A História tem demonstrado que os mais notáveis vencedores normalmente encontraram obstáculos dolorosos antes de triunfarem. Eles venceram porque se recusaram a se tornarem desencorajados por suas derrotas.”
B. C. Forbes

Beckett ficou por um tempo imóvel. Não esperava a proximidade posta naquele momento. Um abraço apertado como se a vida dele dependesse daquilo.
Seu coração se partiu ao ouvir pequenos e baixos gemidos. Ele estava chorando. De fato ela tinha estranhado a reação dele ao ver o corpo do amigo. Ele ficou quieto por uns minutos e depois agiu como se fosse alguém conhecido e não um amigo de longa data como havia dito. Passou parte do dia calmo e conversando. Claro ela entendia exatamente o que ele tinha feito, escondeu seus sentimentos de todos. Não queria demonstrar fraqueza perto de ninguém. Se tinha algo que ela podia compreender era uma atitude dessa. Durante anos ela fez igual senão pior. Após a morte da sua mãe ela se trancou dentro de si própria. Não permitindo a entrada de ninguém e seus momentos de fraqueza passava sozinha. Chorava acompanhada muitas vezes de um bela garrafa de vinho. Então passou seus braços ao redor do grande homem correspondendo o abraço.


Passando a mão nas costas dele em movimentos circulares, assim como uma mãe faria ao ver um filho chorando diss: “Ei, Castle?! Vai ficar tudo bem! Você quer falar sobre Isso?”
Não obteve resposta, apenas sentiu-se mais próxima a ele quando ele apertou as duas mãos nas costas dela intensificando o abraço.


“Rick?” Ela tentou se afastar, mas não conseguia. Ele era forte, e para ser sincera ela não queria se mover também.
“Ele era meu amigo... como um irmão Kate!” Ele disse. Sua cabeça estava inclinada no pescoço da detetive e surgiu um arrepio quando sentiu seu hálito quente.
‘Droga Kate não é hora para essas coisas’. Ela se dizia internamente ao sentir seu corpo quente e seu hálito em seu pescoço.


“Sabe, tenho certeza de que ele morreu me protegendo, isso era a cara dele. Tinha que ser um desgraçado de um herói.” Ele continuou. Sua voz estava embargada num misto de choro e alteração causada pela bebida.
“Castle, do que você está falando?”
“A operação Kate. Estamos investigando internamente um grupo muito conhecido mundo a fora, há tempo temos notado um aumento do tráfico de drogas, armas e até pessoas nos países onde essa ONG atua com mais frequência.”


Um grupo? Que ONG? Ela tentava entender o que ele estava falando. Parecia ser uma operação como outra qualquer. Tráfico, drogas. Infelizmente era algo de constantes investigações. Se não fosse o simples fato de que um homem fora torturado e morto por provavelmente não relatar detalhes da missão. Ela se afastou dele um pouco, ainda estavam próximos, sentia o toque de seus joelhos, mas precisava olhar para ele. Precisava entender. Ele dissera ao telefone que “Eles iriam matá-lo.”


“Castle, olhe para mim.” Ela disse num tom firme e quase que de imediato foi encarada por aqueles lindos olhos azuis que ela admirava desde a primeira vez que o vira.
“Por que é tão importante saber quem comanda? Por que você disse que seria morto?”
“Isso começou há algum tempo na verdade. Várias das pessoas enviadas para investigar desapareceram. Por isso fiquei tanto tempo fora, só voltei por causa da Alexis. E Croácia foi um jeito de deixá-la segura.”
“Castle isso é sério. Por que não me disse na delegacia? Podemos chegar ao assassino através das vítimas.”
“Kate você não entende. Quem está por trás não é uma simples pessoa. A organização funciona no mundo todo. E por se tratar de uma ONG o acesso à documentos, nomes de voluntários, relatórios. Tudo é complicado. Você viu o que fizeram com o Hastins. Seja quem for está indo e vindo sem levantar suspeitas.”


