Olá pessoas! Há quanto tempo, não?

Essa fic foi inspirada em uma música do grupo de jpop MeseMoa., Sesshoseki Session (e a música foi inspirada em uma lenda japonesa :D). Como o canon pede, Azin kitsune é obrigatório, e a música me lembrou muito ele, então essa fic nasceu naturalmente.

Tão naturalmente que a música foi lançada na quinta e eu estou postando ela hoje, no sábado asdhuahusdh

Espero que gostem dela, foi divertido de escrever :3

Eu tenho um recadinho pra dar nas notas finais dessa fic, então se você me acompanha, dá uma olhadinha lá, okay?

Boa leitura!

Há uma lenda pouco divulgada naquela região.

Existe uma raposa — o espírito de uma raposa, há quem a chame de kitsune — que habita um vilarejo não muito distante daquela cidade famosa. As pessoas daquele lugar provavelmente não sabem, mas essa raposa vive por lá há décadas, talvez séculos.

Por vezes, ela assume formas humanas para passear entre os mortais e se envolver com eles, apenas para desaparecer por anos a fio e tornar a surgir. Há relatos sobre muitas dessas vindas, de pessoas que podem afirmar ter conhecido e vivido um romance com a raposa, tantos que muitos não devem passar de boatos.

Se ela é perigosa? Pode ser… ou pode não ser. Há diversas histórias sobre ela, mas se me perguntar, eu tenho a minha favorita. Posso contá-la a você?

……

Naquela época, ela tinha recebido o nome de Azin e adotado a forma de um rapaz de cabelos brancos, olhos vermelhos e uma fixação pela cor azul. Azin havia sido adotado pelo sacerdote do vilarejo e vivia no templo. Não realizava rituais, mas tampouco os atrapalhava; costumava desaparecer no dia de cada ritual e voltava horas depois, quando o único resquício do que acontecera fosse uma vela solitária acessa no canto da mesa.

As pessoas do vilarejo fingiam não se incomodar com Azin; quase agiam como se ele não existisse, como um fantasma. Havia um preconceito implícito e velado pelo rapaz de olhos afiados e sorriso misterioso, a quem muitos chamavam de perverso pelas costas, quando achavam que não estavam sendo observados - ledo engano, a raposa sempre observa tudo.

Azin conseguia viver uma vida pacífica, sem perturbações internas ou externas. Até a vinda de um humano.

Tairin, o monge que havia lhe adotado, tinha o costume de acolher forasteiros no templo. A construção era grande o suficiente para acolher aqueles que estavam ali apenas de passagem ou por alguns meses, e Azin também tentava ficar fora do caminho deles, mesmo quando Tairin pedia que se juntasse a ele em uma roda de orações ou algo semelhante.

Mas aquele humano era diferente. Azin soube no momento em que foram apresentados.

Havia algo que a raposa aprendera em tantos anos de existência. Existem pessoas capazes de verem através de disfarces, através de algumas magias e capazes de compreender perfeitamente o que viam. Mas também existem as que, mesmo enxergando a verdade, se recusavam a ver as coisas como deveriam.

Aquele humano pertencia a um desses dois tipos. E humanos com essas visões tendiam a significar problemas.

Ele havia dito que Azin parecia com uma raposa. Tairin dera risada e concordara, mas Azin ainda estava ocupado decidindo se Jin, como o humano se chamava, era uma ameaça à sua paz ou não.

Na segunda vez em que se encontraram, algumas semanas depois de descobrir que Jin não era um mero viajante e que tinha intenções de morar definitivamente no vilarejo - embora não tenha revelado os motivos por trás daquele desejo, - o humano lhe presenteara com uma máscara de raposa. Estava na época de algum festival para qual Azin não dava a mínima, mas Jin achou que seria uma boa ideia lhe dar a máscara, tão branca quanto os cabelos de Azin e que mesmo assim falhava terrivelmente em lhe representar.

Aceitara o presente porque sabia que não podia recusar, e começara a usá-lo como piada. Se era tão parecido com uma raposa, que mal teria andar por aqui com a marca de uma como acessório? As pessoas não ligavam para como ele agia ou o que vestia, usar uma máscara festiva não teria qualquer impacto.

A raposa sabia até que ponto os humanos eram enganáveis.

Na terceira vez em que Azin e Jin se encontraram, a raposa estava bêbada demais para ser mal humorada. De todas as comemorações inúteis dos seres humanos que já havia testemunhado — e, acredite, foram muitas — a virada de ano era sua favorita. Não se importava com qualquer outra trivialidade que os mortais tanto gostavam de festejar, mas Azin se sentia atraído pelos fogos coloridos, luzes brilhantes, doces saborosos e bebidas inquietantes.

