A ilha - Livro 1

Capítulo 27 – Presente


Pérola apareceu afastando a porta para que entrássemos. O local era incrivelmente lindo e assustador ao mesmo tempo. Era como uma caverna com buracos no teto que fazia entrar uma iluminação fraca; havia vários frascos tampados pendurados no teto, todos sujos e provavelmente achados no fundo do oceano. Havia uns três baús de tamanhos e formatos distintos e provavelmente cheio de tralhas também. Pequenos peixes nadavam ali procurando uma saída e uma grande tartaruga estava nadando acima de nossas cabeças. Observei o lugar atentamente afim de nunca esquece-lo já que me impressionara tanto.

Achei que não viria mais.”

Pérola falou abrindo um baú e fazendo com que varias coisas saíssem flutuando na agua enquanto ela tentava segura-las ao mesmo tempo que pegava uma pequena caixa enferrujada de dentro. Com a ajuda de Nixxie ela fechou o baú com tudo dentro e se aproximou com a caixinha enferrujada um pouco maior que sua mão.

Eu não sei se realmente funciona, afinal não pude testar ainda. Mas você pode testar e...bem, espero que funcione.”

Ela abriu a caixinha meio desajeitada e um colar com uma pedra preta flutuou de dentro. Ela o agarrou soltando a caixinha que ficou boiando de um lado para o outro e descendo devagar até o chão.

O que isso faz¿”

Perguntei ainda confusa.

“Eu queria poder ficar humana e sereia quando eu quisesse, então desenvolvi algo que pudesse ficar em contato com meu corpo e atendesse ao desejo de ter pernas, ou cauda”

“E você acha que isso funcionar¿”

Falei tendo certeza de que aquilo era absurdo.

“Eu espero que sim. Usei as poções e feitiços que eu sabia, mas na sou como as bruxas terrestres, não sou forte o suficiente para ter certeza.”

“Bru-bruxas¿”

Gaguejei sem saber se eu deveria rir ou o que.

“Existem bruxas também¿”

“Olha, eu sei que você não acreditava em nada disso etc e tal, mas olha... desde que uma lenda sobre os Nosferatus deixou de ser lenda e se concretizou, você não deveria duvidar de mais nada”

“O que¿¿”

Eu estava mais confusa do que nunca e eu tinha a impressão de que Pérola não entendia isso.

Pérola, não seja burra, humanos não conhecem bruxas, sereias, Nosferatus, videntes, oráculos, absolutamente nada sobre isso.”

Nixxie interrompeu Pérola para explicar a ela.

“Nosferatus¿ Nosferatus, tipo, vampiros¿”

Falei lembrando de algumas aulas de historia.

Pois é. Tinha uma lenda sobre um oraculo que fez uma profecia que dizia que a primeira humana seria transformada em Nosferatu nesse século e que começaria uma guerra, bla bla bla...”

Nixxie falou revirando as coisas de Pérola e cheirando-as também.

“Nixxie tem razão, isso já faz uns seis meses e agora...a primeira humana transformada em sereia”

Ela sorria satisfeita.

“É, mas eu não quero isso. Quero ser humana. Não gosto de não poder ser normal.”

“Eu sei, me desculpa. Eu espero que funcione e então poderá ficar mais tranquila até eu desenvolver uma solução para você”

Pérola falava chorosa e claramente preocupada. Ela se aproximou e me entregou o colar negro. Hesitei, mas o coloquei no pescoço.

“O que devo fazer agora¿”

“Apenas pense no quanto deseja ser humana”

Fiz exatamente isso. Fechei meus olhos e desejei ser humana. Imaginei pernas no lugar de uma cauda e então comecei a sentir o formigamento que eu já conhecia. Abri meus olhos e Nixxie e Pérola olharam surpresas e se afastaram. Minhas pernas surgiram assim como acontecia quando eu estava em terra e de repente eu precisei segurar a respiração porque já não podia respirar como alguns segundos atrás. Queria sorrir, mas estava ocupada tampando meus ouvidos quando Nixxie e Pérola começaram a emitir um som terrivelmente horrível. Ela devem ter notado a minha cara de horror, porque pararam imediatamente de falar. Comecei a sentir uma pressão no peito e lembrei que estava fundo demais para estar normalmente e ainda mais sem respirar. Fechei meus olhos e rapidamente desejei ser uma sereia.

