­— Emily esteve aqui - Christine disse, enquanto caminhava pelo quarto, enquanto Aaron tomava café da manhã.

A espinha dele enrijeceu, mas tentou parecer indiferente.

— Que horas? - perguntou ele.

— Por volta das 4:00.

— 4:00?

— Sim, ela tentou fugir quando nos viu no corredor, mas eu consegui pegá-la. Sabe me dizer o que ela fazia às 4:00 da manhã?

Tinha acusação na voz de sua mãe, é novamente, ele fingiu que não tinha nada demais naquilo. Era só Emily aparecendo poucas horas antes de amanhecer, nada demais.

— Não faço ideia. Vai ver ela ficou sabendo que não fizeram o serviço direito e veio me sufocar com um travesseiro.

Os olhos de Christine enrugam.

— Engraçado, foi exatamente o que ela me disse que não veio fazer. Acha que ela está por trás disso?

Aaron parou de tentar comer. Ele na verdade não queria, só estava tentando por causa que sua mãe insistiu, porque o pensamento de ingerir algo o faz querer vomitar.

— Não acho. Ela pode ser uma víbora, mas não acho que ela está por trás disso. Ela estava pressionando meus ferimento e era ela quem gritava para que eu ficasse com os olhos abertos.

A mulher cantarolou "hmm" e continuou a olhar ao redor menos para ele. Ela geralmente não é tão inquieta.

— Por que acha que ela fez isso? - sua mãe questiona. Ele não esta nem um pouco confortável com isso.

— Eu não sei dizer, mãe. Acho que... - ele procura palavras - se eu morresse, ela perderia seu maior adversário e então o jogo acabaria.

— Ela não deveria ficar feliz com o fim do jogo?

— Eu sou um bom jogador, mãe. O jogo perderia a graça sem mim. E Emily nunca encontraria um adversário à altura.

— Você é um pouco convecido, não acha?

Ele sorriu do comentário dela. Emily diria a mesma coisa, ele pensou.

Ele não queria pensar muito sobre a "visita" de Emily. Não havia nada de lógico em aparecer às quatros da manhã, ela sabia que ele não estaria acordado, mesmo assim ela veio vê-lo. Ou algo do tipo. Ele também tentou não pensar em sua voz carregada de preocupação quando ela pedia para ele não fechar os olhos. Não é irônico que a primeira pessoa a prestar socorro foi ela? Em um local abarrotado de pessoas?

Eles passaram a adolescência e a vida adulta se atancando. Então ela é ameaçada por uma multidão de pessoas, e ele está lá para salvá-la. Ele dá a ela um abrigo e segurança, embora tenha sido por causa dele que tudo aquilo aconteceu. Ele também ficou com ela depois que ela teve um pesadelo e deu a ela sua caneca de chocolate quente. O que isso significa?

Pode não ter um manual sobre como agir com seu oponente, mas se tivesse, ele tinha certeza que esse tipo de conduta não estaria no livro!

Então ele é esfaqueado e lá está ela, pressionando seus ferimentos, gritando por ajuda e sendo sua visão de algo bom. Por que seu cérebro mostrou Emily na praia com um sorriso enorme e seus cabelos esvoasante como de um bom lugar? Ele ouviu falar de relatos de pessoas que na sua quase morte ou pessoas que se dissociavam da dor quando sabiam que iam ser torturados, seu cérebro os levava para um lugar bom. É muito comum verem entes queridos que se foram, que é casado e feliz com alguém que ama e uma casa cheia de filho. Todos os clichês do tipo, mas nunca a pessoa que passou a vida odiando como sendo sua visão de comforto.

O que diabos significa isso?!

Eles estavam sempre trocando ferroadas, no entanto, quando o outro estava com problemas, um deles sempre estava lá. Isso era uma lição moral da vida dizendo que nós recebemos e precisaremos da ajuda daqueles que juramos nunca precisar? O destinos juntando-os porque suas família os separaram? Algo maior?