Jin não foi invasivo, ao contrário do que os antigos amantes da raposa costumavam ser. Lhe fizera companhia durante o Ano Novo e não tentara nada. No outro dia, Azin despertou em sua cama — onde pessoalmente detestava adormecer — ainda mais desconfiado do humano. Ninguém era tão bom com uma raposa. Nem com as reais e muito menos com as espirituais.

Não houve um confronto. Pouco tempo depois de Jin conseguir uma morada fixa no vilarejo, ele encontrou Azin vagando por entre as casas durante a realização de um ritual no templo. Não era comum que humanos faltassem aos rituais, portanto a raposa estava acostumada a andar sem rumo e se aventurar por algumas horas, sozinha. Mas aquele dia estava frio e Jin lhe oferecera uma bebida quente, não havia porquê negar.

Naquele dia, Jin lhe chamara de “raposa perdida” e lhe contara o motivo para ir morar em um lugar tão afastado do mundo. Também foi naquele dia que Azin decidiu tê-lo como amante.

Havia um problema em ser uma raposa espiritual. Uma vez que decidisse tomar um mortal para si, esconder sua identidade passava a se tornar mais desafiador.

Ao contrário do que dizem as demais lendas, as kitsunes não sugam ou consomem a vida dos humanos. Não é através de sua energia que eles conseguem vitalidade. Não era aquilo que costumava entregar sua presença aos mais sensíveis.

A raposa sabia até que ponto os humanos eram ingênuos.

O caso durou anos. Anos o suficiente para que Tairin falecesse e o templo se tornasse menos frequentado. Azin ainda vivia lá, mas os estrangeiros já não eram mais acolhidos, nem os rituais eram realizados sempre nas datas corretas. Às vezes, algumas pessoas do vilarejo pediam para passar a noite ou fazer uma oração especial e não eram recusadas, mas Azin jamais promoveu qualquer tipo de culto.

Para o bem ou para o mal, aquilo gerou rumores. Ou apenas intensificou os que já haviam e que as pessoas temiam espalhar. A fama de “raposa” aumentou, principalmente motivada pela máscara que carregava consigo.

E, para o bem ou para o mal, outro forasteiro chegou à cidade. Era uma sacerdotisa de uma religião diferente da de Tairin, e Azin não se deu ao trabalho de aprender seu nome; desde que não perturbasse sua vida, ele não se importava. Mas, ao contrário de Jin, aquela sacerdotisa não ia viver ali; queria apenas passar alguns meses antes de seguir viagem para o Oeste.

E Azin teria ignorado sua presença, tal como ignorava a da maioria das outras pessoas, se aquela moça não trouxesse consigo histórias sobre raposas espirituais e seus amores por humanos.

Não foi coincidência. Azin soube disso no instante em que a primeira pessoa o parou enquanto caminhava até a casa de Jin. Azin soube que aquela sacerdotisa, de nome Lin, era uma daquelas que enxergavam as coisas como elas eram. E, como tal, ela não deixaria que a raposa escapasse.

Infelizmente, uma vez que tomasse um amante, sua energia espiritual se tornava mais intensa. Se tinha algo a ver com relações íntimas ou sentimentos afetivos, não se sabe com certeza. Mas era fato de que Lin, já conhecendo as histórias – que, pelo pouco que ouvira por aí, era muitas sobre a raposa – não deixaria que Azin passasse despercebido, ainda mais quando conseguia ver e sentir sua aura.

E, uma vez identificado, era difícil se manter escondido. Porque as lendas estavam certas, a kitsune, Azin, amava os humanos. E os humanos amam a raposa.

A partir daí, o feitiço estava feito. Não de forma consciente, talvez pela primeira vez, mas estava feito. A raposa amava ser bajulada, ser elogiada.

Mas Azin tinha um padrão, que algumas lendas distorciam apenas por questões dramáticas: ele não tinha mais de um amante por vez. E Jin era bom para si, não tinha razões para descartá-lo. Se fosse capaz daquilo, certamente se apaixonaria por ele.

A raposa sabia até que ponto os humanos podem ser ignorados.

A revolta veio de forma natural, pelo menos do ponto de vista da raposa.

Seres humanos são egoístas. A maioria tem um ego que se fere facilmente. E eles tendem a detestar serem contrariados.