Foi impressionante!”

“Foi nojento.”

“Funciona mesmo, Pérola! Funciona!”

Todas nós estávamos surpresas, mas com toda certeza eu estava mais do que elas.

“Fique tranquila, poderá curtir seus amigos humanos sem se preocupar demais. Volte daqui três dias para saber sobre o progresso de meu experimento, tudo bem¿”

“Onde nos encontramos e de que horas¿”

Perguntei para não haver desencontros dessa vez.

A noite, no mesmo de lugar que encontrou Nixxie, hoje. A não ser que tenha aprendido o caminho até aqui.”

Eu não havia aprendido. Toquei o colar, contente por agora poder conter aquela cauda, tranquilamente.

“Obrigada...”

“Você já pode ir”

Nixxie falou impaciente já esperando do lado de fora. Dei um tchauzinho para Pérola e sai seguindo Nixxie que nadava velozmente.

“Já sabe seguir a partir de aqui.”

Nixxie falou sem nem esperar uma resposta minha e voltou por onde havíamos vindo. Agora só me restava voltar para o hotel. Nadei devagar admirando o oceano, vendo as maravilhas dele e pensando comigo mesma, diversas coisa. Ouvi o barulho de um motor e olhando para cima, pude ver cerca de três ou mais barcos parando vagarosamente. Tratei de apertar o “passo” indo direto para o cais onde havia deixado minhas coisas.

Eu estava a um metro de distancia do bote quando desejei ter pernas e elas apareceram fazendo algumas bolhas na agua subirem. Olhei em volta e o local conseguia ter menos gente do que a pouco tempo atrás. Subi me enrolando em uma toalha e vestindo uma roupa apressadamente.

Ainda sentada no cais e enrolada em uma toalha tremendo de frio, pensei a respeito de Ivo. Eu deveria contar a ele o que conseguira¿ Ele era confiável o suficiente¿ Achei melhor pensar sobre isso em outro momento e voltei para o hotel.

Era exatamente meia-noite quando adentrei ao hotel com o cabelo ainda molhado. Subi para o meu quarto e encontrei todas sentadas esperando por mim.

—Voltei.

Elas continuaram em silencio.

—O que eu fiz agora¿

—Você falou com o Marcelo¿ - Ingrid me olhou com os olhos vermelhos

Droga.

—Porque¿ - perguntei receosa

—Olha, ele me dispensou. Não quer mais me ver e disse que eu era uma criança.

Ela começou a chorar e foi abraçada por Greta que mantinha a cara fechada para mim.

—Olha...eu precisei sair e ele não queria deixar...

—Aí então você decidiu acabar com a MINHA vida para poder namorar o idiota do Ivo¿

—Não exagera... – Eliana falou da cama dela

—Poxa Ingrid, sua vida não acabou por causa de um cara. Me desculpa, eu não achei que ele fosse te deixar por causa disso.

— E me desculpe dizer – Eliana falou novamente – mas se um cara te deixa por tão pouco, ele não vale a pena.

Ingrid abriu o berreiro e eu achei melhor ir tomar um banho quente antes que pegasse um resfriado. Depois do banho encontrei Ingrid mais calma conversando baixo com Greta e me sentei na cama ao lado delas.

—Me desculpa – falei- eu realmente não tive a intenção...você sabe. E, você disse que não ia acontecer novamente e agora isso¿

—Eu sei...mas eu gosto dele...

Abracei ela.

—Se ele gosta de você, ele vai voltar. Mas não fique criando expectativas, ok¿

Acabamos dormindo as três na mesma cama e eu nem sei dizer como conseguimos essa proeza.