Por Verônica

–... Vamos sair daqui? -mal pude acreditar no que Jonas falava, ainda mais que ele tinha aquele sorriso e olhar sedutores que deixaram meus joelhos bambos.

Havia alguns dias que nós não fazíamos uma das nossas entrevistas. Eu resolvera me afastar um pouco, já que não agia como eu mesma na presença dele, e não queria ser uma destruidora de lares. Assim, mesmo me sentindo muito sozinha em casa, pois Davi e Vicente estavam no Geração Brasil, me mantive afastada.

Pensei que colocaria os meus pensamentos em ordem, que aquela loucura sairia de mim. Mas não parei de pensar em Jonas. Quando o vi em sua sala, constatei com mais força, a enorme falta que sentia dele. E agora, ele vinha com aquela pergunta potencialmente perigosa:

–Sair da Marra? Mas você não tem que se preparar para apresentar o Geração Brasil?

–Não. Hoje o programa vai ter uma duração menor e a Pamela vai apresentá-lo sozinha...- me incomodou quando ele falou o nome da esposa- Estou precisando espairecer, Verônica. Vamos? o ar prepotente dele sumiu nessa última frase, ele falara de modo tão doce, carente, até parecia um cachorrinho que caiu do caminhão da mudança.

–Está bem, Jonas, vamos sair daqui- eu podia estar caindo numa armadilha, mas não consegui dizer não a ele.

Por Jonas

Verônica e eu estávamos sentados na areia da praia. Eu olhava aquela mulher linda e sensual, um vento gostoso soprava em meu rosto. Ahh, aquele cheiro de maresia, a praia estava tão vazia, me sentia conectado ao universo, pois havia a imensidão do oceano, o sol mostrando os seus últimos raios do dia, aquele tom maravilhoso de laranja preenchendo o céu e até uma parte do mar, era tão bonito. Sentia uma liberdade, e a pressão de antes havia desaparecido, parecia que eu estava no paraíso.

Na verdade, seria o paraíso mesmo se eu estivesse abraçando, beijando, agarrando aquela bela mulata brasileira de lábios carnudos ( e provavelmente deliciosos) que estava a minha frente. Só que em vez disso, Verônica me enchia de perguntas, como ela era curiosa... Mas isso também era bom, já que eu adorava conversar com Verônica, ela me deixava tão a vontade e seu sentira muita falta disso nos últimos dias:

–.... Então quer dizer que você gostava de vir espairecer aqui quando jovem.- disse Verônica segurando um gravador dos tempos da caverna e eu ri.

–Verônica, sabia que o Esperto, soltem as trombetas, tem um gravador de voz? Você não precisa ... -brinquei.

–Me deixa com meu jeito analógico... Meu gravadorzinho nunca falhou comigo. Para de implicar, Jonas Marra -ela deu um belo sorriso, não consegui mais criticá-la, e ela continuou -Já que estamos falamos do seu passado, conte um pouco sobre a sua família da Taquara.

–Ahhh- disse entristecido, mas era mais manha- aqui está tão bonito, não quero estragar a beleza desse lugar. -se eu pudesse apagaria essa família da minha existência.

–Jonas Marra, uma hora a gente vai ter que falar disso.

–Hoje não, Verônica... Hoje não.- pedi.

–Eu ouvi falar que você não se dá bem com a sua mãe. Mas nem do seu pai você estaria disposto a falar?

–O meu pai Pedro Marra- sorri, apesar de ter sido tão doloroso perdê-lo, eu me lembrava de tantas coisas boas- era incrível... O melhor homem que conheci.

–Então, você o admirava?

–Imensamente...

Comecei a contar sobre o meu pai, e ela continuou com as suas perguntas, sorria e brincava às vezes. Com Verônica, sentia que podia ser eu mesmo. E além de tudo, ela me fazia olhar o passado, um passado bom e com seu jeito simples e sincero me incentivava a pensar no meu futuro, que daqui um tempo chegaria a um impasse. Será que estava agindo certo? Como eu gostaria de ser lembrado? Eu tinha me metido em tantas confusões nessa vida... Após falar do meu pai, senti certa curiosidade sobre ela:

–E você? Como é com a sua família?

