A Última Chance

Parte I - Capítulo 18 - Noite


Capitulo 18

Noite

Meu corpo tremia violentamente, debruçado sobre a pia do banheiro.

Estava sozinha no quarto há alguns minutos; pelo menos eu achava que eram minutos. A dor não passava, e perante á isso o tempo não era nada; era apenas uma sentença a qual eu teria que aguentar até que chegasse a minha vez.

Olhei minha imagem no espelho, me dando um gosto amargo. Meu estado deplorável não dizia nem metade do que estava em meu interior; os olhos vermelhos e com profundas olheiras denunciavam a quantidade enorme de choro, os cabelos bagunçados e com mechas apontadas para todos os lados e ângulos juntamente com o olhar psicótico e apele pálida e brilhante pelo suor faziam com que eu parecesse insana. E era exatamente assim que eu estava. Insana.

Joguei um pouco de água no rosto para tentar melhorar tanto a aparência quanto o nervosismo e sentei no chão, encostada na parede. Respirei fundo algumas vezes e levei as mãos trêmulas á cabeça. Olhando para ela, lembrava do tiro que eu havia disparado contra Emma, o barulho ecoando em minha mente.

Levantei-me depressa tentando expulsar tais lembranças, e numa onda de raiva empurrei tudo o que estava na bancada para o chão, fazendo um enorme estrondo ecoar pelo lugar e minha mão, que já estava machucada, doer ainda mais.

- Droga... – resmunguei com a voz chorosa, limpando uma lágrima insistente.

- Está tudo bem? – alguém perguntou do outro lado da porta.

- Está sim. – respondi estabilizando minha voz e tentando retirar os vestígios de choro de meu rosto e prender meu cabelo (não deu muito certo).

Abri a porta encontrando Ethan sentado e minha cama, com um olhar preocupado e analisador, observando-me dos pés á cabeça como se procurasse algo que me incriminasse.

- Precisamos conversar. – ele falou com a testa franzida de preocupação. – Agora.

Puxei a cadeira da penteadeira e a coloquei de frente para ele, me sentando.

- O que aconteceu agora? Ah, deixe-me adivinhar! – falei com uma falsa animação – O resto da minha família está presa no porão!

- Não faça piadas com isso, Delilah! – Ethan estreitou os olhos. – Foi você que colocou Charity e Leonard lá?

- Uau, essa foi direta. – coloquei a mão sobre o peito, fingindo estar ofendida. – Mas não, não fui eu.

- Porque mesmo eu não acredito em você?

- Porque você é um idiota?

- Delilah Antoinnete Valentine! – ele se levantou nervoso – não brinque comigo! Não desconte em mim um problema que você causou!

- EU causei? E como EU posso ter causado isso? – perguntei praticamente gritando, completamente irritada.

- Eu acredito que você os tenha colocado lá.

- E o que eu ganharia em troca disso? – minha ironia saiu distorcida – Uma família feliz?

Ele deu de ombros e se sentou novamente, me olhando como se eu fosse uma aberração.

- Você sempre teve hábitos estranhos.

- E o que você sugere? Que eu tenha colocado minha capa da invisibilidade neles os trazido para cá?

- Veremos. Mas por hora os outros querem uma explicação. – ele falou indo em direção á porta – Ah, e depois peça á Herschel para olhar sua mão. Ela parece quebrada.

Controlando a vontade de atirar nele - isso não faria bem ás crianças -, retirei a blusa que usava, que parecia me sufocar, e a troquei por uma solta. Sai do quarto com o coração acelerado. Não queria ver aquelas pessoas tão cedo, e sabia exatamente o que aconteceria.

Eram meus irmãos. No quarto dos meus pais. No quarto em que pedi para não entrarem. Mas eu tinha maus motivos, e não eram esses.

Ethan já estava na sala, conversando com todos, enquanto Lori tentava convencer Carl a subir para seu quarto. Desci as escadas rapidamente, tentando não demonstrar que minhas pernas tremiam.

- Podemos acabar logo com isso?

- Como aqueles zumbis foram parar no quarto? – Rick foi direto, e não parecia estar de brincadeira. Azar o dele por eu estar.

- Devia perguntar a eles não acha? – falei ironicamente – Ah, me esqueci, A culpa é minha!

- Nós achamos que aqui era seguro e de repente aparecem dois zumbis? – T-Dog se pronunciou, com uma expressão apática – Isso não é legal.

- Não gosto nem de imaginar Carl andando sozinho por essa casa. – Lori disse – Primeiro um deles do lado de fora e depois dois aqui dentro! Acho que devíamos fazer algo.

- Mas fazer o que? Colocar uma placa de “proibida a entrada de zumbis” no portão? – perguntei olhando para o rosto de cada um ali.

- Você está tão engraçada hoje. – Glenn comentou ao meu lado.

- Eu sei.

Por alguns segundos, ficamos olhando um para a cara do outro, num silêncio desconfortável, que ainda era melhor do que ouvi-los reclamar de tudo. Sentei-me numa poltrona vazia e tamborilei os dedos no apoio.

- Então? – Maggie perguntou, olhando para todos.

- Então, acho que devemos saber o porquê os zumbis estavam lá. – Rick falou, olhando diretamente para mim, e muitos seguiram seu exemplo.

- Ah, qual é! Só podem estar de brincadeira. – resmunguei olhando-os incrédula- Qual é o problema de vocês?

