NARRADORA ISABELLA

Acordei pela manhã com os primeiros raios de sol entrando pela janela, iluminando suavemente meu quarto. Me espreguicei, sentindo o corpo ainda cansado. Levantei-me e, como de costume, peguei meu laptop da mesa ao lado da cama. Era uma rotina que eu tinha adotado quase todos os dias desde que descobri meu câncer terminal.

Enquanto o laptop iniciava, meus pensamentos divagaram para o que havia se tornado minha nova realidade. Os tratamentos, as consultas médicas, a perda gradual das forças. E, no meio de tudo isso, algo peculiar havia acontecido recentemente: o desenho de uma garota sem cabelos que parecia incrivelmente familiar.

Com o laptop já ligado, entrei nos meus grupos de apoio online e fóruns de câncer, procurando por alguma novidade, algo que pudesse me distrair ou me dar um pouco de esperança. Foi então que lembrei do vídeo que Clara havia prometido postar. Fui diretamente para o canal dela e, como esperado, o vídeo estava lá, postado na manhã anterior. Cliquei no play, curiosa.

Clara começou a falar sobre uma menina chamada Ana, uma garota que havia perdido seus dons milagrosos recentemente, mas que ainda carregava algo especial dentro de si. Ela mencionou o desenho que Ana havia feito, que tinha causado tanta comoção e perplexidade.

Quando a imagem do desenho apareceu na tela, meu coração quase parou. Lá estava eu, sem cabelos, exatamente como na foto que tirei no dia em que precisei raspar minha cabeça. O desenho era detalhado, preciso, quase como uma fotografia. Como ela podia saber? Quem era essa Ana? Como ela me conhecia?

Fechei o laptop e fiquei sentada, respirando fundo. Era eu no desenho. Não havia dúvida. O sentimento de incredulidade misturado com uma estranha sensação de conexão tomou conta de mim. Decidi que precisava descobrir mais sobre Ana. Quem era ela, e como tinha conseguido desenhar algo tão pessoal, algo que era, de certa forma, uma representação da minha batalha silenciosa?

Peguei meu telefone e procurei por Clara nas redes sociais. Encontrei seu perfil facilmente e mandei uma mensagem.

— Oi, Clara. Vi seu vídeo sobre Ana e o desenho. A menina no desenho sou eu. Preciso entender como isso é possível. Podemos conversar?

Enviei a mensagem e fiquei olhando para a tela, esperando uma resposta. A espera parecia interminável, mas eu sabia que, de alguma forma, essa conexão com Ana podia significar algo maior. Algo que eu ainda não compreendia, mas que precisava desvendar.

A sensação de urgência me dominava, e decidi não ficar parada. Corri até a sala onde minha mãe estava, ocupada com os afazeres da casa.

— Mãe, você precisa ver isso — disse, mostrando o vídeo no meu laptop.

Ela colocou os óculos rapidamente e assistiu com atenção. Enquanto o vídeo prosseguia, pude ver a mudança em sua expressão, passando da curiosidade à surpresa e, finalmente, ao reconhecimento.

— Isso é... isso é incrível — murmurou ela, sem tirar os olhos da tela.

Quando o vídeo terminou, ela se virou para mim, ainda visivelmente abalada.

— Ana... eu lembro dela. Ela é a garota dos milagres, a mesma sobre a qual todos falavam na igreja e na cidade alguns meses atrás. Eu não te contei sobre ela porque tinha medo de que, se ela não pudesse te ajudar, isso te deixaria ainda mais desesperada. Eu queria proteger sua esperança, não te dar falsas esperanças — disse, com os olhos marejados.

— Mas mãe, isso é mais do que uma coincidência. Como ela pode ter desenhado algo tão específico sobre mim? — perguntei, tentando entender.

— Talvez ela tenha um dom, mesmo que diferente do que todos esperavam. Talvez ela ainda possa nos ajudar de alguma forma. — A voz da minha mãe tremia ligeiramente, mas havia um novo brilho de esperança em seus olhos.

Abracei minha mãe, sentindo a mistura de emoções — a esperança renascida, a incerteza do que viria a seguir, e a sensação de que algo maior estava em jogo.

