A voar!

(Wendy) Aniversário + trabalho de parto


Desde que eu descobri que estava grávida, Peter tem reclamado muito de mim. Eu não entendi isso, pensei que ele estivesse contente! Ele ficava dizendo que queria que essa criança nascesse logo porque a gravidez estava me tornando mais fria e emotiva. Bom, dito e feito.

Eu estava fazendo 21 anos e meus pais deram uma festinha pra mim. Não era nenhuma festa grande, como a do meu pai no dia em que Peter me pediu em casamento, mas ainda assim uma comemoração. Estava me sentindo a pessoa mais especial do mundo. Até que, de repente, comecei a sentir uma dor imensa.

Imaginei que fosse apenas um chute do bebê e decidi sentar, para não preocupar ninguém. Mas em pouco tempo eu já estava suando frio e a dor estava grande demais. Eu não aguentava mais nada. O bebê iria nascer naquele momento.

- Peter! – Gritei. Ele correu para ver o que era, e eu só precisei olhar pra ele para que ele percebesse.

- O bebê?

Fiz que “sim” com a cabeça. Peter me pegou nos braços e me levou para um quarto.

- Eu vou pedir ajuda.

- Rápido... – Foi tudo o que consegui dizer.

Já tinha escutado falar que na hora do trabalho de parto, tudo o que uma mulher deveria fazer, era manter a calma. Mas nunca havia passado por isso e agora sabia por que nenhuma mulher conseguia ficar calma num momento como esse. Aquilo era doloroso demais. Eu estava quase desmaiando quando Peter chegou com um médico.

- Wendy! Wendy, consegue me ouvir? – Gritou.

Eu conseguia ouvir, só não conseguia falar nada. O médico ordenou que eu ficasse acordada e respirasse. Respirei fundo e fui em frente. Durante o parto fiz de tudo para permanecer acordada. Eu gritava de dor. Não conseguia suportar.

- Vamos, Wendy – disse o médico, enquanto Peter segurava minha mão. – Vamos, você consegue! Você é uma mulher forte! Está quase...

De repente, eu escutei um choro. E depois tudo ficou escuro.

- Wendy... – Escutei alguém falar, com uma voz de choro. – Ela vai resistir?

- É difícil dizer. A pressão estava muito alta.

Como assim se eu iria sobreviver? Eu estava muito bem. Tentei abrir os olhos. Sem sucesso. Então eu me lembrei de tudo o que havia acontecido. O bebê. Será que estava bem? Me senti uma mãe irresponsável por não poder tê-lo colocado no colo assim que nasceu. Com um esforço um pouco maior, consegui abrir os olhos.

- Wendy! Você está viva! E está bem! – Ouvi alguém dizer. Quando minha visão voltou ao foco, vi Peter com uma cara de choro olhando pra mim e segurando minha mão. Atrás dele, estava apenas minha mãe. – Vou chamar o médico.

Minha mãe logo se levantou. Ela também estava com uma cara de choro. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, perguntei:

- Onde está o bebê?

Ela deu um sorrisinho.

- Está bem. Muito bem.

Fiquei feliz com a notícia.

- O que aconteceu?

Logo o sorriso desapareceu do seu rosto. Então ela começou a contar. No meio, teve que parar por conta de uma lágrima maldita que insistia em cair de seu olho.

- Sua pressão subiu muito... Minha filha, me diga, já fazia tempo que você estava em trabalho de parto quando chamou Peter?

- Bom... Sim, mas...

- Filha, por favor, não faça mais isso! Sua pressão aumentou muito, achamos que você não iria desistir!

- Me desculpe, eu... Eu não sabia...

Assim que eu disse isso, Peter chegou acompanhado do médico. Mas ele não estava de mãos vazias. Em seus braços, eu só via um pequenino embrulho. No começo ainda não sabia o que era, mas logo depois eu vi.

Ele o colocou em meus braços e eu logo comecei a chorar.

- É um menino... – disse Peter, com a voz trêmula – tomei a liberdade de chamá-lo de Daniel, pois não sabia se você iria resistir.

Chorei mais ainda.

- Mas... Quando a gente conversou você disse que não gostava desse nome... Que iríamos decidir quando o bebê nascesse.

- É, eu sei. Mas pelo medo de perder você, queria que ao menos alguma coisa sobrasse. Então decidi chamá-lo pelo nome que você escolheu.

Olhei para os meus braços. Ele era lindo. Eu podia notar alguns fiozinhos de cabelo ruivo, como os de Peter. Logo ele abriu os olhos e olhou pra mim. Tinha os olhos tão azuis quanto os meus. Logo percebi que a dor, o desmaio... Tudo havia valido à pena só para que eu pudesse ter esse menino lindo. Daniel agora era o meu filho. Eu poderia contar todas as histórias que quisesse para ele junto com os meus irmãos.

- Wendy... Eu ainda não escolhi os padrinhos.

Os padrinhos! Eu não fazia ideia de quem escolher. Mas logo depois me lembrei de alguém que esteve este tempo todo ao meu lado, me apoiando.

- Alice! – gritei, satisfeita com a ideia.

- Alice? Tudo bem... E o padrinho? Ela não casou ainda!

- Bom, o padrinho pode ser um dos meus irmãos... Acho que João seria o melhor para o cargo.

- Tudo bem, então.

De repente, o bebê começou a chorar. Fiquei sem saber o que fazer, então perguntei ao médico.

- Ele só precisa mamar. – disse ele – se quiser privacidade nós podemos sair do quarto...

- Obrigada.

Eles saíram e eu comecei a dar de mamar. Daniel ficava me olhando profundamente com aqueles olhos azuis o tempo inteiro. Acho que era para que ele me reconhecesse. Eu sentia cada vez mais orgulho de mim mesma. Quando criança, passei por uma enorme aventura: aprendi a lutar com espadas, me tornei uma pirata, traí os piratas e... E então eu voltei pra casa. Mas Peter havia prometido que voltaria, então eu o esperei e não desisti. Quando estava perdendo as esperanças ele enfim voltou e ficamos juntos. Agora já tínhamos um filho. Mas ainda tínhamos coisas para resolver com Gancho, só que isso poderia esperar. Nada poderia estragar minha felicidade naquele momento, nem mesmo Gancho. Eu posso quase ter morrido para ter essa criança, mas não me importava. O que importava é que agora eu estava bem e que meu filho também. E que eu precisava aproveitar aquele momento ao máximo, pois todas as crianças crescem, e eu não queria que aquilo acontecesse com Daniel tão cedo e nem que ele decidisse viver na Terra do Nunca. Eu já amava meu filho mais do que tudo nesse mundo.