A ilha - Livro 1

Capítulo 34 - Uma atitude inesperada


Fazia cerca de cinco minutos que estávamos todos molhados, colados e calados. Reparei que Jemima me encarava com fogo nos olhos, e depois decidiu que ficaria de costas para o nosso circulo de pessoas.

—Ela está morta de ciúmes – ouvi Ivo sussurrar e só então notei que ele era quem estava colado do meu lado esquerdo.

Virei os olhos e olhei para ele.

—Você faz isso de propósito né¿ Sabe que ela me odeia e provoca. – voltei a olhar para frente

—Nem vem, eu nem vi que estava vindo sentar do SEU lado.

Fingi acreditar. E ele fingiu ter me convencido. Continuamos todos em silencio, o mar balançava o barco violentamente e várias vezes a cabeça de alguém batia na cabeça de outro alguém. Algumas vezes o impacto era tão forte que gritávamos assustados.

Vinte minutos depois, vi quando algumas coisas que ainda se mantinham em cima de prateleiras começaram a escorregar em nossa direção. O barco estava virando lentamente. Se quilo era muito perigoso eu não sei, mas eu sabia que algo estava sério. Nossos corpos começaram a escorregar também. Começamos a gritar e cair em cima um dos outros. Alguém agarrou a minha mão e eu a apertei como se aquilo me desse alguma segurança. Quando estávamos todos espremidos na parede do barco, olhei para frente e vi uma mala voar em minha direção. Gritei e fechei os olhos.

Mantive-me de olhos fechados depois de sentir um impacto em meu corpo. A mala esmagara a minha cabeça¿ Eu sentia o peso dela em mim, mas não ousava abrir os olhos.

— Ele esta sangrando – alguém gritou e me despertou para que eu abrisse os olhos.

A mala não havia me acertado. Havia acertado Ivo. O peso sobre mim não era da mala, era dele. Ele estava de frente para mim, desmaiado, abraçando-me e sangrando. Ela havia...me protegido¿ Eu estava assustada, a mão que segurava a minha agora não a apertava mais. Olhei para ela, e era a mão dele.

—Ivo! – Gritei

—Ivo! – ouvi outras pessoas chamando-o

— Ivo! - Soltei a mão dele e levantei a sua cabeça – acorde eu peguei seu pulso e conferi – está vivo!

Eu estava ligeiramente aliviada, porém preocupada. Meu coração disparava. Tentei deitar ele, mas o sacolejo não me dava equilíbrio.

—Alguém me ajude! – choraminguei

Quirino me ajudou a virar ele que ficou com a cabeça deitada em meu colo. Peguei um pano que já estava molhado e limpei o sangue no topo de sua cabeça, mas logo ele estava lá novamente.

Eu estava desesperada, já ouvira falar de muitos acidentes bobos na cabeça que acaba despertando muitas outras coisas. Coisas graves. Segurei o pano pressionando o ferimento. O pano começou a ficar vermelho imediatamente.

—O que aconteceu exatamente¿ - Fabrício perguntou se aproximando sem conseguir manter muito bem o equilíbrio e caindo ao nosso lado.

—A mala – Tais falou entre lágrimas e com maquiagem borrada – ela vinha na direção da Pietra e ele entrou na frente

—A culpa é sua então – Jemima falava bufando

Ninguém ligou para o que ela disse também não a repreenderam. Acho que estávamos todos muito assustados.

—Alguém deveria avisar a um adulto – Heitor sugeriu

Diego, que estava mais próximo à escada, se levantou sem dizer nada e subiu. Alguns minutos depois desceu cambaleando com um dos nossos salva-vidas que tinha um arranhão no rosto que ainda sangrava.

—Deixe-me vê-lo.

Ele se aproximou com uma bolsinha branca encardida e mediu pressão, checou pulso, conferiu ferimento e algumas coisas a mais.

—Continue pressionando o ferimento, mas sem por muito peso- ele falou alto – já estamos chegando.

Ele voltou a subir e nós continuamos todos com cara de desespero. Alguns faziam orações silenciosos, outros choravam, mas a maioria só estava tentando se manter firme e atentos a qualquer coisa que pudesse cair de cima de algo.

O tempo parecia demorar uma eternidade. Parecia que estávamos a horas lá em baixo quando o mesmo cara voltou a aparecer mandando subirmos devagar de um em um. Olhou para mim e gritou:

—Fique com ele, os paramédicos irão descer em minutos.

O barco ainda balançava, mas pelo menos agora estávamos atracados e os médicos já haviam sido chamados.

—Ficarei aqui com você – Heitor disse – beleza¿

—Não precisa. Sério. Em minutos estarei com vocês.

Ele hesitou.

—Vá! – falei alto e ele obedeceu meio relutante

Fabricio e as meninas haviam me ouvido e subiram depois dele, um de cada vez na escada que balançava.

—O que esta fazendo¿ - Ivo falou de repente tentando se levantar

—Não, o empurrei de volta. Os paramédicos estão chegando. Eles estão descendo. Já atracamos. – eu pingava em seu rosto enquanto falava alto

—Estou muito mal¿ - ele colocou a mão e sentiu o pano que estava em sua cabeça

—Só um corte, nada demais – falei tentando passar tranquilidade

—Nunca mais tento bancar o herói – ele riu

—Ótima ideia.

Um paramédico desceu as escadas e então outro, depois disso eu fui mandada para cima e então retirada do barco.

Cheguei ao hotel com os dedos e orelhas roxas, tremendo e querendo um banho quente. Havia ido para o hotel num táxi com o diretor Lucas que havia me esperado. Ele havia mandado todos de táxi, para maior conforto e porque não queria ter que esperar nosso ônibus. Quando subi para o meu quarto, Greta e Eliana estavam no banho. Tirei as minhas roupas e as joguei junto às delas que estavam encharcadas no canto do banheiro. Me enrolei em uma toalha e sentei ao lado de Ingrid no chão do banheiro. Estávamos todas caladas.

—O Ivo está bem¿ - Eliana perguntou e as outras duas olharam para mim também

—Acho que sim. Ele acordou, parecia bem.

Voltamos a fazer silencio. Acho que ainda estávamos assustadas demais para conversar numa boa. Mas não demorou tanto para alguém tentar quebrar o clima de suspense.

—O Ivo realmente entrou na frente de uma mala que voava em sua direção¿ O IVO¿ O Ivo foi cavalheiro e teve um extinto masculino amadurecido¿ O Ivo não foi covarde como sempre¿ - Eliana falou indignada

Começamos a rir a cada interrogação que aparecia, a cada cara de surpresa que ela fazia.

—É... – eu disse

—Essas estão sendo as férias mais estranhas que eu já tive em toda a minha vida – Greta riu

—Eu que o diga - falei