A Última Dança

Capítulo único


"Toda minha agonia desaparece
All my agony fades away

Quando você me abraça em seu abraço
When you hold me in your embrace"

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A Última Dança

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Naquela época eu costumava apreciar as figueiras, suas folhas balançando conforme o vento gélido da noite fazia com que as árvores dançassem, eu me sentia grata por ter tal paisagem a minha disposição, logo eu, uma simples garota da cidade que no início odiou a mudança repentina. O interior de Oderion sempre foi lindo, enquanto o centro urbano cinza, sem vida, entristecido, a pequena cidade chamada de Cansas abrigava a maior diversidade de flores e frutos que eu já vi nesse país e olha que já morei em diversos lugares.

— Eliza, seu pai veio te buscar - suspirei ao ouvir a voz da senhora Mad a governanta do lugar ao qual estou junto ao ranger da porta recém-aberta eu não queria ir embora, não agora quando estou tão perto dele, o garoto de olhos negros e cabelo castanho seu sorriso simplório e sua falta de preocupação me tiravam do chão. Há exatos dois anos que o vejo passar pelos corredores do instituto ao qual estou e nunca tive coragem de falar com ele ou responder ao seu olhar e agora não havia mais esperança.

— Senhorita Eliza, eu já disse que seu pai está te esperando! Não me faça repetir novamente - sacudi a cabeça antes de seguir até a porta já que Madame Mad aparentava estar furiosa, desci as escadas com a mochila nas costas e a carta nas mãos me questionando se devia ou não lê-la, meu medo era não suportar suas cruéis palavras, por outro lado, eu não teria outra oportunidade sentei-me no primeiro degrau da escada, eu estava no topo onde era possível ver tudo e a todos desse imenso e vazio lugar. O som da minha relutância ecoou pelos corredores da construção vitoriana enquanto rasgava com cuidado o papel que no primeiro contato com seu interior me causou aflição, o cheiro de sândalo e limão arrepiou minha pele, desdobrei a folha com calma e corri meus olhos por aquelas palavras carregadas de sentimento:

Para, Eliza Avilar.

No primeiro solstício da manhã do dia 23 de dezembro de 2017 tudo mudou, pois essa foi a data em que descobri a natureza dos meus sentimentos, fossem eles correspondidos ou não. Eliza Figueiredo Avilar, o nome mais lindo que passou a abrilhantar meus olhos e ouvidos, com seus cachos em tom de carvalho e sua pele escura com o tronco das árvores ao qual adoro deitar-me na sombra, a garota de olhos brilhantes que jamais consegui afastar de meu coração e carregarei comigo para sempre, eu não espero que entenda porque eu demorei a assumir esse sentimento apenas acredite em mim quando digo que esse foi o ato mais difícil que assumi. Talvez se eu conseguisse deixar de lado tudo ao meu respeito, eu poderia te trazer a felicidade por um dia, ou quem sabe para sempre, mas agora tudo o que posso te oferecer são essas palavras carregadas do sentimento que nutri e nunca expressei.

Com carinho, Ângelo.

Minhas mãos tremiam ao final de tais palavras, eu senti meu coração bater tão forte enquanto minhas lágrimas manchavam o papel em minhas mãos, a dor em meu peito era tão grande assim como a sensação de culpa, me levantei e desci as escadas com calma, não conseguira chegar até o final, não nesse estado, respirei fundo encarando o mármore polido e olhei mais uma vez para corrimão de madeira polida, vislumbrei mais uma vez a casa totalmente enfeitada com as flores que levavam o nome da cidade, sussurrei ao vento palavras que faziam parte da música em minha mente e me deixei ser embalada pela doce melodia que vinha do meu coração.

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Pode parecer ridículo que uma garota como eu, justamente aquela que é conhecida por não se encaixar em nenhum meio social desse lugar, aquela que muitos ignoram, goste de clichês românticos, acho que simplesmente me acostumei com a ideia do final feliz ou da tentativa falha que serve de lição, suspirei ao pensar em como gostaria que algo desse tipo acontecesse comigo, alisei de leve o corrimão de madeira envernizado e polido da escada e fechei meus olhos como se o vento batesse em minhas pálpebras e simplesmente me instruísse, me conduzisse a fazer o que achava melhor, suspirei com a possibilidade daquele devaneio ser real e pela primeira vez sorri sem motivo ao sentir um toque cálido deslizar pelo meu braço, aos poucos abri meus olhos e senti meu coração bater mais forte com os olhos que impactavam todo o meu ser, virei minha cabeça lentamente contemplando o salão da entrada principal do instituto, o mesmo local que eu estava, repleto de luzes e ornamentos que envolviam o corrimão da escada, havia rosas-vermelhas nas quinas das paredes que se prendiam formando um entalhe, seu perfume exalava pelo local e assim como as rosas, ornamentos dourados caminhavam entre elas e seguiam pelas paredes recém pintadas, com seus pendentes em formatos de estrela, lua e alguns pontos simbolizando as constelações a decoração em si remetia a um lindo salão de baile ao qual passei a admirar, não só pelos livros, mas nos filmes onde as damas têm seus corações disputados pelos nobres e bravos cavaleiros.

— Eliza não fique parada aí, todos estão nos olhando e você ainda não respondeu a minha pergunta - balancei minha cabeça ao ouvir aquela voz melodiosa e olhei novamente para os lados para ter a certeza de que se tratava de mim, o salão estava lotado mais eu não percebi, pois antes a decoração que surgiu num piscar de olhos prendeu a minha atenção e agora é a mão esquerda que continua a segurar a minha, eu queria me beliscar para ter a certeza de que isso era real, mas o medo de que fosse apenas um sonho e que ele simplesmente acabasse me deixou petrificada, Ângelo sempre fora o mais cortês dos homens e com um sorriso digno de um cavaleiro ele me conduziu degrau por degrau até que chegássemos ao centro do salão, olhei para todos aqueles rostos desconhecidos que prendiam sua atenção em nós e apertei sua mão de leve.