— Aaron? - A voz de sua mãe o tira de seu devaneio.

— Disse alguma coisa?

— Você está com dor? Você tinha uma expressão miserável no rosto.

Ele solta uma lufada. Deve ser porque ele provavelmente está miserável.

— Experimente ser esfaqueado duas vezes no abdômen e você se sentirá assim.

— Experimente ter câncer de mama.

Ela viu o semblante do filho obscurecer mais ainda. Aaron ainda estava lutando contra isso. Ele ainda não queria acreditar. Ele estava com raiva e toda vez que esse tema era abordado, ele fica mais taciturno que o normal.

— Mãe.

— Eu sei que você não quer falar sobre isso, mas é a realidade. Eu tenho câncer e estou bem com isso. Eu preciso do apoio de vocês para passar pelo tratamento, eu sei que é pedir demais de vocês...

— Não é - ele a interrompe - Não é pedir demais. Você está dizendo agora que precisa de nós, mas você nos escondeu isso. Você estava pensando em esconder isso por mais alguns meses para nos poupar. Você estava disposta a sofrer sozinha.

— Você não tem filhos, Aaron. Você não sabe o que é querer protegê-los do mundo.

— E eu não quero ter - ele diz em voz baixa enquanto olha para sua bandeja de café da manhã intocada.

Ele acha que odeia esse assunto mais do que odeia falar sobre o câncer. Pessoas insistem em perguntá-lo porque ele ainda não está casado e com filhos. Que se exploda tudo isso! Algumas pessoas não querem seguir esse estereótipo!

— Querido, se é por causa...

— Esqueça, mãe, eu não voltei atrás nisso. Eu não quero filhos. Se você quiser um neto, vai ter que esperar por Spencer.

Christine zomba com um bufo do último comentário do filho.

— É provável que o câncer me mate antes que Spencer me dê um neto.

— Mãe. - Há repreensão na voz dele, mas também há dor.

Aaron sabe que sua mãe está mais afetada do que demonstra. É câncer, não tem como não ficar sombrio e depressivo quando se é diagnosticado com isso.

Ela não merece isso, Aaron diz mentalmente. Ela nunca fez mal a ninguém. Bem, ele reconhece que ela não é uma santa, mas ela é realmente o ser humano mais bonzinho que ele conhece, mesmo com tudo que sofreu. Aaron teve bonecos de brinquedos mais malvados e assustadores que sua mãe. Ela já devolveu tantos cachorros perdidos na rua que ele perdeu a conta. Ela nunca parecia ter medo de se aproximar e eles sempre a deixavam se aproximar, então ela ligava para o número na coleira e esperava o dono aparecer. Ela nunca aceitava quando eles tentavam agradecer com uma quantia de dinheiro.

Todo ano ela doa uma quantidade enorme de presentes no Natal para os orfanatos que recebem pouco ou nenhum patrocínio. Craig a deixa escolher quais orfanatos ela quer doar, não porque é importante para ela, mas porque qualquer que ela escolher resultará positivamente para sua campanha.

Ele a viu cuidar de seu pai, mesmo que ele a machucasse.

Aaron sentiu seus olhos esquentar.

Ele não podia perdê-la.

— Mãe, quando eu sair daqui, eu quero ir à praia.

— Praia? - Há surpresa em sua voz - Por que à praia?

— Porque conecto isso a coisas boas. Eu quero que você vá comigo. Não precisamos ficar muito tempo, só alguns dia. Eu só quero ver a praia.

Christine sorriu melancolicamente para o filho, com os olhos já brilhando ameaçando derramar lágrimas. Se tem uma coisa que ela não se arrepende é de seus filhos. É por isso que ela se preocupa com Aaron, ela não quer que seu filho fique sem a experiência de ver seus filhos sorrir pela primeira vez, correr para abraçar quando você chega em casa, rir histericamente quando solta pum. Ela quer isso para ele, para seus dois filhos.

Ela espera que ele encontre uma mulher que o faça mudar de ideia, que dê a ele uma nova visão.

