A sorte dos irlandeses

Capítulo 1 - Um novo começo.


Abri os olhos.

O avião acabara de pousar.

Desembarquei.

O dia estava ensolarado e quente, diferente do que me disseram que seria.

Senti o vento brincar com meu cabelo, fechei os olhos para usufruir melhor daquela sensação de um novo começo. Uma nova vida.

Nenhum daqueles rostos me parecia familiar. Por um momento me senti perdida, cabisbaixa. Mas não podia desanimar.

Caminhei lentamente até uma esteira, onde a cada momento posicionavam-se varias malas. Avistei uma mala enorme e preta com pequenos trevos verdes a segurei com muita dificuldade até conseguir acionar as rodas auxiliares.

Não tinha muita coisa. Apenas minhas roupas, meu passaporte e um papel com as informações de como chegar ao apartamento que eu dividiria com uma completa estranha.

Caminhei pela enorme estrutura do aeroporto até as portas rotatórias que indicavam a saída. Próximos à calçada diversos carros brancos. Todos à espera de alguém.

— Pode me levar até este endereço, por favor? - Entreguei o papel ao gentil taxista que havia acabado de por minha bagagem no porta-malas.

— Claro senhorita. - Ele respondeu, em meio a simpáticos sorrisos.

Fui calada durante todo o percurso, com o rosto colado na janela deslumbrada com a bela paisagem que passava por meus olhos como pequenas cenas de um filme.

— Chegamos senhorita. - A voz grossa do homem de quarenta e poucos anos me trouxe de volta a realidade, enquanto ele estacionava. - São vinte euros.

— Muito obrigada. - Sorri gentilmente – Aqui está.

O gentil homem saiu do carro, pegou minha bagagem e pôs ao meu lado, enquanto eu apenas olhava para cima fitando o grande edifício que estava a minha frente. Agradeci. Ele entrou no carro novamente e eu o perdi de vista.

Segurei minha mala com força e subi os seis lances de escada. A cada degrau parecia que a subida ficava mais difícil.

— Apartamento 68, é esse aqui. - Parei de frente para uma porta de madeira, recém-envernizada. Bati três vezes até que uma jovem um pouco mais baixa que eu, cabelos negros e compridos, pele morena, quadril avantajado e olhos castanhos abrisse a porta e me cumprimentasse. - Oi meu nome é Angelina McGinty você deve ser Carmen de la Rosa. - sorri simpática com a mão erguida esperando um aperto de mão, enquanto que com a outra mão lia o papel em que as informações sobre o lugar estavam escritas.

— A irlandesa, é claro! Entre por favor. - Ela retribuiu meu cumprimento e puxou minha mala para dentro com facilidade - Eu cheguei ontem aqui. Arrumei um pouco o lugar. Espero que não se importe, tomei a liberdade de escolher a suíte para mim, mas deixei o quarto maior para você. - conforme ela falava não me contive e soltei uma risada que poderia facilmente ser mal interpretado. - Do que está rindo?

— Desculpe, é seu sotaque. Acho engraçado.

— Sou mexicana, meu sotaque ainda é extremamente exagerado. Mas também acho seu sotaque engraçado. Tem um toque meigo.

— Fico feliz que uma consiga entender a outra. Quando falei com o taxista ele me pareceu um tanto confuso com o que eu dizia. - Ambas gargalhamos. – Bom, Carmen, vou me retirar para arrumar minhas coisas no quarto.

— Tudo bem. Vou sair para encontrar alguns amigos daqui. - Entrei no quarto e pude ouvir a porta batendo. Estava sozinha.

Ouvi a voz encantadora de Ed Sheeran cantando The A Team, era meu celular. Estava recebendo uma chamada de Niall.

— Alô Angelina?

— A própria.

— Por que não me avisou que desembarcava hoje? — Niall me parecia preocupado.

— Porque a ultima coisa que eu queria era você me buscando no aeroporto.

— Eu tive que ligar para os seus pais pra descobrir que você estava em Londres.

— Desculpa Niall, queria lhe fazer uma surpresa.

— Onde você está agora?

— Em um apartamento que eu aluguei pra dividir com uma mexicana.

— Você está louca? Faz ideia de como isso é perigoso? - Eu consegui notar que ele estava bravo apenas pelo tom de sua voz ao telefone. - Eu podia te levar para algum hotel.

— Claro que não! Eu estou bem Niall. Não se preocupe. - tentei acalma-lo.

— Me passa seu endereço. Vou busca-la para irmos almoçar.

— Vou tomar um banho e te mando uma mensagem com o endereço, pode ser? — Sugeri.

— Seja rápida, estou faminto.

— Como sempre.

Desliguei o telefone e perambulei pela casa em busca do banheiro.

Era um cômodo pequeno, contava com um vaso sanitário branco, uma pia, um armário com espelho e um boxe com portas de acrílico.

Despi-me, liguei o chuveiro e deixei a água morna cair sobre meu corpo.

Aproximadamente quinze minutos depois sai do banheiro enrolada em duas toalhas e me vesti. Peguei a carteira e o celular. Mandei uma mensagem para Niall que apenas me respondeu “te busco em 5 minutos, esteja pronta”.

Enquanto esperava por Niall, aproveitei para arrumar algumas das minhas coisas no armário embutido branco que se expandia ao longo do quarto que agora me pertencia.

Mal havia começado a desfazer as malas e meu telefone tocou novamente. Era Niall novamente.

— Desce logo, o motorista está parado em frente ao seu edifício e eu estou faminto.

