouco de sangue espirra pelo corte e isso parece irritar Voughan.

O shamarg percebe o homem caído no chão portando uma âncora, assistindo o combate. Sem pedir consentimento, Voughan toma do homem a âncora, enrola a corda que está presa à ela em seu pulso e a segura como se fosse um bastão, sustentando-a com apenas uma mão.

— Você até que é forte para um verme.

O imediato continua em silêncio, apenas observando, com uma expressão séria mas com os olhos esbugalhados, lhe dando um ar um tanto insano.

— O que foi? O gato comeu sua língua?

Sem obter uma resposta, Voughan ataca com a âncora. O imediato tenta defender com sua espada, como fizera contra o seu primeiro adversário, porém, a força de Voughan é muito maior e atinge sua espada com força, lançando-a no ar, desarmando-o. Voughan tenta um segundo ataque, o pirata desvia abaixando-se e então chuta o ferimento do oponente com sua perna metálica. No momento do chute, uma ponta de lâmina sai da extremidade de sua prótese, tornando-a uma arma, perfurando e aumentando o ferimento de Voughan.

O imediato salta rolando para o lado e consegue recuperar sua espada. Voughan, já furioso, lança a âncora, segurando-a pela corda, em um golpe vindo pela lateral do oponente, que salta por cima, desviando. A âncora prende em uma árvore logo atrás do pirata e, quando o shamarg puxa sua arma de volta, a árvore cai na direção do oponente que, surpreendido, escapa no último segundo. Ao desviar da árvore, o pirata acaba perdendo Voughan de vista e, quando o vê novamente, ele já está em sua frente. Sem ter tempo de reação, o imediato é atingido no estômago com um poderoso soco que o lança contra uma casa. O pirata atravessa a sólida parede de material da residência, sendo derrotado imediatamente.

A expressão de Voughan muda para a de alegria, com um largo sorriso no rosto.

— Há, há, há, há, há… Isso foi ótimo. É uma pena vocês vermes serem tão frágeis. Queria me divertir mais um pouco. — diz enquanto devolve a âncora para seu dono, que fica boquiaberto com a força do shamarg.

Enquanto isso, Kore é atacado pelo capitão, que golpeia várias vezes com sua espada. Kore desvia com dificuldade, até que se abaixa e rola para o lado, ficando próximo de um pirata desmaiado no chão.

Pegando a espada do pirata, Kore volta para a luta. Ambos golpeiam e as espadas se chocam com força no ar.

— Achei que monges só usassem o corpo como arma. — provoca o capitão, sempre com um sorriso no rosto.

— Monges usam apenas o corpo, mas também somos treinados com todo tipo de arma, para sabermos como enfrentá-las. — Kore se afasta e faz uma postura de luta diferente, segurando a espada em sua frente com uma mão e a outra apoiando a base da espada em baixo. — Mas pro seu azar, eu sou filho de uma samurai, antes de ser monge fui treinado para usar espadas.

— Ah é? E que tal isso? — diz o capitão pirata, enquanto puxa sua pistola e dispara duas vezes contra o monge.

Num movimento rápido, Kore desvia do primeiro tiro e então rebate o segundo com a espada. Uma gota de suor escorre por seu rosto.

Balas ainda são muito rápidas pra mim. — pensa o monge. — Não posso perder o foco ou vou acabar levando um tiro.

— Muito bom, você é ágil. Mas ainda tenho quatro balas. Pode evitar todas enquanto lutamos?

O pirata ergue sua espada e então a abaixa com força, golpeando o chão e lançando uma onda de energia cortante que percorre o solo na direção de Kore, deixando uma fenda por onde passa. Kore salta para o lado para desviar e, enquanto ele ainda está no ar, o pirata dispara novamente com sua arma.

Extremamente focado, Kore consegue rebater o tiro com a espada.

Kore nota que aquele golpe é o mesmo utilizado pelo Bárbaro Abgard e percebe que o oponente à sua frente é forte.

Enchendo-se de coragem, o monge avança para cima do inimigo, novamente trocando golpes de espada. Kore divide sua atenção entre a espada e a pistola, acabando por não conseguir desviar totalmente de um ataque da lâmina, que fere um pouco seu braço. O pirata aponta sua arma para Kore, que desvia para o lado, de forma a não ficar em sua mira, porém, foi um blefe apenas para distrair o monge do próximo ataque. O pirata chuta Kore no peito, lançando-o longe. Ainda com ele no ar, o capitão dispara novamente. Kore tenta girar o corpo no ar, mas consegue apenas evitar um dano mais crítico, sendo atingido no ombro.

Ao cair no chão, imediatamente ele rola para trás de uma árvore. Kore aperta o punho e o relaxa, repetindo algumas vezes, verificando o tamanho do dano, cada vez que faz o movimento da mão o ombro parece doer, mas nada que ele não possa aguentar.

Ele respira fundo e então sai de seu abrigo em disparada na direção do capitão pirata. Percebendo que está novamente na mira da pistola, Kore lança sua espada contra o inimigo, que a rebate no ar. Kore aumenta a sua marcha, chegando mais rápido do que o oponente imaginava e então chuta a mão do capitão, que deixa cair sua arma. Aproveitando a surpresa do inimigo, o monge desfere um forte soco no abdômen do pirata, que parece sentir o golpe, e prossegue atacando, com o outro punho, socando o inimigo no rosto e fazendo com que seu enorme corpo seja empurrado para trás, enquanto um pouco de sangue escorre pelo canto de sua boca.

Apesar de ter sentido os ataques e estando surpreso, o líder dos piratas não cai, ao invés disso, apenas limpa o sangue com a mão e torna a sorrir.

— Você é durão, garoto. Acho que vou ter de pegar pesado com você, mas não se preocupe, não vou te matar, só quebrar alguns ossos.

O pirata ergue a espada novamente, mas antes que abaixasse, alguém interrompe a luta.

— Parem vocês dois! — diz a voz feminina.

Kore olha para o lado e percebe Eril, correndo na direção do embate, estranhamente ela está com um sorriso no rosto. Confuso, o monge entende ainda menos quando a garota abre os braços esperando por um abraço. Ele fica ruborizado e sorri, porém, a garota passa ao seu lado e salta sobre o capitão pirata, que abraça a garota, a levantando no ar.

O monge fica boquiaberto, sem entender o que estava acontecendo.

— Minha Eril, mas que surpresa feliz. — diz o capitão pirata.

— Quando eu vi os navios desconfiei que era você ... papai. — Ainda o abraçando.

— PAPAI??? — indaga Kore, sem entender mais nada.