Talvez a mulher que endireitou sua gravata seja essa mulher.

— Eu adoraria. - Ela caminha até ele, passa mão em seus cabelos e o beija na testa. Ela sabe que muitos filhos de 35 anos não deixariam a mãe fazer isso, mas Aaron, por mais que ele insistisse em negar, era o filhinho da mamãe - Dois ou três dias, Okay. Seu pai precisa de mim aqui, mas eu posso fugir com você alguns dias.

— Está marcado, então.

O que sai a seguir da boca de Christine é algo que ela pensou em não dizer, não era relevante em nada, ainda assim as palavras saíram de sua boca.

— Mas uma coisa da visita de Emily mais cedo. - Isso chamou a atenção de Aaron. Ele viu a mãe revirar os olhos, provavelmente repassava a conversa de algumas horas atrás - As palavras dela foram: Quando Aaron acordar diga a ele que seu sangue estúpido estragou meu vestido.

Christine não sabia o que esperar de Aaron, mas com certeza não esperava que ele caísse na gargalhada. Foi real, porque ela viu ele levar uma mão ao abdômen quando sentiu puxar o ferimento. Ela repassou as palavras em sua mente novamente e ainda não entendeu a reação do filho.

— Isso é um tipo de piada interna ou o quê?

Aaron continuou rindo.

— Isso é uma droga. Era um belo vestido.

Christine ainda não entendia nada.

...

— Tia Emmy, podemos ir ao parque brincar com a cadela do tio Aaron?

Penelope e JJ franziram o cenho com o uso de palavras do garoto.

— Não. E eu já disse que ele não é seu tio.

— Papai disse que é para eu chamar seus amigos e da tia Amélia de tio.

— Aaron não é meu amigo.

Suas duas amigas estavam tentando convencer Emily a sair, mas Emily só queria assistir filme e ficar naquela camisa preta que já viu dias melhores. JJ se perguntou se era uma camisa velha de Tommy, ela sabia que Emily teve dificuldade de livrar-se de algumas coisas de dele, coisas que provavelmente tinham boas lembranças do tempo junto deles.

— Mas ele me deixou brincar...

— Isso não significa que somos amigos, Ethan.

— Eu quero brincar com a Laica. Por favor, tia Emmy - choramingou o garoto.

— Ethan, Aaron está no hospital. Agora por favor, deixe essa história de lado.

— Podemos visitar ele? - disse esperançoso- Então posso perguntar se posso brincar com a Laica.

— Isso nunca vai acontecer.

— Por quê?!

— Porque hospital não é lugar para criança.

Ethan saiu emburrado, batendo a porta do quarto dela com força. As três mulheres ficaram perplexa com o comportamento de Ethan, Emily principalmente. Ethan só viu Aaron uma vez, não era para ele reagir assim. E mais, se ele deixar escapar um "tio Aaron" na frente de algum familiar, ela estará condenada a guilhotina.

— Tio Aaron? - JJ pergunta.

Emily revira os olhos. Bem, as perguntas já começaram.

— Um dia desses levei Ethan ao parque e a cadela de Aaron o atropelou. Ethan perguntou se podia brincar com ela e Aaron deixou. Ethan está obcecado desde então.

— Isso não responde a pergunta do porquê ele o chama de tio Aaron.

— Eu não sei de onde ele tirou isso, ele só viu Aaron essa única vez. - Ela olha para camisa desbotada que pegou de Aaron e se pergunta por que diabos ela está vestida nela. E mesmo assim ela não consegue tirá-la.

Foi essa camisa que ela usou depois que Aaron a livrou de ser atacada. Será que isso era um símbolo de segurança? Ou é apenas uma forma de fazer com que ela se sinta próxima dele?

Mais uma vez ela se recusou a procurar uma resposta. Porque o fato de haver algo por trás disso era assustador.

...

Emily fez uma parada na floricutura, ela não achou educado aparecer sem nada, mesmo considerando quem ela iria ver.

