A mestiça

Passado omitido


Ele saiu do quarto e parou assim que ouviu passos apressados na escada. Viu a rosada parada com os olhos em sua mochila.

— Você já vai? – ela perguntou.

Ele não respondeu ficou virado sem encara-la.

— Não me ignore Sasuke! – ela pediu.

— Faça a pergunta certa – ele respondeu.

Ela olhou para baixo e ele a encarou pelo canto do olho, a viu suspirar e respirar fundo várias vezes antes de perguntar.

— Você vai voltar?

Ele queria dizer sim, mas não queria dar esperanças.

— As pessoas com o tempo se desfazem das coisas que lhe causam dor – ele falou – Sei que ficara bem, terá tudo que precisa aqui...

— Você não estará aqui – ela falou já chorando.

— Estará melhor longe de nós, Uchihas – ele falou vendo o loiro, que acabara de sair do quarto, o encarar.

— Eu estarei esperando você voltar Sasuke – ela falou o abraçando por trás.

— Eu não pretendo voltar – ele falou friamente.

Queria se matar assim que sentiu ela se afastar de si com os olhos lacrimejando cada vez mais. Saiu da casa começando a andar. Ouviu a porta se bater e ouviu o loiro gritar:

— Ela vai precisar de você mais do que nunca!

— Ela terá você – ele falou assim que viu o loiro se aproximar.

— Não posso retirar a dor de perder você que ela sentira.

— Com o tempo ela esquecerá – Sasuke falou.

— Sakura não costuma esquecer pessoas importantes, acredite ela vai te esperar não importa o que aconteça.

O moreno deu as costas ao loiro voltando a seu objetivo principal: seu irmão.

...

Sakura se isolou em seu quarto por um dia inteiro e se não fosse Naruto a chamando sem parar teria ficado por mais tempo isolada.

— Estou lhe chamando há horas e você nem vem ver o que eu quero? – o loiro falou fingindo tristeza.

— O que você quer Naruto? – ela perguntou com os olhos em um canto qualquer.

— Acho que não quer ver quem está lá embaixo – ele falou vendo a rosada o encarar.

Ele sorriu e a rosada desceu as escadas rapidamente parando na porta da cozinha vendo um loiro e um moreno conversando amigavelmente.

— Dai – ela chamou não acreditando.

O loiro seguiu a voz e encontrou com as esmeraldas tão parecidas com as da mãe.

— Sakura – ele falou.

A rosada foi girada no ar pelo irmão e quando voltou ao chão recebeu um abraço apertado que trouxe tudo que ela precisava. Naquele momento a tristeza pela perda de um amigo foi substituída pela felicidade de ver o irmão bem.

— Vejo que já posso ir – Itachi falou.

A rosada o abraçou como agradecimento.

— Obrigada – ela agradeceu.

— Disse para não ficar olhando a vida das pessoas – Itachi falou com os braços cruzados.

— Acho que essa é uma exceção Itachi – Naruto falou adentrando a cozinha vendo o moreno que chegara há pouco.

— É acho que sim – o moreno concordou.

Despediu-se de todos e desapareceu.

—Acho que vou deixá-los a sós – Naruto falou saindo.

— Obrigado por cuidar dela Naruto – Daisuke agradeceu.

Sakura o encarava com os olhos brilhando. Ainda pensava que era um sonho ou algo do tipo.

— Foi muita irresponsabilidade sua fazer o que fez! – ela falou mesmo querendo o abraçar e nunca mais soltar.

— Eu estava lhe protegendo, pelo menos nesses últimos meses – ele falou coçando a cabeça, nervoso.

— Sabe quantas vidas foram tiradas? - ela perguntou.

— Sei que são muitas, mas você é a única pessoa que sobrou e eu faria tudo novamente para você ficar bem.

— Mataria nossos pais novamente na minha frente?

— Se eu não fizesse isso, nosso pai mataria a si próprio após matar nossa mãe! – o loiro gritou.

Ele pensou que a rosada ficaria feliz em tê-lo novamente por perto como ela falou muitas vezes.

— Nosso pai era forte – ela falou.

A morte dos pais ainda a atormentava todos os dias.

— Ele já estava fraco Sakura, você talvez não se lembre, mas ele e Madara descobriram assim que se ficarem muito tempo sem seu sangue eles ficam fracos e vulneráveis o suficiente para serem mortos facilmente- o loiro explicou.

A rosada ficou em silencio. Apoiou-se na mesa sentindo a verdade finalmente a atingir por completo.

— Sakura desculpe eu queria lhe falar antes, mas Madara a machucaria se eu fizesse isso – ele falou.

— Por que se ele nunca se importou? – ela perguntou.

—Sakura ele sempre se preocupou com você, apenas não sabe demonstrar, ele a vê como a filha que não pode ter.

— Como assim? – ela se virou espantada com a notícia.

— Nossa mãe antigamente se apaixonou por Madara eles tentaram várias vezes, mas com tantas perdas eles não suportaram e se separaram achando que era melhor. Nossa mãe encontrou nosso pai em uma das caçadas noturnas dele e foi amor à primeira vista.

