Alguns meses depois…

Meu aniversário será amanhã, mas não estou em clima de festa. Os únicos que comemoravam eram a Gina e o Neville. Bem, comemoravam em suas cabeças, porque a atmosfera do lugar não dava oportunidade de comemorações.

A situação em Hogwarts piorava a cada dia. Tivemos que suspender as ações da AD, porque a vigilância nos corredores aumentaram duas vezes, Dementadores agora andavam livremente por eles, só eram proibidos de transitar na escola no horário escolar. E para piorar o que já estava ruim, a Luna ainda está desaparecida. Perguntei um milhão de vezez a Draco se ele sabia de algo, até porque, apesar de tudo, ele continua sendo um Comensal da Morte, mas ele sempre negava. O que era estranho, mas sabia que ele não mentiria para mim.

- É amanhã! – Neville falou assim que me viu no Salão Principal. – E depois é a Páscoa… É uma semana de comemoração, não?

- Acho que sou a única que não está afim de festa, ou coisa do tipo. – Falei – Não tenho onde passar a Páscoa mesmo…

- Pode ficar aqui comigo. – O rosto de Neville se iluminou com a ideia.

- Com dementadores em toda a escola? – Indaguei.

- Podíamos ir na Sala Precisa. – Seus olhos brilhavam como nunca. – Tenho mesmo que te mostrar uma coisa.

- Vou ver com certas pessoas.

- Lê-se Gina e Draco, não é? – Perguntou, como se não fosse óbvio.

- É! – Caímos na gargalhada, o que foi bom de se ouvir em tempos como esse.

***

- Você bem que podia passar lá em casa… - Gina convidou.

Estavámos no nosso tempo livre, junto com Draco.

- Ou então, lá em casa. – Draco falou. Mas pareceu mudar de ideia no mesmo instante. – Pensando bem, é melhor ir para casa dela.

- Porque essa mudança de ideia tão rápida? – Perguntei, estranhando. Ele parecia esconder algo.

- Nada. Só acho melhor. – Falou, e percebeu que não havia me convencido. – A situação na minha casa não é das melhores. – Tentei ficar satisfeita com a resposta. Ele caiu.

- Tudo bem, mas vou passar aqui no colégio mesmo. – Isso fez os dois arregalarem os olhos.

- Mas não é perigoso? – Gina perguntou.

- Vou ficar na Sala Precisa junto com Neville. – Expliquei.

- Com Neville? Porquê? – Draco Malfoy com ciumento… Tenho que conviver com isso todos os dias.

- É. Algum problema? – Perguntei.

- Nenhum. – Tirou-me do seu colo e foi em direção ao castelo.

- Nossa, que estresse. – Concordei. – Será por causa da culpa que sente ou por ciúmes mesmo?

- Culpa? – Isso despertou minha atenção.

- É. Ou sou a única que acha que ele esconde algo? – Olhou sugestivamente para mim.

- Não, não foi a única. – Ficamos em um silêncio desconfortável. Até que fiz a pergunta principal: - Mas você acha que ele mentiria para mim?

- Depende do que ele quer esconder. – Falou.

- Nada de depende, Gina. – Falei um pouco mais alterada. – Sim ou não?

Olhou-me como se pedisse desculpas. – Não sei, Bella. Talvez sim. Mas não o conheço para dizer com certeza. – Falou. – Mas acho que você sente algo. O que sua intuição diz?

Não respondi. Sabia bem o que minha intuição estava dizendo, e torcia para que ela estivesse errada.

***

Passei o dia com isso martelando em minha cabeça. A ideia de Draco estar mentindo para mim, era insuportável, e me deixava com uma raiva imensa. Qual o problema de passar a Páscoa em sua casa? Só tinha três possibilidades. Primeiro, Voldemort poderia estar na sua casa, e como, supostamente ele me quer, Draco preferiu que eu ficasse aqui. Segundo, Bellatriz provavelmente quer ter o prazer de me matar pessoalmente, e, indo à casa dele, com certeza ficaria mais fácil. E, claro, a terceira, e pior das possibilidades. Existia alguma coisa que ele não queria me contar, que quer esconder de mim a todo custo.

E se essa for a resposta, não vou descansar até saber o que é.

***

- Novidades, vou passar a Páscoa com você. – Disse abraçando Neville. Ele tinha o melhor abraço de todos.

- Sério? – Seu rostinho se iluminou.

- Sim. Falei com a Gina e o Draco sobre isso, e eles concordaram que de certa forma, seria bom ficar aqui mesmo… - Falei, tentando ao máximo, omitir fatos como o de estar achando que Draco está mentindo para mim, e claro, o ataque de ciúme ou outra coisa que ele deu.

- Tão fácil assim? – Perguntou, desconfiado.