Aaron estava há dois dias no hospital, ela pensou que a essa altura ele já teria saído, pois ela achou que seu estado não era grave depois do que a mãe dele disse e que logo poderia repousar em casa. Provavelmente os médicos não acharam isso. Talvez eles queiram apenas monitorá-lo de perto, para descartar o risco de hemorragia interna.

Emily escolheu um mini cacto, um com bastantes espinhos, o qual ela achou incrivelmente fofo. Ela não achou que Aaron gostaria de receber flores, então ela optou por algo diferente.

Eram 16:33 quando ela caminhava em direção ao quarto dele, ela espera seriamente que o horário de visitas seja até às 20:30 ou 21:00. Para tirar suas dúvidas, ela parou uma enfermeira e perguntou se Aaron Hotchner estava recebendo visita.

Ele estava assistindo TV, ou pelo menos tentando, quando ela entrou no quarto depois de deixar uma batida suave na porta. Ele olhou para a porta e ficou surpreso quando a viu.

— Emily? - perguntou para ter certeza que não estava alucinando, afinal ele já tinha alucinado com ela.

— Sim, a própria. Trouxe um cacto, ele é espinhoso como você. Então pensei "perfeito!".

Ele revira os olhos. Bem, com certeza era uma Emily real.

— O que está fazendo aqui? - ele pergunta quando deixa a TV no mudo.

É a primeira vez que ela o vê depois da festa de Cameron. Ele estava pálido, sua aparência um tanto miserável, mas parecia está bem, considerando que ela teve o sangue dele nas mãos. Ela engoliu em seco. Bem, não só literalmente, mas figurativamente também. É culpa dela ele está assim.

— Queria saber se você estava bem.

— Oh, que fofo. Você ficou com medo que eu morresse. - Ele brincou.

A frase que Emily disse quando ela estava socorrendo-o não saía de sua mente. Ele não lembra de muita coisa de quando ele estava deitado no chão daquela boate, mas ele lembra claramente de Emily dizendo que ele não podia morrer. Ela não faz ideia do que essas palavras causaram nele. Uma conexão foi criada ali.

— Eu não... não fiquei... ah, cala a boca.

Ela senta na cadeira próximo à cama dele, mas não tão próximo. O que era bom, ela já estava correndo um grande risco visitando ele, seria embaraçoso além da conta se alguém os encontrassem próximos. Embora ela não devesse explicação a ninguém, ela sabia que não seria capaz se livrar de um afronte da família dele ou da dela. Então, o melhor era não arriscar.

Emily gostaria de ajudá-lo como ele a ajudou na noite em que ela brigou com sua mãe e ele a levou para aquela braça escura. Não foi o melhor ou o mais bonito lugar para se levar alguém, mas ela se sentiu melhor. Ela também o beijou, mas quem liga para isso?

Claramente ela, porque quando ela não estava pensando nisso, estava sonhando com isso.

Ela sabe que esse não é o tipo de coisa para se sentir com seu rival, mas ela gostaria de levá-lo para um lugar que o fizesse se sentir bem. Um lugar que não cheirasse a antisséptico ou e que não fosse por natureza deprimente.

— Minha mãe disse que você apareceu.

— Sim - disse enquanto cruzava as pernas e olhava para ele sem expressão.

— O que você achava que conseguiria aqui às 4:00 da manhã?

— Eu estava planejando te sufocar com um travesseiro. Mas eu não contei isso a ela, é claro. - Um sorriso divertido brincou nos lábios dela - Pretendo concluir meu plano hoje.

Ele não pôde evitar sorrir. Ultimamente ele não pôde evitar muita coisa em relação a Emily. Como quando ele desenhou duas pessoas dançando, a qual não eram ele e Emily, pelo menos era assim que ele queria pensar. Ou duas pessoas de costas no escuro, com um pouco de espaço entre elas, com as mãos se tocando.

— Então você tem que se apressar, porque minha mãe chega às 18:00.