–Ahhh, o Vicente é praticamente tudo para mim. O meu orgulho!

–Ele é um excelente garoto e muito talentoso.

–Eu sei -ela riu orgulhosa -Já Davi é um grande amigo. Um verdadeiro irmão! Companheiro...

–Já ele tenho algumas dúvidas. -sorri, sabia que a provocaria.

–Para de implicar com o Davi. Ele é um ótimo rapaz, cheio de caráter.- ela defendeu o irmão.

–Vou tentar, se ele parar de arrumar confusão para mim.- preferi desviar o foco de Davi, senão ela ia acabar discutindo comigo, e apesar de achá-la linda brava, queria manter as coisas em paz. Mas percebi que ela era uma mãe leoa, irmã leoa e defendia os seus- E os seus pais?

–Ambos já morreram. O meu pai há apenas alguns meses. Eu os amava muito, Jonas. Creio que eram as melhores pessoas que eu conheci. Seu Vicente ...- ela continuou falando admirada do pai e logo depois comentou da mãe, do jeito que ela falava, realmente parecia amá-los e admirá-los, pelo o que conhecia de Verônica, deviam ser grandes pessoas, pois só mesmo um grande casal para criar uma mulher maravilhosa como ela -Mas me diz quando você virou jornalista e começou a me entrevistar, hein?- ela riu, jogou a cabeça para trás, e depois me olhou firme.

–Bem, você sabe tanto de mim, que eu ... -antes que terminasse a frase, percebi que ela estava incomodada com algo e piscava sem parar, como a maioria das coisas com ela, achei sua expressão e tremeliques engraçadíssimos- Aconteceu alguma coisa, Verônica?

Ela começou a balançar a cabeça descontroladamente:

–Areia!- falou agitada -Caiu areia no meu olho!

Ela estava prestes a esfregar o olho, e me aproximei dela sorrindo, não podia me conter, era hilário, segurei a sua mão:

–Calma, calma. Que vou resolver isso! -falei como se fosse um herói prestes a salvar uma donzela.

Soltei a sua mão, coloquei as minhas duas mãos em seu rosto, mantendo-o firme para que ela parasse de mexer. Me aproximei mais, nossas faces estavam tão próximas, que sentia a sua respiração entrecortada contra o meu rosto, e soprei firme contra o seu olho. Assim eu pude vê-la bem de perto, sua figura era magnífica, sua face tão bela que parecia uma obra de arte, sim era uma obra de arte feita pelo maior artista do Universo, pois somente aquele grande artista, o nosso criador era capaz de fazer algo tão bonito e atraente.

Minha respiração se acelerou, e notei que dela também. Eu sentia certo prazer por minha proximidade mexer com ela dessa forma, já que ela sempre fazia o meu sangue ferver. Com nossos lábios tão próximos, era preciso uma força tremenda para não beijá-la. Mas eu tinha uma tarefa, continuei soprando o seu olho e perguntei:

–Tá melhor?

Ela não falou nada, mas não parecia mais incomodada, então supus que areia já tivesse saído. Relaxei os meus braços. Olhei bem para os seus lábios e não resisti mais. Eu estava louco de desejo. Aqueles lábios foram feitos para serem beijados, assim, vagarosamente comecei a aproximar os meus dos dela.

Por Verônica

Jonas movia os seus lábios para os meus, eu mal conseguia respirar, meu coração parecia que pularia do peito, o ar que saia da boca de Jonas, já beijava a minha boca, como eu desejava senti-lo. Mas por mais que desejasse, eu sabia que era errado, e no último momento tirei forças não sei da onde, como foi dolorido fazer aquilo, e virei o meu rosto.

Nossas bocas já estavam bem próximas, e por isso ainda senti os seus lábios roçando nos meus bem de leve, sendo um pouco mais forte somente canto da minha boca. E só de sentir aquilo, confesso que me arrepiei. De certa forma, estava com o coração apertado. Eu o desejava tanto e me esquivei. Mas isso era bom, pois mesmo sem nunca ter feito nada com ele, eu intuía que se o deixasse me beijar, se sentisse o seu gosto, se atendesse aquela vontade urgente do meu corpo, perderia todas as minhas forças, não conseguiria mais resistir, e me entregaria totalmente. E se me entregasse a ele, estaria perdida.

