A ilha - Livro 1

Capítulo 31 - A Halíade


Tampei meus ouvidos e gritei pedindo para que ela parasse com aquilo. Ela deve ter percebido o quão assustada eu estava e então parou, porém se afastou de mim e continuou me encarando preparada para atacar a qualquer instante.

—Oi...- falei devagar para não assusta-la

—Quem é você¿ - apesar do grito horrível, sua voz era como seda

—Desulpe assusta-la falei eu mesma estando assustada

—Quem é você¿

—Meu nome é Pietra – ela não falou nada – sou uma sereia.

—Sereias não andam em terra firme, não criam pernas. Quem é você¿

—É difícil explicar...

—O que faz em minhas águas¿

—Suas¿

Ela abriu a boca e rosnou mostrando dentes afiados.

—Eu segui você. Não sabia que este lugar pertencia a alguém.

—Se você fosse uma sereia, saberia. É uma impostora.

As aguas começaram a borbulhar e senti a presença de mais seres ali. Eu havia me metido em uma grande enrascada com certeza.

—Olha, eu só queria saber quem era você, eu não conheço anda do mundo marinho, do mundo das águas. Sou metade humana metade sereia, e eu vivo na terra.

—Isso não existe, você está mentindo.

—Eu não estou, posso te mostrar – no exato instante desejei ter pernas e quando elas surgiram, a estranha mulher a minha frente me observou confusa.

—Como fez isso¿ - ela perguntou enquanto via minhas pernas voltarem a ser cauda

—Uma feiticeira acidentalmente me transformou em metade sereia, agora estou presa a isso até que ela consiga criar um feitiço que reverta.

Não sei se era eu quem estava me acostumando à estranha aparência da mulher, mas ela pareia mais bonita agora e menos mortal. Aproximou-se de mim e me estendeu sua mão escamosa para que a segurasse. Assim o fiz. Mergulhamos e nadamos alguns segundos. Eu podia ver varias pequenas caudas na água, tão pequenas que poderiam pertencer a...crianças¿

Para a minha surpresa vi uma pequena sereia passado ao longe brincando com alguns peixes grandes. Observei e pude ver varias outras pequenas sereias pelo local, algumas que me viram, olharam ao mesmo tempo encantadas e assustadas.

Assim que subimos a superfície eu pude ver outras pequenas sereias brincando, comendo, e fazendo diversas coisas.

—Uau – suspirei

—É aqui que elas nascem, e é aqui onde aprendem tudo para encarar a vida no mar. Você não passou por aqui. Eu me lembraria. Lembro-me de cada uma delas.

—Quem é você exatamente¿

—Sou uma Halíade

—Deculpe... eu não sei o que é...

— Tudo bem – ela parecia ofendida – os humanos mudaram muito de alguns séculos para ca. Sou uma ninfa das aguas doces e salgadas, uma Halíade –falou impaciente – em outra época você me veneraria.

—ah...você tem um nome¿ - perguntei meio sem graça

—Ninguem chama uma Halíade pelo nome, mas em vida humana, eu era Teresa.

—Teresa, entendi.

—Me chame de ninfa, e não de Teresa.

—Tudo bem. E... você cuida das águas e da sereias¿

—Sou eu quem dá vida a tudo isso. Você, como a escolhida, deveria saber mais sobre tudo isso, criança.

—Escolhida¿ Escolhida para que¿

—Ora para que, para salvar o mundo marinho não¿

—Eu não sei. Não – me afastei – não fui escolhida para nada

—UM HUMANO EM MINHAS AGUAS! – ela gritou subitamente – NINFAS! PARA O RIO!

Ninfas surgiram nadando em direção a onde havíamos estado anteriormente e me lembrei então que havia deixo Ivo me esperando.

—Não! Não o ataquem! – nadei rapidamente para segui-las, por sorte eu era rápida o suficiente –Ninfa...

Mas minha voz foi abafada por gritos, supostamente de guerra, dado por dezenas de Halíades furiosas. Nadei o mais depressa possível mas elas eram muitas impedindo o meu caminho. Pude ver uma roupa diferente das demais, uma roupa que não pertencia a nenhuma das Halíades. Era Ivo, e elas estavam afogando-no.

—Soltem-no - tentei em aproximar dele que esperneava e engolia água desesperado – soltem! Ele é meu amigo! – eu gritava mas elas não me ouviam

Aproximei o máximo possível dele e o segurei pelo braço nadando com toda força para cima, mas elas eram muitas puxando-no para baixo. Os gritos foram cessando e ele foi ficando mais leve, olhei para baixo e a Ninfa Teresa estava parada em meio às outras olhando para mim furiosa. As outras ninfas foram deixando-no contrariadas e eu finalmente consegui chegar a borda com ele.

Joguei-o para fora do rio e ele permaneceu inerte. Saindo da agua desejei ter pernas e me arrastei até ele.

—IVO! – gritei –IVO ACORDA! – fez os procedimentos que aprendera na escola há alguns anos, mas nem sequer me lembrava ao certo como era.

Ivo tossiu água de repente e me senti aliviada, com o coração ainda disparado corri para me vesti antes que ele acordasse de vez. Voltei até ele que ainda tossia água e o sentei.

—Onde você estava¿ - ele falou assim eu recuperou o fôlego

—Com a Halíade.

—Quem¿

—Te conto depois, vamos embora!

Ajudei-o a se levantar e vi as Halíades com metade de seus rostos fora d’água nos observando.

Já havíamos saido da floresta quando ele quebrou o silencio agora já andando sem a minha ajuda.

—Me conta o eu houve desde o momento que você pulou na água.

Tentei contar para ele com o máximo de detalhes possíveis sobre tudo o que houvera, e ele ouvia cada palavra atentamente enquanto caminhávamos lentamente pela praia.

—Então era isso... – ele falou baixo

—Isso o que¿

—Que me puxava. Espera, é a minha vez de contar tudo.

—Por favor!

—Primeiro você pulou lá e eu fiquei sentado olhando fixamente para a água e as ondas que ainda se agitavam depois de seu mergulho. Depois que a água ficou totalmente parada eu continuei olhando para dentro do rio para caso você aparecesse. Ou outra coisa qualquer. – ele respirou – Aí começaram uns sons que eu tenho certeza que vieram do rio, absurdamente horrível. – balancei a cabeça afirmativamente para dizer que vinham sim de lá – achei que estavam te matando, sei lá, fiquei atento já em pé para caso algo acontecesse, mas aí você demorou a aparecer, não vinha, não dava sinal, nada... aí eu pulei na água para ver se via algo.

—Ótima ideia einh.

—Foi a única que eu tive. Ouvi os gritos horrendos novamente e tampei meus ouvidos com força. Pareciam mais altos estando ali dentro. Enquanto olhava em volta, vi que a direção em que você foi havia alguns peixes abrindo caminho e deixando uma passagem livre.

—Não era pra você.

—Posso continuar¿ Subi para pegar mais ar e antes que eu mergulhasse novamente algo me puxou para baixo. Eu sentia varia mãos me puxando pelos cabelos, pernas, braços, em todas as direções, mas principalmente para baixo. Aqueles gritos horríveis tinindo meus ouvidos. Foi tudo ficando turvo, aí eu te vi. E quando percebi já estava lá na grama tossindo água.

—Então...você não podia ver as Halíades¿