— Espera - pela primeira vez fui capaz de emitir algum som que não fosse o receio - Eu não estou vestida para isso - sussurrei ao lembras dos meus trajes, uma camisa jeans, uma calça do mesmo material e tênis branco. Ele deu uma leve risada e em seguida alisou a minha face.

— Doce Eliza nunca viu uma mulher tão bela em trajes tão distintos. Você está perfeita, na verdade, é perfeita - desviei meu olhar constrangido de seus lábios e mais uma vez minha mente pregou-me uma peça, pois em meu corpo havia um vestido branco com detalhes de cravos bordados a mão com uma leve fita de cetim acetinado que contornava toda a borda do vestido, aos meus pés saltos de 7cm na cor marrom clara que combinavam com a cor do bordado da peça estruturada em meu corpo, definitivamente o caimento era perfeito - Agora se não se importa, gostaria de dançar comigo? - Ângelo apoiou a mão direita em minha cintura enquanto a indecisão transbordava em mim - Se você estiver com medo, feche os olhos, ignore a todos e apenas imagine nós dois aqui e agora, como se ninguém mais existisse - seduzida pelo tom de sua voz eu atendi ao seu pedido e fechei meus olhos a modo de sentir sua respiração cada vez mais próxima da minha, coloquei minha mão esquerda em seu ombro apoiando apenas a ponta de meus dedos e a outra deixei que ele utilizasse para me conduzir e devo dizer que nunca senti minha alma tão leve enquanto ele me conduzia por aquele salão, meu corpo parecia levitar ao som do violino e eu desejei que esse momento nunca acabasse, desejei que a música fosse interrupta e que não houvesse fim, senti o toque suave de seus dedos deslizarem pela pele de meu braço enquanto me sentia uma bailarina em sua caixinha de música que pela primeira vez ousa desafiar seus medos e quebra a própria caixa se libertando daquele ciclo, um pássaro prestes a voar a sensação que pairava ao meu entrono enchia meu coração de boas vibrações que ressoavam por todo o meu corpo, não pude evitar sorrir e aos poucos abri meus olhos constatando mais uma vez que aquilo não era um sonho já que o brilho da noite continuou a me desvendar.

— Obrigada - sussurrei com a certeza de que ele havia entendido.

— Não sei por que não fizemos isso antes - ele sorriu ao me responder enquanto continuávamos a dançar por aquele salão vazio.

— Talvez por medo, ou simplesmente a oportunidade que não nos favoreceu - respondi olhando em seus olhos, eu procurava a todo o momento por alguma falha, antes que pudesse me dizer que isso acabaria da pior forma possível e não houve, ao invés disso, Ângelo sussurrou as palavras: "Há mais coragem em você do que se recusa a acreditar e talvez eu apenas tenha medo disso." - E com um singelo sorriso ele se aproximou novamente, dessa vez não houve sorriso apenas uma conexão profunda e meu consciente me avisando que eu estava no lugar certo, fechei meus olhos mais uma vez e lentamente elevei meus lábios, senti seu polegar contorná-lo com tanto cuidado como se tentasse memorizá-lo e em seguida o calor que emanava de sua respiração agraciar minha face assim como seus lábios que tocavam os meus com carinho. O beijo mais doce é o primeiro que lhe é dado, pelo menos foram essas as palavras que ecoaram em minha mente e no momento em que abri os olhos, senti lentamente o dorso de sua mão direita acariciar minha face mais uma vez.

— Adeus querida Eliza - essas foram suas palavras enquanto o toque de seus dedos se arrastavam pela minha pele e se distanciavam de mim e assim como ele tudo ao meu redor foi se desfazendo, as rosas aos poucos foram perdendo suas pétalas, os lustres dourados foram enferrujando e seus ornamentos de parede jaziam no chão como vidro quebrado, senti uma lágrima verter em minha pele e ao olhar para mim através do reflexo da janela percebi que até minhas roupas já não eram mais as mesma, senti meu coração acelerar e tudo ao meu redor escurecer, apertei o corrimão com força antes de voltar a mim e aquela casa enclausurada.

— Senhorita o que está fazendo aqui? Pensei ter deixado claro que seu tempo estava acabando - Madame Mad colocou a mão em meu ombro a modo de passar um pouco de sua sobriedade, respirei fundo enquanto encarava os degraus, a minha frente, lembrei mais uma vez das palavras de Ângelo e me apeguei a sua confiança reunindo assim a pouca força que me restava, dei os últimos passos que me tirariam daquele local e enfim toquei o salão, o mesmo salão de baile em que estava rodopiando há alguns minutos, com calma andei até a porta dupla frontal vislumbrando o piso polido do instituto, levei minhas mãos a maçaneta de ferro ornamentada que ostentava o brasão de Oderion assim como sua madeira bem cortada e desenhada, abri a porta e encarei a claridade, tudo era tão branco e, ao mesmo tempo, tão vazio que me questionei se deveria mesmo cruzar esse caminho.

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"Não tenha medo de suas tentativas falhas, pois elas lhe farão seguir em frente. Tenha medo da reclusão e daquilo que te impede de tentar, pois são eles que aprisionam o seu destino - queenthevampire"

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.