~Beth~

Na manhã seguinte, me levantei antes de todas para poder ir para a clareira, tive que desviar de Jules e Cindy, que estavam jogadas na cama, de roupa e sapatos, consegui ver o rosto de Cindy, que estava todo borrado da maquiagem, cobri a minha boca com a mão, para não rir alto. Saí do chalé, e realmente, acho que os campistas não são muito chegados na limpeza depois da fogueira, porque o chão estava imundo, cheio de copos de plástico. Dei a volta, e subi a trilha para a clareira.

As flores ainda eram os Dentes-de-Leão, e não me preocupei em mudá-las, só me atirei no mesmo lugar que costumo me deitar, e fiquei lá.

O dia estava mais quente, e ficava cada vez mais, conforme o sol dava os primeiros sinais de vida, consegui ver a carruagem de Apolo passar e aterrissar no Acampamento. Apolo realmente era diferente do que eu pensava, não era inteiramente orgulhoso e narcisista, ele tinha aquela parte, que quase podia dizer que era humana. Fiquei uma hora deitada, me divertindo mudando a cor das flores.

Ouvi um estrondo, como um tiro, vindo da direção oposta ao Acampamento, me levantei, e segui os barulhos. Vi a barreira feita pelo pinheiro de Thalia, que estava ativa, o problema era que bem atrás havia uma fúria, tentando passar pela barreira. Ela tentava se chocar contra a barreira, que só a bloqueava. Quando ela me viu, sorriu com os dentes afiados para mim, ela respirou fundo, como se cheirasse algo.

–Hum, sinto cheiro de uma Semideusa, e... flores!

Dei um passo atrás, ela começou a aumentar as investidas contra a barreira, que apenas a repelia. Senti como se eu fosse um premio, ou algo que ela iria ganhar se conseguisse atravessar. Senti um calor familiar, e sabia que era ele.

Apolo, não consegui ver ele chegando, mas vi que ele acertou a fúria com uma espécie de lança de luz, parecida com o raio de Zeus.A fúria se debateu antes de sumir se transformando em pó.

Eu estava perplexa e chocada, como que uma fúria podia rastrear um Semideus dentro do acampamento? Isso tecnicamente é impossível. Podia sentir a minha respiração ofegante, e o meu coração batendo rápido.

Só depois de alguns minutos, reparei que Apolo me encarava, com uma expressão nervosa, ele chegou perto de mim enquanto falava.

–O que você está fazendo aqui?!

Realmente era isso que ele iria perguntar? Nem aquele “Você está machucada?”, não, ele não ia perguntar isso, na verdade, nem sei porque ele se importaria. Fiz uma careta para ele, tentando reprimir as lágrimas, eu não tinha uma boa historia com fúrias, e elas me lembravam de coisas que gostaria de esquecer, quando senti a primeira lagrima cair, eu me virei de costas para ele, e consegui ver que, o meu nervosismo, tinha matado todas as flores ao meu redor, deixando um rastro de flores mortas, eu me abaixei e comecei a criar novas, no lugar das velhas.

–Isso era, pelo menos um campo de flores, e eu gosto de campos de flores sabe? Eu fico todas as manhas.

Ainda estava de costas para ele, que não me respondeu, achei que ele tinha feito aquela mágica de se “tele-transportar”, então me virei para vê-lo, e realmente, ele não estava mais lá, respirei fundo e me virei de volta, e dei de cara com ele, que não parecia mais irritado ou nervoso. Ele me olhava agora com uma mistura de preocupação e alguma outra coisa. Percebi que ele tinha notado que eu estava chorando, e chegou mais perto.

–Porque está chorando? A fúria te machucou?

Me virei de lado e continuei a refazer as flores.

–Não estou machucada.

–Não respondeu a primeira pergunta.

Me virei para ele, e o encarei, deixei que ele visse meu rosto, e me virei, de volta com um riso irônico e triste.