Emily fez uma nota mental para poder sair antes disso. Outro encontro com Christine seria problemático. Mas encontrá-la não seria realmente o fim do mundo, ela só não queria o olhar interrogativo de Christine em cima dela.

E por falar em tentativa de homicídio, Emily se perguntou se aquele era o lugar mais seguro para Aaron ficar. Alguém poderia voltar e terminar o trabalho. Então ela lembrou que Tommy já esteve no hospital e se ele quisesse eliminar Aaron, já teria feito. A segurança de Aaron não era um problema.

Por enquanto.

Ela sentiu uma onda de culpa. Ninguém além dela deveria sofrer com suas escolhas de namorados.

— Você sentiu dor? - ela perguntou, ela sabia que era uma pergunta estúpida, ele foi esfaqueado, pelo amor de Deus.

— Os primeiros minutos foram insuportáveis, mas depois do que eu acho ter sido cinco minutos, eu não senti mais nada, eu queria apenas fechar os olhos, mas você não me deixou.

— Eu estava tentando salvar sua vida, seu idiota - ela rebate, mas quando ela olha para o rosto dele, ele está sorrindo. Ela revira os olhos e resmunga "mal-agradecido". Então por trinta segundo ela apenas olha para ele antes de fazer outra pergunta - Você não sentiu dor como quando... - ela não termina a frase, mas ela não precisava, ele já sabia.

— Foi um tipo de entorpecimento diferente, Emily. No primeiro, eu mesmo causei, eu simplesmente fiz isso porque eu não sentia nada. No segundo, eu não senti nada porque meu corpo estava em choque.

— Sinto muito.

— Você não tem culpa.

A coluna de Emily enrijece. Bem, isso não era verdade.

Ela levanta da cadeira e fica de costas para Aaron, ela sente que é incapaz de esconder a culpa em seus olhos.

Talvez foi essa culpa que a fez ir ao hospital, para começar.

Quem você está querendo enganar, Emily?

É uma pena que seu problema seja um ferimento à faça, - ela virou para ele e seus lábios se esticaram em um sorriso - se fosse uma crise de ansiedade eu poderia te ajudar.

E antes que ele notasse, seu cérebro já havia liberado serotonina e um sorriso brilhava em seu rosto.

— Uma explosão de dopamina, serotonina, epinefrina, endorfina e oxitocina faz bem para qualquer pessoa, seja lá qual for sua condição.

A risada de Emily reverbera por todo o quarto. Ele tem a sensação que esse som vai ficar com ele por um bom tempo, o calor em seu peito afirma isso.

— Boa tentativa, Aaron, mas você não está ganhando um beijo. Espera aí, endorfina e oxitocina? Esses não são os hormônios do prazer e do amor?

— Serotonina também é responsável pela agressão.

— A serotonina não está em discussão aqui, Aaron. Quer dizer que você se sentiu afeito e atraído sexualmente por mim? - ela disse brincalhona.

— Eu sou um homem, Emily. E como você sabe, homens são uns porcos, a ponto de se sentirem atraído por prostitutas, bonitas ou não. - Ele faz uma pausa para olhá-la - Você é uma mulher bonita. - Ele deixou o resto para interpretar.

Ela sentiu um leve rubor queimar sua bochechas com a declaração de Aaron.

Ela se aproximou da cama.

— Ah meu Deus, você me comparou com prostitutas! - Ela bateu em seu estômago, não com tanta força, mas fez com que Aaron gemesse de dor - Desculpa - disse rindo. - Por um momento eu esqueci sua condição. Eu acertei seus ferimentos?

— Não - grunhiu a resposta - Está tudo bem, é só que meu corpo passou por muito estresse, então estou um pouco dolorido. E continuando minha linha de raciocínio, homens fazem coisas absurdas por sexo.

— Até dormir com o inimigo? - pergunta Emily.

Ele a encara.

— Principalmente dormir com o inimigo.

