Isabella sempre havia se orgulhado por ser uma menina forte e de grandes princípios. Era bem sabida por ser cabeça dura e persistente; uma mente brilhante e um coração de ouro com sonhos de sobra guardados nos bolsos.

Tudo isso lhe fora roubado pouco mais de um mês depois que descobrira a grande verdade sobre o lugar em que vivia. O porquê de ninguém manter contato após deixar o orfanato.

Foi após seu aniversário de onze anos e em cima de um muro à beira de um penhasco, quando se questionou pela primeira vez o motivo de sua existência. Foi também o dia em que perdera completamente as esperanças de liberdade.

Um dia após Leslie ter partido — de cabeça erguida e um sorriso no rosto, levando consigo a música e seu coração — Isabella havia se entregado.

Não havia um plano a ser seguido, não havia um lugar para onde fugir, não havia alguém que pudesse lhe socorrer. Isabella estava decidida e irremediavelmente sozinha. E talvez fosse por isso que ela se viu cedendo e voltando para os braços de sua mamãe.

Isabella aceitara o desespero e dera as boas-vindas à resignação.

Talvez fosse por isso também que, dois meses depois desse fatídico dia em cima do muro, quando chegada sua vez de ser adotada, Isabella se agarrou a última oportunidade de sobreviver que lhe fora entregue.

E foi o que fez.

Mesmo muitos anos depois, enquanto murmurava a canção que Leslie havia lhe confidenciado e acariciava o ventre onde seu filho crescia — quando a vida parecia dolorosa e cruel demais para ser vivida — sua decisão de sobreviver (mais do que todos) permaneceu.

Lhe parecia irônico entender o real significado de sua existência tantos anos depois em cima do mesmo muro, enquanto assistia quinze crianças realizarem aquilo que tanto desejara em sua infância.

Não saberia dizer se era destino ou coincidência estar a presenciar aquele momento, mas a verdade é que não lhe importava realmente. Não mais, pelo menos.

Retirou os tecidos das árvores e apagou quaisquer traços de que as crianças houvessem escapado por ali, e à medida que retornava para o orfanato e para as outras crianças, se permitiu — pela primeira vez em muito tempo — pensar em Leslie.

E enquanto murmurava a música composta pelo menino que amara para os pequenos dormirem, não podia deixar de pensar que talvez as coisas tivessem sido diferentes se não estivesse sozinha tantos anos atrás.

Isabella olhou para a casa em chamas não muito distante de onde estava e um único pensamento lhe cruzou a mente; se arrependia por não ter tentado mais.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.