P.O.V. Rainha Catherine.

Minha amada filha está chegando. Soube que acabaram de aportar e estão á caminho do castelo.

São alguns dias até aqui e esses dias me pareceram uma eternidade.

—Sua Alteza Real, a Princesa Ella. E o Príncipe D'Artagnan.

—Um Príncipe?

Eles entraram juntos de mãos dadas.

—Majestades.

Ele soltou da mão dela e prestou uma elegante reverência e ela imitou.

—Não querida, moças prestam reverência assim.

Eu mostrei a ela e ela imitou.

—Ótimo. Perfeito.

—Me desculpe senhora. Eu não estou habituada a locais como esse.

—Minha filha. Minha linda e amada filha.

Eu a abracei e ela abraçou de volta, mas estava claramente desconfortável com a situação.

—Olha, a senhora me confundiu com outra pessoa. Eu não sou Princesa de nada, eu faço serviços domésticos, nasci e fui criada na fazenda.

Quando olhei para o pescoço dela eu vi.

—É igual o meu. Minha mãe me deu, ela disse que era herança de família.

—Quando soube que estava grávida mandei o joalheiro fazer duas jóias idênticas. Quatro na verdade, uma para caso fosse menino e uma para caso fosse menina.

—E o que houve com as jóias do menino?

—Estão no cofre.

—A senhora podia vender e com o dinheiro daria para alimentar umas vinte crianças.

—Você é uma Rainha minha querida.

—Não. Rainhas não saem na rua para ver a miséria que elas espalham, não saem na rua para ver o povo passando fome e os mendigos que dormem embaixo das pontes! Rainhas não ligam! Enquanto elas tiverem suas jóias caras e seus vestidos luxuosos elas não se importam com absolutamente nada!

—Isso não é verdade.

—Não é? Diga-me quantas vezes você já ouviu o que o seu povo tem a dizer? Porque eles nunca diriam a verdade a você, porque tem medo de perder a cabeça.

—O que quer dizer?

—Você nem percebe não é? Olhe para fora destes muros, saia desses muros vestida como uma pessoa comum e assim e somente assim você saberá o que realmente pensam de você. Enquanto estiver com uma coroa na cabeça jamais verá e saberá da verdade sobre si mesma. Me desculpe, eu não queria ser rude.

—Tudo bem. Você deve ter razão, afinal você passou sua vida toda entre os plebeus, foi criada por plebeus e se considera uma deles.

—Você não foi muito bem educada né prima?

—Quem é você?

—Sou Regina. Sou sua prima.

—É um prazer.

P.O.V. Regina.

Essa sonsa nem faz ideia do que eu sou capaz. Essa é a minha coroa!

Á tardinha minha adorada tia veio ter comigo.

—Olá titia.

—Olá Regina. Vamos direto ao ponto, se você ousar tocar num fio de cabelo da cabeça da minha filha, vou cuidar para que seja publicamente desacreditada, humilhada, destituída de todos os seus títulos e posses e vou finalmente poder jogar você e a meretriz da sua mãe no olho da rua. Acredite querida, acima de tudo e todos eu sou mãe.

Maldita.

—Porque eu iria querer fazer algum mal para a minha querida prima?

—Porque ela é uma filha legítima e você não. Porque o Trono é dela e não seu. Fique ciente disso.

Ella estava passeando pelos jardins olhando as rosas.

—Gosta de rosas?

—Minha casa era cheia delas, minha mãe as amava. Minha mãe as amava.

Ela estava chorando. Que doce.

—Não chore.

—Me desculpe. Eu me lembrei de quando eu era feliz, quando eu era apenas a Ella e não a Princesa da Inglaterra. É sempre assim?

—Sempre. Pode voltar para casa se desejar.

—Essa é a minha casa agora e é muito melhor do que a que eu tinha.

—Com certeza. É muito maior.

—Aqui as pessoas me amam Regina. Você nunca teve que trabalhar não é?

—O que?

—Eu não caio nessa querida. Eu tive muito tempo para aprender a interpretar as pessoas e sei que você não gosta de mim. Não procure me enganar.

—E você teve que trabalhar?

—Sim! Sim eu tive que lavar, passar, cozinhar, cuidar dos animais e tudo mais. Acredite, ninguém entende mais de sacrifício do que eu, eu perdi a minha mãe aos sete, aos dezessete meu pai morreu e me largou com a minha madrasta e suas duas adoráveis filhas que não faziam nada além de me explorar e maltratar. Você tá ai reclamando de barriga cheia.

—Esse é o meu trono!

Ela pegou minhas mãos nas dela e as mãos dela eram ásperas cheias de calos.

—Gostoso? A minha é macia que nem bumbum de bebê porque enquanto você brincava de ser Rainha eu lavava roupa no rio, enquanto você tomava chá com as bonecas, eu varria o chão, enquanto você brincava de pega pega nos jardins do seu castelo encantado eu estendia roupa, cozinhava, passava roupa e esfregava o chão! Com licença.

Ela prestou uma reverência e foi embora. Eu fiquei sentada lá no banco de mármore do jardim pensando no que ela havia dito.

Talvez ela merecesse mais que eu esse Trono. Eu estava sendo uma idiota com ela e ela ainda assim me tratou bem até esse momento.

E talvez...Tá eu mereci e mereci muito.