A ilha - Livro 1

Capítulo 29 - O rio


Nada de interessante nas minhas mensagens e nada de ânimo para curtir o meu dia. Estava chateada e desanimada. Queria testar meu colar novo, mas não queria ir sozinha. A única pessoa que poderia ir comigo, estava me tratando feito lixo.

Deitei em minha cama e fui conferir mais uma das minhas mensagens.

“Vamos descobrir o que você e seu amigo estão aprontando.”

11 de dezembro de 2016 ás 03:00

O número era desconhecido e a mensagem me soava estranhamente familiar e assustadora. Decidi ver as outras duas restantes e me pareciam pertencer ao mesmo remetente.

Você está em nosso território. Lembre-se.”

11 de dezembro de 2016 ás 03:01

“Esse mar é nosso”

11 de dezembro de 2016 ás 03:01

Coloquei o celular de lado. Seria Ivo¿ Jemima¿ Deixei para lá, não valia a pena. O dia parecia se arrastar e quanto mais eu queria que a noite chegasse, mas demorado parecia anoitecer. No dia seguinte iríamos para um passeio com mergulho, e eu não poderia ir sem ter a certeza de que aquele colar não era pura besteira.

Era por volta das cinco da tarde quando resolvi que iria a praia sozinha. Coloquei o essencial na bolsa de praia e sai do hotel esperando que ninguém me visse. Caminhei pensativa para a orla, pensativa sobre o que faria se por acaso aqui não funcionasse como da primeira vez. E se eu só pudesse me destransformar, e não, entrar na agua sem me transformar¿ Resolvi parar de pensar e apenas testar o colar, seria melhor não lotar a minha cabeça de ideias.

Sentei na areia e observei as ondas e o céu já ficando escuro. Como raios aquilo poderia estar acontecendo comigo¿ Na verdade a pergunta era só “como aquilo poderia acontecer¿” Afinal, estamos falando de mulheres com caudas. Sereias. Personagens de filmes de piratas, personagens de livros e desenhos animados. Ficção, fantasia, lendas. Eu era aquilo tudo agora.

Tirei a blusa e a bermuda, ficando apenas com o biquíni, parada em pé na areia observando a maré que já estava subindo.

— Você gosta mesmo do mar né¿

A voz do Igor me assustou e ele riu do meu pulo.

—Oi – falei sem graça

—O que faz aqui sozinha¿

—Às vezes...gosto de estar sozinha.

—Isso foi um convite para eu me retirar¿

—Não! Não, não! Nada disso. É que... sei lá... – eu não tinha pensado em nenhuma desculpa para dar.

Ficamos em silencio alguns instantes. Já era o meu plano de testar o colar. Só conseguiria se ele fosse embora logo, ou se eu fugisse de madrugada.

—Me desculpa por aquele dia – ele voltou a falar – eu estava meio alterado, não queria ter sido chato.

—Tudo bem.

Voltamos a ficar em silencio.

—Você já teve algo com aquele Ivo¿

Eu ri

—Claro que não. Nós na verdade nunca fomos de nos falar muito, mas nessas férias acabamos nos aproximando um pouco.

—Como¿

—Não sei... – eu sabia - Mas eu não vou muito com a cara dele e nem ele com a minha.

—Não é o que parece. Não estou querendo ser chato, sério, realmente parece que vocês são sei lá...um casal. Ou pelo menos melhores amigos. Vocês estão sempre juntos e...

—Esquece isso – falei interrompendo-o – nós nem estamos mais nos falando.

Pela terceira vez deixamos o silencio imperar. Dessa vez por mais tempo. Sentei-me novamente em cima da toalha de banho que estava no chão e continuei a observar o mar. Ele sentou ao meu lado.

—Eu nunca saí dessa ilha – falou de repente.

—Porque¿

—Nunca tive motivo... nem dinheiro. Acho que foi mais pelo dinheiro.

—Essa ilha é o paraíso. Eu não sairia dela.

—Para quem está fora, é ótimo vir aqui, passar uns dias, uns meses... Mas eu nasci aqui! São mais de vinte anos numa ilha minúscula, com as mesmas pessoas de sempre.

—Okay, talvez seja realmente chato – eu ri fazendo-o rir também.

—Queria falar comigo¿ - uma voz que não era a de Igor, falou de repente.

—Ivo¿ O que faz aqui¿ - Perguntei me levantando

— Você não para de vir atrás de mim desde cedo, você quem deve me dizer o que é tão importante que não pode esquecer e parar de me procurar.

—Não estão se falando né¿ - Igor se levantou – Vou indo agora. Até outro dia, Pietra.

—Espera – falei seguindo-o

—Não! – ele virou bruscamente – olha, não to chateado, a gente se fala depois

Era óbvio que ele estava chateado.

—Ivo, seu filho da...

—Ei! Você quem fica mandando mensagem e me procurando na frente de too mundo e eu quem recebo bronca¿

—Espera um pouco, SEUS amigos não podem saber que nos falamos, mas os MEUS amigos precisam ficar pensando que eu e você estamos juntos¿ Eu tive que aturar ouvir um monte de verdades para passar a vergonha de fingir que to ficando com você.

—Vergonha¿ Vergonha! Sei que me odeia, mas não precisa me humilhar.

—Não é só ódio – falei andando em direção ao mar – é nojo.

—Ótimo – ele me seguiu – melhorou bastante. O que vai fazer¿

Eu estava com meu pensamento concentrado em ser humana e molhei meus pés na água e virei para Ivo que vinha na minha direção assustado.

—Essa era a novidade- falei vendo que não me transformaria e saindo novamente da água.

Passei por ele sem encara-lo e voltei a vestir a minha roupa.

—Aonde você vai¿ - ouvi Ivo perguntar quando eu comecei a me afastar.

—Ivo – me virei bruscamente fazendo-o parar de me seguir – não é da sua conta.

Voltei a andar rapidamente, dessa vez por um caminho diferente de todos que eu já fizera. Continuei pela areia da praia mais por um lado que não havia ido ainda. A areia ia adentrando uma floresta deixando o mar afastado. Adentrei a floresta úmida ainda ouvindo o barulho do mar e sentindo seu cheiro salgado absurdamente maravilhoso.

Após alguns minutos o barulho do mar já havia sumido de trás das árvores, mas eu podia ouvir barulho de água mais a frente, porém, eu sabia, não era o mar.

Havia um rio que provavelmente quase ninguém usufruía, pois a sua agua era cristalina e não havia ninguém nem nenhum vestígio de que alguém estivera ali. Aproveitei o momento sozinha, queria nadar, queria sentir a agua, mas queria aquilo sozinha. Tirei minha roupa e entrei na água devagar.

O rio não era fundo. Sequer cobria meus seios. Antes mesmo de mergulhar, ouvi um grito agudo e foi como se muitas crianças começassem a chorar todas de uma só vez. Tampei meus ouvidos e fechei os olhos com todas as minhas forças. Senti um arrepio percorrer meu corpo e coisas estranhas tocarem meu corpo qu já estava submerso na agua. Alguém , ou vários alguéns, começavam a me puxar para baixo.