- Não tão fácil, mas o que importa é que vou ficar por aqui mesmo… - Enrolei.

- Certeza? – Brincou.

- Dá para parar? – Praticamente gritei.

- Tudo bem, sem problemas. Pode deixar, estressadinha! Não toco mais no assunto. – Apressou-se em dizer.

- Acho bom. – Ele começou a rir.

Andamos na direção do Salão Principal, ele com seu braço passado por meu ombro.

Assim que chegamos lá, não acreditei no que vi. Uma faixa escrito: “ FELIZ ANIVERSÁRIO BELLA!” foi conjurada bem em cima da mesa da Grifinória, e no centro da mesa, via-se um bolo enorme. E pela primeira vez desde que entrei no colégio, vi um Sonserino sentado àquela mesa. Nesse momento, qualquer uma de minhas preocupações com Draco e todas as coisas foram embora, dando lugar a uma felicidade indescritível.

- PARABÉNS! – Todos gritaram. Não sei porque, mas olhei imediatamente para a mesa dos professores. E para minha total surpresa, vi Snape com um mini-sorriso no rosto. Quando me viu olhando-o piscou pra mim. Não pude deixar de sorrir.

Uma coisa estranha que acontecera nos últimos meses, foi que meu sentimento por Snape que antes não tinha espaço para outra coisa, a não ser raiva e ódio. Havia dado lugar a outras coisas, como compaixão, respeito e, por mais que pareça idiotice, perdão. Até porque, se meu avô confiava nele, quem sou eu para contestar? Inacreditável, não? Mas, claro que ninguém sabia disso, apenas eu e ele.

- Parabéns, Bella. – Neville me abraçou e Gina também.

- Obrigada, gente! – Agradeci com o maior sorriso do mundo.

- Meus parabéns, senhorita Dumbledore! – Draco desejou, com seu típico sorriso de lado. Que, cá entre nós, é o mais lindo do mundo.

- Obrigado, senhor Malfoy. – Agradeci, ganhando um beijo dele. – E o presente? – Perguntei depois de algum tempo de carinhos.

- Está na sua frente. – Falou, enquanto me abraçava.

- Nossa, muito engraçado! – O empurrei.

Nos sentamos na mesa, não antes de eu receber parabéns e abraços do que julguei ser um exército inteiro.

- Já que as congratulações terminaram… Vamos ao jantar. – Snape anunciou.

Partimos o bolo e distribuimos à todos. Comemos na maior alegria, como se não ouvesse amanhã.

E, por mim, não teria. Estava feliz com meus amigos ao meu lado. Só sentia falta da Luna, Mione, Harry e Rony, mas sabia que eles estavam torcendo por mim onde quer que estivessem, do mesmo que estou torcendo por eles. E também, só de ver a felicidade nos rostos de Gina, Neville e Draco isso já me deixava feliz. Mesmo que o último falasse apenas o necessário com os outros e depositava sua atenção totalmente em mim.

- Parabéns, querida! – Minerva falou.

- Obrigada, professora. – Levantei, e dei-lhe um abraço.

- Estou tão orgulhosa de você, minha querida. – Falou e me abraçou mais uma vez. – Sei que seu avô também está. E gostaria muito de estar aqui. – Sussurou em meu ouvido, de modo que fui a única a ouvir.

- Eu sei. – Respondi, agora com lágrimas nos olhos. Falar dele sempre causava isso. – Ele sempre disse isso. Dizia que queria estar vivo para me ver chegando na maioridade, sair de Hogwarts, seguir a carreira que eu amava… - Desabafei. Era bom poder contar com alguém como ela. Alguém que sofreu tanto quanto eu pela perda de alguém como o vovô.

- Não se preocupe, ele está cuidando de você agora. – Falou, antes de dar-me um beijo na testa e voltar à mesa dos professores.

- Sabe, sempre gostei da professora Minerva. – Neville falou. – É uma mulher e tanto.

- É. – Concordei. – Uma mulher e tanto. – Acrescentei.

- Sabe, eu também sempre gostei do Snape. – Draco falou fazendo careta. Instantaneamente caímos na risada.

Continuamos a falar besteira até que Draco pediu para acompanhá-lo.

- O que foi? – Perguntei, enquanto me guiava pelos corredores em direção ao jardim.

- Quero mostrar uma coisa. – Respondeu. – Vem!

Assim que chegamos aos jardins, agradeci mentalmente por estar com a capa, caso contrário, iria congelar.

Draco me levou até uma toalha estirada no chão perto de uma árvore e do Lago. Sentei e o olhei.

- Gostou? – Perguntou usando Oclumência.

- Do bolo ou algum salgado? Seja mais específico. – Respondi irônica. Ele riu.