Ele terminou o que estava falando e se levantou do sofá. Porém em seu estado alterado devido ao álcool ele tropeçou no tapete vindo a cair e batendo a cabeça no chão, do jeito que caiu, ficou.. Beckett que estava de frente à ele levantou-se rapidamente e abaixou. Ficando de joelhos colocou uma das mãos sobre as costas dele .


“Rick , você está bem? Ei, olhe para mim. Consegue levantar?”
Ele não disse nada. Apenas começou a rir. Sua risada era abafada pois ainda estava com o rosto no chão. Kate levantou-se, cruzou os braços e disse :
“Qual é a graça? Você podia ter se machucado sabia?”
Ainda deitado ele respondeu. “Eu sei.. Me desculpe. É que, desde que te conheci tento te impressionar e olha onde eu estou. De cara no chão, me lamentando e bêbado. Sou no mínimo patético”.
“Ei, não diria patético. Egocêntrico talvez.” Ela disse em tom brincalhão. “Vem, me dê a mão”. Esticou o braço a fim de dar um suporte para que ele se levantasse. Só não contava que veria sua testa com um caroço e sangrando.


“Castle! Você está sangrando!”
“O Que? Onde?” Ele disse já em pé colocando a mão sobre a cabeça. “Ai!” foi sua segunda fala após se levantar. Sua feição era de dor.
“Droga! Vem, vamos a um hospital!” Ela disse pegando sem perceber sua mão e puxando ele para a porta. Ele deu dois passos e parou.
“Não Kate. Não precisa. É só um cortinho, só preciso me sentar um momento”. Ela não interveio. Apenas o levou novamente ao sofá.
“Ei, minha mãe dizia que com machucados na cabeça não se brinca!” Ela diz colocando a mão sobre a cabeça dele, passa de leve o polegar perto do inchaço enquanto segura uns fios de cabelo com os outros dedos.
“Já estive pior.”
“Como? Mais bêbado e chato como agora? Isso é possível?” Ela diz transferindo a mão que estava na cabeça dele para a cintura dela.
“Ha ha ha... engraçadinha. Não significa que… Aí isso dói!“ fez uma careta ao colocar a mão sobre o machucado.


“Você tem algum kit de primeiros socorros aqui?”
“Porque? Vai cuidar de mim? Poderia se vestir de enfermeira.” E sua feição antes de dor deu lugar a um sorriso sexy e um olhar convidativo.
“Castle!!” Ela o repreende.
“Sorry, deve ser o álcool falando por mim”. Ele pisca para ela.
“Ah, claro! Vou fazer de conta que acredito. Tem ou não o kit?”
“Nossa que enfermeira brava!” Recebendo um olhar que entendera ser fatal ele continuou. “No banheiro, no meu quarto. Passando ali pelo escritório. Quer que eu pegue?”
“Claro! Quem sabe assim além do corte na cabeça, você também não quebra algum osso do corpo também. Fique ai, vou buscar!”
“Ual, você realmente não é uma enfermeira boazinha. Ok.. Sim senhora!“


Kate estava se arrependendo de estar ali naquele momento. Além de estar cansada, Castle a estava irritando. Realmente a bebida o fazia mal. Passando pelo escritório se admirou com tamanha coleção de livros que ali estavam. Parecia uma mini biblioteca e claro como ela adorava ler se encantou com o lugar. Entrando no quarto dele ficou surpresa com a decoração. Um tom neutro e tudo bem organizado. Havia algumas fotos sobre uma cômoda. Uma dele com sua mãe, uma da garotinha ruiva linda e uma dele com Alexis fazendo castelinho na praia. Depois de ficar um tempo olhando as fotos foi cumprir o propósito que a levara aquele cômodo.
“ Droga ele tinha que ser tão desastrado? Foi tão encantador em Hamptons, tinha que estragar tudo? Mas afinal o que ela estava pensando? Era um momento difícil. E ainda tinha todas aquelas informações. Se o intuito era achar o comandante da missão ele realmente poderia estar em perigo. Mas ele como comandante possuía um bom treinamento. Bom pelo menos quando estiver sóbrio presumo.” Vasculhando o armário no banheiro encontrou o kit que precisava pegou a pequena maletinha e voltou para a sala.


