A Última Chance

Parte I - Capítulo 22 - Bônus I


Capitulo 22

Bônus I

Manalapan, dois dias antes

A mata densa não ajudava muito em relação á fumaça. Ela subia em espiral para o céu como se fosse uma corrida, e na verdade era. Mas não para a fumaça; não. Para ela não faria diferença nenhuma estar cercada de criaturas cambaleantes e nojentas. Mas para as duas mulheres paradas ali fazia.

Era quase impossível não ouvir os grunhidos horríveis que pareciam vir de todas as direções, e as duas empunhavam suas armas com uma convicção invejável. A primeira, com uma expressão determinada e concentrada, segurava sua arma e seu punhal com uma coragem espantosa; já a segunda, que carregava um sorriso bobo no rosto, parecia estar feliz como nunca, como se estar cercada por aquelas coisas fosse seu passatempo predileto.

- Você tinha mesmo que fazer aquilo e ainda bater o carro? – a primeira mulher perguntou entredentes, sem desviar os olhos de seu alvo.

- Ah, qual é, Taty... Você iria deixar aquelas fofuras morrerem? – a segunda perguntou com sua voz infantil de sinos, colocando uma mão sobre o coração – E não era minha intenção bater o carro. Ele era meu preferido, acha mesmo que faria isso de propósito?

Taty revirou os olhos, familiarizada com o jeito blasé da outra.

- As fofuras não podem morrer, mas nós podemos, Lola?

- Não diga besteiras, senhorita Legrand! Pessoas bonitas não morrem! – Lola bufou e revirou os olhos ao mesmo tempo.

- Mas não os conhecemos! E se eles fossem perigosos? Talvez tenhamos salvado-os para depois eles nos matarem.

- O que acabei de dizer? Pessoas bonitas não morrem. E eles não são perigosos. Se fosse não precisariam da nossa ajuda. Estavam completamente cercados naquele hospital! E eles nem nos viram.

- É claro! – Taty falou sarcasticamente – E agora somos nós que estamos cercadas.

- Você fala como se fosse uma estrela cadente roxa no meio do asfalto fosforescente invisível do céu verde. – Lola revirou os olhos.

Taty tirou os olhos dos zumbis á volta por um segundo, encarando Lola com uma expressão incrédula.

- Você sabe que oitenta por cento das coisas que diz não faz o menor sentido, não é?

Antes que a outra pudesse responder, um ronco foi ouvido, fazendo-as desviar a atenção. Logo um enorme jipe apareceu por entre as árvores, atropelando todos os errantes que estavam á frente, e mesmo com o ronco muito forte podia-se ouvir os gritos de divertimento que saiam dele. Ele deu uma guinada brusca e parou á centímetros das duas, que expressavam emoções contrárias; Taty indignada e Lola, indiferente, com seu sorriso acompanhando os olhos aéreos.

- Subam logo, gracinhas. – o homem que estava dirigindo o jipe sorriu maliciosamente, abrindo a porta do passageiro.

- Não dá para fazer mais barulho não? Acho que os errantes do Japão ainda não ouviram. – Taty falou com sarcasmo, jogando os cabelos ruivos para trás em sinal de irritação.

O homem, em resposta, apertou a buzina vezes seguidas, atiçando os zumbis que estavam ao redor.

- Agora ouviram. – ele falou sorrindo, pisando fundo no acelerador.

- Eu te odeio, Reed. – Lola falou sem qualquer emoção presente na voz.

- Eu também te odeio, pirralha. Agora cale a boca e escolham logo onde montaremos acampamento por enquanto.

- Detroit. – as duas falaram ao mesmo tempo. Já haviam conversado sobre isso nos últimos dias.

Reed virou por entre as árvores, continuando pela mata.

- Agora me expliquem como chegaram aqui. Quem foi a imbecil da vez?

- Eu! – Lola levantou a mão alegremente, e a usou para dar um forte tapa na cabeça de Reed – E me chame de imbecil novamente para ver o que acontece.

- Mas o que aconteceu?

- Lola viu três pessoas. Vivas. No hospital onde estávamos e fez questão de salvá-los. Ela fez um escarcéu para chamar a atenção deles, e conseguiu. E como se não bastasse ainda bateu meu carro. – Taty explicou calmamente, colocando suas armas sobre o painel do jipe e relaxando no banco.

- Tinha alguma mulher bonita? – Reed perguntou com seu sorriso malicioso.

- Você só pensa nisso? – Taty fez careta.

- Exatamente. – ele concordou – Mas tinha ou não? Porque se não tiver, não valeu á pena.

- Acho que tinha um garotinho e outro homem... E tinha uma garota também. – Lola falou pensativa.

- E era bonita? – o homem perguntou impaciente, revirando os olhos.

- Me desculpe, eu não sou lésbica. Então não, eu não reparei nisso.

Sem dizer mais nada, Reed virou de uma forma nada gentil na rodovia, dirigindo em direção aos enormes prédios que compunham a cidade que deveriam evitar a todo custo, mas com a mente em outro lugar, imaginando coisas que não deveria.