Depois disso, nos afastamos e olhamos constrangidos para o outro:

–Verônica, eu... -ele gaguejava A-cho que esse lu-gar, o por do sol, eu não ... Jonas tentava se explicar.

–Não aconteceu nada, Jonas. Não se preocupe- disse firme, já estava me recuperando e queria acabar com aquela situação.

–Sim, não aconteceu nada- ele ainda falou pensativo.

–Está ventando muito... Já estou sentido frio, vamos embora?- sugeri, na verdade não ventava tanto, e eu ficara bem quente por causa da aproximação dele, mas aquilo seria o melhor a fazer.

–Vamos - concordou Jonas.

Nos levantamos e andamos em direção ao carro, evitávamos nos olhar. Mas no meio do caminho, ele parou e me mirou firme:

–Verônica, não vai embora ainda. Vamos para outro lugar? Eu não quero...

–Jonas, não sei se ...

–Eu não vou tentar nada. E prometo que falo mais sobre o meu passado! Você não está com fome?- seus olhos eram suplicantes, e ele tinha aquele jeito de cachorrinho.

–Está bem. Mas só porque eu estou com fome... Aliás, aprenda uma coisa sobre mim, Jonas Marra, eu sempre estou com fome...- ri, mais uma vez não consegui dizer não a ele.

Por Jonas

Eu estava tentando levar Verônica num lugar, fazia muitos anos que não ia lá, não sabia direito como chegar, mas confiei que o GPS me levaria. Só que seguindo a tendência dos últimos acontecimentos em minha vida, as coisas não foram como eu esperava. Aparentemente o mapa do GPS estava errado:

–Jonas, acho que se você virar naquela rua, a gente chega lá.

–O GPS diz outra coisa, Verônica.

–Você confia demais na tecnologia. Esse GPS está nos fazendo andar em círculos. -ela foi direta.

–A culpa é sua. -disse um pouco ofendido, já que a tecnologia me traíra.

–Minha? - ela perguntou confusa, nossa como eu gostava daquela expressão de confusão em seu rosto -Foi você quis vir para esses lados.

–Mas é você que faz todos os aparelhos eletrônicos ficarem com erro.

–Claro, eu crio um campo magnético a minha volta que descontrola tudo - ela zombou.

–Com certeza - falei em tom de brincadeira, mas o que ela não sabia é que não estava longe da verdade, talvez não afetasse os equipamentos, mas Verônica realmente tinha um magnetismo impressionante que me deixava louco!

–Jonas, para o carro! -ela ordenou impulsiva.

–Ainda não chegamos.

–Para o carro- ela insistiu -abaixa o vidro, que tá passando um motoboy e eu vou perguntar -ela continuou decidida.

Ela pediu instruções ao motoqueiro, e as seguindo, chegamos ao nosso destino. Ao chegarmos, ela sorriu vitoriosa:

–GPS? Que nada! Quem tem boca vai a Roma!- ela soltou uma risada satisfeita.

–Está bem, a tecnologia falha, mas eu tô aqui para corrigir isso. -dei uma risada, apesar de estar com o ego um pouco ferido, não tinha como não ser contagiado por aquela linda, sincera e animada risada de Verônica.

Estacionei o carro. Andamos um pouco pela calçada e parei:

–Verônica, você está com seu gravador preparado?- perguntei, ela o tirou do bolso, apontou para mim e eu continuei -Quando eu tinha uns 14-15 anos, meu pai me trouxe aqui. Havia uma banca de revista ali apontei o lugar que agora estava vazio. Acho que ele se sentia culpado. Naquele dia, tinha saído o resultado do meu exame de fertilidade depois que eu tive caxumba. E foi constatado que eu não poderia ter filhos, pois não produzia mais espermatozoides. Ele se sentia culpado, mas não tinha culpa alguma. Meu pai trabalhava muito e tinha que colocar a comida na mesa. Gláucia Beatriz é que ficou comigo, mas mesmo com caxumba, ela não me dava sossego, pedia para eu consertar coisas, carregar peso, até fazer a minha própria comida, quando eu reclamava, dizia que eu estava fazendo corpo mole, assim a caxumba desceu.

