Capítulo 02

– Lydia – Lizzy entrou no quarto da irmã mais nova para chamá-la para o desjejum. – Se arrume, teremos visitas.

– É? – a mais nova se espreguiçou, mas mal se mexeu na cama – Quem?

– A Georgiana e o marido estão vindo, chegam para o almoço.

– Almoço? – Lydia resmungou – Ah... Então eu posso dormir mais um pouquinho...

– Não, nada disso. Acorde, sua preguiçosa. – Lizzy sorriu – Por acaso não sabe que dia é hoje?

– Não... – ela colocou o travesseiro sobre a cabeça, para abafar a luz do sol que entrava pela janela que Lizzy abria.

– Hoje é o dia em que encerra o teu luto! Olhe, Lydia! Trouxe algumas roupas novas lindas para você!

– Ah... É mesmo? – então Lydia se sentou rapidamente e correu os olhos pelos vestidos. Alguns nos braços de Lizzy, outros espalhados em todos os recantos do quarto. – Mas Lizzy... Não precisava, eu não preciso de tudo isso.

A mais nova arregalou os olhos ao ver algumas peças ousadas entre as escolhidas. Um vestido azul bebe com um decote provocante. Outro cor de vinho num tom chamativo. Um terceiro em um rosa impróprio para viúvas. Cores e roupas que certamente chamariam a atenção, quando tudo o que Lydia queria na verdade era passar despercebida. Roupas que combinariam com a antiga Lydia, mas não com a nova.

– Então? Gostou? – Lizzy sorriu num entusiasmo quase infantil. Tentar animar a irmã caçula era uma de suas metas atuais. Era quase tão importante para Lizzy acabar com a melancolia da irmã quanto ter outro filho. Lydia estava mudada, e Lizzy sentia uma ternura cada vez maior por ela.

– Claro que eu gostei – Lydia respondeu, se concentrando nos vestidos mais discretos. Um branco e um amarelo em tom bebê. Sim, dessas roupas ela tinha certamente gostado.

– Então escolha um para colocar agora. – Lizzy propôs.

– O branco.

– O branco? – a irmã mais velha não escondeu seu espanto. - O mais discreto de todos?

– É, Lizzy. Depois de usar tanto preto, acho que prefiro um pouco de branco.

– É... Faz sentido. Então vou chamar a criada para vesti-la.

– Obrigada, Lizzy.

Em resposta, Lizzy sorriu.

– O que a Georgiana tem? – Lydia quando teve oportunidade, puxou a irmã num canto e perguntou.

– Ela tem os pulmões fracos... Está tísica. – Elizabeth respondeu.

– Tísica? Oh, não!

– Sim, e fale baixo Lydia. Não é um assunto que se comente em voz alta.

– Mas ela está tão pálida... E parece tão abatida... E magra... E...

– Sim... – Lizzy balançou a cabeça, sentindo a mesma tristeza da irmã – Mas o médico garantiu que ela poderá viver por anos, é só não fazer esforço. E se cuidar.

– Ela não pode ter filhos?

– Não, isso acabaria com ela. Certamente morreria antes do parto, ou logo depois.

– E então... Ela e o marido... Meu Deus! Isso é triste!

– É sim, Lydia. – Elizabth bateu gentilmente no ombro da caçula e então ambas voltaram para a sala, para fazer companhia à Georgiana. Os homens estavam fechados no escritório falando de negócios, como sempre.

Lydia fez tudo o que estava em seu alcance para tornar a visita o mais agradável possível para a pálida Georgiana. Mas algum tempo depois da refeição, Georgiana pediu licença e, cansada, foi se deitar no quarto em que se hospedaria. A viagem foi longa para ela, e ela teria que repousar alguns dias antes de voltar para casa.

Acompanhar a doença de Georgiana que Lydia até o momento desconhecia, mexeu com o coração já abalado da mais jovem das Bennets. Georgiana tinha nome, dinheiro, o amor incondicional do irmão e de um marido visivelmente dedicado e apaixonado, e também uma reputação imaculada. Mas de que adiantava tudo isso se ela não tinha saúde? Se ela era escrava da sua doença? Lydia, por outro lado, gozava de plena saúde.

Então ela percebeu...

A vida estava passando por ela! E ela tinha saúde! Podia não ter nada mais, mas tinha um corpo saudável. Um corpo saudável de uma mulher jovem.

Para o diabo com as normas e convenções! Lydia esbravejou e correu para o quarto para vestir sua calça de montaria. De que adiantava tentar fazer tudo sempre tão certinho, tentar seguir as normas, mesmo que tardiamente? De que adianta se privar dos nossos desejos, se no fim das contas todos iriam morrer? Alguns mais cedo, outros mais tarde.

E Lydia queria tomar banho naquele rio, mais do que tudo na vida. Já havia passado duas semanas e três dias desde aquele encontro, e ela resistiu o quanto pode. Mas agora, montada no seu cavalo, ela se dirigia para lá.