Se deparou com Castle sentado no sofá com a cabeça jogada para o encosto. Droga, ele estava dormindo. Sabia que após a queda não era um bom sinal o sono, mas se levasse em consideração a bebida seria mais do que normal ele estar dormindo. Sentou ao seu lado no sofá colocou a mão sobre seu ombro fazendo uma leve pressão e o chamou.
“Castle! Ei, Rick!”
Sem abrir os olhos ele apenas resmungou.. “Huum”.
“Anda abra os olhos. Sei que não está dormindo”.
“Anham... Já vou.”
“Castle, não acredito que você guarda sua coleção de revistas adultas no banheiro”.
“Que? Quem falou? Eu.. Eu..” Ele rapidamente sentou-se .
“Não acredito que você caiu nessa. Espera, você guarda lá né?! “
“Não, eu! Droga! Não vale eu estava dormindo. Isso não se faz detetive.”
“Precisava que você acordasse. E deu certo não Foi? Agora fique parado!” Ela abriu a maleta e pegou o que precisava. Uma gase para limpar o ferimento, um antisséptico e um curativo.


Colocou a luva em uma mão. Umideceu a gase com soro fisiológico. Segurou ele pelo pescoço com a mão que estava livre e limpou o ferimento.
“Aiiiii”.Ele gritou.
“Nossa, me desculpe!” Ela assustada tirou as mãos dele que de imediato começou a rir.
“Estamos kits agora”. Ele disse ainda sorrindo.
“Ah olha só, comandante Castle é vingativo. Quem diria. Vai Richard fique parado para que eu possa passar o antisséptico.” Ele ficou quieto por um momento. Mas só até ela espirrar o produto na testa dele. Que fez de imediato uma careta e segurou um dos braços dela, que por sua vez se colocou um pouco mais perto dele e delicadamente soprou sobre o ferimento.
“Pronto bebê? “Ela disse divertidamente já colando o curativo. “Prontinho”. Guardou tudo de volta na maleta e foi até o lixo na cozinha descartar o que usara. Pela primeira vez da hora que chegou ali checou na tela de seu telefone as horas. Passava de uma da manhã.


“Droga, nem vi a hora passar. Esta tarde, eu preciso ir. Você vai ficar bem?” Ela perguntou enquanto voltava para a sala.
“Nem de sonho você sai daqui a essa hora!”
“Ah sim, e quem vai me impedir?”
“Kate estou falando sério. Temos quarto de hóspedes você pode passar a noite lá. E além do mais está congelando lá fora.”
Se lembrou do frio que passara até chegar no loft e odiava a ideia de passar a noite ali, mas realmente estava tarde e depois de um dia como aquele boas horas de sono não fariam mal.
“Ok. Mas não pense que...”
“Jamais pensaria algo que você também não quisesse detetive.” Percebendo o olhar dela e o rubor em seu rosto, continuou. “O quarto é no andar de cima. Primeira porta á direita. Fique a vontade Kate. Tem suco ou algo para comer na geladeira.”
“Obrigado. Mas não precisa. Apenas umas horas de sono.” Disse já no primeiro degrau da escada.
“Hey Kate? “
“Oi?”
“Obrigado!”
“Não há de que. É só se comportar ok?!” Recebendo o aceno e sorriso do belo homem a frente, fez seu caminho para o quarto.