— Vamos descobrir mais sobre Ana. Talvez essa conexão signifique algo importante. — As palavras de minha mãe me deram força, e sabia que, juntos, podíamos buscar as respostas que tanto precisávamos.

Decidimos esperar a resposta de Clara, mas também nos preparamos para buscar Ana pessoalmente, se necessário. Essa nova descoberta me dava um novo propósito, uma nova faísca de esperança para os dias que ainda viriam. Eu estava pronta para enfrentar o que fosse, com minha mãe ao meu lado, e com a misteriosa conexão com Ana me guiando.

Quando a resposta de Clara finalmente chegou, eu mal podia conter minha ansiedade. Ela estava tão surpresa quanto nós, e concordou em vir até nossa casa para nos conhecer e ouvir minha história. Enquanto esperávamos por sua chegada, eu e minha mãe nos preparamos para recebê-la da melhor maneira possível. Minha mente estava repleta de perguntas e emoções conflitantes. O que Clara poderia descobrir sobre mim? E sobre Ana?

Quando a campainha finalmente tocou, meu coração deu um salto. Minha mãe foi abrir a porta, e eu fiquei no sofá, nervosa e ansiosa ao mesmo tempo. Clara entrou, com um sorriso gentil no rosto, mas seus olhos revelavam uma curiosidade intensa.

— Isabella, é um prazer conhecê-la pessoalmente — disse Clara, estendendo a mão na minha direção.

Eu a cumprimentei, tentando controlar minhas emoções.

— O prazer é meu, Clara. Obrigada por vir — respondi, com um sorriso nervoso.

Sentamos à mesa da sala, e minha mãe serviu chá enquanto Clara começava a fazer perguntas sobre minha vida, minha doença e, é claro, sobre Ana.

Conforme eu compartilhava minha história com Clara, senti um peso sendo tirado dos meus ombros. Era como se, ao falar sobre isso, eu estivesse tirando um pouco do peso que carregava sozinha.

Clara ouvia atentamente, fazendo anotações e ocasionalmente fazendo perguntas para esclarecer algo. Sua presença era reconfortante, e eu me sentia grata por ter alguém disposto a me ouvir e a ajudar.

Quando terminei de contar minha história, Clara olhou para mim com uma expressão séria.

— Isabella, sua história é incrível. E a conexão com Ana parece ser mais do que uma simples coincidência. Acredito que há algo maior em jogo aqui, algo que precisamos explorar com cuidado e atenção. Você está disposta a seguir em frente com isso? — perguntou ela, com seriedade.

Eu olhei para minha mãe, buscando força em seu olhar, e então voltei para Clara.

— Sim, estou disposta. Mais do que nunca. — minha voz estava firme, determinada.

E assim, com a ajuda de Clara, minha mãe e eu nos preparamos para seguir em frente nessa jornada, prontas para enfrentar o que viesse pela frente. A conexão com Ana era o nosso guia, e estávamos determinadas a descobrir seu significado e seu propósito em nossas vidas.

No momento em que Clara fez a pergunta que se eu iria junto ver a Ana, senti um nó se formar em minha garganta. Era uma pergunta difícil de responder, mas uma que eu já tinha feito a mim mesma várias vezes.

Respirei fundo antes de responder, buscando coragem em cada respiração.

— Clara, eu estou disposta a ver Ana e contar minha história. Eu quero entender essa conexão que sinto com ela e descobrir se há alguma esperança para mim. Mas, se por acaso Ana não puder me ajudar, prometo não perder os últimos resquícios da minha esperança. Eu sei que ainda há muito amor e apoio ao meu redor, e isso é o que mais importa — respondi, com sinceridade.

Clara assentiu, compreensiva, e colocou uma mão reconfortante em meu ombro.

— Isabella, você é mais forte do que imagina. Estamos juntas nisso, e vamos descobrir as respostas juntas, não importa o que aconteça — disse ela, com um sorriso encorajador.

Com o coração mais leve, eu concordei, pronta para enfrentar o que viesse pela frente. E assim, com a promessa de Clara e o apoio dos meus pais, seguimos em direção à casa de Ana, prontas para enfrentar o desconhecido e descobrir a verdade que nos aguardava.

Enquanto seguíamos para a casa de Ana, meu coração batia com força no peito. Cada quilômetro percorrido parecia trazer uma mistura de ansiedade e esperança. Eu estava prestes a encontrar alguém que, de alguma forma, havia capturado um momento tão íntimo da minha vida em um simples desenho.