Vários minutos depois, ela reconheceu o local. Apeou do cavalo e o prendeu em uma árvore. O sol estava alto e ela só ouvia o canto dos pássaros. Certa que ninguém a perturbaria, ela começou a tirar a roupa. Peça por peça de maneira afoita. Enfim, dando uma última conferida ao redor, ao ter certeza de que estava só, removeu a última peça da roupa de baixo, ficando nua. E ansiosa como estava, logo se atirou na água.

A água era calma, e na temperatura ideal. Nem quente nem fria. Apenas agradável. E Lydia perdeu a noção de quanto tempo permaneceu ali. Deliciada, nadando de um lado a outro, sorrindo feito criança. Como há muito não fazia.

Até que ouviu um ruído. E logo em seguida, veio o som de um galho se quebrando junto com um relincho de cavalo. E ela, apesar de tudo, tentou permanecer calma, escondendo o corpo nu dentro da água, ficando num local onde só sua cabeça ficasse para fora. De repente, se permanecesse imóvel, não a descobririam.

E então ela ouviu passos. E viu um vulto se aproximar da margem do rio, tocando na água com a ponta das botas. Um vulto alto e moreno que ela logo reconheceu.

– Sabia que você viria. – ele disse. – Eu estava a sua espera.

Lydia, sem graça, se girou dentro da água para encará-lo. Primeiro com raiva pela ousadia do homem, mas depois, ao vê-lo, ficou totalmente desarmada. Meu Deus! Ele era lindo! E ela ficou boquiaberta, ao observar os traços fortes daquele rosto masculino que agora sorria para ela.

– Você quer que eu entre? – ele perguntou, dobrando os joelhos e se abaixando, e passando um dedo pela água.

Lydia novamente fez que não com a cabeça. E sua respiração ficou pesada. Ela não o conhecia. Será que ele a respeitaria? Será que ele ousaria se aproximar?

– Você quer sair? – ele tornou a perguntar.

Lydia novamente respondeu não com a cabeça. Tinha medo até de falar.

– Mas o sol está se escondendo – ele apontou para as nuvens – Vai ficar frio e você pode se resfriar.

Lydia se assustou quando ele mencionou uma doença. E se o resfriado se transformasse numa pneumonia? E se a pneumonia a deixasse fraca e ela também pegasse uma doença nos pulmões, como Georgiana?

– Vem. –Diante de uma nova negativa de Lydia, ele acrescentou – E se eu me virar de costas?

E sem dar tempo para que ela respondesse, ele deu as costas para Lydia, e ela, olhando com apreensão para o sol se ocultando entre as nuvens, optou por sair. Rapidamente, com gestos apressados e nervosos, ela começou a colocar as peças de baixo, de costas para ele. E quando estava fechando os últimos botões da camisa, já com as calças, foi que percebeu que ele a espiava. James, pego no flagra, se aproximou de Lydia. E ela, sentindo o calor do corpo dele em suas costas, mas sem que ele a tocasse, se enrijeceu, tomada de pânico.

– O que você quer, Lydia? – Diante do silêncio, ele prosseguiu – Você quer jóias? Quer lindos vestidos? Ou quer um cavalo como o que você tem montado? Eu posso te dar o que você quiser. Apenas me diga o que você quer. – a voz rouca dele estava próxima ao ouvido de Lydia. Ela continuava paralisada, de costas para ele, com as mãos congeladas sobre os últimos botões da camisa – Diga-me qual é o seu preço. O que eu preciso para tê-la?

Então ela se virou, com o rosto tomado de raiva.

– Quem você pensa que eu sou? Por quem me tomas? – ela bufou, cheia de cólera – Como ousas?

E ela cerrou os pulsos e começou a golpeá-lo, desferindo socos descontrolados sobre o peito de James. Lydia estava descalça, e o lugar mais ao alcance de suas mãos era o tórax de James, que foi o alvo de alguns poucos golpes antes que ele agarrasse seus punhos, e prendesse seus braços.

– Seu... seu... – Lydia, ainda tomada pela raiva, não conseguia falar. Aos poucos foi tomando consciência da proximidade dele, e foi parando de se debater. James prendia os dois braços de Lydia contra o seu peito, e Lydia foi percebendo a muralha de músculos sob seus dedos. Sem pensar, espalmou as mãos para senti-lo melhor. E seu polegar, como se tivesse vida própria, se enfiou entre os botões da camisa dele, tocando num tufo de pelos. Inconseqüente, ela emitiu um gemido quase imperceptível. Mas ele percebeu.

Aquele som mínimo agoniado que saiu de Lydia, junto com o toque quente de seus dedos em seu peito, acabou com a resistência de James. E incapaz de pensar, ele baixou os lábios, comprimindo os dela com um pouco de fúria. Lydia sentiu seu lábio superior sendo esmagando contra seus dentes e automaticamente entreabriu a boca para receber aquele beijo quase violento. Quando a língua dele encontrou a dela, todo o corpo de Lydia vibrou, inconseqüente. Sedento por ele. E Lydia enfiou seus dedos entre os cabelos negro dele, quase arrancando alguns fios.