Após um tempo pensando em tudo que acontecera naquele dia. A morte desumana, um assassino sangue frio, Rose e sua bebê e Castle. Não conseguia tirá-lo da cabeça. Um homem tão forte e respeitado hoje tinha ela visto tão vulnerável como uma criança. Se pegou pensando no grau de periculosidade da situação e quantas coisas ele devia estar enfrentando. Tinha Alexis que ainda era pequena e toda a situação da paternidade recém adquirida. Sua mãe. Sua responsabilidade como comandante, fora a perda de um amigo. Kate acabou dormindo em meio a tantos pensamentos. O cansaço vencera, mas não por muito tempo. Acordou no meio da madrugada sentindo sede, até tentou fazer de conta que não estava precisando de água, mas não conseguiu.

Desceu devagar fazendo dos movimentos mais silêncios possíveis, foi até a cozinha, agradeceu silenciosamente pelo silêncio que indicava que ele estava dormindo. Somente quando estava prestes a retornar ao quarto foi pega de surpresa pelos gritos vindo do quarto de Richard.


“Não. Não! Deixe a em paz!” Ele suava e se debatia na cama. Foi a visão que ela teve ao entrar apressada pela porta.
“Alexis. Não.. por favor!”.
“Richard! Castle! Acorda!!”
“Por favor! Não a machuque.”
“Castle!!! Acorda! Rick, é só um pesadelo.”
Ao abrir os olhos ainda preso em mundos diferentes sem saber o que era real, entre o sonho e a realidade. Ele a viu, sentada ao seu lado na sua cama com a mão sobre seu peito.
“Ei, Castle! Foi apenas um sonho. Está tudo bem”.
“Alexis!” Foi tudo que ele disse .
“Alexis está bem. Lembra? Está com sua mãe. Foi um sonho ruim apenas. Calma. Se sente melhor?”
“Sim... Desculpe ter te acordado Kate.” Sua voz era baixa e seus olhos encaravam fixamente o lado oposto dela. Não queria encará-la. Não queria demonstrar tanta fraqueza.
“Não foi nada. Eu estava na cozinha, precisava de um copo de água.” Ela passava a mão sobre o antebraço dele. “Está tudo bem?” A pergunta saiu quando viu ele apertar a parte lateral da cabeça.
“Está! Apenas um pouco de dor. Como posso sentir a ressaca se nem tem duas horas de sono?”
“Você caiu. Se lembra? Onde tem algum remédio? Posso pegar para você.”
“Não precisa Kate. Você já fez o bastante. Eu mesmo pego.” Ele disse.
“Não é problema algum, aliás tenho um remédio ótimo na bolsa. Vou pegar.”


Não podia deixar de pensar como Kate estava sendo gentil. Tudo que fez foi cuidar dele. Agora um pouco menos alto da bebida, sentia-se constrangido. Não lembrava de tudo o que falou durante a noite. Lembrava vagamente de ter chorado. “Ótimo agora ela me acha um idiota” . Seu pensamento saiu em voz coisa que ele não pretendia. Ao mesmo tempo Kate entrava no quarto com um copo de água e um comprido e ele torceu para que ela não tivesse ouvido.


Ele tomou o remédio e a pedido dela se acomodou para voltar a dormir. Não esperava que ela se sentaria ao seu lado. Ela pegou um caderno de capa dura que estava ao lado da cama e perguntando o que seria, ele disse que nos dias difíceis ele escrevia. Pediu para ler e um pouco envergonhado ele concedeu.


Beckett estava lendo como se não existisse mais nada ao seu redor. A história se passava em um conflito. Um soldado relatava suas experiências, pessoas que conhecia, batalhas que enfrentará e já na última folha mencionava encontrar o amor. Sentiu-se frustrada, queria saber o fim. Ele escrevia tão bem tinha certeza de que se fosse um livro ela provavelmente compraria. Colocou o caderno de volta em cima do pequeno móvel ao lado da cama e olhando o relógio sabia que aquele dia não seria fácil. Passava das quatro e ela tinha que estar em pé às seis e meia. Olhou para Castle que dormia tranquilamente e dominada pelo cansaço e preguiça de voltar ao quarto escorregou para debaixo das cobertas apagou a luz do abajur ao lado e em minutos estava dormindo.
Continua...