Chegando à casa de Ana, senti um nó se formar em minha garganta. Estava prestes a conhecer alguém que, de alguma forma, estava ligada a mim de maneira inexplicável. Clara estacionou o carro e olhou para mim, oferecendo um sorriso encorajador.

— Estamos aqui, Isabella. Pronta para isso? - perguntou Clara, com gentileza.

Respirei fundo, sentindo uma mistura de nervosismo e determinação.

— Sim, estou pronta - respondi, com um aceno de cabeça.

Minha mãe colocou uma mão reconfortante em meu ombro e sorriu.

— Vai dar tudo certo, Isabella. Estamos aqui com você - disse ela, transmitindo apoio.

Com o coração acelerado, saímos do carro e nos aproximamos da casa de Ana. O que nos aguardava do outro lado da porta era um mistério, mas eu estava determinada a enfrentá-lo com coragem e esperança.

NARRADORA ANA

A campainha tocou, quebrando a monotonia do meu dia. Levantei-me do sofá e fui até a porta, onde minha mãe já estava atendendo. Ao vê-las, percebi que algo estava diferente. A expressão no rosto da minha mãe dizia tudo. Ela parecia reconhecer Isabella de alguma forma, mas não conseguia encontrar as palavras.

— Ana, querida, temos visita. Essas são Clara, Isabella e sua mãe — anunciou minha mãe, com um sorriso hesitante.

Ao ouvir os nomes, a conexão finalmente se fez na minha mente. Clara, a sensitiva do vídeo, e Isabella, a garota do desenho. Meu coração começou a bater mais rápido enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo. Como eu poderia ter desenhado alguém que nunca tinha visto antes?

Enquanto lutava para encontrar uma explicação, meu corpo se moveu por conta própria em direção à porta. Olhei para Isabella, tentando esconder minha surpresa e confusão.

— Olá, Isabella. Bem-vinda — cumprimentei, tentando parecer calma apesar da tempestade de emoções dentro de mim.

Convidei todos para entrar, levando-os até a sala de estar onde poderíamos nos acomodar confortavelmente. Minha mãe, sempre prestativa, rapidamente se ofereceu para preparar um chá para todos, enquanto nos sentávamos e nos conhecíamos melhor.

A mãe de Isabella começou a falar sobre sua filha, e conforme ela falava, era como se um quebra-cabeça começasse a se formar em minha mente. Isabella era uma garota adorável, e sua mãe descrevia com carinho seus interesses e paixões.

— Isabella sempre teve uma paixão por cavalos. Mesmo depois do diagnóstico, ela nunca perdeu seu amor pela natureza e pelos animais. Ela costumava passar horas em fazendas e estábulos, cuidando dos cavalos e absorvendo a tranquilidade do ambiente — disse a mãe de Isabella, com um sorriso suave.

Enquanto ouvia sua mãe falar, olhei para Isabella com uma mistura de admiração e compaixão. Era difícil imaginar o que ela estava passando, mas seu amor pela vida e pelos cavalos era inspirador.

— Eu nunca imaginei que o desenho poderia estar relacionado a você, Isabella. É incrível como o universo pode nos conectar de maneiras tão inesperadas — comentei, ainda tentando processar tudo isso.

Isabella, com um olhar sereno, olhou para mim e começou a falar, sua voz calma e determinada ecoando na sala.

— Quando vi o desenho pela primeira vez, Ana, eu também fiquei surpresa. Não sabia como você poderia ter desenhado algo tão real, algo que só eu conhecia. Mas agora, estar aqui e conhecer você pessoalmente, tudo parece se encaixar de alguma forma. Talvez haja uma razão maior para essa conexão, algo que ainda não entendemos completamente.

Sua mãe colocou a mão no ombro dela, transmitindo apoio e conforto. Isabella sorriu para a mãe, agradecendo silenciosamente por estar ali.

— Ana, não sei se você pode me ajudar, se pode fazer algum milagre como dizem por aí. Mas estar aqui, conhecer você, já é um presente. Você nos deu esperança de uma maneira que nem imagina — disse Isabella, com gratidão em sua voz.