–Não tenho boas historias com fúrias.

Tinha terminado de arrumar uma parte das flores, então me deitei de volta no meu lugar, ele me olhava meio curioso.

–Ninguém tem boas historias com fúrias, mas eu gostaria de ouvir a sua, se quiser me contar, claro.

Sorri verdadeiramente para ele, eu não estava mais chorando, então falei descontraidamente.

–Você está fazendo um sombra, será que pode ir um pouco mais pro lado?

Ele fez uma cara de magoa falsa, mas se afastou.

–Prefere o sol a mim?

–Não é a mesma coisa?

Ele riu e se sentou do meu lado, serio, nunca pensei que eu ia ver um deus sentando em volta de flores, ele me encarava, e corei, isso é estranho, porque normalmente não coro fácil.

–E então?

Ele estava falando da minha historia com fúrias, o meu sorriso sumiu, não acredito que eu ia cotar essa historia para ele.

–Antes de eu nascer, o meu pai era casado, o nome dela era Teresa, eles se conheceram em um hospital, quando ela era medica, eles se casaram, e ...realmente eram felizes, pelo o que eu sei. Um dia eles estavam em uma viagem para Chicago, e eles estavam discutindo, o meu pai estava dirigindo. Ele não viu um caminhão no sentido oposto, e... bem, ela morreu, o meu pai ficou desolado, ele não tinha mais motivos para viver e culpava a si mesmo pela morte dela. Em um verão, meu pai foi para Las Vegas, e estava viciado em jogos e acreditava que sempre ia ganhar, ele conheceu Perséfone lá, e tiveram uma noite, dessa noite eu nasci, indesejada pelos dois, Perséfone contou aquela historia dos deuses e blá-bla-bla para meu pai, e me deixou com ele. Quando eu tinha 13 anos, era aniversario de Teresa, o meu pai, estava mal, bem mal, e dirigiu comigo até onde ela morreu, e esperou um carro, ele ia se matar, e me levar junto, bem, digamos que uma fúria sentiu o meu cheiro nesse meio tempo, ela atacou o carro e matou meu pai, só não morri por conta do meu sátiro, que me encontrou nesse meio tempo, e me trouxe para o Acampamento, eu estava bem machucada.

Eu estava chorando muito, coloquei o meu cabelo para o lado, e mostrei a cicatriz, que tinha, ela ia da minha orelha até o meio da minha nuca.

–Então,eu nunca gostei do Acampamento, quando aconteceu o acidente comigo e com o meu pai, era uma primavera, Perséfone estava no mundo humano, ela podia sentir que eu estava em perigo, e mesmo assim, ela não fez nada, por isso me recuso a chamá-la de mãe. Acho que existe uma diferença entre ser pai ou ser mãe, entre deuses e semideuses, e eu falo como se você não fosse um deus.

Dei uma risada, não estava mais chorando, mas me sentia mal por dentro.

Olhei para ele, o sol passava pelos cabelos loiros, e realmente me dava uma visão bem bonita.

–Eu sinto muito.

–Eu também sinto.

Ficamos alguns momentos nos olhando, até que eu resolvi falar.

–Sabe, você é diferente do que eu pensava.

–Como você pensava que eu fosse?

–Bem, se é para falar a verdade.... pensava que você era um narcisista orgulhoso, e pelo menos para as outras garotas, isso é bom.

–E para você, isso não é?

–Não, sabe... você é bonito e quente, mas essas “qualidades”, para mim não são suficientes, para amar você. Mas como eu disse, você é diferente.

–Hum, acho entendi.

–Sabe, uma das meninas me perguntou, se um filho de um Deus com um Semideus, é 75% deus, e se isso fosse possível, ela gostaria de ter tantos filhos com você, que iriam ter que fazer um Acampamento 75% sangue.

Nós rimos, até que escutei o chamado de Quiron para começar o treinamento, então nos despedimos, e fui treinar.