Por Verônica

Eu escutava a história de Jonas, sua voz era bem clara. Mas percebi a emoção em seus olhos, achei horrível o modo que sua mãe o tratou, parecia que ela não se importava com ele, e a minha vontade era abraçá-lo e consolá-lo, mas sendo jornalista, eu podia apenas perguntar:

–É por isso, que você não se dá bem com a sua mãe? Por que você ficou estéril?

–Não exatamente... Vamos dizer, que por isso e por mais alguns milhões de motivos- ele me olhou triste - Mas não foi sobre isso que eu vim falar aqui. Na verdade, o tópico é o meu pai, e como ele era um grande homem - o seu olhar já me passava uma nostalgia boa - Ele me levou na banca e falou que eu podia escolher qualquer coisa. Eu escolhi uma revista em quadrinhos, era uma história da qual já escutara vários comentários e estava doido para ler. Depois que pagou, meu pai leu o nome do autor e me falou que para deixar marcas no mundo, um homem não precisava necessariamente ter filhos, ele podia fazer sua obra, criar histórias, inventar algo, lutar por uma ideologia, que seria lembrado por anos, até mesmo depois da sua morte, como eu provavelmente lembraria daquela história mesmo após a morte do seu criador. E também falou que mesmo que eu não tivesse filhos biológicos, eu poderia adotar, que muitas vezes os laços que criamos com pessoas que não tem o nosso sangue são mais fortes do que aqueles que temos com as pessoas que possui. Meu pai estava certo.

–Seu pai era mesmo um grande homem, Jonas - eu ficara bem emocionada, queria chorar, mas me segurei, era uma história tão tocante - E qual era a história da revista, você se lembra?

–Batman: Ano um*- ele sorriu decidido- Foi essa história que me fez gostar de verdade do Batman. Os desenhos não tinham cores berrantes e a trama era densa, sombria, envolvente. Foi um das primeiras em que voltaram com o seu tom sombrio, e foi quando vi a força do personagem.

–É aquela que no inicio, ainda menino, ele vê os pais sendo mortos, e depois de um treinamento, já adulto, ele volta para combater o crime? Também é narrado em paralelo a história dele e a de um policial? indaguei demonstrando o meus conhecimentos.

–Verônica, você lê ou lia quadrinhos?- Jonas perguntou surpreso.

–Quadrinhos? De super-herói até que não. Mas eu tenho dois nerdzinhos em casa. E vi a animação com o Vicente e o Davi. Achei muito boa.- fui sincera.

–É, fizeram uma animação bem fiel aos quadrinhos recentemente. - Jonas comentou.

Jonas e eu fomos até um bar e ainda falamos mais um pouco sobre o meu básico conhecimento nerd, contamos alguns casos, dentre outras coisas. Enquanto conversávamos, nós comemos uma feijoada bem gordurosa, e claro, deliciosa. Eu nunca imaginaria que veria o poderoso e bilionário Jonas Marra comendo uma feijoada num boteco barato. Mas vi, e além da comida gostosa, a conversa foi maravilhosa, nos divertimos e rimos muito. No fim da noite, ele me levou em casa, e até abriu a porta do carro para mim:

–Obrigado, Verônica. Você salvou o meu dia.- ele sorriu sedutor.

–Eu que agradeço. Descobri muitas coisas sobre você hoje.

Ainda nos olhamos por alguns momentos, e se ele tivesse se aproximado de mim, sabia que eu não teria forças para resistir dessa vez. Mas felizmente, ele cumpriu a sua palavra, e eu me afastei enquanto ele me olhava cheio de desejo.

Entrei no meu prédio, respirei fundo, suspirei. Sentia um misto de alivio, arrependimento por resistir e encantamento. Eu não ia conseguir resistir por mais tempo. Meu Deus, eu estava perdida, Jonas Marra seria a minha perdição.