Acordei com aquela típica preguicinha de manhã. Era cerca de 08:00, meus pais já haviam saído para trabalhar e já estava na hora de levantar, o sol estava brilhando lá fora e também tinha prometido a mim mesma que iria no supermercado ainda de manhã. Eu não estava com fome, então simplesmente levantei e fui direto para sala, liguei a televisão e fiquei um tempo por lá. Como de costume, na maioria dos jornais da televisão, fora os casos de assassinatos e tráfico de drogas que estão todos os dias, eles sempre tem algo a falar sobre o famoso Superman (ele tomou praticamente conta do noticiário da manhã), o cara que até quando sai dos holofotes vira matéria. Dessa vez, o jornal deu enfase por ele ter salvado duas pessoas que caiam de cima de uma ponte, arremessadas do carro após perder o controle em uma em um violento acidente. Típica tragédia que infelizmente se tornaram cotidianas, sei não, mas para mim, a sociedade no geral está uma desordem pública e estão acostumados a ver o tal homem de aço "salvando a pátria". Depois de um jornal entediante, levantei do sofá, comi uns biscoitos com um copo de café, tomei banho, arrumei toda basiquinha e sai. Eu me chamo Jane, Jane Rosália, (por favor, Jane com um tom americanizado, não venha me chamar como a Jane do Tarzan, mas nada contra o Tarzan, ok?) tenho cerca de 1,70 de altura, pele morena e 20 anos de idade, prestes a entrar na faculdade, graças a Deus. Sou claramente amante de chocolate e tenho fobia a aranhas, ok, que tal fingir que foi uma apresentação perfeita? Esse dia ficou marcado em mim, por que, ainda de manhã, no caminho até o supermercado comecei a sentir um mal estar esquisito, ao mesmo tempo, estava conversando com minha mãe ao telefone.

— Sim mãe, estou quase chegando ao supermercado. Vai querer mais alguma coisa? - comecei a sentir dores nas pernas e mesmo assim fingi que não era nada, mas ai o coração acelerou - Mãe, eu não estou muito bem não. - escutei ela falando algo, dando uma leve desesperada quando falei isso, mas ai veio a tontura e... fudeu. Já sabe né. O desmaio só não foi completo porque eu ainda escutava ao meu redor e era claro que muitos curiosos começaram a se juntar em minha volta, que pelo menos me ajudaram a me sentar na calçada. Eu não tava enxergando direito, escutei a voz da minha mãe, que pelo jeito havia saído do trabalho correndo e ido até a mim. Em meio ao barulho de curiosos e dos carros que passavam na rua, um cara se aproximou dizendo que me levaria até o hospital. Minha visão começou a clarear, estava voltando a enxergar direito e olhei para aquele cara que acabara de oferecer ajuda, uma feição serena e... bonita que nunca tinha visto no bairro. Ele e minha mãe me ajudaram a levantar e a entrar no carro, segurei a vontade de perguntar a minha mãe se por acaso, o cara era um anjo, por suas feições e pelo momento que ele apareceu, afinal pelo desespero dela, iria me dar um xingo mesmo que eu não estivesse nem nos meus 50%.

Enquanto tomava soro na veia e esperava o exame de sangue ficar pronto, tentava esquecer a vergonha de passar mal na rua, ao menos agora eu sabia que não ia morrer, afinal minha imaginação é muito fértil. Tentei lembrar detalhes do rosto do cara que me ajudou, tentativa que não serviu de nada. Fiquei a tarde toda vendo pessoas passando mal passando em minha frente para lá e para cá enquanto esperava para poder ir embora. Quando finalmente pude ir embora, só queria saber de uma coisa: deitar, dormir e esquecer do ocorrido, como se eu fosse fechar os olhos e tudo ficasse bem.

Naquele mesmo dia, enquanto estava deitada assistindo televisão com o volume baixo, totalmente entediada, enrolada nas cobertas com uma cara de total deprê, eu... juro que para mim eu realmente vi, mas muito provável ter sido um sonho, um... um delírio... pois pelo pouco da janela que estava aberta, vi Superman. Foi muito real. Em baixo da chuva forte que caia lá fora, o vi surgindo, voando, afinal meu quarto é no segundo andar. Dava para ver até perto de seus ombros, com um olhar tranquilo e imaginei ter visto um pequeno sorriso. Ele olhou para o lado esquerdo e logo sumiu, ma mesma hora que minha mãe chegou ao quarto para fechar a janela. A chuva começava a molhar a cama.

— Está tudo bem filha? - perguntou-me ela.

— É, eu tô. - respondi desanimada mas ainda olhando para a janela - É só a chuva mãe, só a chuva. falei referindo ao barulho que fazia na janela. É difícil pensar, que a vida queira te dar algo surpreendente e boa através de uma queda, concorda?

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