James também respirava com dificuldade. Não era mais dono de si. Ele, sempre tão controlado, não mais se governada. Uma de suas mãos baixou até a cintura dela, envolvendo-a e colando-a contra si. Lydia, com esse contato, sentiu a ereção dele pressionando a sua coxa, mas ao invés de se assustar, enlouqueceu ainda mais de desejo por ele. Lydia se moveu, para encaixar melhor seu corpo contra a rigidez de James. O que foi o convite que ele precisava.

Os botões ainda abertos da camisa de Lydia facilitaram o acesso. Sem que nenhum dois percebesse, a mão dele já se encontrava sobre os seios dela. Tocando-os, sentindo-os e quase esmagando-os. Um toque preciso de homem. Um toque como Lydia não sentia há muito tempo. E isso não era o suficiente. Para nenhum deles. James tirou a camisa e a roupa de baixo de Lydia, e ela o ajudou. Os mamilos rosados se enrijeceram ainda mais quando a língua quente dele os circundou. E ela também removeu a camisa de James. Logo estava tocando peito com peito, pele com pele. Mas não era suficiente. Eles queriam mais. Um fogo queimava a ambos. Um fogo forte e intenso, que parecia não ter fim. E eles sabiam o que precisavam fazer. E logo, e depressa.

James novamente subiu até os lábios de Lydia, esmagando-os com um beijo ainda mais urgente do que o primeiro. E ambos, agarrados, dobraram os joelhos e caíram no chão, unidos. Logo estavam deitados, rolando na terra. E logo as calças de ambos estavam sendo arrancadas. Beijaram-se mais, e se procuravam como dois animais que se precisavam, sem pensar.

Lydia gemeu, quando ele afinal a penetrou. Quanto tempo não sentia isso...? Mentira... Quem ela queria enganar? Ela nunca sentira isso. Não assim. Não dessa forma. Não um desejo quase violento. Não de uma forma que fizesse com que ela esquecesse de tudo. Do certo e do errado.

Ele se ajeitou por cima dela, se acomodando todo dentro dela, e então intensificou os movimentos. E Lydia abriu os olhos para ver o rosto dele. As pálpebras dele estavam baixas de desejo, mas mesmo assim, ele a olhou também. E assim, olhos nos olhos, sorrindo um para o outro, foi como eles alcançaram o clímax. James, deixou-se cair sobre ela. Com a respiração pesada, esperando para se acalmar, e Lydia sorriu, satisfeita. Fora totalmente consumida pela volúpia. Mas agora teria algo para pensar. Algo para se lembrar. Algo bom para recordar que provavelmente suplantaria toda a dor, todas as lembranças ruins. Tinha sido tão maravilhoso! Errado, mas maravilhoso!

Ele rolou para o lado, e ficaram os dois de barriga para cima. Só as respirações ainda pesadas cortando o silêncio.

– Você é linda... – ele afinal se virou de lado, se apoiando sobre o cotovelo para observá-la. Correu um dedo com carinho pela bochecha dela. Em resposta, ela sorriu para ele, ainda extasiada e inconseqüente. A antiga Lydia voltara à tona. – E agora? – ele perguntou.

– E agora? – ela o encarou com surpresa, e subitamente parou de sorrir. – E agora o que?

– Quando nos veremos de novo? Você voltará aqui amanhã?

– Amanhã? – ela repetiu, e aos poucos começou a se dar conta do que havia feito. – Oh!

Lydia se levantou, e consciente de sua nudez, tentou se cobrir com os braços, num gesto de timidez tardia.

Ele sentou também, e ainda sorria para ela.

– Me diga seu nome. Todo o seu nome. Para que eu possa encontrá-la se você não vier.

– Não – ela já se punha de pé, atrás de suas roupas.

– Eu posso te cobrir de presentes. Posso te dar o que você quiser. Posso te comprar uma casa, para que a gente possa se encontrar sempre. Posso te dar dez cavalos iguais a esse, se for o que você quiser. Posso te cobrir de jóias, Lydia. O que você quiser.

– Oh! – ultrajada, ela bufou – Você está me propondo para que eu seja sua amante?

O sorriso dele perdeu um pouco a força, mas não morreu totalmente.

– Sim... – ele respondeu, já não parecendo tão confiante quanto antes. – Você não quer?

– Não! – o rosto dela estava carregado com um misto de raiva e de mágoa. – Lógico que não! Quem você pensa que eu sou? Você por acaso acha que eu costumo fazer isso sempre?

Os passos dela já seguiam na direção do seu cavalo.

– Mas eu... – ele respondeu – Eu pensei que... Bem, você não era mais virgem... Então eu pensei...

– Não! Eu não sou mais virgem, mas isso não faz de mim uma qualquer! Uma cortesã! Ou uma amante de alguém! – ela cuspia as palavras, irritada – Eu sou viúva! Uma viúva! E embora não pareça, eu sou uma mulher de respeito!

Lydia já montava em seu cavalo.

– Espere...

Mas ela não esperou.

– Como posso encontrá-la?

Mas ela não respondeu. Seu cavalo saiu galopando rápido, de volta para casa.