Ele suspirou vendo Sakura o encarando.

— Nosso pai foi paciente e esperou o tempo certo para tentar ter filhos, a primeira não deu certo, mas nossa mãe estava determinada. Tentaram novamente e finalmente eles conseguiram um filho, eu. A terceira tentativa também deu certo, mas ocorreram alguns problemas e ela se tornou um risco para a mamãe. Papai se recusava a transforma-la em vampiro e pediu para nossa mãe pensar bem, mas ela estava determinada a ter um segundo filho custasse o que custar.

Ele se esforçou para continuar.

— Nos últimos quatro meses da gravidez, mamãe ficou na cama. E o parto ocorreu cedo demais e você nasceu prematura e muito fraca. Papai se viu obrigado a tornar nossa mãe uma vampira ou ela morreria. Você ficou em observação por algumas horas e no primeiro sinal que estava nos abandonando nossa mãe lançou um feitiço para você viver, ela aproveitou um colar, que era o símbolo de uma promessa entre nossos pais e os Uchihas, para fortificar o efeito do feitiço que é uma maldição, mas no final virou sua salvação.

— Minha metade vampira tentou matar meu lado bruxo? – perguntou.

— Sim, por isso, mamãe teve que fazer seu sangue ficar assim e também é por isso que você tem outras alterações.

Ela suspirou pensativa.

— Fui prometida a um Uchiha, por meio disso, nossos laços com os Uchihas se fortificariam. Quem é o Uchiha? – ela perguntou.

— Ele sempre esteve próximo e usa o mesmo colar que o seu – ele respondeu vendo a irmã arregalar os olhos.

— Sasuke – ela sussurrou sentindo as lagrimas se formarem.

Ela subiu para o quarto correndo sentindo as lagrimas descendo pelo rosto. Fechou a porta e colocou a cabeça no travesseiro voltando a chorar por Sasuke. Sabia que o irmão esperaria o tempo necessário para tocar no assunto, mas também sabia que ele tentaria descobrir por Naruto.

Sakura queria ter recebido o irmão melhor, mas preferiu se livrar de todas as dúvidas mesmo sabendo que algumas partes foram omitidas. Ela sentou-se já mais calma e fechou os olhos se concentrando. Logo várias lembranças passavam em sua mente. Seu corpo começou a levitar junto aos cabelos rosados que estavam no ar como o corpo dela.

Daisuke correu para o quarto assim que sentiu a alteração de chakra. Abriu a porta e arregalou os olhos ao ver a irmã levitando como no dia que matou os pais. Aquilo fazia parte do treinamento para ela ter o controle completo de seu dom, mas pelo o que Itachi havia lhe contado ela não fazia mais isso.

—Sakura! – ele gritou.

Viu-a cair deitada e a respiração acelerada dela. Encarou a e se aproximou preocupado.

— O que você estava pensando em fazer? Sabe que pode se machucar com isso! – ele brigou.

— Desde o primeiro pesadelo que Madara criou sinto minhas memórias se misturarem as ilusões e depois desaparecerem como se nunca tivessem existido. Tento toda manhã ou antes de dormir me lembrar de tudo que consigo de minha infância.

Ele a encarava triste, enquanto ele se “divertia” sua irmã sofria todos os dias. Ela cresceu rápido demais, assumiu responsabilidades cedo demais. Queria ver sua irmã crescendo, mas teve suas escolhas tomadas por Madara que o fez acreditar que lhe daria mais poder, mas fez justamente ao contrario quando tirou Sakura de perto de si. Odiava Madara por tê-lo afastado de Sakura durante esses anos mesmo tendo certeza, agora, que Madara nunca a machucaria realmente.

Suspirou e se aproximou de sua irmã.

— Eu posso tentar ajudar esses últimos anos, eu tive que mudar- Sakura o encarava tentando compreender o que ele dissera.

Ele suspirou e sentou na cama, próximo a ela que se sentava.

— Consigo desfazer possíveis barreiras que possa haver – ele explicou.

— Dai – ela falou surpresa ao entender o que tinha por trás daquela frase – Você... Como pode se submeter a isso! Você poderia ter me deixado virando um... – a voz dela morreu.

— Sakura, eu estava cego, não tinha consciência das consequências – ele falou.

Viu o olhar de Sakura representar dor e tristeza. Ele sabia que ela havia visto algo relacionado a isso ou ligou algumas memórias chegando a uma conclusão que ele desconhecia. Ela assentiu dando permissão ao irmão.

— Apenas confie em mim. Tudo o que acontecer ficara apenas entre nós.

Ela assentiu e olhou nos olhos do irmão que segurou os ombros dela e ela os dele. Imagens começaram a rodar na mente de ambos...

Eles brincando quando pequenos a mãe e o pai deles sorrindo para os dois que brincavam correndo entre as flores dando gargalhadas...

A morte dos pais passou e para os dois foi doloroso ver novamente. Mais algumas memórias passaram e Sakura sabia qual parte viria.