- Ainda não me acostumei com esse seu jeito sabe. – Não entendi essa. – Sei lá. Esse seu jeito brincalhão e ao mesmo tempo irônico. Além da força que você tem, que sinceramente, admiro muito.

- Força que eu tenho?

- É, não sei se conseguiria suportar as coisas pelas quais você passou, sabe… Você é, provavelmente, a pessoa mais forte que conheço. – Explicou.

- Nunca tinha falado isso pra mim. – Falei.

- Tô dizendo agora. – Me assustou ao falar em voz alta.

- Porquê? – Quis saber.

- Não sei. Só… senti vontade de dizer isso. – Falou.

- Hum… - Falei. – Mas sabe, de certa forma você é tão forte quanto eu.

- Como assim?

- Você sabe. Ter que suportar o que você suportou. O desleixo do seu pai, as ameaças dirigidas à sua mãe, e, acima de tudo, fazer as pessoas acharem que não se importa com elas. – Ele ficou calado. – O que foi?

- Você parece tanto com seu avô… - Sussurou. – Você é tão boa. Tão prestativa!

- Porque todo mundo diz isso? – Perguntei.

- Acho que por ser verdade. – Respondeu.

- E isso é bom?

- De certa forma, sim. – O olhei sem entender. Continuou. – Mas ao mesmo tempo, pode ser ruim. Na guerra por exemplo, isso pode te atrapalhar, te fazer hesitar. E um segundo, é muito tempo nessas horas. – Explicou. – Não aguentaria te perder. – Acrescentou.

- Você não vai me perder. – Falei.

Se aproximou de mim e me beijou. Dessa vez, diferente de todas as outras. Foi um beijo urgente, como se ele sentisse que poderia me perder a qualquer momento, e isso o estivesse matando.

- Eu te amo. – Meu coração batia como se fosse saltar do peito a qualquer momento. Era a primeira vez desde que começamos a namorar que ele falava isso com todas as palavras. Palavras sempre sentidas, nunca faladas.

- Eu te amo. – Falei, antes de puxá-lo para mais um beijo. Paramos quando o ar faltou, apenas para ficar nos encarando.

- Ah, quase ia esquecendo de uma coisa. – Tirou uma caixinha preta de veludo de sua capa e me deu. – Feliz aniversário.

Quando abri a caixinha quase não acreditei no que havia dentro. http://www.polyvore.com/cgi/set?id=47766931

- É lindo! – Olhei para ele.

- É uma jóia de família. – Abri a boca para dizer que não podia aceitar, mas ele me interrompeu. – Antes que fale algo, minha mãe disse que era o melhor presente que podia dar, e que ela já queria há muito tempo dar esse colar à alguém.

- E porque à mim? – Perguntei.

- Porque você é a nora favorita dela. – Brincou.

- Como se eu não fosse a única… - Debochei. Dei-lhe um beijo. – É lindo, obrigada a você e sua mãe.

Ele sorriu. – Agora é melhor entrarmos, daqui a pouco dá o toque de recolher, e sabe o que isso significa não é?

- Dementadores. – Falei, estremecendo.

Levantamos e fomos em direção ao Salão Comunal da Grifinória.

- Até amanhã. – Se despediu.

- Até. – Me deu um beijo na bochecha e foi para as Masmorras.

***

O Salão Comunal estava cheio, todos eufóricos por ter pelo menos, um motivo pelo qual comemorar.

- Então, Bella. O que estava fazendo? – Lilá perguntou.

- Nada. Só conversando.

- Ok, como se eu acreditasse. – Falou baixinho. Resolvi ignorar o que ela dizia.

- Bella, que colar é esse? – Gina perguntou. O que atraiu a atenção de todos. Valeu, ruivinha.

- Vamos subir? Lá em cima te explico. – Puxei-a na direção da escada. – Obrigada pela comemoração pessoal.

- Então, conta conta conta! – Gina falou sentando na cama.

- O Draco me levou nos jardins, conversamos e ele me deu o colar. – Falei.

- E houve declarações, juras de amor? – Disse, tirando onda com a minha cara.

- Claro, planejamos até a data do casamento! – Falei.

- E claro, já decidiram que vou ser a madrinha né? – Brincou.

- Ainda não. Mas vou pensar no seu caso! – Rimos até o ar faltar.

- Mas, e quanto aquilo? – A ruivinha perguntou.

- O quê? – Perguntei, já sabendo do que se tratava.

- Sobre o fato de que, talvez, ele esteja mentindo para você.

- Não toquei no assunto. – Falei, e ela entendeu que não queria falar sobre isso.

Arrumamos nossas camas e fomos dormir. Porque Gina teria que acordar cedo amanhã, e eu havia prometido que ajudaria na bagagem. E também, porque estavámos cheias demais para ainda termos que lidar com a realidade.