- Dois zumbis ao nosso lado. – Rick falou chegando mais perto – Isso serve?

- E eu não sou um deles, então da pra parar de olhar assim para mim? – pedi entredentes.

- Mas eles eram seus irmãos, o que te torna a mais provável aqui de ter feito isso.

- O que você está dizendo? Acha mesmo que arriscaria todas as vidas aqui por dois zumbis?

Todos ficaram calados e um nó se formou em minha garganta.

- Olha, não estamos acusando você, é só que queremos um lugar seguro para ficar, para Lori ter o bebê e pensamos que esse seria o lugar, mas... Depois de tudo isso já não temos certeza, e se soubermos como entraram podemos evitar isso tudo. – Rick falou em seu tom baixo e persuasivo.

- Na verdade estão acusando sim. – fiz a voz mais firme que pude - Por acaso se eu tivesse um cachorro e ele estragasse algo que lhe pertence, você colocaria a culpa nele ou em mim?

Ninguém respondeu, e nenhum deles pareceu ter sequer pensado na comparação que fiz. Aquilo estava irritante. Então, passei para o “plano B”.

- Ok, é o seguinte. Não fui eu, mas se irão acreditar ou não em mim tanto faz. Essa é a minha casa...

- Nossa. – Ethan interrompeu-me.

- ... e vocês só estão aqui por minha causa, mas se estão incomodados ninguém está os impedindo de ir embora. Se quiserem fazer vigilância, qualquer coisa para tornar esse lugar mais seguro, tanto faz. Não me importo. Só não quero que me culpem por algo no qual não tenho parte.

Terminando de falar, levantei-me depressa e voltei para meu quarto. Fui para a janela e fiquei observando a vista, que não era tão boa – metade era o enorme muro, a outra metade o céu e entre eles uma pequena faixa das copas das árvores.

Porque desconfiam tanto de mim?, me perguntei sentando na beirada da janela e passando as pernas para o lado de fora.

- Hey there Delilah I know times are getting hard… - cantarolei olhando para as estrelas, como se fosse uma oração.

Oração... Me perguntava se isso ainda era válido.

Não sei quando dormi, mas quando acordei ainda era de noite, e pelo relógio do quarto – que eu acreditava estar atrasado – eram duas da manhã.

Meu corpo estava suado, mesmo com a brisa gelada batendo em meu corpo, e por sorte não tinha caído. Espreguicei e fui para o banheiro com a intenção de tomar um banho. Despi-me e fui para o chuveiro, ligando-o. Mas, para minha total surpresa, nada saiu dele.

- Meu dia está cada vez melhor. – resmunguei e me enrolei na toalha.

Olhei pelo corredor e todas as luzes estavam apagadas. Ótima chance para ir para o banheiro principal. Andei tranquilamente para lá, na esperança de não encontrar ninguém. Mas como toda sorte dura pouco, não foi bem isso o que aconteceu.

- O que está fazendo vestida assim? – uma voz soou ás minhas costas, me fazendo pular de susto.

- Que droga, Daryl! Quer me matar de susto? – sussurrei, olhando em volta.

Ele me olhou dos pés á cabeça, e só então me lembrei de estar apenas de toalha.

- Nunca imaginei que você gostasse de andar nua. – ele falou num em seu tom sério, ao mesmo tempo irônico.

- Isso não tem graça. – o repreendi – Meu chuveiro quebrou.

Ele estreitou os olhos e mais uma vez olhou-me de cima á baixo, me deixando vermelha. Ele passou direto por mim, continuando seu caminho. Sussurrei um xingamento e entrei no banheiro, me trancando ali.

Tomei meu banho tranquilamente, demorando o máximo que podia sem que se tornasse um desperdício de água. Ainda sentia meu rosto quente e estava extremamente envergonhada. Saí logo, me enrolando novamente na toalha. Fui em direção ao meu quarto e fiquei surpresa ao ver Daryl batendo na porta, e fui até ele.

Para minha própria surpresa, quando ele se virou, eu apenas o puxei pela blusa e colei meus lábios aos seus, em um beijo calmo que ele correspondeu no mesmo momento, provavelmente também pego de surpresa.

Não sabia quanto tempo havia se passado, mas quando me separei dele parecíamos estar num tempo diferente, e eu não sabia o que fazer.

- E-eu... Ah... – gaguejei e resolvi não tentar terminar.

Fechei os olhos para não ver sua reação, e qual foi minha surpresa quando senti novamente seus lábios nos meus. Mas não hesitei em acompanhá-lo e logo o beijo estava cada vez mais rápido e desejoso. Suas mãos passaram de minhas costas para minha perna, puxando-a para sua cintura.

Tateei a porta ás minhas costas até achar a maçaneta e a abri, deixando todos os meus sentimentos e desejos me guiarem, desligando meu lado sensato que dizia que aquilo era errado. Logo estava entre a parede e o corpo de Daryl, e seus toque deixavam um rastro de fogo em minha pele. Com minhas mãos em vida própria, puxei sua camisa, arrancando-a de seu corpo e então, com um pequeno toque, a toalha escorregou por meu corpo, indo direto para o chão.

A única coisa sensata que passava por minha cabeça naquele momento era meu pesar de que aquilo seria apenas aquela noite, provavelmente nunca mais. Mas logo ela foi sufocada por todos os meus sentimentos e vontades insanos.