É uma declaração brincalhona, no intuito de provocar e divertir ambas as partes, mas há uma verdade sob tudo isso, algo que veio aumentando desde que voltaram da cabana, ou até mesmo antes disso, quando ele a livrou de Tommy. Algo que eles nunca admitiriam. Ou pelo menos não com seu status atual.

Não é o que dizem, que toda brincadeira tem um fundo de verdade? Então cabe a eles descobrirem se há um fundo por trás disso.

Emily olha para Aaron. E ele para ela.

Emily sabe que homens não têm nenhum escrúpulo quando se trata de sexo, eles se sentem atraídos por quase todo tipo de mulheres. Bem, ela acha que não é atração, é apenas a excitação por ter onde enfiar seu amigo. Os muitos políticos que ela conhece são exemplo para provar seu ponto. Muitos arruinaram seus casamentos ou faliram, ou ambos, por causa do seus vícios em prostitutas, acompanhantes e suas ramificações. Essa é a verdade nua e crua.

Mas ela e Aaron sempre se odiaram, e eles de formam alguma estiveram inclinados para atração. Aaron sempre foi bonito, ela nunca negou, mas não admitiu também (não para ele, de qualquer maneira). No ensino médio ele estava no topo das listas de mais bonito, mais charmoso, mais sexy, o melhor beijo e essas coisas. Não é incomum que adolescentes que se odeiam tendem cair na tentação de experimentar, seja em beijos ou sexo, é mais comum do que se pensa. Acontece que ela nunca olhou para dessa forma, ele era apenas o insuportável Aaron Hotchner.

Ela era apenas a insuportável Emily.

Hoje é uma história diferente.

Hoje ela consegue perder o fôlego quando seu corpo está pressionado ao dele, no passado isso lhe daria uma grande repulsa. Hoje ela sabe que os lábios deles são macios e que ele é um beijador excelente. Ela iria rir até esgotar suas forças se alguns anos atrás alguém dissesse que ela beijaria Aaron e que iria gostar. Ela também não acreditaria se dissesse que quando ela está se tocando é ele que invade sua mente, dando lugar a fantasias.

— Você está imaginando agora como seria dormir comigo?

— E por que eu imaginaria isso? - ela desafia com uma sobrancelha erguida.

— Eu não sei. Talvez por eu dizer que dormiria com você por ser um de mente homem vazia.

— Okay, é melhor pararmos com esse assunto de sexo. É meio estranho com você tão horrível nessa cama, parecendo um morto.

— Prefere ter essa conversa quando eu sair daqui? - ele viu mais uma oportunidade de importuná-la e não deixou passar.

Mas um segundo depois ele se arrepende. Bem, não totalmente.

Ela bate novamente no estômago dele. Um gemido agonizante sai de seus lábios.

— Inferno, Emily! Por que você tem sempre que me atingir no estômago?

— Você pediu por essa - falou como quando ela ia explicar para seus pais porque ela e Ted estavam brigando.

— Você é louca - ele diz entre gemidos e risadas.

Então eles ficaram sorrindo um para o outro, encarando-se. Até ficar estranho e eles desviaram o olhar.

Okay, fale sobre sexo e eles se divertem, agora ficar olhando um para outro enquanto trocam sorrisos e tudo fica estranho.

Ridículo.

— Quanto tempo vai ficar aqui? - ela diz na tentativa de aliviar a tensão.

— Os médicos disseram que era provável que eu fique uma semana, apenas para observação, então eu posso curar em casa. Disseram que não foi grave, quem quer que tenha feito isso comigo não sabia o que estava fazendo ou não tinha intenção de me matar.

Ele ver Emily ficar tensa, e ele tem certeza que não é por causa dele e seu tempo no hospital. Ela sabe de algo.

— Emily - ele chama de uma forma suave que a faz olhar imediatamente. - Você sabe de alguma coisa? Ou... - ele pondera antes de fazer alguma acusação - você tem algo a ver com isso?

— Eu não mandei esfaquear você, se é o que está dizendo, mas... - ela para, direciona o olhar longe dele.