Não entenda mal, Azin nunca os dispensou diretamente. Ele preferia brincar de desaparecer, com a leveza que uma raposa real e o mistério de uma espiritual. Era um jogo divertido; receber elogios e presentes de pessoas que até já alguns meses o ignoravam, mas que agora o desejavam mais do que podiam expressar.

Assim, quando todos decidiram que, se eles não poderiam tê-lo, ninguém mais poderia, não foi uma surpresa. Tampouco foi uma surpresa quando Jin se ofereceu para morrer em seu lugar, os dois escondidos no quarto da raposa no templo, sabendo que o tempo estava se esgotando.

Mas a raposa já conhecia o desfecho daquela história. Não seria a primeira vez que fazia aquele "sacrifício", que deixaria as pessoas lhe tirarem a vida e ficaria por alguns anos vivendo à espreita, esperando até poder voltar para uma vida nova – se pacífica ou caótica, ainda não sabia.

Jin foi contra, lhe abraçando e exigindo que não lhe deixasse, ou pelo menos que lhe deixasse morrer consigo. Azin lhe beijou uma última vez e sorriu para si. Pensou em pedir por um elogio, talvez por uma declaração, mas nada daquilo realmente importava.

Almas retornavam, não apenas as imortais como a do kitsune, mas as dos humanos também. E, disse com cuidado, se Jin voltasse àquele mundo e estivesse ao seu alcance, Azin o escolheria mais uma vez. Assim como escolhera aquela e outras cinco vezes antes.

E, pela primeira vez naquela vida — não em sua existência, ela tinha momentos bondosos — foi Azin quem presenteou Jin. Não lhe devolveu a máscara de raposa, mas lhe entregou outra coisa que sempre lhe acompanhou: um colar com três círculos em azul e dourado, um símbolo religioso que não combinava com sua aversão a rituais, mas que sempre carregava consigo.

Era uma promessa.

Sua morte foi tranquila. Ou talvez nem tanto, com 7 flechas perfurando sua pele e seus órgãos, mas a raposa já tivera mortes piores e mais violentas para considerar aquela algo quase gentil.

E após sua morte, a paz voltou ao vilarejo. O feitiço foi quebrado e Lin, a sacerdotisa que originalmente só ficaria por alguns meses, se estabeleceu no templo e passou a orquestrar os rituais.

Jin guardara o colar, mas se afastara da cidade. Muitos disseram que se envergonhava de ceder ao feitiço da raposa por tantos anos, mas a verdade estava um pouco distante daquilo. Azin não precisara enfeitiçá-lo, Jin se apaixonara pela aura, pela raposa que via por trás dos olhos vermelhos e sorriso afiado. Não houve um feitiço pois nunca houve mentira — embora também não houvesse verdade.

Pois ele e a sacerdotisa eram capazes de ver por trás da magia, mas ambos pertenciam a tipos diferentes.

Ah, e a raposa? Ela não se preocupou por ver o amante ir embora. Enquanto se passava por uma raposa jovem e o via se afastar, sabia que não era a primeira vez que via aquela cena, e que não seria a última. Quando tudo se acalmasse e a raposa pudesse voltar a habitar o vilarejo como um humano, aquela alma voltaria a cruzar seu caminho.

Porque a vida de Azin havia acabado, mas a existência da raposa não estava nem próxima do fim.

E essa foi a fanfic do dia!

O que achou? Ela combina com o Azin? A raposa vai encontrar o amante dela de novo? Me conta!

A música em que eu me inspirei foi essa (deem stream! o grupo merece muito. E tem legenda em PTBR também): https://www.youtube.com/watch?v=fjITyFLoX6c

E a lenda que inspirou a música é essa: https://yokai.com/tamamonomae/

Bom, vamos aos recados da paróquia!

Por causa de algumas coisas na minha vida (tanto acadêmica, pessoal, financeira, familiar e questões físicas e psicológicas também), eu não tenho me sentido bem para escrever nos últimos meses. Com exceção dessa fic de hoje, eu não tenho conseguido escrever nada sem me sentir em pânico, então acho melhor para mim e para a minha produtividade se eu me afastar até me recuperar do que tá me incomodando. Mas a ideia de abandonar qualquer um dos meus projetos me deixa irritada, então eu estou em hiatos oficial por um tempo indefinido.

Pode ser que ocasionalmente eu apareça para postar alguma coisa, mas a ideia é me afastar no geral mesmo. O Peso da Profecia vai ficar suspensa até eu me sentir bem pra voltar.

Obrigada por entenderem, vocês são tudo ♥

Beijinhos e até breve, Mel ♥

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.