— Conte-me algo que eu não saiba Nialler.

Desci os seis lances de escada com muita pressa. Estava com saudade. Queria abraça-lo e contar as novidades.

Abri os portões pretos e tive a visão de Niall todo arrumado, calça jeans, blusa branca e um tênis branco cano médio.

Ele estava encostado em um carro. Sorri alegre para ele, que abriu os braços esperando um abraço. Desci os mais rápido que consegui os cinco degraus que davam acesso à calçada. O abracei.

O abraço de Niall era quente, confortável, apertado. Aquele abraço me lembrava de muitas coisas.

— Como você está? - Ele perguntou se afastando de mim.

— Com saudades, cansada e morta de fome.

— Essa é minha garota! - gargalhamos juntos.

— Vai me levar para comer ou não? - Minha barriga urrava de fome.

— Claro, vamos.

Ele abriu a porta do carro para mim. Entrei, seguida por ele, que fechou a porta.

— E você Niall, como está aqui em Londres? - perguntei tentando puxar conversa.

— É tudo maravilhoso. A comida é ótima.

— Desde que veio, esqueceu que têm amigas. – Fiz piada, mantendo a expressão séria, para analisar a reação dele.

— Você acha? Te ligava a cada dois dias. Você é que nunca respondia minhas mensagens, não me ligava e nem me procurava. - ele foi direto. Senti que havia ficado meio chateado com a brincadeira.

— Não esperava por essa resposta. Mas me responda como é ser famoso? Muitas fãs loucas? - sorri esperando que ele me desculpasse.

— É incrível, as fãs são engraçadas. Eu gosto muito de tudo isso. É divertido.

— Muitas meninas, não é? De inocente você só tem esse rostinho.

— Sr. Horan chegamos. - O motorista nos interrompeu avisando que havíamos chegado ao nosso destino.

Niall colocou um boné e uns óculos escuros, me entregou acessórios idênticos aos dele e pediu que eu amarasse meu cabelo. Não entendi muito bem, mas obedeci e o segui.

Entramos na lanchonete meio vazia, era um lugar aconchegante. Música agradável e uma junk box fixada na parede tocando alguns sucessos do Elvis Presley. Aquele lugar não parecia se encaixar na tão movimentada Londres.

Sentamos num canto reservado da lanchonete e notei que ao lado de fora, haviam algumas meninas sentadas à calçada como se esperassem alguma coisa.

— O que foi isso Niall? - Questionei o disfarce.

— Tenho que me disfarçar, ou não teremos descanso.

— Fãs? - perguntei, ele assentiu com a cabeça e sorriu. - Nossa, eu estava com saudades do seu sorriso. Só que antes não tinha aparelho.

— E eu estava com saudades desse seu cabelo. - ele apontou para o coque que escapava por baixo do boné. - Você parece com alguém…

— Se você disser Merida eu te bato. - ele gargalhou alto e logo se conteve quando olhou para fora e viu que mais gente estava parada em frente à lanchonete.

— Exatamente. Merida a princesa Vicking do filme Valente. Assisti a esse filme no cinema com os meninos, pensei logo em você. – ele continua rindo. Dei um soco em seu braço e ele resmungou.

— Eu te avisei! Vamos pedir logo. Estou faminta.

— Eu peço. - Ele tomou o cardápio da minha mão, fechou e fez sinal para a garçonete que logo estava parada ao lado de nossa mesa. - dois hambúrgueres com bastante molho, duas batatas grandes com cheddar, dois refrigerantes grandes e três fatias de torta de cereja. - A garçonete anotou e logo nos deixou a sós novamente. - Bom Merida – ele sorriu enquanto eu apenas mostrava a língua. - tenho que apresenta-la aos meninos.

— Eu já os conheço. Liam Payne, Louis Tomlinson, Harry Styles e Zayn Malik. - respondi rindo bastante.

— Esqueceu de um.

— Não, falei o nome de todos.

— Esqueceu Niall Horan o irlandês lindo e fofo que derrete o coração das meninas por onde passa. - ambos gargalhamos bastante.

Nosso pedido logo chegou. Entre uma mordida e outro Niall tentava conversar.

— É serio tenho que te apresentar aos meninos. - Em menos de cinco minutos ele já havia comido o hambúrguer inteiro.

— Seu desejo é uma ordem, caro amigo. - Terminei minhas batatas.

Ficamos calados até acabar a refeição. A cena era engraçada parecida com competições de “quem come mais rápido”. Não demorou muito tempo para acabarmos de comer. Niall ficou parado me olhando com uma expressão marota. Fiquei seria sem entender nada. Ele estava concentrado em algo. Comecei a me sentir envergonhada e a corar. Ele já estava me encarando há exatos três minutos quando tudo aconteceu.

— Nossa Niall, dessa vez você se superou – Ele acabara de arrotar. Um alto e claro arroto. Alto demais. As poucas pessoas da lanchonete nós olharam.

— Oh meu Deus, fiz besteira! - Ele exclamou quando viu algumas fãs com o rosto colado no vidro da lanchonete e algumas outras tentando entrar na lanchonete.

— Niall eu não posso correr, estou cheia.

Niall fez sinal para a garçonete, deixou uma nota de 50 euros para pagar a conta. Agarrou-me pelo braço e me puxou para fora do lugar. Assim que saímos demos de cara com cerca de 20 garotas com cartazes e câmeras fotográficas. Enquanto tentávamos encontrar um jeito de chegar ao carro, uma das meninas arrancou meu boné, soltando meu cabelo.