— Mas...

— Eu... - ela olhou para o relógio e viu que estava tarde - Eu tenho que ir, já é quase 18:00.

— Emily, o que diabos você sabe? - exigiu saber.

— Não posso falar, Aaron. Não aqui. Não agora. Quando você sair daqui, acha que podemos nos encontrar?

— Emily...

— Apenas se concentre em se curar, nos encontramos quando você sair. E tenha em mente que não será um encontro.

Emily estava sem tempo, esse era um dos motivos pelo qual ela não contou a ele, Christine estava chegando e ela queria evitar isso. Mas esse não era o principal motivo, ela não estava pronta para admitir. Dizer a ele que seu ex fez isso era doloroso, humilhante. Dizer a ele era admitir sua escolha horrível por homem e que ele foi pego nesse fogo cruzado. Se bem que Aaron a humilhou revelando seu aborto, mas ele não merecia isso. Isso restava além do olho por olho.

Ela mordeu o lábio, esperando que a ação impedisse o choro que estava pronto para a atingir com força. Porque Aaron estava ferido. Inferno, ele sangrou sob suas mãos e ela ficou tão assustada que passou os dias anteriores vestida naquela camisa desbotada para se sentir conectada com ele, esperando que aquilo o ajudasse a ficar bem, mesmo que não tivesse lógica nisso.

De repente ela só quis abraçá-lo. Então ela amaldiçoou todas as suas emoções, porque ela estava sentindo tudo de uma vez e batendo nela com força, ela estava tão confusa. Porque era Aaron! Ela não deveria sentir qualquer coisa além de ódio.

Então ela decidiu acrescentar algo suave, algo para distrair aquela tensão no ar.

— Sabe, meu sobrinho Ethan, ele insistiu em ir ao parque para brincar com a sua cadela. E ele continua a te chamar de "tio Aaron", estou começando a achar que ele faz isso só para me irritar.

Aaron riu, ele lembra claramente de Ethan brincando naquele dia com Laica. Ele é obstinado e cheio de energia. Laica parecia ter criando um grande afeto pelo garoto, porque naquele dia ela chorou quando eles estavam indo para casa.

Ele nunca vai entender o afeto de cães por crianças.

Parece irônico que justo o sobrinho de Emily tenha gostado dele.

— Então ele é um garoto esperto - Aaron responde ao último comentário dela e sorrir quando ela revira os olhos.

— E quando eu disse que você estava no hospital, ele insistiu que queria te visitar. Eu não sei o que você fez, mas meu sobrinho está encantado por você. E isso pode me dar problemas.

De alguma forma saber que Ethan gostava dele, pelo menos é o que parece, acendeu-lhe algo no peito. As únicas crianças que ele tem contato é as da organização que ele ajuda e saber que uma criança fora dessas parede gosta dele faz brotar sentimentos que ele não sabia que era capaz de sentir.

— Fico feliz em saber que estou te causando mais um problema, isso é terapêutico. - Não foi uma comentário ofensivo, foi apenas um comentário divertido e sem fundo, porque uma coisa era certa, desde aquela noite que ele a salvou daquele idiota e depois daqueles protestantes raivosos, ele não gosta quando ela está com problemas.

E por um momento eles ficaram apenas olhando uma para o outro e sorrindo.

Novamente.

O momento foi quebrado por uma voz atrás dela.

— Você de novo?

As costas de Emily empertigaram.

Christine.

Emily virou lentamente para ela.

— Christine, oi. É bom vê-la, você parece bem.

Aaron que estava assistindo de sua cama, pressionava os lábios para reprimir as risadas que queriam sair. Mesmo que ele soubesse que sua mãe iria arrancar seus cabelos para descobrir o que diabos era aquilo. Mas Emily sendo cínica fazia daquilo um show incrível.

— O que está fazendo aqui? - ela pergunta cruzando os braços, uma expressão severa no rosto.