Com o coração pesado, entrei no meu quarto e me ajoelhei em frente ao meu altar, as palavras de Isabella ecoando na minha mente. Eu não queria prometer algo que não podia cumprir, mas ao mesmo tempo, sentia uma necessidade avassaladora de ajudá-la de alguma forma.

— Senhor, eu sei que não sou mais quem eu era. Não tenho mais os dons que me foram dados, mas ainda assim, peço a Sua orientação e ajuda. Por favor, mostre-me o caminho, dê-me a força para fazer o que for certo — sussurrei em uma prece fervorosa, minhas lágrimas misturando-se com as palavras.

Enquanto minhas palavras se perdiam no ar, uma sensação de calor e paz envolveu meu corpo. Uma luz branca intensa pareceu atravessar meu ser, preenchendo cada parte de mim com uma energia renovada. Meu coração se encheu de uma nova determinação, uma certeza de que, apesar de tudo, eu ainda tinha um propósito a cumprir.

Levantei-me do chão, uma sensação de leveza e esperança me acompanhando enquanto eu saía do quarto. A luz que me havia envolvido dissipou-se lentamente, mas sua presença permaneceu em minha mente, como um lembrete do poder do divino e da minha própria capacidade de superação.

Com lágrimas nos olhos, eu me ajoelhei diante de Isabella, colocando minhas mãos sobre seu rosto delicadamente.

— Senhor, em sua infinita misericórdia, conceda a cura para esta alma tão jovem e corajosa. Dê-lhe a saúde que ela merece, a força para enfrentar os desafios que virão e a esperança para guiar seu caminho — orei em voz baixa, com todo o fervor do meu coração.

Enquanto minhas palavras fluíam, senti uma energia inexplicável emanando de mim, envolvendo Isabella em uma aura de luz e calor. Fechei os olhos, concentrando-me na minha conexão com o divino, pedindo por um milagre.

Quando abri os olhos novamente, uma luz branca e radiante preenchia a sala, iluminando o rosto de Isabella com um brilho celestial. Uma sensação de paz e serenidade envolveu o ambiente, e quando olhei para Isabella mais uma vez, vi uma expressão de assombro e incredulidade em seu rosto.

— O que está acontecendo? Eu me sinto diferente — murmurou Isabella, tocando seu rosto com as mãos trêmulas.

Eu sorri, sentindo uma onda de gratidão e alegria inundar meu coração.

— Você está curada, Isabella. O milagre aconteceu — declarei com uma voz embargada pela emoção.

Isabella olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas, seu rosto iluminado por um sorriso radiante.

— Eu não posso acreditar. Eu estou curada! — exclamou ela, levantando-se com um brilho renovado nos olhos.

Nós nos abraçamos com força, compartilhando o milagre que acabara de acontecer. Era um momento de alegria e gratidão, uma prova do poder da fé e da esperança que reside dentro de nós.

Entre lágrimas e sorrisos, Isabella e sua mãe se abraçaram, emocionadas com o milagre que acabara de acontecer diante de seus olhos. Minha mãe e Clara também compartilhavam da emoção, testemunhando a manifestação do divino em nossa sala de estar.

— Não sei como agradecer o suficiente, Ana. Você trouxe de volta a vida da minha filha — disse a mãe de Isabella, com a voz embargada pela emoção.

— Eu apenas fui um instrumento nas mãos de Deus. Ele é quem merece todo o louvor e agradecimento — respondi, humildemente.

Isabella olhou para mim com admiração e gratidão.

— Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim, Ana. Você é um verdadeiro anjo enviado do céu — disse ela, com os olhos cheios de lágrimas.

Sorrimos um para o outro, compartilhando um momento de conexão profunda e gratidão mútua. Era uma prova do poder da fé e da esperança, uma lembrança de que milagres podem acontecer quando menos esperamos.

Após alguns momentos de silêncio reverente, minha mãe se levantou e sugeriu que fizéssemos uma refeição para comemorar. Todos concordaram, e enquanto nos reuníamos ao redor da mesa, compartilhando histórias e risadas, senti uma profunda sensação de paz e realização encher meu coração.

O milagre de Isabella tinha renovado minha fé e minha determinação em seguir minha jornada, sabendo que, com a orientação divina, eu poderia superar qualquer desafio que viesse em meu caminho.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.