A ilha - Livro 1

Capítulo 38 – Encontro desagradável


— O que exatamente isso significa, eu ainda não entendi.

Havíamos acabado de entregar o barco e estávamos caminhando de volta para o hotel ao invés de pegarmos um táxi. Coloquei as mãos nos bolsos da minha roupa e comecei a chutar uma pedra no chão enquanto andava. Expliquei para Ivo o que as sereias haviam me contado sobre humanos xeretando aquela área, e sobre o relógio perdido.

—Eu estive com ele, e ele me mostrou e falou desse relógio.

—Você tem certeza disso¿ Tipo, eu nunca fui com a cara do Igor, mas sei lá... O que ele estaria fazendo lá¿ O que todos estão fazendo lá¿

—Ele havia me dito que o mar daria dinheiro o suficiente para ele ir embora daqui, eu não sei o que ele esta fazendo, mas deve ser algo muito grande.

—E provavelmente, ilegal.

Eu não pude discordar. Aquilo me cheirava a problema. Seja lá o que fosse, eu iria descobrir.

—Eu vou falar com ele.

—Está maluca¿

—Ele confia em mim, Ivo.

—Mas eu não confio nele!

Virei os olhos. Eu tinha que pensar em um jeito de chegar no assunto com o Igor, mas como¿

Estávamos a alguns minutos do hotel quando encontramos com Jemima e Quirino aos beijos em um banco no calçadão da praia. E então a cena constrangedora começou.

De início, Ivo parecia surpreso, depois de uma risadinha e pigarreou para que notassem que estávamos ali. Já era desconfortável o suficiente, ver aquela cena, mas Ivo fez questão de que soubessem que estávamos de plateia.

—Bom dia, vocês. – Ele falou sério

Os dois se sobressaltaram e Quirino ficou em pé rapidamente.

—Cara, você já esta de volta¿

Antes que Ivo pudesse responder, Jemima se levantou bruscamente e deu um tapa forte em seu rosto.

—O que está fazendo com ela¿ Deveria estar no hospital, a gente aqui preocupado, e você se pegando com...ela.

Ela disse a ultima palavra com uma cara de nojo me olhando de cima a baixo. Primeiro de tudo, não estávamos “nos pegando”...

—Eu fui ver ele no hospital – falei friamente

—E vocês é que estão “se pegando” – Ivo deu ênfase no termo que ela usara.

—Como você está se sentindo¿ - Quirino tentou desviar o foco – Se sente melhor¿

—Você nem gosta dela – Jemima gritou de repente me assustando – Disse que prefere comer caco de vidro do que ter que beija-la.

—Ele não está me beijando - falei alto e nervosa, a situação estava vergonhosa. Ele havia realmente dito isso¿

Ivo ignorou o comentário dela e se voltou para Quirino.

—Estava com um pouco de dor de cabeça quando acordei, mas só isso, e já passou.

—Que bom, cara...

—Vamos¿ - Ivo se dirigiu a mim

—Vocês não vão a lugar nenhum, sem me explicar o que esta acontecendo entre vocês!

—Jemima, para! – Ivo gritou – Eu não tenho nada com você, nunca tive e nem quero ter. Você esta com o Quirino e fica agindo como se fosse algo minha! – Ela tentou retrucar, mas ele falou mais alto – Eu e a Pietra somos amigos, e as pessoas mudam, entenda isso! Ontem nos odiávamos, hoje somos amigos. Fim. Cresça você também!

Ele terminou a frase e agarrou a minha mão me puxando para irmos embora. Jemima estava perplexa, Quirino segurando uma risada, eu sem graça, pois todos em volta nos observavam, e Ivo furioso dando passos largos e me puxando pela mão.

Quando nos distanciamos deles, eu puxei ele para que parasse.

—Ei! Calma, já foi! – Falei preocupada, ele ainda parecia furioso

Ele se virou parando de frente para mim ainda segurando a minha mão.

—Desculpe por aquilo. O negocio de comer caco de vidro...

—Relaxa – eu ri – Não que eu fosse lá sua grande fã.

Voltamos a andar em direção ao hotel, ainda de mãos dadas e em silencio. Estranhamente eu não quis soltar a sua mão, mas estava um pouco envergonhada da cena, e imaginando o que diriam se nos vissem daquele jeito. Adentrando á recepção do prédio, soltamos as mãos.

—Ah, você pode ficar aqui em baixo depois do almoço¿ Quero sua ajuda para procurar algo que a Pérola pediu.

Ele concordou e fomos para o elevador que levava a ala das meninas. Subimos em silencio. Quando descemos do elevador, acenamos nos despedindo. Quase todo mundo estava ali nos corredores, meninos e meninas conversando. Pararam para nos observar.

—Pietra – Ivo gritou de longe fazendo todos prestarem atenção – hoje em dia eu com certeza não preferiria os cacos de vidro.

Eu sei que ninguém ali havia entendido o que ele quis dizer com aquilo, mas mesmo assim me senti sem graça. Entrei no meu quarto sendo seguida pelas meninas, enquanto todos iam perguntar como Ivo estava.

Percebi que estava sorrindo sozinha. Infelizmente as meninas perceberam também.

— Trate de nos contar AGORA mesmo o que esta acontecendo entre vocês dois! – Eliana gritou me jogando na cama e caindo em cima de mim, me fazendo gargalhar.

—Você só vai sair daqui quando soubermos tudo desde o início, desde quando tudo isso começou. – Greta continuou

—É sério, Pietra! Claro que de início nós não estávamos gostando, afinal... é o Ivo! – Ingrid falou calma – Mas você esta claramente gostando dele, e isso é a primeira vez que te acontece, queremos saber de tudo!

Respirei fundo. Eu não sabia exatamente o que tinha para contar a elas. Eu estava mesmo gostando do Ivo¿ E como contar como nos aproximamos sem falar algo surreal, como: eu tenho uma cauda.

—Okay – respirei fundo mais uma vez, ainda pensando em como começar – pra começar, o Ivo me afogou um dia sem querer...

Contei a elas todo o episódio em que ele tirou uma foto minha com o Igor e como quase me matou afogada, contei então de quando ele foi me pedir desculpas, brigamos e cai novamente na agua, me afogando pela segunda vez. E então eu menti, menti porque não tinha como contar a verdade.

— E aí acho que quando ele me ajudou a sair da água, ficamos conversando, de início acho que ele sentiu pena, ou culpa... Mas aí...ficamos amigos...Quer dizer, mais ou menos...sei lá...

—E quando se beijaram¿ - Greta falou ansiosa

—Não nos beijamos – assumi – nunca nos beijamos.

—Mentira!

—É verdade, Greta! Hoje quase...pelo menos eu acho – falei sem graça – mas nunca rolou de verdade...

—Você está apaixonada¿ - Eliana perguntou calmamente e empolgada ao mesmo tempo

Corei. Eu estava¿