— Visitando Aaron, é claro. - Ainda há atrevimento em sua voz e isso com certeza estava mexendo com os nervos da mulher mais velha.

— Por quê?

Mas Emily não responde, apenas se afasta da cama de Aaron e caminha até ela, colocando a mão em seu ombro.

— Tchau, Christine, foi com te ver e novamente, você está ótima.

Então ela saiu. Deixando uma Christine muito chocada e um Aaron bastante divertido.

Christine viu esses dois crescerem, bem de perto. Acompanhou o ódio, discórdia e a competição crescer entre os dois. Ela viu anos atrás que eles não conseguiam ficar no mesmo lugar sem bagunçar nada, deixar o ar tenso, quebrar um vaso de mil dólares, seja lá o que fosse, sempre acabava em algo ruim. E ela também havia visto isso há apenas alguns meses atrás.

Mas o que ela viu hoje foi bizarro. Realmente bizarro, e ela não costumava usar essa expressão com muita coisa. Na verdade ela nunca usava.

Ela pode sentir algo diferente no ar quando os dois estão no mesmo lugar, e sente ainda mais quando estão próximo. No início, quando as grande brigas cessaram, Christine apenas pensou que fosse eles realmente amadurecendo, mas ela mudou de ideia quando eles começaram a se apunhalar vazando noticias ruins sobre o outro. Mas ainda não era como antes, aquele ódio consumidor, era apenas eles no modo automático, afinal eles foram criados para se odiarem.

Nas festas políticas que participaram, ela sempre viu Aaron ou Emily se aproximarem, trocavam palavras, o que ela tinha certeza que era provocação e insultos bem disfarçados que aprederam com as aulas de etiquetas, às vezes eles riam, mas nada que fizesse seu alarme zumbir. Ela viu eles dançarem, o que ela achou estranho, pois eles nunca tinham feito isso antes. Mas isso também não zumbiu muito, eles pareciam muito tensos por estarem tão próximos. Isso foi o suficiente para jogar fora qualquer preocupação.

Ela também notou os desaparecimentos de Aaron, o que coincidentemente era sempre quando Emily desaparecia. Mas isso já havia acontecido antes, não significava que estavam juntos.

Hoje a tensão não era a mesma de sempre. Não havia aquele peso incômodo como era esperado ao ver que os dois estavam no mesmo cômodo. Aaron estava relaxado, sorridente. E Emily foi ridiculamente gentil, e o estranho é que parecia sincera.

Algo aconteceu, Christine tem certeza disso, e esse acontecimento mudou algo entre eles. Ela não tem base para acusar seu filho por qualquer coisa relacionada a Emily. Além do fato que seu filho era um adulto, e embora ele ainda morasse com ela, não dá o direito de ela meter o dedo na vida dele.

Pode ser apenas Emily sendo sentindo-se mal por Aaron está ferido e ter sido ela quem o ajudou, mas seria simples demais. E nada era simples com eles.

Nada é simples entre um Hotchner e um Prentiss.

— O que foi isso?

Aaron continuou a rir.

— Ela estava apenas brincando com você. Parece que ela cumpriu com o propósito, você ainda parece chocada.

Christine optou por não responder ao comentário do filho, apenas decidiu externar alguns de seus pensamentos.

— Emily parece está por toda parte - diz como se não quisesse nada, como se fosse um comentário rotineiro, como falar sobre o tempo.

— O que quer dizer mãe? - pergunta Aaron, já erguendo suas barreira.

— Não quero dizer nada, apenas que ela parece está por toda parte e que pareciam bem à vontade.

— Pelo amor de Deus, mãe, não siga por esse caminho. É de mim e Emily que você está falando.

— Eu também não estou dizendo que vocês estão em um romance secreto, mas tem algo estranho entre vocês dois. É como se tivessem assinado um acordo de paz.

Essa declaração soou totalmente ridícula na cabeça de Aaron.

— Mãe, sempre terá algo acontecendo entre mim e Emily. Nunca será só águas calmas.

Ela pareceu aceitar essa resposta.